AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT
(1906-1965)
Nasceu e viveu grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, tendo iniciado seus estudos na Suíça e vivido um período em São Paulo, no auge do Modernismo sem, no entanto, deixar-se entusiasmar muito pelos manifestos e vanguardismos. Foi, em certo sentido, um pragmático, um homem de negócios de grande sucesso e político de notoriedade. Um paradoxo, considerando seu espírito mais sentimental e religioso, seu sentimento lírico e misterioso, de excelência e profundidade. Obras: Canto do Brasileiro (1928), Cantos do Liberto A. F. S. (1929), Pássaro Cego (1930), Desaparição da Amada (1931), Mar Desconhecido (1942), Fonte Invisível (1949) e Caminho do Frio (1964), além de suas Poesias Completas de 1956.
(Página publicada com motivo do Centenário do nascimento do poeta.)
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
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TEXTS EN FRANÇAIS
TEXTI IN ITALIANO
Veja também: > UMA VOZ UNIVERSAL DA POESIA – AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT – por GILBERTO MENDONÇA TELES - ENSAIO
SCHMIDT, Augusto Frederico. Canto da noite. (Nova edição) Rio de Janeiro: Livraria AGIR Editora, 1946. 128 p. 14 x 19 cm. Ex. bibl. Antonio Mirandaa
SILÊNCIO DEPRESSA
SILÊNCIO depressa! Tragam dos mares fundos silêncios
Tragam do ar mais distante silêncio!
Tragam silêncio do centro da terra depressa!
Tragam do inferno o silêncio dos condenados que descansam.
Tragam do céu o silêncio das beatitudes
O silêncio do vôo dos anjos pelos tempos sem espaqo, tragam
[depressa
O silêncio dos mortos recém-nascidos, tragam depressa.
Tragam o silêncio dos corpos, dos bêbados dormindo
Tragam o silêncio dos loucos
O silêncio dos mundos, dos tempos.
O silêncio do que ainda vai se realizar, tragam depressa
Tragam por Deus, que eu quero morrer depressa!
JUGO
O SONO veio e descansei meu sofrimento.
Dormi sem sonhos
Mas os galos cantaram agora
E abrindo os olhos, meu sofrimento tornou a mim imenso
e duro
Tornou a mim, sem me dar tempo de olhar a aurora que vinha
[chegando
Tornou a mim, sem me dar tempo de ver um pensamento Tornou a mim, frio e implacável, como o próprio amor que o
[gerou.
DESTINO
COMO a estrela fugitiva um dia atravessarei os céus sem
[destino,
Será na hora em que a solidão não pesar na minh´alma.
Na hora em que as vaidades e o amor tiverem desaparecido
[de mim.
Quando no meu coração os sentimentos não tiveram mais
raizes
E a tua imagem me abandonar como a última folha abandona a
[árvore morta.
Mergulharei no grande mar e os ventos da noite ficarão rodando
sobre mim.
PARAÍSO PERDIDO
TERÁ um riso diferente.
Pelos jardins de braço dado, a passos lentos
Ouvirá vozes de antigamente.
Terá um riso diferente!
Como se tivessem voltado da morte, o sentido das palavras
será outro.
As árvores crescerão sob a luz das estrelas. Reverei o terraço claro e as plantas úmidas. O impossível envolverá toda a casa.
Nada poderá tornar. As mesmas palavras serão outras
Igual só a voz de um homem que passa.
Irá cantando pelo caminho,
Irá sozinho cantando, como outrora.
Depois o sono embalará a varanda, o passado e os corações
[inúteis.
De
AMOR, CANTO SEGUNDO.
Poemas de Augusto Frederico Schmidt, Cassiano Ricardo,
João Cabral de Melo Neto, Dante Milano, Jorge de Lima, Lêdo Ivo, Mário Quintana,
Murilo Mendes, Paulo Mendes Campos e Péricles Eugênio da Silva Ramos;
desenhos de Augusto Rodrigues.
Rio de Janeiro: Alumbramento, 1976.
18x26cm, caixa e capa solta contendo 7 cadernos; tipos de caixa Garamond;
impressão serigráfica da capa em papel Ingres Cover Fabriano
e texto e ilustrações em papel Ingres-Fabriano.
VEJO A AURORA SURGIR
Vejo a aurora surgir nesses teus olhos
Ainda há pouco tão tristes e sombrios.
Vejo as primeiras luzes matutinas
Nascendo, aos poucos, nos teus grandes olhos!
Vejo a deusa triunfal chegar serena,
Vejo o seu corpo nu, radioso e claro,
Vir crescendo em beleza e suavidade
Nas longínquas paragens dos teus olhos.
E estendo as minhas mãos tristes e pobres
Para tocar a imagem misteriosa
Desse dia que vem, em ti, raiando;
E sinto as minhas mãos, ó doce amada,
Molhadas pelo orvalho que roreja
Do teu olhar de estranhas claridades!
ESTRELA MORTA
Morta a Estrela que um dia, solitária,
Nasceu em céu sem termo.
Morta a Estrela que floriu nos meus olhos.
Morta a Estrela que olhei na noite erma.
Morta a Estrela que dançou diante dos nossos olhos,
A Estrela que descendo acendeu este amor
Morta a Estrela que foi para o meu coração,
Como a neve para os ninhos
Como o pecado para os santos
Como a ausência de Deus para os condenados.
(Canto da Noite, 1934)
POEMA (ERA UM GRANDE PÁSSARO…)
Era um grande pássaro. As asas estavam em cruz, abertas para os céus.
A morte, súbita, o teria precipitado nas areias molhadas.
Estaria de viagem, em demanda de outros céus mais frios!
