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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



J. B. DONADON-LEAL

Poeta, ensaísta. Presidente do Conselho Editorial do Jornal Aldrava Cultural. Doutor em Semiótica e Lingüística pela USP, Pós-Doutor em Análise do Discurso pela UFMG e Professor de Lingüística da UFOP. Membro da Academia Marianense de Letras. Membro efetivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores. Editor do Jornal Aldrava Cultural. Autor dos seguintes livros: Dô- caminho (1992), Marília - sonetos desmedidos (1996), Jardim & Avenida (1997), Gênese da poesia e da vida (1997), Sáfaro (1999), Aldravismo - a literatura do sujeito (2002), Leituras - ciência e arte na linguagem (2002), brejinho - senda 04 de nas sendas de Bashô (2005). Reflexões: a lingüística na sala de aula (Org.) 2007. Autor de artigos de lingüística e literatura publicados em revistas especializadas, como capítulo de livros e no Jornal Aldrava Cultural. 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL
 

Voz de Poeta

Minha voz de poeta
Silenciosa
Se diz em meditação

Minha voz de profeta
Licenciosa
Se diz maldição

Minha voz manifesta
Ditosa
Se diz a foz do não.

Enquanto minha voz discreta
Irrompe do peito o tom do trovão
Águo a ira inda pupa no aguardo
Do pecado já cometido
No dia do juízo final
No dia preciso
Diante da luz
Terna
Do relâmpago artificial
Na rede elétrica da minha bondade.

Minha voz de sóis completa
Copiosa
Sua raiva nos traços da mão.

Haja voz, nós nas gargantas,
Sazonal humor qual céu de verão,
Minha voz de poeta
Deleitosa
Toca as linhas do coração.

 

Gênese da poesia

Desajeitada, rude ainda,
fiz-me um verso uma rima,
folk fui em forma linda:
poesia, onde ainda você se arrima.
Fiz épocas, bongas e locuções,
normatizada fiz-me tão restrita
e escolada em tanta boca atrita
sou cantada nas todas evoluções.
Fui dos espíritos cenário e voz;
das ninfas, píxide de toda glória,
nas naus rebendo de um amor e a sós,
flutuante, párvula, que ainda história,
galgo minúcias, em gargantas nós.
Escura, nívea, que de afetos tantos,
sendo da lírica visão dos santos,
do alfa perpétua vago até por nós.
Que de os filósofos ouvirem cantos,
quando o mais ávido talento exala,
traz na poética prazeres tantos,
pois que a ver índole na gênia fala
o som dessa auréola astuta assume,
em versos áticos, cultistas lautos,
de inversos tentos, sentimentos pautos,
o teor artístico por ledo lume.
Atraco ao pojo que uma vez perfeita
todos meus clássicos andores, deuses,
vendo-me bojo, minha sina enfeita,
em moldes práticos, pastores, reses,
pois trago, então, cenas de posses tais,
que para meus dotes de vivência em fogo
atiça gana, em mui descrença, jogo:
busco a razão nas tantas artes mais.
Fui no sonho buscar abrigo
e na morte conter meus ais,
da liberdade fazer-me amigo
e no amor encontrar rivais;
da natureza me embebi em doses
com a mulher que se fez saudade
e no bom selvagem que me invade
fiz-me pátrio em todas as minhas vozes.

Volvo meus olhos nus em nódoas águas
e vendo o embaço desse céu sem cor
solvo-me em versos que das artes tábuas
em sulcos tortos, pois que se é depor
contra tais sonhos indivíduos d’outros
escritos falsos, onde morto agora,
pinto o meu céu de negro pálio, fora
da casta dos que se julgam doutos.
Em badalos, estalos e alaridos
fiz-me música, mística e rumores
e passiva, altiva em sons ouvidos,
ritmados, contados em tambores,
tão simbólica, cólica e acesa
num turbante andante, ameno, mas forte,
sinto-me tonta e o quanto sou indefesa.
Sendo dos meus sertões a entranha em fala
penetrei no real que tão presente,
vim pasma em meio ao verso que não cala,
alegre, triste… a voz que o povo sente:
dormente ao trilho, forte base, enfim,
semente ao chão da semana brotada
tal qual a terra, bem mais safada
que a orgia que cedo chega ao fim.
Poesia, poesia
assim sou chamada.
Fui do povo, perfeita, sacrossanta.
Fui teórica…
Fui parte
Um só sonho.
Hoje, porém, sou de tudo
plena.

