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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA

 

 

Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, em 1963. Licenciado em Letras e especializado em literatura portuguesa. Professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, é mestre em literatura e em ciência da religião e doutor em comunicação e cultura. Estreou em 1985 e  publicou quase duas dezenas de livros. Sua obra poética foi reunida em quatro volumes em 2003, incluindo: Zé Osório Blues (2002); Lugares Ares (2003); Casa da Palavra (2003); e As Coisas Arcas (2003).  Traduzido a vários idiomas. 

Veja mais poemas do autor no portal do Carlos Machado Poesia.Net:

http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet114.htm

 

vea: TEXTOS EM ESPAÑOL

De
PEREIRA, Edimilson de Almeida Pereira
HOMELESS
  Belo Horizonte: Mazza Edições, 2010.    259 p.
ISBN  978-85-7160-495-7

 

 

LES HOMMES-BÊTES

(notas para um etnógrafo)

 

 

1

 

rito de nascimento:

o ramo de ouro

as minas de prata

 

apesar do autor, o texto se  arrisca para não

colher enxertos à sua  margem, o texto seta

não   funda   colmeias   nem   países    (com

adjetivos),  desarma  o  lacre e a  fábrica de

belas artes, para quem não basta o miolo ou

a carcaça,  o texto sugere o  alarido da ostra

 

 

2

 

rito de iniciação:

o ramo de ouro

as manias do rapto

 

apesar do texto, o autor  contém  a ira ante

um mercado de erros, lê como  se extraísse

a casca de um orifício,  (sem armas) o autor

se arma ainda que a  função não o  obrigue:

estão fartas as peças que imprimem  letras,

embora  autor e  texto  insistam  no  marco

zero de suas medidas

 

 

3

 

rito de fertilidade:
o ramo de ouro
as moedas no caixa

 

apesar da escrita ou qualquer suporte, autor

& texto  suportam  a linguagem  e a  língua.

se  algum  desvio   torce-lhes   a  superfície,

autor  &  texto vêem aí as coisas  e  dizê-las

(em  palavra  som  imagem  corpo)   é  uma

questão    entre   outras,    autor    &   texto

negociam o abismo ou melhor: a montagem

para trazê-lo às retinas

 

 

4

 

rito de puberdade:

o ramo de ouro

a miríade falsa

 

 

apesar do leitor,  autor e texto  deflagram  as

cápsulas  do  sentido,  as máscaras  do  leitor

têm  na  luta  o  sinal  de boa  vontade,  suas

garras vão  ao texto  como dardos  à fruta:  o

que mordem não é carne, mas o que estando

ausente se fere  ainda  mais. diante  do  leitor

não  há  caixa-forte:  se a forjassem,  autor e

texto  fariam  (quando muito)  uma  chave às

avessas

 

 

5

 

rito fúnebre:

o ramo de ouro

os foles da palavra

 

apesar dos pesares, autor e texto  atiçam  as

hélices  como se  um —  por  não  ser  linha-

gem sem o outro — expirasse à beira do livro

(objeto    para   não   conter    guelras    nem

acidentes),  nome  que  se  desse  ao  texto e

seu  autor  não  faria   o  livro  nem  a   pági-

na de  rosto com  que este  nos ilude:  para o

autor  e o  texto, a  memória  é  um  imposto

que se cobra a si mesmo

 

==================================================================================

 

 

CANDOMBE

 

Põe o ombro na lua,

Mas levanta forte

que Zambi arrepia o sol.

 

Os velhos desfiam os dedos

e o tempo se assusta: “Auê,

quem vive tanto é de mistério”.

 

“Não, que o quê?— respondem.

Põe o ombro aqui, candonga

mas dobra forte

que Zambi engole o sol.

 

Uê, morde por dentro

cobra dormindo faz a cova.

 

Uê, quem sabe desses meninos

é Zambi que engole o sol

é Zambi que mata o sol.

 

 

MISSA CONGA

 

Para que deuses se reza

quando o corpo aprendeu

         toda linguagem do mundo?