Era um grande pássaro, que a morte asperamente dominara.
Era um grande e escuro pássaro, que o gelado e repentino vento sufocara.
Chovia na hora em que o contemplei.
Era alguma coisa de trágico,
Tão escuro, e tão misterioso, naquele ermo.
Era alguma coisa de trágico. As asas, que os azuis queimaram,
Pareciam uma cruz aberta no úmido areal.
O grande bico aberto guardava um grito perdido e terrível.
(Estrela Solitária, 1940)
A PARTIDA*
Quero morrer de noite —
As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite infinda.
Quero morrer de noite —
Irei me separando aos poucos,
Me desligando devagar.
A luz das velas moldará meu rosto lívido.
Quero morrer de noite —
As janelas abertas,
Tuas mãos chegarão água aos meus lábios
E meus olhos beberão a luz triste dos teus olhos,
Os que virão, os que ainda não conheço,
Estarão em silêncio,
Os olhos postos em mim.
Quero morrer de noite —
As janelas abertas,
Os olhos a fitar noite infinda.
Aos poucos me verei pequenino de novo, muito pequenino.
O berço se embalará na sombra de uma sala
E na noite, medrosa, uma velha coserá um enorme boneco.
Uma luz vermelha iluminará o dormitório
E passos ressoarão quebrando o silêncio.
Depois na tarde fria um chapéu rolará numa estrada...
Quero morrer esta noite —
As janelas abertas.
Minha alma sairá para longe de tudo, para bem longe de tudo.
E quando todos souberem que já não estou mais
E que nunca mais voltarei,
Haverá um segundo, nos que estão
E nos que virão, de compreensão absoluta.
(De Navio Perdido)
A AUSENTE*
Os que se vão, vão depressa,
Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira.
Ontem dizia adeus, ainda, da janela.
Ontem vestia, ainda, o vestido tão leve cor-de-rosa.
Os que se vão, vão depressa.
Seus olhos grandes e pretos há pouco brilhavam.
Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava,
Suas mãos morenas tinham gestos de bênçãos.
No entanto hoje, na festa, ela não estava.
Nem um vestígio dela, sequer,
Decerto sua lembrança nem chegou, como os convidados —
Alguns, quase todos, indiferentes e desconhecidos.
Os que se vão, vão depressa.
Mais depressa que o s pássaros que passam no céu,
Mais depressa que o próprio tempo,
Mais depressa que a bondade dos homens,
Mais depressa que os trens correndo nas noites escuras,
Mais depressa que a estrela fugitiva
Que mal faz um traço no céu.
Os que se vão, vão depressa.
Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações,
Só no coração sempre ferido do poeta
É que não vão depressa os que se vão>
Ontem ainda sorria na espreguiçadeira,
E o seu coração era grande e infeliz.
Hoje, na festa ela não estava, nem a sua lembrança.
Vão depressa, tão depressa os que se vão...
(De Pássaro Cego)
LUCIANA*
As raparigas que dançavam,
Luciana, a pálida, todas
Como frutos apodrecerão
Porque só há um destino
Com muitos caminhos, embora.
Depois outras raparigas é que dançarão.
Luciana passará com o seu sorriso triste,
Suas mãos brancas repousarão —
Porque só há um destino
Com muitos caminhos, embora.
Cada um conhece o seu destino:
Luciana, a pálida, e as outras também,
Todas as raparigas que dançavam —
Cada um traz seu destino no rosto,
No rosto de Luciana e das outras também.
Em breve, todas as figuras mudarão:
Serão outras, tudo terá passado —
Os homens e as mulheres, o salão,
Os móveis — nem lembrança sequer restará.
Luciana terá desaparecido como a poeira da estrada>
Como a poeira, o tempo dispersará a fisionomia de Luciana:
E — atentai bem — Luciana não se repetirá.
Ninguém se repete no tempo. Cada um é diferente.
Cada um existe uma vez só e não é substituído.
Contemplai bem, pois, Luciana, que não se repete.
(De Pássaro Cego)
SONETO AO ADORMECIDO*
Como não te sorrir, ó adormecido,
E como não chorar sobre nós mesmos!
Como não se alegrar ao contemplar-te,
E não entristecer em nós pensando?
Como não perceber que a vida impura
Se conservou de ti distante e ausente
E em nós vingou seus ásperos desejos,
Seus caprichos terríveis e suas mágoas?
Como não te sorrir, morto e inocente
Cansado de brincar, se está liberto
Do destino de ter nosso destino?
Como não alegrar com a tua sorte,
Se nunca hás de chorar sobre ti mesmo,
Sobre a tua inocência e os teus brinquedos?
(De Mar Desconhecido)
*No julgamento de Magaly Trindade Gonçalves, Zélia Thomaz de Aquino e Zina Bellodi Silva, que organizaram a extraordinária “Antologia das antologias: 101 poetas brasileiros “revisitados”” Prefácio de Alfredo Bosi (São Paulo: Musa Editora, 1995. ISBN 85-85653-05-1, estes são os poemas do autor que mais foram incluídos em antologias anteriores, com o cuidado de cotejo dos textos para uma versão definitiva. Recomendamos a obra, hoje acessível em bibliotecas.
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De
Augusto Frederico Schmidt
BABILÔNIA
Rio de Janeiro: Livraria São José, 1959
104 p.
XXX
São enviadas do Mal que me perseguem
E me oferecem prendas e folguedos
Dançam comigo, levam-me sorrindo
Para os abismos louros e sedosos.