 

Aprender a aprender

A bruma da manhã
testa a paciência do sol
ao interferir na monotonia.

O sol, olho dilata,
de privilegiado lugar
sabe-se diferente a cada segundo
em seu ludismo
de rolar a terra incessante
e esconder de si a nuvenzinha tola
que de dorso frio na altura
chora chuva fina e se vai
abrigar na pele aconchegante da terra
para no lago quente se brumizar de novo
e brincar de esconder o sol
que rola a terra ensinando
aprender a aprender a diferença infunda
na monotonia aparente do sistema.

A bruma da manhã
se testa na paciência do sol:
ferem juntos a sucessão circunferente
num lúdico e diuturno aprender.

 

Revolta justificada

Victor Hugo
de, no mínimo, três salários
desfila portando batons,
espelhos, camisinhas,
tesoura de cutícula, lixa de unha,
lenço de papel e alguns trocados
em mãos de fúteis adolescentes
(desculpem a redundância),
e afronta
Os miseráveis,
milhões de Quasímodos,
que tocam sinos mês inteiro
por um mínimo
com descontos.

Credo quia absurdum

Seduzir
revelar
mover-se de si
a se doar
ser truísta
nos mortos brios
expandir
dilatar
morrer-se de si
por se jorrar
dos aviões
no espaço frio
explodir
reatar
abster-se de si
ao se voar
sobre as cabeças
avião
sob os pés
some o chão
credo quia absurdum.
 

Meu vício

Meu vício
não segue o fascismo do fumante
não impregna o cabelo
nem o paletó
nem a mão
nem a boca
nem a sala de espera
nem o vizinho de mesa
nem o salão de festa
nem o escritório
nem o automóvel
nem a areia da praia
nem o barzinho
da catinga
irremediável
dos cigarros.
Meu vício
não dá câncer
não intoxica quem se Avizinha
não reduz a capacidade de respirar.
Meu vício
só ocupa folhas
com palavras
de liberdade.
Meu vício
não obriga o outro
a ler meus versos.
Meu vício
joga palavras
em poesia,
mas como as aldravas
pede licença.
Meu vício
mostra que pode haver
prazer
sem contra-indicações.

TEXTOS EN ESPAÑOL
Trad. de Priscila Borges

 

Voz de Poeta

Mi voz de poeta
Silenciosa
Se dice en meditación

Mi voz de profeta
Licenciosa
Se dice maldición

Mi voz manifiesta
Venturosa
Se dice desembocadura de lo “no”.

Mientras mi voz discreta
Irrumpe del pecho el tono del trueno
Aguo la ira aún pupa en la espera

Del pecado ya realizado
En el día del juicio
En el día exacto

Delante de la luz
Tierna
Del relámpago artificial
En la red eléctrica de mí bondad

Mi voz de soles completa
Copiosa
Su rabia de los trazos de la mano

Haya voz, nudos en las gargantas,
Estacional humor como cielo de verano,
Mi voz de poeta
Deleitosa
Toca las líneas del corazón.

 

Génesis de la Poesía

Desarreglada, ruda aún
me hice un verso una rima,
folk fui en forma linda:
poesía, donde aún tú te arrimas.
Hice épocas, bongas y locuciones,
normalizada me hice tan restricta
y desencolada en tanta boca atrita
soy cantada en las todas evoluciones.
Fui de los espíritus escenario y voz,
de las ninfas, píxide  de toda la gloria,
en las naos vástago de un amor y solos,
fluctuante, párvula, que aún historia,
delgada minucias, en gargantas nudos.
Obscura, nívea, que de afectos tantos,
siendo de la lírica visión de los santos,
del alfa perpetua vago hasta por nosotros.
Que de los filósofos oyeron cantos,
cuando el más ávido talento exhala,
trae en la poética placeres tantos,
pues que a ver índole en el genio habla
el sonido de esa aureola voz  astuta asume,
en versos áticos, cultitas lautos
de inversos tinos, sentimientos pactos,
el tenor artísticos por ledo lumbre.
Atraco al puerto que una vez perfecta
todos mis clásicos nichos,  dioses,
viéndome amago, mi suerte adorna,
en moldes prácticos, pastores, reses,
pues traigo, entonces, escenas  de posibles tales,
que para mis dotes de vivencia en fuego
atiza gana, en mucha incredulidad , juego:
busco la razón en las tantas artes más.
Fui al sueño buscar amparo
y en la muerte contener  mis “ais” ,
de la libertad hacerme amigo
y en el amor encontrar rivales;
de la naturaleza me embebí en dosis
con la mujer que se hizo extrañarse
y en el buen salvaje que me invade
me hice patrio en todas mis voces.