 

Onde se deitam os olhos

quando o altar dos antigos

         ainda se esconde?

 

Para que deuses se reza

quando as palavras se velam

         para invocar os nomes?

 

Por que não entregar a vida

ao deus com olhos de plumas

         que vive no fundo dos tempos?

 

 

DANÇARINA

 

         a Lena Machado

 

 

Às vezes percebo

demora nos movimentos.

 

Flores me transportam

para lugares há

quanto não sei demolidos.

 

(Crimes não deixam

vítimas).

 

Meu corpo se insinua:

não recuso danças,

nunca.

 

 

NOMES

 

Um amigo se chama

De Onde Venho.

Outro se conhece

como Para Onde Vou.

 

O tempo se esgota

para um.

Para outro apenas

se alonga.

 

De Onde Venho sabe

o que aconteceu.

Para Onde Vou

o que não adivinhamos.

 

Quando um morre outro

o contempla.

 

 

SUDIKA MBAMBI

 

Quem é Sudika Mbambi

um pé no céu

outro no ventre.

 

Seu cajado de pedra

risca na terra.

Seu cajado de estrelas

nada pode vencê-lo.

 

Sudika Mbambi quem é

o seu cajade de antílope.

 

 

OBRA

 

O rei quer um corpo de ferro

com sangue nas veias.

 

Walukaga ouve a sentença

treme em suas pernas.

 

Para criar o absurdo

deseja matéria impossível.

 

O rei encolhe os ombros:

não pode atender o pedido.

 

Walukaga ganha consolo

deita o rei no espanto.

 

        

         Corpo Vivido (1991)

 

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O CORPO

Ainda está lá, apesar dos anos. De um lado a outro, desvia-se das pedras, toca as margens cada vez mais humano. A roupa se desfaz, os sapatos, o que havia nos bolsos. Nada restou, mas o corpo flutua alheio a chuva, ao vento, à vingança. Há muito nos povoa, suas rugas não pertencem ao tempo de seu sacrifício. São de agora, nos interrogam. Que fazer desse corpo que não sabemos de onde veio e se instalou em nós?


SÍLABA

Outra língua alicia o palato, não se quer instrumento de suicídio. Não pode ser engolida para selar o desejo. É para uso desobediente, sendo mais livre quanto mais nos pertence. A essa língua não se veda o devaneio, uma vez afiada a vida e tudo que se queira. Não está na boca e nela se arvora. Testa o sentido, duvida de si mesma. Vai ao baile, está nua ao meio-dia.Não é língua do suplício nem do vexame, desenrola os signos e se pronuncia.


AULA

Fala de vendedor ambulante
é signo em rotação. A gente
lança no ar o que tem de ser
dito e colhe — nem sempre —
o fruto de algo vendido.
Repetimos as falas aceitas
para garantir a venda, mas
o risco do improviso é o que
há. Três por dois, duas por
uma — essa sintaxe apraz.
A gente lança no ar. Se der
ritmo ganhamos a feira, se
não, fazemos fina de baile.


ESCARIAÇÕES

Paredes em branco, portas
janelas azuis.  Fila de casas
com orgulhos enfileirados.
Uma ordem dentro da outra.
Quartos, metade quartos.
Searas, enfim, para a cisma
do criador. Nada insinua
ruptura. A chuva não frisou
o branco, o mar se conteve.
Receios, arrastaram os que
esperavam, a mobília não.
O suor de antes não legou
a mensagem do sacrifício.
Esse, aninhando no corpo,
também se dilui, só a astúcia
abre sulcos sob o retrato. 

 

Extraídos da antologia OIRO DE MINAS a nova poesia das GERAIS. Seleção de Prisca Agustoni.  S. l.: Pasárgada; Ardósia, 2007. 

 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. de Xosé Lois García

Santiago de Compostela: Edicions Laiovento, 2001

ISBN 84-8487-001-4

 

CANDOMBE

 

Pon el hombro en la luna.

Pero levanta fuerte

que Zambi estremece el sol.