Essas mulheres que me telefonam,
Meu sono interrompendo em horas mortas,
E batem na calada à minha porta
Um abrigo em meu leito procurando;
Todo esse arfar de perfumados
Corpos vem da fonte do mal,
E tenta me envolver em sortilégio
Caio em pecado, mas a aurora nasce
E limpa de minha alma a escura mancha
De ter faltado a Deus, que a mim não falta.
LXIV
Saudades do passado já distante
O procuravam, vinham visitá-lo
Trazidas pelas águas da memória,
De sítios quietos do país natal.
Ouvia marulhar as ondas mansas,
E sentia o perfume das roseiras
E jasmineiros dos jardins destruídos
Da ilha em que vivera a juventude.
Sentia arfar de Simoneta o peito,
De volta dos passeios pelas praias,
De bicicleta. E o rosto ardente
E úmido do seu primeiro amor
Tentava tocar com as mãos e os lábios,
Mas sentia envolvê-lo poeira e cinza.
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Uma das mais belas homenagens da Poesia Brasileira prestadas ao poeta latino VIRGÍLIO, segundo Nogueira Moutinho:
SONETO A VIRGÍLIO
Nesta hora em que o mundo em desespero
Busca os fundos e ásperos abismos,
Como é suave consolo às almas tristes
Ouvir a tua voz humana e eterna!
Poeta de alma tão pura e olhar tão doce,
Cantor das almas simples e saudáveis,
Pai de Enéías, o herói piedoso e esquivo,
E dessa Dido, cujo drama ainda
Aos nossos corações tanto enternece.
Cristão antes de Cristo, a quem sentiste
Nas entranhas de um tempo inatingido.
Poeta e cantor da Paz, alma sensível,
Dá-nos do teu Amor as claras lágrimas
Para conforto de tão duras penas.
Extraído de: VIRGÍLIO. Bucólicas. Trad. de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Melhoramentos; Brasília: Editora da UnB, 1982. 169 p. ilus.
De
SCHMIDT, Augusto Frederico.
Fonte invisível. Poesia.
Capa de Santa Rosa. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1949. 236 p.
SEBASTIÃO
O coração rolava sobe as lajes,.
A cabeça peluda morava na tarde,
Caía sobre a noite,
Brilhava com um soluço!
Quem falará do pássaro Sebastião
Sem estremecer?
Das suas mãos escuras,
Maceradas pelas tarefas anônimas
Do seu olhar gordo, úmido.
Quem falará do prisioneiro Sebastião,
Da sua fidelidade,
Dos seus soluços —
O ramo de flores humildes
Nas mãos anônimas,
Nas mãos maceradas pelos trabalhos,
Pelas humilhações
E pelas tristezas?
O LÍRIO
Meditavas na morte,
Ou descansavas,
Do mundo, de suas penas
E cuidados?
Eras um lírio,
Um lírio pleno,
Sobre os velhos túmulos.
Eras um lírio,
Esguio e puro.,
A descansar da vida
E seus enganos,
Eras um lírio
Debruçado sobre a escura morte.
SCHMIDT, Augusto Frederico. Sonetos. Rio de Janeiro: Rio Gráfica e Editora, 1965. 304 p. ilus. 16,5x23,5 cm. Ilustrações fora de texto: Hedda Salles, Anna Bella, Laszlo Meitner (autor da capa) e no texto por Alma Bella e Gian. “ Augusto Frederico Schmidt “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Ilustre e altiva raça lusitana,
Criadora e tenaz, modesta e sóbria,
Sempre disposta estás a olhar de frente
O destino, por mais amargo e duro!
Raça oriunda de Luso, esse pastor
Filho de Baco e rei da última Tule,
Raça contida em terra tão pequena,
E que no incerto mar mundos colheste.
A contemplar o Atlântico deserto,
Vives sempre a rever, verdes caminhos,
Por onde os teus varões se assinalaram.
Povo de poetas e de marinheiros,
Que nos legaste o nosso Deus eterno
E a nobre e rude língua em que falamos.
*
Depois de longa viagem, de repente
O porto, as tristes luzes a distância.
Depois do mar, tão íntimo, de novo
A terra, o mundo, as ambições mesquinhas.
Depois dos ares puros do mar alto,
O desconsolo de voltar a terra,
Cheia de perigosos e traiçoeiros
Enganos e ilusões; de novo o mundo!
Ah! por que não fiquei na sepultura
De frias e fundas águas solitárias
Pelas luzes do céu, tão-só, velado?
Ah! por que não deixei meu ser mesquinho
Descer à pátria nunca descoberta
No coração do oceano impenetrável?
SCHMIDT, Augusto Frederico. Homenagem Augusto Frederico Schmidt. Org. Adalberto Queiroz. Goiânia, GO: Caminhos; ACIEG; UBE-GO, 2015. s.p. 10x15 cm. “1ª Noite Cultural ACIEG 21-05-2015”. “ Augusto Frederico Schmidt “ Ex. bibl. Antonio Miranda
SONETO
QUERO SENTIR O GRANDE MAR, VIOLENTO E PURO.
Quero sentir o mar noturno e enorme.
Quero sentir o silêncio, o áspero silêncio do mar!
Quero sentir o mar! Quero viver o mar!
Quero receber em mim o grande e escuro mar!
Não o mar-caminho, mas o mar-destino,
O mar, fim de todas as coisas,
O mar, túmulo fechado para o tempo.
Quero o mar! O mar primitivo e antigo,
O mar virgem, despovoado de imagens e de lendas,
O mar sem náufragos e sem história.
Quero o mar, o mar purificado e eterno,
Q mar das horas iniciais, o mar primeiro,
Espelho do Espírito de Deus, rude e terrível!
