KORI BOLIVIA
(KORI YAANE BOLIVIA CARRASCO DORADO)
Filha do pintor boliviano Jorge Carrasco Núñez del Prado e da psicopedagoga Julia Dorado Llosa, nasceu em La Paz (Bolívia) em 22 de agosto de 1949. Chegou a Brasília em 1976 tornando-se também brasileira.
É licenciada em Letras, possui pós-graduações em Língua e Literatura espanholas, Tradução português-espanhol e espanhol-português. Tem Mestrado em Literatura Brasileira e em língua e Cultura Espanholas, tendo estudado na Bolívia, no Brasil e na Espanha. Trabalhou como professora de português e de espanhol na Universidade de Brasília, lecionou espanhol no Instituto Rio Branco (Academia Diplomática do Brasil - MRE) e em outras instituições brasileiras.
Sempre inquieta, aos três anos de idade foi premiada pela Prefeitura de La Paz por seu quadro “Mi papá y yo” no Concurso de pintura infantil, foi aluna do Conservatório de Música, foi membro do Teatro Experimental Universitário (TEU-UMSA) e do Teatro da Aliança Francesa na mesma cidade. É membro fundador da União Boliviana de Escritores onde foi secretária de Promoção e Difusão da Nova Literatura (1975) e é membro da Sociedad Boliviana de Escritores. É membro da União Brasileira de Escritores, da Associação Nacional de Escritores e do Sindicato de Escritores do Distrito Federal. Foi Presidente da Associação de Professores de Espanhol do Distrito Federal (1993-1996 e 2006-2008) e ocupa a cadeira XXXVII da Academia de Letras do Brasil.
Livros: Um grito Callado. La Paz-Bolivia, Editorial del Estado 1981; Espuma de los días La Paz – Bolivia, Editorial del Estado 1982; Poemas en cuatro tiempos Brasília-DF, Editora Thesaurus, 1994 e Despeinando sueños Brasília-DF, Editora Thesaurus, 1997; La Rosa dormida (livro inédito); O orvalho de tua voz (livro inédito, próxima publicação) – O indianismo na poesia de Jesus Lara e de Raul Bopp (ensaio-inédito); El texto literário (más que todo poético) em la clase de ElE (inédito); Tradução literária: trabalho difícil, porém gratificante (inédito).
Está presente em várias antologias de poesia e de crônicas de Brasília e da Índia, como também no Dicionário de Escritores de Brasília e na História da Literatura Brasiliense. Traduziu poemas do espanhol para o português e vice-versa de maneira individual e coletiva com outros poetas brasilienses, e realizou várias conferências sobre literatura, tradução e língua espanhola. Escreve tanto em espanhol como em português.
“Os invito a entrar en el mundo secreto de Kori Bolivia, una poeta casi mística en un mundo deshumanizado” (Pedro Shimose - Madrid, 2006)
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KORI BOLIVIA cumpre sua trajetória de poeta com um lirismo que é mais nosso do que dela. Ela encarna uma condição humana que é vertida na linguagem da contensão mas sem limites, ou seja, sua capacidade de ser uma e múltipla, de expressar brechtianamente pelo outro que, no entender de Mário de Andrade (“sou trezentos”) está em nós. Explicando melhor: é contida, sem excessos verbais, mas sua voz ecoa além da linearidade do texto, por alcançar-nos no que temos de comum e universal.
Acompanho a caminhada dela entre nós. Veio da Bolívia, vive conosco em Brasília e conseguiu falar a nossa língua melhor do que nós, sem sotaque, cristalina como a voz que soa nos Andes na cimeira do mundo. E sua poesia verte nas línguas que domina, pois a língua é a forma de nossa expressão e a poesia é a fôrma em que ela consegue representar-nos, enquanto expressa os próprios sentimentos e visões do mundo. Mundo mundo vasto mundo... já dizia Drummond de Andrade. Mas cabe reconhecer uma certa estranheza dela, alguma nostalgia, um certo sentimento contido. “Um labirinto de sonhos despertos”, “solidão irredutível”, “em íntimo sofrimento”. “Infinita voz, infinita”. Vê-la sempre sorrindo, com uma delicadeza “exquisita” no sentido de cordial, no original castelhano, não configura sua angústia existencial, que é também nossa. Como são nossos, agora, os versos de “O orvalho de tua voz”, referindo a nós.