 

Los viejos deshilan los dedos

y el tiempo se asusta: “Auê,

quien vive tanto es un misterio”.

 

“No, qué” — responden.

Pon un hombre aquí, candonga

pero sujeta fuerte

que Zambi engulle el sol.

 

Uê, muerde por dentro

la cobra durmiendo hace la cueva.

 

Uê, quien sabe de esos niños

es Zambi que engulle el sol

es Zambi que mata el sol.

 

MISA CONGA

 

¿Para qué dioses se reza

cuando el cuerpo aprendió

         todos los lenguajes del mundo?

 

¿Donde se acuestan los ojos

cuando el altar de los antiguos

         aun se esconde?

 

¿Para qué dioses se reza

cuando las palabras se ocultan

         para invocar los nombres?

 

¿Por qué no entregar la vida

al diós con ojos de plumas

         que vive en el fondo de los tiempos?

 

 

DANZARINA

         a Lena Machado

 

A veces observo

retraso en los movimientos.

 

Me transportan flores

hacia lugares hace

mucho demolidos.

 

(Crímenes no dejan

víctimas).

 

Mi cuerpo se insinua:

no rehuzo danzas

nunca.  

 

NOMBRES

Un amigo se llama

De Dónde Vengo.

utro se conoce

como Para Dónde Voy.

 

El tiempo se agota

para uno.

Para el outro apenas

se alarga.

 

De Dónde Vengo sabe

lo que pasó.

Para Dónde Voy

lo que no adivinamos.

 

Cuando uno muere outro

lo contempla.

 

SUDIKA MBAMBI

Quién es Sudika Mbambi

um pie en el cielo

outro en el vientre.

 

Su cayado de piedra

raya la tierra.

Su cayado de estrellas

nada puede vencerlo.

 

Sudika Mbambi quién es

y su cayado de antílope.

 

 

OBRA

 

El Rey quiere un cuerpo de hierro

con sangre en las venas.

 

Walukaga escucha la sentencia

tiemblan sus piernas.

 

Para crear el absurdo

desea matéria imposible.

 

El Rey se encoje de hombros:

no puede atender el pedido.

 

Walukaga se consuela

acuerda al rey en el espanto.

 

        

         Corpo Vivido (1991)

 

 

 

6 POETAS DE ARGENTINA & 6 POETAS DE BRASILSelección y prólofo; Teresa Arijón y Camila Do Valle. Traducción: Teresa Arijón. Buenos Aires: Bajo La Luna: 2011.192 p.  20x13 cm.  Incluye los poetas: (Argentina) Mariano Blatt, Oswaldo Bossi, Cucurto, Joavier Foiguet, Alejandro Rubio, José Villa/ (Brasil) Edimilson, Eduardo Jorge, Guilherme Zarvos, Renato Rezende, Ricardo Aleixo, Sérgio Bazar David.  ISBN 978-987-9107-88-8. 

 

CARTOGRAFIA II

                    el norte es labirinto
aunque el mar
se resuelva
en continente

y el continente vertido
en cuerpo
se admire de la propia
ganancia

: en la superfície
los embates son fábricas
de artifícios
y muertos

lo que fue arrojado
a las olas
sube al maxilar
de la historia

pero por si no
reinventa la máquina
es necesario revolver
el eclipse

que sirvió
de timón a la barca
y de venda
a los embarcados

: hacia el norte outro
norte
como si el viaje no
fuese cárcel

y la ruta
de la sangre apelido
escarnio
como si la caverna

(donde la razón
madura)
no fuese la boca
del monstruo

: al norte la
desorientación y el
sigilo
los huesos del oficio

la memoria
colecciona lapsos
por eso
asáltala con

el linguaje
extraído con fórceps
del mar
: al norte

una confrontación
de ostras
hasta que el exilio
termine

 

& la máquina
suene
música, otra que
no la muerte

 