(Sonetos, 1965)
10 POEMAS EM MANUSCRITO. Organizador: João Condé Filho. Rio de Janeiro: Edições Condé, 1945. Folhas soltas, dobradas. 29x39 cm. Prefácio de Álvaro Lins. Capa de Santa Rosa.
Inclui poemas manuscritos de Abgar Renault, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Augusto Meyer ilustrados por Tomas Santa Rosa; poemas de Jorge de Lima, Mário de Andrade e Vinicius de Moraes ilustrados por Percy Deane; poemas de Augusto Frederico Schmidt, Carlos Drummond de Andrade e Manoel Bandeira ilustrados por Cândido Portinari. A clicheria foi executada por Latt & Cia Ltda e a impressão esteve a cargo do mestre João Luis dos Santos, nas oficinas gráficas dos Irmãos Pongetti. “Desta edição foram tirados 15 exemplares F.C., numerados de I a XV e destinados ao prefaciador, aos poetas e aos ilustradores e 150 exemplares numerados de 1 a 150, compostos em papel Goatskin Parchment e com a rubrica do organizador. Exemplar n. 132. Col. bibl. Antonio Miranda.
Poema de Augusto Frederico Schmidt, ilustrado por Portinari.
ESCRAVO EM BABILÔNIA
Escravo em Babilônia espero a morte.
Não me importam os céus tristes e escuros
Nem claridades, nem azuis felizes,
Se espero a morte, escravo em Babilônia.
Escravo em Babilônia não me importam
Cantos que de Sião os ventos trazem
Com as inaudíveis vozes da lembrança
Se espero a morte, em Babilônia, escravo.
Não me importam amores e esperança
Se escravo sou e a morte aspiro
Em Babilônia onde me esqueço
Do que fui, das auroras e dos sonhos
E da enganosa e pérfida doçura
Que neste exílio me precipitou.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducciones de Anderson Braga Horta, Dámaso Alonso y Ángel Crespo.
ESTRELLA MUERTA
Trad. de Anderson Braga Horta
Muerta la Estrella que un día, solitaria,
Nació en el cielo sin término.
Muerta la Estrella que floreció en mis ojos.
Muerta la Estrella que miré en noche yerma.
Muerta la Estrella que danzó ante nuestros ojos,
La Estrella que bajando encendió este amor.
Muerta la Estrella que fue para mi corazón
Como la nieve para los nidos
Como el pecado para los santos
Como la ausencia de Dios para los condenados.
(Canto da Noite, 1934)
POEMA (ERA UN GRAN PÁJARO)
Trad. de Anderson Braga Horta
Era un gran pájaro. Sus alas estaban en cruz, abiertas hacia los cielos.
La muerte, súbita, lo habría precipitado a las arenas mojadas.
¡Estaba de viaje, procurando cielos más fríos!
Era un gran pájaro, que la muerte ásperamente había dominado.
Era un grande y oscuro pájaro, que el helado y repentino viento había sofocado.
Llovía cuando lo contemplé.
Era una cosa trágica,
Tan oscuro y tan misterioso, en aquel yermo.
Era una cosa trágica. Las alas, que los azules habían quemado,
Parecían una cruz abierta en el húmedo arenal.
Su gran pico abierto guardaba un grito perdido y terrible.
(Estrela Solitária, 1940)
EL ÁRBOL
Trad. de Dámaso Alonso y Ángel Crespo
El alba: en su seno,
Marchito, apagado,
no cantaban pájaros.
Sobre el cuerpo frío
Sí extendió la nieve
Sábana de muertos.
Los ruidos primeros,
Roncos, sofocados,
Quebrar no podían
El silencio enorme,
Que subía lento
De muerte presente,
De muerte palpable,
Como un fruto antiguo.
Y no era la tristeza,
Sino un pasmo inquieto
Que todo invadía.
No cantaban pájaros.
Mas, maduro, alegre,
Cubierto de flores,
Feliz al halago
De los libres vientos,
Solamente el árbol
No participaba
En la fúnebre hora,
Y brincaba loco
Desgreñado y bello,
De rocío húmedo,
Cubierto de flores.
LA TRISTEZA DE LA TARDE
Trad. de Dámaso Alonso y Ángel Crespo
La tristeza de la tarde es leve y alta.
Viene de la ciudad y sube al aire igual que una humareda.
La tristeza de la tarde envuelve los árboles delicados,
Envuelve jardines crepusculares.
La tristeza de la tarde viene de las agonías diarias,
De los niñitos enfermos, de los amantes infelices, de las lágrimas de los pobres.
La tristeza de la tarde viene de las grandes partidas,
De los sollozos de adiós, para los viajes y para las incomprensiones.
Miro la tristeza de la tarde caminar por el espacio.
Invadirá los cuartos de los que van a morir, se arrojará de bruces sobre las cunas,
E iluminará el alma de todos los poetas.
GÉNESIS
Trad. de Dámaso Alonso y Ángel Crespo
La oigo, ciega, avanzar por el mundo secreto
En que reina y domina sin clemencia.
La oigo mover, llegar, entre plantas y flores
Y fríos animales — formas raras.
Las voces que en las aguas se extendían,
Contenidas están y apagadas: silencio
Que la lámina fría de su cuerpo divide,
Verde, terrible, desolado, estéril.
El vacío mirar que devora el abismo
Distingue allá en la faz líquida de lo oscuro
La luz aun n engendrada todavía..
Ella es la esencia de la vida, la indiferente
De cuyo seno brotarán amargos frutos
Condenados al amor, al sueño y a la muerte.
RETRATO
Trad. de Dámaso Alonso y Ángel Crespo
Recordaba un pájaro del mar.
La mirada era aguda,
Un mirar lleno de misterio
De las oscuras distancias.
