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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: http://www.loc.gov/pictures/resource/cph.3c12067/

(Library of Congress)

 

DORA VASCONCELLOS

 

Dora Alencar Vasconcellos  (Rio de Janeiro, RJ -1911 -  Trinidad e Tobago 1973)

 

Em minha última postagem, falei de Dora Vasconcellos, diplomata e poetisa, autora das letras das canções da obra "A Floresta do Amazonas", de Heitor Villa-Lobos. Dora foi, possivelmente,  uma das pioneiras no serviço diplomático brasileiro, mas o que importa nesse curto texto é destacar sua atuação no campo das letras e da música, neste  em duas ocasiões. Em sua primeira permanência nos Estados Unidos, em 1952, Dora iniciou uma estreita amizade com Villa-Lobos (1887-1959), realizando as parcerias com o compositor brasileiro na suíte sinfônica acima mencionada, de 1958. Villa-Lobos a ela dedicou a curta obra para piano "Feijoada sem perigo". Em seu segundo período em Nova York, agora como Cônsul-Geral,  Dora foi uma das grandes incentivadoras da bossa nova nos Estados Unidos,  tendo,  inclusive, segundo o jornalista Ruy Castro, em fato narrado em sua obra "Chega de Saudade", atuado decisivamente em favor da apresentação de João Gilberto no célebre concerto do Carneggie Hall, em 1962, quando passou as calças do músico baiano, que se recusava a entrar no palco porque, justificava,  suas calças estavam sem vinco.

Dora deixou três obras publicadas :" O grande caminho do Branco", " Palavra sem Eco" e Surdina do Contemplado".   Fonte:  http://umacriticaviva.blogspot.com.br/

 

TEXT IN ENGLISH

 

 

SEREI AINDA

 

Eu sei toda a constância

Para não ir adiante

Nem me deixar ficar

Distraída olhando para o lado

 

 

Pois se me deixo

Em sonhos descuidada

Pode mudar 
O andar

O mundo tomar outra forma

E me deixar enleada

Ao senso puro de existir

Sem sentir o reflexo

Do que deixo

 

Pois é ao lado

Que desejo seguir

Tão confinada ao esmero

De não perder a atenção

Mergulhada na direção

Dos teus cuidados

 

Pois se assim vou

Ao lado

Mão na tua mão

Na aflição de medir passos

Sem saber como vamos

Chegar 
Onde

Em que direção

Ao menos estou ao lado

Tua  mão na minha mão

E sei que enquanto

Formos assim

Eu pálida

De não saber que dia

Que noite

Chegará até mim

Mas ao teu lado

Guardada de solidão

Serei ainda a que vai

A teu lado

Sem mais reação

Do que andar

Teus passos

 

Saber mais

Seria saber demais

E já que vou assim

Mão na tua mão

Serei ainda a que vai

A teu lado.

Do livro: O Grande Caminho do Branco.

 

 

 

PENÉLOPE

 

Vou tirar de todas as ruas

Uma rua

E levá-la para o canto

E a essa rua vou chamar

Surdina do contemplado

 

 

Vou laçar a estrela arredia

E chamá-la Senhora Dona Estrela

Do longe

Com muito boas maneiras

E prendê-la com um laço de fita

Sobre a rua

Feito balão cativo

 

 

Vou trazer árvores

De grandes folhas engomadas

E um rosário de glicínias

Preso ao tronco

E chamá-las

Sor Perpétua

Sor Beatitude

Sor Cristíanissima

 

Fuga pé-ante-pé

Com lápis preto nº 1

 

Vou calçar a rua

Com nomes esquecidos

E chamar às pedras

Maria

Maria

E Maria

 

E abandonar o monstro

De olhos verdes

Na esquina

 

Limitarei a rua

Com dois traços

E sobre um deles

Vou pintar uma janela

Para ver o sol de arrastão

Sobre a onda ensanguentada

Manchando o dia

 

Se minha rua carecer de cores

Eu pinto um céu

Com tinta azul

E chamo:

"Cezefredo

Cezefredo

Porque Voce saiu do intangível

Menino?"

 

(Cezefredo é o anjinho órfão

Que eu guardo)

 

Nessa rua hão de viver três cotovias

Que se alimentam de paisagem

Pousadas sobre fios de ouro

Da tapeçaria:

Belarmina a do fá

Belamor a do si

Belaflor a do sol

Três notas

Para começar a valsa

 

Casa na rua?

Não tem

Portão nenhum

Alguns números talvez

Mas tem espera

E ansiedade

O tempo é o que foi perdido

 

Tu já tens nome

E estás sempre chegando

Tua volta é imensa

A tapeçaria

Se desmancha

Revive

E se dilui

Na minha desmemoria

 

Os impossíveis

Não logram limitar

Distâncias

Dentro deles vai fugindo

O pensamento

Fugindo pé-ante-pé

Com lápis preto nº 1

 

 

( Surdina do Contemplado)

 

 

 

MÚSICA DE HEITOR VILLA LOBOS  -   LETRA DE DORA VASCONCELLOS Canta: Noemia Hime:

 

https://www.youtube.com/watch?v=QqjMj6d-aBA

 

 

TEXT IN ENGLISH

 

TRANSLATION BY ABGAR RENAULT

 

 

                GUARDEI TEU RUMOR

 

         Guardei teu rumor em mim
         As palavras mortas nas cartas
         Guardei a força das montanhas

         Guardei a transparência do tempo
         Deitei a violeta na calma
         Dos meus olhos

         Guardei a eternidade do apelo
         A mágoa do refrão
         Guardei a tarde na areia

         Sobrevivi à palavra sangrenta
         À narrativa sem tese
         Ao conto sem imagens

         Perdi tuas ausências
         O hábito de olhar de longe
         A vontade de ter

         Perdi as curvas do crepúsculo
         Perdi o outro lado da ponte
         Os minutos pela água

         Perdi a flexibilidade
         Para o cotejo
         Perdi a hora do vento

         Ao te perder
         Tornei a mim lentamente
         Todas as memórias
         São companheiras do tempo.

 

 

                   I HAVE TREASURED YOUR MURMUR

 

                   I have treasured your murmur in me
                   The dead words in the letters
                   I have treasured power of the mountains

                   I have treasured the transparency fo time
                   I have laid the violet on the quiet
                   Of my eyes

                   I have treasured the eternity of the plea
                   I grief of the refrain
                   I have treasured the evening in the sand

                   I have survived the groy word
                   The narrative without a plot
                   The tale without pictures

                   I have lost your absences
                   My habito of looking from afar
                   My own will to have

                   I have lost the curves of the twilight
                   I have lost the other end of the bridge
                   The minutes down the stream

                   I have lost the resilience
                   Of the fighter
                   I have lost the hour of the Wind

                   By loosing you
                   I have come slowly back to myself
                   All memories
                   Are companions of time.

 

 

 

Página publicada em agosto de 2016

 
        


 

 

 
 
 
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