Antonio Miranda
La vida es una cosa,
la poesía es otra,
pero se encuentran por obra y gracia
del duende que habita en el poeta.
KORI BOLIVIA
TEXTOS EM PORTUGUÊS
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. No. 8 – jan./jun. 2022. Editor: Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora Cajuína, 2023. 160 p. ISSN 2674-8495
TEXTOS EN ESPAÑOL e em PORTUGUÊS
Volverás golondrina azul
Para Daniela LU González
No te conocí
poetisa de ojos tristes,
pero veo de otros las manos
y las tuyas
entre hojas
de papel y
árboles.
Siento tus ojos
ahora derramando
los colores
de tu arco iris,
derramando los sueños
que ya no pueden tocarte.
No sé por qué,
ni como,
veo que te fuiste
y lo quisiste tú.
Volverás,
golondrina azul,
con otros ojos más alegres.
2. Volverás andorinha azul
Para Daniela LU González
Não te conheci
poetisa de olhos tristes.
Porém vejo de outro as mãos
e as tuas
entre folhas
de papel e
de árvores.
Sinto teus olhos
agora derramando
as cores
de teu arco-íris,
derramando os sonhos
teus entre seus dedos
que já não podem tocar-te.
Não sei por quê
nem como,
vejo que foste embora
mas tu assim o quiseste.
Voltarás
andorinha azul,
com outros olhos mais alegres.
3. Suspiro
El rostro cerrado
y el sueño disperso.
Un pájaro cerró sus alas
y soy sólo silencio
en la noche densa.
4. Suspiro
O rosto fechado
e o sonho disperso.
Um pássaro fechou as asas
e sou somente silêncio
na noite densa.
5. Al passo de la muerte
Quizá em los silenciosos abismos
reine
una mirada desvelada,
perdida,
sin memoria.
Quizás las piedras
sigan custodiando
y el dolor de las sombras
se deshaga
como se deshacen
los sueños.
Y el amor,
como eco,
se abra
el paso de la muerte.
6. Ao passo da morte
Quiçá nos silenciosos abismos
reine
um olhar desvelado,
perdido
sem memória.
Quiçá as pedras
sigam custodiando
o canto da noite,
e a dor das sombras
se desfaça
como se desfazem
os sonhos.
E o amor,
como eco, se abra
ao passo da morte.
7. Con la muerte
Camino por la vida
y la muerte me llama
para caminar con ella.
Sin embargo, en los silencios
siento el quejido de aquellos
que no saben con quién caminan,
sí con la muerte o con la vida,
y sigo caminando estremecida
en los senderos de la vida,
dejando ya en los rastros
la fatiga, frágil aún, de mis sueños
y de una soledad
que se encarga
de mostrarme el tiempo,
con un cielo que se oscurece
formando sombras
en la luna fría.
8. Com a morte
Caminho pela vida
e a norte me chama
para caminhar com ela.
No entanto, com ela.
No entanto, nos silêncios
sinto o queixume daqueles
que não sabem com quem caminham,
se com a morte ou com a vida
e sigo caminhando estremecida
nas sendas da vida,
deixando já nos rastros
a fadiga, frágil ainda, de meus sonhos
e de uma solidão
que se encarrega
de lhe mostrar o tempo,
com um céu que escurece
formando sombras
na lua fria.
9. Combate
Sombras errantes recorren o mundo
de egoísmos lleno.
Combate que traba
el amor
contra aquel destino.
Calamidades se avecinan,
solidaridad y sobrevivencia se dan la mano.
Sin embargo, estoy presa a la nostalgia
y aún me late en los ojos,
la vida.
10. Combate
Sombras errantes percorrem o mundo
de egoísmos pleno.