CARTOGRAFIA II

o norte é labirinto
ainda que o mar
se resolva
em continente

e o continente vertido
em corpo
se admire da própria
ganância

: a superfície
os embates são fábricas
de artifícios
e mortos

o que foi lançado
às ondas
sobe ao maxilar
da história

mas por si não
reinventa a maquina
é preciso revolver
o eclipse

que serviu
de leme à barca
e de venda
aos embarcados

: para o norte outro
norte
como se a viagem não
fosse cárcere

e a rota
do sangue sobrenome
escárnio
como se a caverna

(onde a razão
matura)
não fosse a boca
do monstro

: ao norte a
desorientação e o
sigilo
os ossos do ofício

a memoria
coleciona lapsos
por isso
assaltá-la com

a linguagem
extraída a fórceps
do mar
: ao norte

uma acareação
de ostras
até que o exílio
finde

& a maquina
soe
música, outra que
não a morte

 

 

 

 

Imagem tomada da página: http://cidinhadasilva.blogspot.com/


 

 

PEREIRA, Edimilson de Almeida.  Signo cimarrón.  Belo Horizonte, MG: Mazza Edições, 2005.  96 p.   13x19 cm.  Introducción: William Luis.  “ Edimilson de Almeida Pereira “ Ex. bibl. Antonio Miranda
 

INDICIOS

En algún sitio la memoria
limpia sus frascos. Somos
la firma de nombres antidulivianos.
La herencia se exaspera
y advierte sobre el peligro
que gestamos. Los textos
de la memória esperan lectores,
el desafío es escoger la frase
que nos presenta unos a los otros.
La herencia no existe
sin un cuerpo-lenguaje que la
transforme. Si alguien
provoca un verbo, es lo que basta
para desgarrar los sentidos.


CÁRCEL

La puerta es sólo para entradas.
Si hay tipos de crímenes, aquí
todo se resume a criminales.

Allí no se distingue la mano
limpia de otras que que tiñeron.
La antecâmara del infierno.

La puerta, a la vez cerrada, no
se abre como antes. Si uno sale
porque entro

no olvidará el aislamiento.


HOTEL

La puerta es una ilusión.

Aquí uno no se queda aunque
permanezca.  Es un lugar
de negociaciones.

Funciona con el movimiento.
Deseo, dinero, miedo,
crímenes no le pertenecen.

Pero no hay hotel sin ellos.

Las puertas que mantiene
son antes y siempre pasajes
para lugares de exílio.


SIESTA

Amarillo em la tarde
exagera las revelaciones
del grano.

Dulzura ofrecida sin ocres.

Insectos vuelan en el olor,
países se acumulan
en las tarjetas postales.

Si los resumimos
a esto es porque no sabemos
ganar y perder la vida.

El exceso de amarillo retrasa
la invención de la tarde.


Antonio Miranda, Edmilson de Almeida  Pereira e Nicolas Behr no evento X BRASA, encontro dos brasilianistas em Brasilia, dia 24 de julho de 2010.

BABEL  Revista de Poesia, Tradução e Crítica.  Ano IV - Número 6 - Janeiro a Dezembro de 2003.  Editor Ademir Demarchi.   Campinas, São Paulo                                Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

                Ilustração sem Belafong

            
Viver agonia ao telefone
             reduz um homem à medula.

             Tira-lhe humor e fervor
             como se filma uma blusa.

             Não resta que lhe salve
             postal de um cataclisma.

             Uma página ao acaso em
             que estivera uma moeda.

             Um crime sem a vítima
             para a polícia perfeito.

             Um cinzeiro sobre tapete
             e a vida que se fumara.

             Uma névoa sob encomenda
             a esse sumir desejado.

             Um pai vindo de longe
             com sua mala de pássaros.

             Uma senhora sua imagem
             de madrugadas em decalque.

             Um rádio-táxi na porta
             ao tempo que se quisera.

             Viver agonia ao telefone
             mata um homem aos poucos.

             Só resta que lhe salve
             a mãe rezando por hábito.

             Uma carta, enfim uma,
             em meio ao jornal diário.

 

*

Página ampliada em janeiro de 2023

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2008, ampliada e republicada em novembro de 2008; ampliada e republicada em julho de 2010.Ampliada e republicada em outubro de 2014.




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