Un mirar frío y brumoso,
En el que posaba la poesía
De las regiones crueles.
Un mirar grave, serio, atento
A los violentos impulsos.
Recordaba un pájaro del mar.
Los cabellos olían a las flores,
Y plantas sumergidas.
Los cabellos desgreñados
Reflejaban el verde sombrío
De las líquidas planicies.
Recordaba un pájaro del mar.
Los labios cerrados
Eran túmulos en que dormían
Secretos que no se libertarían nunca.
La soledad había moldeado su rostro,
Un rostro en que la sonrisa
Estaba ausente o muerta.
Parecía hecha para durar tanto
Cuanto las aguas amargas
Nacidas para nunca marchitarse.
Parecía un pájaro del mar.
Se desprendía de su naturaleza
Una ardentía salvaje.
Nada pedía y no quería nada
Sino el silencio y la libertad.
MOMENTO
Trad. de Dámaso Alonso y Ángel Crespo
Deseo de no ser héroe ni poeta,
Deseo de no ser sino feliz y en calma.
Deseo de las voluptuosidades castas y sin sombra
De los fines de almuerzo en las casas burguesas.
Deseo manso de los cántaros de agua fresca,
De las flores eternas en los vasos verdes.
Deseo de los hijos que crecen vivos y sorprendentes,
Deseo de vestidos de lino azul de la esposa amada.
¡Oh! no las tentaculares embestidas hacia lo alto
y el tedio de las ciudades sacrificadas.
Deseo de integración en los cotidiano,
Deseo de pasar en silencio, sin brillo,
Y desaparecer en Dios — con poco sufrimiento
Y con la ternura de los que la vida no maltrató.
LA PARTIDA
Trad. de Dámaso Alonso y Ángel Crespo
Quiero morir de noche.
Las ventanas abiertas,
Los ojos contemplando la noche grande.
Quiero morir de noche.
Iré separándome poco a poco.
Desligándome muy despacio.
La luz de las velas moldeará mi rostro lívido.
Quiero morir de noche.
Las ventanas abiertas —
Tus manos pondrán agua en mis labios
Y mis ojos beberán la luz tristes de tus ojos.
Los que vendrán, los aún no conozco,
Estarán en silencio
Puestos en mi los ojos.
Quiero morir de noche.
Las ventanas abiertas —
Los ojos contemplando la noche enorme.
Poco a poco me veré pequeño de nuevo, muy pequeñito.
La cuna se mecerá en la sombra de una sala.
Y en la noche, medrosa, una vieja coserá un gran muñeco.
Una luz roja iluminará el dormitorio.
Y los pasos resonarán quebrando el silencio.
Después, en la tarde fría, un sombrero rodará por una calle.
Quiero morir de noche.
Las ventanas abiertas —
Mi alma saldrá para muy lejos, para muy lejos del todo.
Y cuando todos sepan que ya no estoy
Y que nunca más volveré,
Habrá un segundo, en los que están
Y en los que han de venir, de total comprensión.
Extraídos de la REVISTA DE CULTURA BRASILEÑA. Número 13, Tomo IV, Junio 1965. Editada por la Embajada de Brasil en Madrid, España.
LA POÉSIE BRÉSILIENNE CONTEMPORAINE. Anthologie réunie,
préfacée e traduite par A. D. TAVARES-BASTOS. Ouvrage couronée par l´Academie Française em 1954. Paris: Editions Seghers, 1966. 292 p. sobrecapa. Ex. bibl. Antonio Miranda
L´APPARITION DE LUCIANA
Oú arrivais-je, je ne me rapelle même pas
Je sais que la journée était sombre
Qu´il pleuvait et que les arbres trempes
Etaiente battus par le vent froid.
Oú arrivais-je, je ne le sais pas,
Je ne me rapelle pas ce à quoi je pensais.
A peine je me rapelle avoir été tourmenté.
Que j´étais inquiet, três inquiet.
Ce fut alors que devant moi Luiciana est soudain apparue,
Luciana la pâle, enfin!
Luciana avec son triste sourire.
Aux mains blanches et tendres.
Ainsi que l´étoile filante Luciana aussitôt disparut.
Ce ne fut que le temps de la fizer un moment.
Je n´ai même pas su quel destin elle a pris.
Peut-être est-elle montée dans l´autobus qui passait.
Peut-être a-t-elle pris le vol.
Je n´ai pas vu où elle est allée.
Je sais pourtant que la poésie
As poésie à elle me penetra
La poésie de Luciana la folle,
De Luciana la pâle,
De Luciana la sérieuse,
De Luciana la bien-aimée mystérieuse.
“ PÁSSARO CEGO “
PURIFICATION
Que deviendrai-je quand le nuit viendra,
Quand les ombres sans bornes accapareront le ciel?
Que deviendrai-je quando les dernières lumières
Une à une toutes s´éteindront?
Ansieux je chercherai dans les ténèbres infinies que
auront tour enveloppé
L´écho perdu d´une voix lointaine
Mais inultilement
Intutilement.
Peu à peu je serai devenu moi-même.
Sur l´infinie de l´étendue les lignes de mon être s´étireront.
Tout fausseté disparaîtra
Peu à peu je me dénuderai.
Tout ce qui n´est pas à moi, de moi se séparera
Peu à peu je deviendrai nu.
Il y aura une sorte de retour essentiel.
Je redeviendrai nu peu à peu
Et cacherai au coeur immense des ténèbres mon affreuse
nudité!
(Idem)
LA JEUNE FILLE MORTE
J´ai vu, la nuit noire, au ciel, je ne sais pas,
Des enfants mortes. J´ai vu des jeunes filles mortes!