Combate que trava
o amor
contra aquele destino.
Calamidades se avizinham
solidariedade e sobrevivência dão-se a mão.
No entanto, estou presa à nostalgia
e ainda pulsa em meus olhos,
a vida...
11. Ceifeira de sonhos
Morte que te aproximas,
não tragas as trevas.
A cada passo teu
vai um sonho
e apaga-se uma estrela.
Permite que os olhos se deleitem
com a manhã reluzente,
com a praia, com o sol
e com a areia do recomeço.
Permite ainda que as mãos pálidas
recuperem a vida,
que os pulmões se encham
de fragrâncias novas e
que haja peles unidas em novas carícias.
Morte que te aproximas,
olha com mais sabedoria,
não desprezes o amor
que existe ainda,
permite que o homem
reordene o mundo
saído do coração!
12. Segadora de sueños
Muerte que te aproximas
no traigas tinieblas.
A cada paso tuyo
se va un sueño
y se apaga una estrella.
Permite que los ojos se deleiten
con la mañana reluciente,
con la playa, con el sol
y con la arena del recomienzo.
Permite aún que las manos pálidas
recuperen la vida.
que los pulmones se llenen
de fragancias nuevas y
que haya pieles unidas en nuevas caricias.
Muerte que te aproximas,
mira con más sabiduría,
no desprecies el amo
que existe todavía,
permite que el hombre reordene el mundo
con una sonrisa
¿salida del corazón.
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 4, jan./jun. No. 7 – jan./jun. 2022. Editor: Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora Cajuína, Opção editora, 2023. 158 p. ISSN 2674-8495
Suspiro I
As cores do vento
brincam de ser lampejos
de teus olhos atentos
ao silêncio da noite
e do amor.
Suspiro II
Sobrevivo à solidão
porque tenho passaporte de alegria,
ouço o vento que me beija a face.
Sobrevivo à solidão
porque sou minha própria companhia.
Tarde bêbada
Há um ir e vir
que desafia o silêncio,
que enche de vermes as línguas,
que leva veneno nos olhos
e mil palavras que descobrem
nos sonhos do homem
um coração cansado
entre pistolas e dragonas.
Basta de silvos com cheiro de morte,
basta de espaços rotos,
de lagos de sangue e luto,
basta de fazer desaparecer
os pássaros, os peixes, as árvores,
as crianças, as mães, as pessoas.
Consciência, clara tuas feridas!
Amor, onde te escondes?
Retalhos
Recortes são guardados,
pedaços de papel nas gavetas,
lembranças são momentos
que impactam a alma.
Como queima este raio de sol,
como quebra a resistência,
como soa o silêncio
em minhas mãos,
pétalas de rosa rubra,
cheirosa e terna
que suavizam esta pele!
Recortes de vida,
retalhos de folhas
que balançam ao vento
e no coração...
Conhecendo
A força de olhar a imensidão
o olhar se engrandece
e as asas dos sonhos voam.
Voam melhor do que as nuvens
em dia de vento.
E segue a mente, pelos olhos,
conhecendo o tempo.
Mas cresci
Olho-me de frente,
espelho meu
e em ti vejo
que muito lá dentro
continuo sendo a que sempre fui.
Aprendi tanto, tanto ganhei
e também perdi.
Transbordaram meus sonhos,
minha juventude riu e chorou.
Atravessei furacões,
lava de vulcões queimam-me a pele,
o amor preencheu minha alma,
uma flor e um pássaro
ensinaram-me a tremer.
A lua mostrou-me a orla
das ondas do mar
que vêm e fogem
como a fome e a sede.
O sol deu-me seus raios,
ensinou-me que nas guerras
pode-se muito perder
e quem ganha pode não ser o
O frio da noite
prendeu-se à minha idade,
a sombra deu-me com paciência
a experiência de reconhecer
que há gravidade e beleza,
que há dor, há perdão
e o peito também é pintado
com a cor do amor.
Olho-me de frente,
espelho meu
e em ti vejo
que muito lá dentro
continuo sendo a que sempre fui,
mas cresci.
