CLARA GÓES
Psicanalista e professora de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Clara Góes nasceu no Rio Grande do Norte e escreve poesia desde 1986. Sua grande estréia no mundo da poesia, no entanto, aconteceu em 1989, quando lançou o livro As aranhas. Um ano mais tarde, em 1990, publicou os poemas reunidos em Cinema Catástrofe. A partir daí, não parou mais. Lançou Pedra do Morcego, em 1991, Poeira, em 1992, e Caravelas em 1995.
Ao longo desses mais de 20 anos, a poeta também se revelou como dramaturga e escreveu três textos para teatro. O último deles, Abelardo, Heloisa, lançado em 1995, deu origem a uma peça encenada por Moacyr Góes e protagonizada por Herson Capri e Letícia Spiller.
Seu livro mais recente, Pão e Chocolate, que será lançado no próximo Terças Poéticas, tem as orelhas assinadas por Heloisa Buarque de Hollanda, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que comenta que “a leitura dos poemas de Clara de Góes, curiosamente, sempre me provocou não apenas prazer, mas, sobretudo, um conforto muito grande. Uma sensação de proximidade, ou mesmo intimidade, com sua experiência, sua história, suas entrelinhas”. Para ela, essa proximidade está relacionada ao universo poético onde Clara se move. “São tramas e temporalidades históricas complexas. Um espaço no qual me sinto inexplicavelmente inserida”, completa.Fonte da biografia: www.cultura.mg.gov.br/
TEXTO EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL / TEXT IN ENGLISH
ORATÓRIO
Não
não tem traço reto aqui
no fundo
curvas
cravam
auroras em cantos
improváveis.
Um macaco joga
dardos no
Sagrado Coração
e a lua num cristal claro
embalsama
a solidão.
ORATORIO
Traducción de Jesús Sepúlveda
No
aquí no tengo trazos directos
profundo
curvas
hundo
auroras en cantos
improbables
Un macaco tira
dardo al
Sagrado Corazón
y la luna
cristalina clara
se embalsama
la soledad.
ORATORY
Translation by Steven White
No
there ara no straight lines here
deep down
curves
plunge
dawns into unlikely
songs
a monkey throws
darts at the
Sacred Heart
and the clear
crystal moon
embalms
solitude.
Fuente: HELICÓPTERO. V. 3 – 4. 2000
POESIA SEMPRE. Revista da Biblioteca Nacional do RJ. Ano 1 – Número 2 – Julho 1993. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro. ISSN 0104-0626m Ex. bibl. Antonio Miranda
(p/Moacyr)
Meus cantos entretecidos fiam-se no encanto de escuros improváveis.
Não há foco nem cena possíveis.
Cancrejo.
Há uma zona de luz entre abismos acanhados em que me findo, latejando.
Aún: esteio de ventania.
Um corvo veio e bicou-me com tudo. Partiu.
No umbigo me ficou o negror furando o mundo em derredor.
Lambuzou minhas paredes de veneno e, doravante, quem bica morre.
Passou. O vento. O tempo. O depois.
O corvo?
Nem, nem.
Minhas metáforas são de areias submersas e o sertão
por vezes
corrói barragem d'água e amanhecer.
Brotam
poemas
de cheia semeados
pela voz
do último trovador
que à moda egípcia
ara
as margens de um rio
só.
Página publicada em novembro de 2008; ampliada e republicada em novembro de 2017
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