J´ai vu, Seigneur, des jeunes filles mortes!
J´ai vu des mains blanches au ciel, sur la mer, dans l´air.
J´ai vu des mains blanches de jeunes filles mortes.
J´ai vu dans l´air les bras des mortes!
J´ai vu dans l´air les cheveux des mortes!
J´ai vu des larmes de jeunes filles mortes tomber du ciel,
de l´air, de l´aube!
J´ai vu des jeunes filles mortes.
J´ai vu des fleurs pâles dans le ciel.
J´ai vu Seigneur, la Morte!
J´ai vu la Morte, mon enfant, ma souer, ma fiancée
J´ai vu le sourire de la Morte
Le repôs et la beauté de la Morte!
J´ai vu le morte pure et sans geste
J´ai regardé la Morte longuement
Ma Fiancée perdue
Perdue comme l´innocence
J´ai vu la morte.
Qui peut aimer encore, Seigneur, après avoir vu la morte
J´ai vu les jouets de la morte
Le petit lit dans lequel elle dormait
J´ai vu la Morte:
La Morte m´a béni
Sainte et Enfant, elle a prié pour moi auprès de mon Pére
J´embrassi les mains blêmes de la Morte.
J´embrassi les pieds glacés de la Morte
Les yeux doux de la morte;
J´ai vu la Morte!
La longue nuit durant je´ai vu la morte.
(Idem)
NAISSANCE DU SOMMEIL
Du fond des cieux le sommeil descendra
Le sommeil prendra corps à travers l´espace
Le sommeil se promènera sur la terre
et le fleurs et les poissons et les hommes anciens
Le sommeil tombera du ciel et coulera
em prenant la forme des vallées abandonnées
Et une tristesse pure et délicate
M´a envahi; m´apris les mains; trempé les yeux
Et me fit revenir à L´Enfance lointaine.
Je ne puis dire par quels détours
J´ai retrouvé la Patrie depuis longtemps perdue
Mais je sais que mes yeux si blessés
Ont replongé dans cette Paix Ancienne.
A l´égal de quelqu´um qui a eu froid
Pa d´àpres terres sans pietié, et un jour
S´en revint au doux feu de chez soi
Ainsi je demeurai craignant l´étrange nuit.
Pourquoi n´ai-je pas eu la clarie et Bonne Destinée?
Pourquoi n´ai-je pas eu le sort humble et hautain
Des enfants si heureux qui ont passé
De l´Innocence à la mort sans avoir vécu?
(Idem)
OUVREZ LES PORTES
Je nái plus d´expérience.
J´ai tout oublié, je ne sais comment.
Mon seul désir froid et obstiné
Soulève mon corps triste et las.
Je n´ai plus de plaisir à jouir.
En moi est mort tout intérêt.
Je n´ai rien, toute expérience
m´a quitté. Je suis devenu vide.
Um jour le méchant désir qui m´accompagne
s´em ira aussi. Je tomberai de faiblesse.
Je tomberai por toujours dans la poussière, contre le sol.
J´ai tout oublié. En moi est mort tout intéêt.
Ouvrez les portes, je vais sortir!
Ouvrez les portes, je m´en vais!
Mon âme sombre demande silence.
Mon âme laide demande silence et solitude.
Ouvrez les portes qui sonte fermées.
Je veux m én aller là-bas
je veux partir là-bas
emporter três loin la maladie du désespoir.
Le ciel, l alune, les astres froids, les nuits solitaires
aidèrente davantage mon âme faible.
Déjà le désir vent me quitter.
Ouvrez les portes que m´emprisonnent!
Je veux m´en aller três où l´on ne sache pas
qui je suis, qui j´ei été, jusqu´à en finir.
Je veux finir trè loin, là-bas,
três loin, à l´abandon, dans l´ombre.
Ouvrez les portes! Voici ma mère presqu`em pleurs.
Ma mère s´approche, la voix craintive.
Ouvrez les portes avanta que mère arrive.
Je veux m´en aller sans consolation.
Ouvrez les portes! Je veux me traîner à l´abandon
Sans que la pitié panse les bleussures que je porte en moi.
ne penetre en moi sournoisement.
Ouvrez les portes, ouvrez les portes!
La nuit est noire, qui le saura?
Ouvrez est noire, que le saura?
Ouvrez les portes. La nuit es longue.
Je veux m´en aller finir là-bas...
“ OISEAU AVEUGLE” 1931
TEXTI IN ITALIANO
SCHMIDT, Augusto Frederico. Poesie. Versioni di Mercedes La Valle. II edizione. Roma: Damasi, s.d. 116 p. 15 x 21 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
VIAGEM
As paisagens se sucederão rápidas.
Verei noites sem fim — no mar imenso.
Ouvirei o cantochão das ondas nas praias.
Verei luzes rubras se distanciando.
Ouvirei, cortando a noite, apitos fundos
Rostos tisnados — de gente do mar — aparecerão
Envolvidos numa luz baça.
As paisagens se sucederão rápidas
Só eu serei o inquieto
Só eu serei o passageiro
Só eu sentirei a dor das separações absolutas
Só eu compreenderei a impossibilidade de tornar
E então
A terra que deixei será menos ruim
As humilhações sofridas parecerão menores.
A angustia de ser pequeno, antes tão dolorosa,
/ será diminuída pelo tempo.
O tempo
A distância iluminará todas as fisionomias perdidas.
Tudo se tornará maior porque mais longe,
Mas, enfim, eu me sentirei grande,
Tão grande como a solidão que me há de cercar.
VIAGGIO
Rapidamente i paesaggi si seguiranno.
Vedrò notti infinite nel mare immenso.