Enfileirando amanheceres
Vou enfileirando amanheceres
em meu espírito enluarado.
Foge o horizonte sem luzes
e as estrelas que se penduram airosas
desmaiaram entre resíduos de esperança
neste século/armadilha encerrado
entre tempo e luto,
entre vida e morte,
entre luz e névoa,
entre magia e labirinto.
Vou enfileirando amanheceres,
escalando sonhos que se foram
como o silêncio musical
nos arpejos
da chuva, da vida e seus mistérios.
Suspiro III
As solidões, unidas,
voam par ao mar
e as ondas em seu ir e vir
de contar contos mil,
somente as olham passar...
Um mau sonho
Passarinho que gargareja tão cedo
parece dizer que o dia será muito iluminado.
Faz-me acordar com a esperança
de um brinde à vida
e pensar que o caminho
não está cheio de cardos,
que a travessia
de sangue e de pranto
é um mau sonho
no pote do mundo.
Suspiro IV
Quando calo,
porque nada quero dizer,
o silêncio parece que se oculta
e conta tudo
o que quero esquecer.
Pomba ofuscada
Violência, carência, morte,
incandescente vem a palavra
que fere, carcome e mata
Encaixotado o sentimento,
desesperada a pomba
se desfaz como o vento,
coração que clama...
Ainda está a esperança
escurecida à beira
de um precipício que era tragá-la!
Não sei
Para onde irão os segredos,
os mistérios do amanhã,
para onde voarão as folhas
das árvores que tano amei,
esses rostos ensanguentados,
essa razão sem razão
dos dias de guerra e do verão.
O que é de verdade,
o que é a mentira,
o que é a morte,
o que eu sei ou não sei,
liberdade, solidão ou vida.
Não sei se é de ódio o licor
da taça que tantos bebem,
não sei pra onde irá o amor
que há no meu peito,
não sei do meu universo
amanhã não sei o que serei...
Rotas
Examino as rotas,
Velhos caminhos cheios de rugas,
de pontos que delatam rastos
do tempo que passou.
Em cada pegada nota-se a distância
entre ilusões, umas perdidas
outras agarradas à força
pela tormenta e pelo frio,
que fizeram obrigatório o encontro
de um casacão, de uma bota, de uma lareira.
Rotas amplas, a momentos cheias de sol,
a momentos estreitas, prateadas de lua,
porém sempre com folhas verdes
desenhadas com palavras,
com paisagens e música,
com equívocos normais e humanos,
pontes que se perderam
nos mapas desgastados
inundados por desenganos.
Rotas que ao acaso
aparecem ante os olhos melancólicos,
contraditórias bifurcações
com flores e frutos, pedras e terra
temporal consciência e reflexão.
Examino hoje as rotas,
caminhos reais e de ficção.
Suspiro V
A cabeleira balança ao vento,
cabeleira que já não tenho.
Hoje por minha nuca só passa
e me lambe o tempo.
Mulher
À memória de minha mãe
Mulher que acorda
e encara os encontros.
Mulher que grita
e verdades ilumina.
Mulher que fala com vivos
despidos de amor
como se fosse rotina,
como estações vizinhas
na memória da história,
descobre códigos, cura feridas,
acalenta inocentes
e é esperança nas noites
de silêncio, de sangue e de dor.
Mulher que sozinha incendeia a covardia
e eleva preces com asas cansadas
e carrega, com fome,
a disputa por um mundo melhor.
Não sei você
Não sei você,
porém minha alma está nas nuvens,
deleita-se com os pensamentos
e com os raios de lua
que acariciam sonhos.
Meu corpo não está vazio,
correm circuitos livres, comedidos
pelo meu cérebro que trabalha dia e noite,
corre o sangue pleno de orvalho,
de alegria, de viver com os olhos abertos
mesmo que faça frio.
Não me sinto incompleta
divina obra da amor, que sou,
mesmo que leve a nostalgia
cravada em meus sentidos,
enraizada em meu ser interior.