Vuelvo mis ojos desnudos en máculas aguas
y viendo el oscuro de ese cielo sin color
me disuelvo en versos que de las artes tablas
en surcos torcidos, pues que se es deponer
contra tales sueños individuos de otros
escritos falso, donde muerto ahora,
pinto mi cielo de negro palio, fuera
de la casta de los que se juzgan doctos.
En badajos, estallidos y alaridos
me hice música, místico y rumores
y pasiva, altiva en sonidos oídos,
ritmados, contados en tambores,
tan simbólica, cólico y encendida
en un turbante andante, ameno, más fuerte,
me siento tonta y lo cuanto soy indefensa.
Siendo de mis agrestes la entraña en habla
penetré en la realidad que tan presente,
vine pasma en medio al verso que no cala,
alegre, triste… la voz que el pueblo siente:
durmiente al trillo, fuerte base, en fin
semiente al suelo de la semana brotada
tal cual la tierra, mucho más descarada
que la orgía que temprano llega al fin.
Poesía, poesía
así soy llamada.
Fui del pueblo, perfecta sacrosanta.
Fui teórica…
Fui a la parte.
Solo un sueño.
Hoy, todavía, soy de todo
plena.

 

 Aprender a aprender

La bruma de la mañana
testa la paciencia del sol
al interferir en la monotonía

El sol, mira didacta,
de privilegiado lugar
se sabe diferente a cada segundo
en su juego
de girar la tierra incesante
y esconder de si la nubecita tonta
que de torso frío en la altura llora lluvia fina y se va
 abrigar en la piel acogedora de la tierra
para en el lago caliente hacerse bruma otra vez
y jugar de esconder el sol
que gira la tierra enseñando
aprender a aprender la diferencia infinita
en la monotonía  aparente del sistema.

La bruma de la mañana
testa la paciencia del sol
hieren juntos la sucesión circunferente
en un lúdico y diuturno aprender.

 

Revuelta justificada

Victor Hugo
de, el mínimo, tres salarios
desfila portando carmín
espejos, preservativos,
tijera de cutícula, lija de uña,
pañuelo de papel y algunos cambios
en manos fútiles adolescentes
(perdonen la redundancia)
y afrenta
Lo miserables
millones de Quasimodos
que tocan campanas mes todo
por un mínimo,
con descuentos.

 

Credo quia absurdum

Seducir
revelar
moverse de si
y donarse
ser franco
en los muertos bríos
expandir
dilatar
morirse de si
por lanzarse
de los aviones
en el espacio frío
explotar
reatar
abstenerse de si
al volarse
sobre las cabezas
avión
bajo los pies
desaparece el suelo
credo quia absurdum.

 

Mi vicio

Mi vicio
no sigue el fascismo del fumante
no impregna el pelo
ni la chaqueta
ni la mano
ni la boca
ni la sala de espera
ni el vecino de mesa
ni la sala de fiestas
ni la oficina
ni el automóvil
ni la arena de la playa
ni el barcito
de la catinga
irremediable
de los cigarros.
Mi vicio
no da cáncer  
no intoxica quien está cerca
no reduce la capacidad de respirar
Mi vicio
solo ocupa hojas
con palabras
de libertad.
Mi vicio
no obliga el otro
a leer mis versos.
Mi vicio
juega palabras
en poesía,
pero como las aldravas
piden permiso.
Mi vicio
enseña que puede haber
placer
sin contraindicaciones. 

 

Página publicada em maio de 2008




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