Udrò la cantilena dell'onde sulle spiagge.
Luci rosse si allontaneranno,
Nella notte ferita da sibili profondi.
Visi bruni degli uomini del mare appariranno
Avvolti da una fioca luce.
I paesaggi si seguiranno rapidi.
Solo io avrò il cuore turbato.
E sarò il triste viandante
Che avverte il dolore del distacco definitivo
E comprènde l'impossibilità del ritorno
E allora
La terra che lasciai mi sembrerà meno ingrata
E minori le umiliazioni patite.
L'angustia di sentirmi oscuro, aia tanto amara,
Diminuirà nel tempo.
Il tempo
La distanza illuminerà i volti perduti.
Tutto sembrerà immenso perchè lontano.
Ma anch'io mi sentirò grande;
Grande come la solitudine cbe mi circonderà.
A JANELA SE ABRIU
A janela se abriu na escura casa
Onde tudo era informe e triste tudo
Onde sombras apenas se agitavam.
A janela se abriu sobre a paisagem.
Veio das longas estradas o ar da tarde.
A claridade dúbia, a nostalgia do outono
Encheram de frescura o ambiente morto.
A janela se abriu. Sobre o silêncio
Imenso caiu um som longínquo
Um soar diferente, longo, estranho.
Depois não passou ninguém pelo caminho.
A chuva molhava as verdes árvores da estrada.
Foi muito longa a espera pela noite, mas veio enfim!
E de novo na triste casa eseura as sombras se agitaram.
LA FINESTRA SI APRT
La finestra si aprì nella buia casa
dove tutto era informe e tutto triste
e dove appena le ombre si agitavano.
ja finestra si aprì sul paesaggio
L'aria della sera giunse da lunghe strade
e, nella penombra e nostalgia d'autunno,
di frescura riempì le stanze morte.
La finestra si aprì. Lontano un suono
piombò sul gran silenzio:
fu un palpitare vario, un lungo fremito...
Poi nessuno passò più nella strada.
Sotto la pioggia verdi erano gli alberi.
Lunga fu l'attesa della notte, ma giunse alfine.
E nella triste casa, di nuovo l'ombre
come fantasmi neri s'agitarono.
OUÇO UMA FONTE
Ouço uma fonte.
E' uma fonte noturna
Jorrando.
E' uma fonte perdida
No frio.
E' uma fonte invisível.
E' um soluço incessante,
Molhado, cantando.
E' uma voz lívida.
E' uma voz caindo
Na noite densa
E áspera.
E' uma voz que não chama.
E' uma voz nua.
E' uma voz fria.
E' uma voz sozinha.
E' a mesma voz.
E' a mesma queixa.
E' a mesma angustia,
Sempre inconsolável.
E' uma fonte invisível,
Ferindo o silêncio,
Gelada jorrando,
Perdida na noite,
E' a vida caindo
No tempo!
ODO UNA FONTE
Odo una fonte.
E' una fonte notturna
Che sgorga.
E' una fonte perduta
Nel freddo.
E' una fonte invisibile.
E' un singhiozzo incessante,
Lagrimoso, che canta.
E' una voce livida.
E' una voce che cade
Nella notte densa.
Ed aspra.
E' una voce che non chiama.
E' una voce nuda.
E' una voce fredda.
E' una voce sola.
E' la stessa voce.
Lo stesso lamento.
La stessa angustia
Sempre inconsolabile.
E' una fonte invisibile
Che ferisce il silenzio,
Sgorgando, gelata,
Perduta nella notte.
E' la vita che cade
Nel tempo!
ONDAS
As ondas do mar, vêm dançando, vêm crescendo
E enfim de súbito desmaiam,
No leito branco.
São ondas mesmo ou bailarinas?
São ondas mesmo ou raparigas,
De corpos brancos e flexíveis?
São ondas mesmo ou flores claras,
No mar formadas e nascidas
E que a bailar se despetalam?
Olho-as de longe, crespas, sinuosas
Com as saias brancas e tufadas,
Em rodopios e volteios.
Olho-as de longe, são tão frescas,
À luz da lua sossegada,
À luz da lua sonolenta.
ONDE
Le onde del mare vengono danzando. Crescendo
E infine si adagiano, all'improvviso,
Sul letto bianco.
Sono onde o ballerine?
Sono onde o giovinette
Dai corpi bianchi e flessuosi?
Sono onde o fiori chiari
Nel mare nati e formati
E che ballando si disfogliano?
Le guardo da lungi, increspate e sinuose,
Come vesti bianche gonfiate
In aerei volteggi.
Le guardo da lungi. Sono tanto fresche.
Alla sonnolenta luce della luna.
HADAD, Jamil Almansur, org. História poética do Brasil. Seleção e introdução de Jamil Almansur Hadad. Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio Abramo. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943. 443 p. ilus. p&b “História do Brasil narrada pelos poetas.
HISTORIA DO BRASIS – POEMAS
DESCOBRIMENTO DO BRASIL
O DESCOBRIMENTO
I
Dia de festa, ilustre dia antigo!
Andam no ar esperança e alegrias.
E as morenas mulheres portuguesas,
Com os seus mais belos trajes do passeio,
Têm nos olhos tanto sol ardente,
E nos negros cabelos tantas flores!
Dia da Pátria, em que a Fortuna, errante,
De súbito fixou o olhar ditoso
Sobre o reino, de El-Rei o Venturoso.
Dia em que vão partir, rumo das Índias,
Pela novas estradas lusitanas
As naus da grande frota cabralina,
Dia em que Portugal se sente forte
E capaz de altos feitos valerosos.
E toda a noite a frota, se aprestando,
No Restelo ficou, da Aurora à espera
Como um bando de pássaros inquietos,
Sobre as águas revoltas mal pousando.