Distâncias também são companheiras
de meus passos e muitas,
nestes momentos,
mas tenho asas para voar
como os ventos.
Tenho amor imenso em mim
para sentir a vida,
a chuva e os lamentos.
Não sei você,
que às vezes machuca
meu coração ébrio de mulher.
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REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 3, No. 5 jan./jun., 2021. Diretor Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora Cajuína/Opção editora, 2021. 168 p. ISBN 2674-84-95
Vi chorar uma árvore
Vi cortar uma árvore
primeiro os galhos,
e caindo suas folhas verdes,
Vi cortar seus braços, tantas vezes
livres balançavam ao vento
ao compasso de trinados,
de asas e de sonhos.
Vi o pássaro que de perto
entristecia-se, esvoaçava
pela serra elétrica
sem acreditar no que fazia o homem.
Vi cortar o corpo,
antes altivo, que chegava à minha janela.
Vi chorar, derramar-se, brotar a seiva
justo do centro do tronco ainda vivo.
Vi desnudar a terra,
a vida, cicatriz morena
que vejo agora desde minha janela,
sem pássaros nem folhas ao vento.
Cansaço
Às vezes é bom escutar
o cansaço do corpo e da alma.
Sentir aquela dor,
aquela que desejava esquecer.
Ás vezes é bom sentir
o cansaço do pensamento
que voluteia, e mesmo assim,
voa em delírio de percepções.
Às vezes é bom falar,
perguntar pra Deus,
se ele sabe quando virá a paz,
essa paz de espírito, sem barbárie e sem tempo vão,
de estômagos sem fome com humanidade sã.
Se ele sabe quando virá
uma primavera colorida e alegre,
um verão feliz asem labaredas e lodo,
um inverno de lareira e união,
um outono de folhas no chão
em vez de vidas sob a terra
e lágrimas no coração.
Estou cansada de tanta incompetência,
de tanta frieza e insensatez,
de tanta sentença de morte
pronunciada em um planeta
onde apenas somos inquilinos
e onde a morte se aproveita
dos desvalidos para engrandecer
seu obscuro jardim.
Como estou cansada,
cansada de esperar pelo amanhecer
de flores, de sorrisos e de pássaros!
Procuro-me para encontrar algo
Procuro em mim para encontrar
o imenso sentimento
que nasce muito lá dentro.
Procuro em mim para encontrar
a luz que dá vida
ao mundo, à planta e
a minha própria existência.
Procuro em mim para encontrar
o silêncio que envolve a alma,
procuro em mim para te encontrar.
Entre dor e tempo
Poemas que caminham
sobre uma cova cheia de pranto,
palavras que navegam
como em barco de insônia.
Poema que se olha
no cristal do espelho,
úmido e sem esperança
de se salvar da encruzilhada,
entre a pedra e o traje
novo que envolve a palavra.
Poema que se incendeia,
que rompe o vespeiro
de sonhos entretecidos
de tristezas e de portas sem saídas.
Poema que petrificado na ternura
de alguém que lhe deu, como carícia,
um sorriso aturdido em silêncio,
parece um corpo
que, em chamas, sobe e baila
entre dor e tempo.
Abrace-me
Abrace-me para que deixe
de doer-me a alma,
deixe-me sonhar
para que possa continuar o caminho
dos pirilampos,
irmãos das estrelas
nesta terra molhada,
úmida de lágrimas.
Permita que me banhe
em suas veias coloridas,
rios suaves
em noite de lua.
Abrace-me,
para que não rompa
meu coração cheio de silêncio.
RESPIRANDO TEU ALENTO
Entraste sem pedir licença,
te converteste em sombra
de meus passos,
sussurros de vento
e pelas ruas te fizeste cor
e tempo.
Tu foste tão dentro,
sedutor, transparente,
tocha na noite,
sol de meu límpido céu.
Viajaste pelas ondas
e acompanhaste meu voo,
amanheceste em meu travesseiro,
ânfora de sentimentos.
Aprendi o caminho
embriagada com tua palavra
e continuo respirando teu alento.
