DOUGLAS DIEGUES
Nació en Rio de Janeiro, y reside actualmente en Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil y en Asunción del Paraguay. En 2003 publicó Dá Gusto Andar Desnudo Por Estas Selvas. Hay varias ediciones de este Uma Flor na Solapa da Miséria, inclusive por la editorial Eloísa Cartonera, de Buenos Aires. Los textos siempre en portuñol.
belleza pública bersus belleza íntima
belleza bisible bersus belleza que ninguém bê
belleza dolarizada bersus belleza gratuita
belleza cozida bersus belleza frita
belleza antigua bersus belleza nova
belleza viva versus belleza morta
belleza magra bersus belleza gorda
belleza em berso y en prosa
belleza sabaje bersus belleza civilizada
belleza de dentro bersus belleza de fora
beleza simples bersus belleza complicada
este mundo está ficando cada vez mais horrible
quase ninguém consegue mais ver la belleza invisible
bocê guarda a sua dor
en el fundo de la entraña
non fica fazendo manha
aguanta firme todo esse horror
bocê non finge u dolor que sente
real demais – parece ficción
a dor que dói sem doer un corazón
nem bocê nem ninguém entende
bocê sofre calado la dor que non entende
transforma ele em rima
em mel, em olhos abertos, em endorfina
la dor quase nem se siente
entre el futuro y tudo lo mais que embolorou
bocê esconde legal a sua dor
desde el décimo segundo andar la tarde
comercial parece estúpida –
mismo que los ricos non estejam de acordo
mismo que los pobres discordem
la tarde ficaria mais elegante vestida de lluvia
pastando en el misterio
mismo que bocê non consiga levar nada a sério
além de la beleza de las vulvas
y enquanto las outras crianzas sorrindo
brincam de deuses – y la magia de la vida – lentamente – vai
destruindo
poses certezas fachadas crenzas formigas flores e arranha-céus
sinceramente vale la pena perder tempo transformando bosta de
elefantge em luz em leche em mel
en este fabuloso aquário
o que seriam de los espertos sin la ayuda de los otários?
ellos preparam el difunto
como si preparassem a un artista
ou a una ensalada mista
después penteiam pra que o mesmo non fique com ar de presunto
y comezan a encher u caixón de flores
como dos jardineros – o dois atores
profissionales, espontâneos, y su presunto
parece agorfa um ready-made, jardim, instalazione, menos defunto
y também parece, o presunto, sentir-se legal
deitado em aquele mar de flores
pronto para partir para além du bem y du mal
deixando para trás este paraíso de horrores
ellos preparam u presunto
como se estibiessem preparando um omelete – non um defunto
paseando bestido de brisapor la tarde cheia de crises
ninguém puede me prender en uma valise
cuando me prendem – espero que durmam –
después escapo por el buraco de la fechadura
se non se benden por – digamos – rapadura
artistas generalmente siempre llevan una vida dura –
disfarçado de brisa
nadie me copia nadie me compra nadie me vampiriza
quanto mais desaprendu – melhor
percebo la diferença entre amor y amor y bolor
los ayoreos usam sandalias cuadradas –
non dá para saber se suas pegadas estão indo ou voltando
por la estrada
dá gusto andar disfarçado de brisa por estas ciudades
cheia de bellas meninas y fedores y ruindades
las carnicerias fronterizas parecem museus de arte do futuro –
pedazos de carne crua enormes pendurados em ganchos
cavernosos de hierro –
moscas de todos los colores tamanhos zumbidos –
museus de carne – carne muorta – mas ainda viva –
carne bermelha que depois de dois dias en la sombra
começa a dar vermes brancos que brotam como hongos de la
putrefação –
para compensar toda essa lamentação –
arte legítima
como que non se falsifica –
los açougueiros como uma nova estirpe de artistas –
vagundeando pelo ar
u cheiro de la carne morta te delizia ou te faz vomitar
aquí – en la selva – en la ciudad – en el mundo de la lua –
por que será que u horror tem color de carne crua
Poemas extraídos da obra UMA FLOR NA SOLAPA DA MISÉRIA (en portuñol), 2007) edição artesenal da JAMBO GIRL, Asunción del Paraguay.
DIEGUES, Douglas. Dá gusto andar desnudo por estas selvas. Sonetos selvajes. Curitiba Travessar dos Editores, 2002. Capa: Fragmentos de Natureza Morta com Tapetes Ornamentais, de Henri Matisse. Editor: Fábio Campana. Tiragem: 100 exs. Col. A.M.
POESIA SEMPRE. Revista semestral de poesia. ANO 9 – NÚMERO 14. AGOSTO 2001. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2001. 222 p. ilus. col. Editor geral Marco Lucchesi. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda.
Deixo que o orvalho escreva os dias, às vezes confundo pessoas
com flores,
e deixo que o orvalho me escreva influenciado por San Juan de La Cruz
quando todas as certezas se partem em mil pedaços,
resta o orvalho,
que coisa maravilhosa, a menina flor, a qualidade do orvalho,
o orvalho em chamas!
preciso entender sem entender,
a manhã, o orvalho, o impossível, o maravilhoso
o orvalho é a poesia perdida deste dia, a certeza perdida,
a qualidade perdida, o idioma perdido e desprezado
o orvalho é simples, mas tudo às vezes confunde
porque somos tão estranhos quanto as flores e as moscas
quando a palavra em mbyá-guarani começa a dar orvalho,
ele pode subir cantando...
não há nada para fazer
o orvalho orvalha esplendidamente
TEXTOS EM PORTUÑOL
8
luta defiende ama discorda rima
en el verano decadente de cremes e crimes
los dias que passam parecem filmes
la vida es real como um beso y después una chacina
crianças ñorescem nuas y tragam porra sigilosamente
aids negocios y oportunidades
en la dulce realidad imunda de las ciudades
sexos vuelan por la noche caliente
la felicidade abierta para todos
lo que los esportes lucram às custas de los otários
en el paraíso del crime organizado
cruel flor carnívora de eletrodos
basta de conformismo en el presente del futuro
es muy fácil assistir a todo desde arriba del muro
18
juego empatado
para combater el hambre
uivan los hombres
en cárceres superlotados
personas dormindo atadas a la grade
tu sarna & tu tuberculoso
a nadie comove
nada mais consigue ser novidade
las excepciones son los maníacos que no tem nada a perder
unos passam fome — otros comem demais
impulsos de destruición parecen coisas naturais
como la prática del crime para conquistar el poder
prazos oficiales toxinas animales crimes banales - nem o futuro
parece ter futuro então eu corro para no perder você y la tarde sem juros |