E veio pela noite um vento errante,
Aos corações trazendo um grande medo,
Medo de alma, que os ânimos não dobra.
Perto, no Serro Promontório, a sombra
Do infante e Sábio a Deus ia acenando
Aos marinheiros, que nas amuradas
À terra mãe , sentidos, contemplavam,
Até que a aurora veio, e abrindo os lábios
Os céus de róseas cores foi semeando,
E na boca da aurora as naus partiram
Do Samorim os reinos demandando.
Enfim em pleno mar, e aos elementos
Entregues, lá se vão, correndo a mesma
Sorte, que deu, a alguns, glória e lustre,
E aos outros morte triste e duras penas.
Longos dias, sem fim, água e mais água.
E céus sem termo, calmos ou soturnos,
Os assistiam nessa grande viagem,
À primeira de terras fabulosas,
As riquezas há muito prometidas,
A algumas almas iam dando forças,
Noutras, porém, intrépidas e puras,
Era a fome cristã, do salvamento
De tantos seres ímpios e sem culpa,
Que para o Cristo conquistar deviam.
............................
Foi na hora tranquila, quando Vésper
Principiou a surgir nos céus rasgados,
Que os marinheiros viram grande monte,
E terra chã com bastos arvoredos.
Antes, surgiram, como mensageiros,
Do novo mundo, inquietas e agitadas,
Umas aves nomeadas fura-buchos,
Primeiros seres da brasílea terra.
Estava-se na Páscoa, e assim, chamado
Pascoal foi logo o monte batizado,
Pois cristã era a gente que aportava
Àquela terá, tão mal vista ainda
E aonde um novo império cresceria,
Que a fé e o idioma luso guardario.
.......................
E feitas as sondagens, vieram logo,
Os capitães, à nau do comandante,
Nos tão frágeis esquifes, impelidos
Pelas pás, vigorosas e seguras.
Vieram prestes e ansiosos, à procura
Do Capitão de todos, o prudente
E seguro Pedrálvares Cabral,
E com ele, em conversas demoradas,
Conjeturaram sobre o estranho achado,
E qual o nome, que chamar deviam,
Á terra virgem da cristã presença,
Que a sorrir se ofertava, verde e nova,
Terra sólida e firme, e não miragem
De navegantes e sonhadores.
....................
Eram homens vividos, esse nautas,
Que em torno ao nobre chefe se reuniam,
Homens queimados pelos sois atlânticos,
Homens, alguns, do Gama companheiros.
Ali estava: Pacheco, a alma secreta
Da aventura a que dera em descoberta
O galhofeiro e simples Diego Dias,
E Coelho, que nas Índias estivera,
E o domador do cabo Tormentoso,
Esse Bartolomeu Dias famoso,
De tão grande saber, tão valoroso,
E ali, Pero Escobar e Frei Henrique
E mais frades, que se iam para as Índia,
E que a rezar de pronto se puseram.
Mas não era só terra, o que encontraram,
Pois moviam-se, além na grande praia,
Dando sinais de espanto e de inocência,
Seres humanos de bizarro jeito.
E para vê-los e saber que raça
Era aquela, desceu Nicolau Coelho,
Homem já pela Índia experimentado,
E foi com ele o Dias, tormentoso.
Era um sábado, antes da Pascoela,
E a baía nos olhos mal cabia,
De tão grande e tranquila formosura.
Um vento de intertrópico trazia
Para os lusos narizes o perfume
Da misteriosa selva brasileira.
E o sábio Nicolau encontrou gente
Desnuda e simples, a correr pela areia,
De tímidos e ousado dando mostras,
Ao mesmo tempo cautos e inocentes;
Gente espantada e a correr, temendo
Os homens brancos e de estranhas vestes,
Cujos intuitos ainda não sabiam,
E que falavam por sinais estranhos.
Que não eram nem negros africanos
E nem filhos das Índias tão remotas,
Do arguto Nicolau o laudo foi:
Era gente da terra brasileira,
Frutos do novo mundo americano,
Cuja aurora cristã nos céus raiava.
..................
(Publicado no “Atlântico” – N. I, 1942 - Edição
do Secretariado da Propaganda Nacional (Lisboa) e do
Departamento de Imprensa e Propaganda – Rio de Janeiro).
POESÍA CONTEMPORÁNEA DE AMÉRICA LATINA. Org. Jorge Boccanera; Saúl Ibargoyen. México, DF: Editores Mexicanos Unidos, 1998. 260 p. Inclui poetas brasileiros.
Ex. bibl. Antonio Miranda, doação do livreiro José Jorge Leite de Brito.
DESPEDIDA
I
Vio pájaros dibujando el cielo nebuloso.
Vio veleiros en el mar.
Vio altas olas, vio calmas,
Vio noches sin luz, llenas de susto.
Oyó gritar de voces, voces rudas,
Oyó voces cantando canciones tristes.
El viento de la tarde entró por las ventanas
Y trajo olor del mar bravío.
Vio de reojo, puertas tristes, sucias,
Vio viejas casas, viejos puentes negros.
¡Ah, también vio pequeñas calles!
¡Lluvias, vio cayendo sin término!
Vio fisionomias desaparecidas,
Vio uma cuna de niño en la penumbra de un cuarto.
Sobre su cuerpo sintió otro cuerpo.
Sobre sus labios otros labios.
Descendieron sobre sus hombros hojas secas.
Un gran silencio llegó a la calle abandonada.
Después llevaron su viejo cuerpo inútil para la tierra.
Página ampliada e republicada em junho de 2018; ampliada em outubro de 2019
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