Como a espuma
Tumbas e tumbas
repetem-se na terra,
um dia semeadas pela guerra,
agora semeadas pela epidemia.
Tumbas e tumbas,
fragmento de sonhos,
de esperança e de
promessas de amor,
são pesadelos, lágrimas
sem adeus.
Tumbas e tumbas
sinônimos de ausência,
de nostalgia, de assombro
e da vida que se esfuma
como na areia a espuma...
Suspiro
Úmidos estão meus versos
recém cortados
do jardim do Amor.
Sendas
Um riacho cruza
de improviso meu caminho,
um perfumado ar
passa pelos sentidos.
Uma asa que diz oi
me leva por outra senda
onde ficou preso um suspiro.
*
Página ampliada e republicada em setembro de 2023.
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 1, Número 2, jul./dez. 201
Brasília, DF: Editora Cajuína, 2019. 124 p. Presidente: Flavio R. Kothe.
ISSN 2674-8495 Ex. da Academia de Letas de Brasília
DONA DO TEMPO
Sou dona do tempo
voo a contratempo
e refaço em um segundo
Sou dona do tempo
trago o passado para o presente
e o futuro coloco em passado
Sou dona do tempo
e o meu tempo é circular
o presente vive sempre
e o sempre é presente
passado e futuro.
PASSAM OS ANOS
Passam os anos
o tempo agora é meu
continuo deslizando pelos caminhos
cheirando as flores
cuidando de não pisar seus espinhos.
Passam os anos,
aprendendo vou.
Imprudente às vezes
e outras racional.
Continuo olhando a lua
como disse um dia
meu pai.
Passam os anos
há tantas lembranças!
Bebi de uns lábios
o elixir do amor,
senti em mim a dor
da criança faminta
reparti-lhe um pedaço
do meu próprio pão.
Passam os anos
e recordações ficam.
Nus olhos vi o céu,
noutros vi o mar...
Porém houve alguns que me mostraram
o abismo sem par.
Perpétuos fizeram-se
alguns momentos,
desbordou-se o pranto
sem consolo e o riso
veio me salvar.
Passaram os anos
e já não há pudor, ne equívoco, ne receio
porque tive o direito
de sentir que a vida é bela.
Eu vivi amores,
como também paixões.
Tive decepções
também decepcionei.
Transbordaram-se minha dor
e minha resistência
ao pressentir o desvario
do amor que levantou voo
permitindo-lhe a partida
para outras dimensões.
Passaram os anos
e já não importam.
O coração segue vibrando
apaixonado pela vida.
Segue o voo de um pássaro,
a bondade infinita.
Continua o vento
furioso um momento,
tornado de imediato em brisa
que o corpo acaricia.
O Paraíso sé luz,
cor, movimento
e com o passar dos anos
continua o encanto, a alma,
também o sangue que continua fluindo
na guerra entre irmãos.
Passaram os anos,
a bondade e a beleza,
a acidez do viver.
A dor e a queda
ensinaram que tudo
com a alma se mistura um dia,
e um sonho, no meio do deserto,
um dia consegue partir
com ou sem alento.
Passam e passaram os anos
como passa o vento
como passa o sentir.
A arma desmorona governos,
a corrupção desfaz países,
o homem arranha a imundície
para não morrer.
Passam e passaram os anos,
continua bebendo imenso sentido
de existir!
HÁ AMORES
Há amores na vida,
uns velozes passam,
outros vão-se lentos
e há os que ficam.
São como as ondas
que vão e que vêm pela lembrança.
Hoje, olhando para trás,
posso dizer sem medo:
Eu vivi!
O que chorei já secou,
o que doeu quiça está são,
o que sorri esteiras deixou
e do cantei, ecos ouço
ao passar o tempo.
Há adolescência acesa,
palavras, olhadelas, que doces,
deixaram lembranças.
Há uma distância longa...
Alegrias e tristezas com saudades
ainda embriagam.
Houve momentos de brincadeira
e sorrisos que duraram um suspiro,
nomes que a brisa levou.
