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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Fonte: www.secrel.com.br

 

CONTADOR BORGES

 

 

Nasceu em São Paulo, Brasil, em 1954. Poeta, tradutor e ensaísta. Autor de livros como Angelolatria. (1997) e O reino da pele (2003).

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

[Sombras e ruínas]

 

Considerar tudo a partir do que vibra. Eis o rumo a ser tomado na exuberância onde os sentidos eriçam ao tocar as coisas e encarná-las na aspereza de seus pêlos vivos. O mar de ressonâncias é o horizonte de onde derivamos nosso fluxo mais nítido e toda correnteza o efeito da concha mais íntima de que se tem notícia. Nenhum acaso indevido passa rente aos elementos de ataque com que o poema costuma abrir ouvidos e pálpebras à efervescência. Suas falanges derrubam a linha divisória com a estranheza, pois a essa altura todos comungam da herança que congrega os ânimos adeptos dos atalhos e desvios altaneiros. Neste cenário, até a última pedra da miragem, tudo é tirado de escombros e ruínas. E o desamparo é uma bandeira que se rasga com a página.

 

 

[O herói da ausência]

 

O herói da ausência tem olhos cheios de noite. Quando se vê desolado sobre a página, sai em busca de sentido e claridade sem saber se volta para casa ferido de vida ou de morte. Seus olhos estão deitados no infinito, suas mãos tateiam a poeira das belezas transitórias. Sua voz guarda no âmago poder de ocultação e desvelo (como todas as verdades) e esse movimento governa o princípio que desencadeia as ações fabulosas, suas glórias e fracassos. Noite após noite ele cumpre seu rito sob as luas bordadas no céu das gregas calendas. Só irá consagrar-se na hora inebriante em que florir sua pálpebra. 

 

 

TEXTO EN ESPAÑOL

 

Fábulas aracnídeas

Traducción de Eduardo Langagne

 

 

1

La araña no guarda secretos de desnudez.

En estos seres el adorno negro con galones

de oro es la propia piel o el simulacro que por

fin se suelta del cuerpo sin que tampoco

cambie la complexión primera. Y cuando se ve

acosada ante otras ojos yergue majestuosa

los brazos a punto de liberar ponzoña y

sin perder la pose vuelve a cubrirse de sombra

como si jamás hubiese llevado antes la más

sutil pieza de rapa.

 

2

No entiende la araña que la abeja rechaza

las adherencias de la tela. Ni siquiera le presta oídos

sobre la fianza pagada en miel granada que (ella

garantiza) le daría un gozo edulcorado que

jamás probó la carcelera en el manantial

de su cuerpo. Propone entonces (la desesperación

crea salidas inesperadas) cambiar el reino de esa prisión

de hilos por el paraíso cuadriculado de los alveolos

donde tal vez ganaría el premio de un par

diáfano de su análogo y trémulo instrumento

que vibrando el cuerpo le concede un bello aire

siniestro: cielo que nunca vio en otras eras.

 

3

Así la tela solitaria y la bandera amarilla

de los trapos del canario generan controversias

de cómo un ser menor abraza exuberante

David a su Goliat alado y más allá de la mitología

o lugar común en la tela corpórea de tantos

remiendos la voz se contra e al reverso para

morir sumergida en su propio veneno.  

 

 

ANTOLOGÍA DE POESÍA BRASILEÑA, edición de Jaime B. Rosa. Organización Floriano Martins y José Geraldo Neres.  Muestra gráfica y portada Hélio Rôla. Edición bilingüe  Português - Español.   Valencia, España: Huerga & Fierro editores, 2006.  247 p   13,5x21,5 cm.   Poetas: Lucila Nogueira, Glauco Mattoso, Adriano Espínola, Beth Brait Alvim, Contador Borges, Donizete Galvão, Floriano Martins, Nicolas Behr, Jorge Lúcio de Campos, Vera Lúcia de Oliveira, Rubens Zárate, Ademir Demarchi, Ademir Assunção, Leontino Filho, Marco Lucchesi, Weydson Barros Leal, António Moura, Maria Esther Maciel, Rodrigo Garcia Lopes, José Geraldo Neres, Viviane de Santana Paulo, Alberto Pucheu, Fabrício Carpinejar, Salgado Maranhão, Sérgio Cohn, Rodrigo Petronio, Konrad Zeller, Pedro Cesarino, Mariana lanelli. Traductores: Adalberto Arrunátegui, Alfonso Pena, Aníbal Cristobo, António Alfeca, Benjamin Valdivia, Carlos Osório, Eduardo Langagne, Floriano Martins, Gladis Basagoitia Dazza, Luciana di Leone, Margarito Cuéllar, Marta Spagnuolo, Paulo Octaviano Terra, Reynaldo Jiménez e Tomás Saraví. Ex. bibl. Antonio Miranda. 

