|
|
DA COSTA E SILVA
(1885-1950)
Antonio Francisco da Costa e Silva nasceu em Amarante, Estado do Piauí, Brasil. Advogado, trabalhou em muitas cidades por todo o Brasil. Sangue é seu livro de estréia na poesia, em 1908. Sua obra extraordinária oscilou entre o parnasianismo e o simbolismo mas sempre com um estilo próprio e inconfundível.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / Y EN ESPAÑOL
TEXTO EN ITALIANO
Veja tambièn: DA COSTA E SILVA – POESIA VISUAL
"SAUDADE", POEMA DE DA COSTA E SILVA AGORA EM E-BOOK!!! Visite e desfrute deste privilégio https://issuu.com/antoniomiranda/docs/da_costa_e_silva
De
Da Costa e Silva
SANGUE
[Recife]: Livraria Franceza, 1908.
82 p. autografado, edição limitada
IN TENEBRIS
Cego, tacteio em vão, num caminho indeciso...
Que é feito desse amor que tanto me entristece,
Que nasceu de um olhar, germinou num sorriso,
Que viveu num segredo e morreu numa prece?!
É um mysterio talvez; desvendal-o preciso.
A alma sincera e justa—odeia, não esquece...
Si essa a quem tanto quiz hoje me não conhece,
Morra a ventura vã que debalde idéaliso.
Ai! desse amor nasceu a dor que me subjuga:
A dor me fez verter a lagrima primeira,
E a lagrima, a brilhar, cava a primeira ruga...
Atra desillusão crava-me a garra adunca.
Cego de amor, em vão tacteio a vida inteira,
Buscando o amor feliz e esse amor não vem nunca.
ANATHEMA
Persigam-te as prisões fortes do meu ciúme
—Invisíveis grilhões de desejo e de zelo:
Prendam-te as mãos, os pés, as ondas do cabello,
O olhar, o hálito, a voz e o que em ti se resume.
Vibre o som desse andar, vague o doce perfume
Dessa carne pagã, causa do meu desvelo,
Mando que te acompanhe o eterno pesadelo
Deste amor que ainda mais temo em dor se avolume.
Ronda-te o meu olhar, como o olhar de um morcego
Varando o brumo véo de uma noite de crime,
Prescrutando, a seguir-te —onde chegas eu chego.
Foges? Em vão fugir —o ciúme priva a fuga...
E esse amor que te busca e te cerca e te opprime,
É o mesmo que me afflige, acobarda e subjuga.
=============================================================
A ARANHA
Num angulo do tecto, agil e astuta, a aranha
Sobre invisivel tear tecendo a tenue teia,
Arma o artistico ardil em que as moscas apanha
E, insidiosa e subtil, os insectos enleia.
Faz do fluido que flue das entranhas a extranha
E fina trama ideal de seda que a rodeia
E, alargando o aronhol, os élos emmaranha
Do alvo disco nupcial, que a luz do sol prateia.
Em flóculos de espuma urde, borda e desenha
O arabesco fatal, onde os palpos apoia
E, tenaz, a caçar os insectos se empenha.
Vive, mata e produz, nessa faina enfadonha;
E, o fascinante olhar a arder como uma joia,
Morre na própria teia, onde trabalha e sonha.
Extraído de DA COSTA E SILVA. ANTHOLOGIA. Rio de Janeiro: Civilisação Brasileira S?A, 1934. p. 137-138
LA ARAÑA
Trad. de Ángel Crespo
Del techo en una esquina, la ágil y astuta araña,
En telar invisible teje la ténue tela,
El artístico ardid, arma de su campaña,
Insidiosa y sutil, que a la mosca debela.
Fluye fluída de las entrañas esa extraña
Y fría trama ideal de seda que modela,
Y, al hacer su guarida, los lazos enmaraña
De albo disco nupcial do el sol borda una estela.
En grúmulos de espuma, urde, borda y diseña
El fatal arabesco de los palpos apoya
Y, tenaz, en cazar los insectos se empeña.
Vive, mata y produce, de su técnica dueña;
Y, ardiendo su mirada lo mismo que una joya,
Muere en la propia tela, donde trabaja y sueña.
Extraído de “Muestra de Poemas Simbolistas Brasileños”. In: REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA, Tomo VI, N. 22, septiembre 1967, p. 273.
SAUDADE
Saudade! Olhar de minha mãe rezando,
E o pranto lento deslizando em fio ...
Saudade! Amor da minha terra ... O rio
Cantigas de águas claras soluçando.
Noites de junho ... O caburé com frio,
Ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando ...
E, ao vento, as folhas lívidas cantando
A saudade imortal de um sol de estio.
Saudade! Asa de dor do Pensamento!
Gemidos vãos de canaviais ao vento...
As mortalhas de névoa sobre a serra...
.
Saudade! O Parnaíba - velho monge
As barbas brancas alongando ... E, ao longe,
O mugido dos bois da minha terra ...
(Sangue, 1908)
SAUDADE
Traducción de Anderson Braga Horta y
José Jerónimo Rivera
iSaudade! En el hogar, mi madre orando,
Y el llanto lento discurriendo pío ...
iSaudade! Amor de mi rincón ... El río
Cantigas de aguas claras sollozando.
Noches de junio ... El caburé con frío,
Bajo la luna, en la arboleda, piando ...
Y hojas, al viento, lívidas cantando
La saudade inmortal de un sol de estío.
iOh, ala de dolor deI Pensamiento!
iSaudade! Cañas murmurando al viento ...
Las mortajas de nieblas en la sierra ...
lSaudade! El Parnaiba -monje anciano
De largas barbas blancas ... Y, lejano,
El mugir de los bueyes de mi tierra ... ma extraíd
o da obra POETAS PORTUGUESES Y BRASILEÑOS
DE LOS SIMBOLISTAS A LOS MODERNISTAS. Edición Bilingüe.
Buenos Aires: Ititu
Mais poemas...
A MOENDA
Na remansosa paz da rústica fazenda,
À luz quente do sol e à fria luz do luar,
Vive, como a expiar uma culpa tremenda,
O engenho de madeira a gemer e a chorar,
Ringe e range, rouquenha, a rígida moenda;
E ringindo e rangendo, a cana a triturar
parece que tem alma, adivinha e desvenda
A ruina, a dor, o mal que vai, talvez, causar...
Movida pelos bois tardos e sonolentos
Geme, como a exprimir, em doridos lamentos,
Que as desgraças por vir, sabe-as todas de cor.
Ai! Dos teus tristes ais! Ai! Moenda arrependida!
— Álcool! para esquecer os tormentos da vida
E cavar, sabe Deus, um tormento maior!
(De Zodíaco, 1917)
EU SOU TAL QUAL O PARNAÍBA: EXISTE...
Eu sou tal qual o Parnaíba: existe
Dentro em meu ser uma tristeza inata,
Igual, talvez, à que no rio assiste
Ao refletir as árvores, na mata...
O seu destino em retratar consiste;
Porém o ri todo que retrata,
Alegre que era, vai tornando triste
No fluído espelho móvel de ouro e prata...
Parece até que o rio tem saudade
Como eu, que também sou dessa maneira,
Saudoso e triste em plena mocidade.
Dá-se em mim o fenômeno sombrio
Da refração das árvores da beira
Na superfície trêmula do rio...
(De Pândora, 1919)
NEL MEZZO DEL CAMIN...
Passou de leve a Esperança
Pelo meu coração...
Encantou-me no azul do meu sonho de criança:
Ardeu como uma estrela... E era um pobre balão!
Passou de leve a Alegria
Pelo meu coração...
O Amor, dentro em meu ser, como um jardim, floria...
Como é triste, meu Deus, esta recordação!
Passou de leve a Ventura
Pelo meu coração...
Como foi que passou, se a busco com loucura,
Sentindo-me infeliz por deseja-la em vão?
(De Verônica, 1927)
VOU AGORA SONHAR...
A minha vida, sempre inquieta como o mar,
É de renúncia, sacrifício, desencanto:
Enquanto vão e vêm as ondas do meu pranto,
Estende-se o horizonte, além do meu olhar...
Na imensidade azul fico a cismar, enquanto,
A refletir o céu, vai-se acalmando o mar...
Acalma-se também minha dor, por encanto:
— Já cansei de sofrer! Vou agora sonhar...
Extraído de
ALBUM DE POESIAS. Supplemento d´O MALHO. RJ: s.d. R$ 26, 117 p. ilus. col. Ex. Antonio Miranda
to Camões; Brasília: Thesaurus, 2002. 272 p.
(Patrocinada pela Em
COSTA E SILVA, Da. Saudade. Jaboatão, PE: Editora Gurarapes EGM, 2015. 30 p. ilus. Col. Editor Edson Guedes de Morais. Edição artesanal, limitada Ex. bibl. Antonio Miranda
VEJA o E-BOOK da obra acima:
https://issuu.com/antoniomiranda/docs/da_costa_e_silva
baixada de Portugal na Argentina).
|
TEXTO EN ITALIANO
Extraído de
MIRAGLIA, Tolentino. Piccola Antologia poetica brasiliana. Versioni. São Paulo: Livraria Nobel, 1955. 164 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
IL SILENZIO
Mi piace udir, nell’ora vespertina,
Quando l'azzurro si scolora in nero,
La cantilena delia casuarina,
Neila tranquilla pace, al cimitero.
E mormorano gli alberi in sordina
felegiaca parola d'un pensiero
Di cose morte e di cosa divina,
Volate con penombra di mistero.
E, perscrutando quelle voei, inquieto,
Nell’ansia dello scettico assopito,
Voglio, o morte, sapere il tuo segreto.
Ma vedo, in marmo cândido, sull’urna,
Il Silenzio, che, sulle labbra il dito,
Guarda la solitudine notturna !
ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por] Félix Aires. [Teresina: 1972.] 218 p. Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília. Ex. bibl. Antonio Miranda
SAUDADE
Saudade! Olhar de minha mãe rezando,
E o pranto lento deslizando em fio...
Saudade! Amor de minha terra... o rio...
Cantigas de águas claras soluçando.
Noites de junho... O caboré com frio,
Ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando...
E ao vento, as folhas lívidas cantando
A saudade imortal de um sol de estio.
Saudade! Asa de dor do pensamento!
Gemidos vãos de canaviais ao vento...
As mortalhas da névoa sobre a serra...
Saudade! O Parnaíba, — velho monge —
As barbas brancas alongando... e, ao longe,
O mugido dos bois de minha terra...
*
Página ampliada e republicada em março de 2023
|
|