 

 

[UM BULIR INEBRIA]

 

Um bulir inebria a lenta educação das pupilas criando sutis

meandros ou respiradouros para a saúde ou doença ao

poema onde o ferimento e o gozo escorrem irmanados ao

fundo das palavras. E na ferocidade leve seu ser favorece

de corpo e alma um sentido mágico que o revolve

incinerando-se. É sua pele mais viva pois a pálpebra se abre

numa vegetação de imagens sombrias raramente fixas sob o

sol mutante dos segundos. Aqui e em toda parte embalada

pelo tumulto parte-se ao meto a crisálida antes do prêmio

cuja forma mais densa é o efeito que estremece o olho na

pálpebra temendo exílio iminente. Quando a nudez se

descama febril em sua pele-armadura vem à tona não

propriamente a luz mas a porosidade escura de uma

lâmpada maquiada para a noite, acende-la é tocar num

vespeiro de estrelas.

 

 

          [ UN BULLIR EMBRIAGA]

 

Un bullir embriaga la lenta educación de las pupilas creando sutiles

meandros o respiraderos para la salud o la enfermedad del

poema donde la herida y el gozo escurren hermanados al

fondo de las palabras. Y en la ferocidad leve su ser [favorece

de cuerpo y alma un sentido mágico que lo revuelve

incinerándose. Es su piel más viva pues el párpado se abre

en una vegetación de imágenes sombrías raramente fijas bajo el

sol muíante dé los segundos. Aquí y en toda parte mecida

por el tumulto se parte por el medio la crisálida antes del premio

cuya forma más densa es el efecto que estremece el ojo en el

párpado temiendo exilio inminente. Cuando la desnudez se

despelleja febril en su piel-armadura viene a la superficie no

propiamente la luz sino la porosidad oscura de una

lámpara maquillada para la noche. Encenderla y tocarla en un

avispero de estrellas.

 

          [Trad. Eduardo Langagne]

 

 

 

[QUE A VOZ ESCLAREÇA O SER DA APARÊNCIA]

 

Que a voz esclareça o ser da aparência

e tal movimento encante

nossa imperturbável inércia.

Que num rito espontâneo o juízo proclame

seu fim, ele que em meio ao deserto semeia

algo maior sem alcance,

e o que se chama assombro ou furor

de palavras atinja além das cinzas

o espaço inesperado

e estreite o encontro, não com a morte,

mas com o que faz parte da claridade interna

que alimenta o devir e seu querer caudaloso,

misterioso, o lance inevitável

a furar os olhos do agouro (agora ou nunca)

e jogar um balde no dragão

da infâmia e sua armada imensa à espreita

de nossos gestos mais inócuos,

que mesmo os devaneios mortos são centelhas,

nervos de um novo engenho

que a matéria insere nas sementes

de outra série, fio, vereda, fazendo

do invisível a carne firme, viva, do alento.

 

 

[QUE LA VOZ ACLARE EL SER DE LA APARIENCIA]

 

Que la voz aclare el ser de la apariencia

y tal movimiento encante

nuestra imperturbable inercia.

Que en un rito espontáneo el juicio proclame

su fin, él que en medio, del desierto siembra

algo mayor sin alcance,

y lo que se llama asombro o furor ,

de palabras llegue más allá de las cenizas

al espacio inesperado

 

y estreche el encuentro, no con la muerte,

pero sí con lo que forma parte de la claridad interna

que alimenta el devenir y su querer caudaloso,

misterioso, el lance inevitable

para perforar los ojos del agüero (ahora p nunca)

y derramar un balde en el dragón      

de la infamia y su armada inmensa a la espera

de nuestros gestos más inocuos,

que hasta los devaneos muertos son centellas,

nervios de un nuevo ingenio

que la materia inserta en las semillas

de otra serie, hilo, vereda, haciendo

de lo invisible la carne firme, viva, del aliento.

 

          [Trad. Carlos Osorio]

 

 

 

[DE OUVIR OS OSSOS, SOM RASCANTE]

 

De ouvir os ossos, som rascante

(dor e êxtase), se aclamam

o insidioso pomo-de-adão dos castrati

e o pendor de ouro nos testículos

desses anjos de sangue.

Quanto mais se afastam do que seriam

sem a perda líquida da parte

maldita ao idioma lírico (em louvor

do canto, morte da semente),

mais firme aderem ao pentagrama da carne

desnudada em sol poente

durante a tempestade do corpo

(primeiro grave, depois soprano).

 

 

[DE OÍR LOS HUESOS, SONIDO ÁSPERO]

 

De oír los huesos, sonido áspero

(dolor y éxtasis), se aclaman

la insidiosa manzana de adán de los castrati

y el peso de oro en los testículos

de esos ángeles de sangre.

Cuanto más se apartan de lo que serían

sin la pérdida líquida de la parte

maldita al idioma lírico (en alabanza

del canto, muerte de la semilla),

más firme se adhieren al pentagrama de la carne

desnudada en sol poniente

durante la tempestad del cuerpo

(primero grave, después soprano).

 

          [Trad. Carlos Osorio]

 

 




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