Há a música, as cordas
de um “charango” traidor
a recordação mais tranquila
em melodias de amor.
Houve dois estranhos: um olhava
as linhas da mão
e ou outro, como buquê de rosas,
pensou que o perfume era eterno
e como veio, voou.
Outro, ainda, queimou-me a mão
e até versos houve.
Caiu como folha seca
voando no outono
entre as ondas do oceano.
Há tantos amores na vida,
que hoje, em murmúrios,
me servem de canto...
SUSPIRO
Para Mabel Plaul
O poeta não caça palavras
para fazer poemas
e o poema não é pássaro.
É borboleta que pousa sutil
num papel em branco
para salpicar gotas de orvalho.
BUSCA EM TI
Não procures no vazio
um espaço para colocar a tua dor.
Não procures na água
uma gosta que siga viageira
pela pele nem pela areia.
Não procures no céu
a nuvem que mude
a imagem que de sonhos inocentes,
cavalgando algodões apareça.
Busca em ti, em teus sonhos,
em tua pele
a decisão certeira
de ideais e de justiça para
plantar como sementes
em tua alma e no mundo.
NASCI
Nasci na altura
onde não há mar,
só terra que se acumula,
só batata entre neve e solidão,
entre gelo e secura.
Nasci na altura,
nasci desde onde não se vislumbra
o mar
nem se vê a espuma...
Nasci na altura
montanha que toca as nuvens
nuvens que coroam sonhos
e céus de liberdade.
Nasci na altura,
asa de condor e seu berço,
altura nevada onde a llama
guanaco têm a alma
guardada com cósmico olhar,
e como lágrima rodará um grito na onda do mar.
Há nessa lágrima um ondular incessante
de cor vermelha, amarela e verde
um ondular com sabor de mar.
Eu nasci na altura,
De onde o céu se faz o mar
e as nuvens sua espuma,
espumas que são do mar,
mar que toca o céu
céu que parece mar.
Há em mim
uma nostalgia de amar
e do mar...
TEXTOS EN ESPAÑOL
NOTÍCIAS DE KOSOVO
El otro día te vi
y estabas herida.
Pasaste por mis ojos
en llanto sin consuelo.
Y es por la guerra,
sucia, fría,
marchitó el capullo
que de ti surgía.
Cuántos ojos vi
parecidos en su angustia,
idénticos en su dolor.
Ojos que me miraban al futuro
con tanto amor,
sentimiento que al volcarse
sólo es miedo,
bruma, terror…
Aún no viste la vida
y ya te cobra el precio.
En lo más recóndito
de tu alma joven
recordarás el día
en que se nubló la vida.
EL COLOR DEL AMOR
Cuándo éramos caminantes de la noche
y nos vestíamos de corazones jóvenes
y festejábamos el cumpleaños
de la risa,
llamábamos las palabras de amigas
y no esperábamos el roce de los labios
y no necesitábamos la caricia
de la piel,
los pasos nos llevaban al infinito
concéntrico del sentimiento.
Vino la blanca brisa
y se llevó en sus alas
los sueños, mi sangre
y el color profundo del amor.
Y NO SE DESHOJAN
Puedo parecer otoño,
pueden sentirme invierno
pero dentro de mí
está la primavera
con todas las rosas
rojas que me habitan
y no se deshojan.
DESNUDEZ
He visto noches
desnudas de sombras,
desnudas de brisas,
desnudas de tiempo
En esas noches
desnuda estoy de sentimiento
y sólo el alma se mantiene
con tu recuerdo,
aunque desnuda de besos.
SÍMBOLO SIN VIDA
Melodía plañidera
rota realidad,
viento que sigue
desmembrando
la soledad.
Una cara gozosa
se solaza
ante la desesperación
y la muerte
de la paloma,
¡símbolo ya sin vida
de la Paz Mundial!
POEMAS EM PORTUGUÊS - EN ESPAÑOL
Quisiera
Quisiera desatar la noche de tus cabellos,
contemplar en tu mirada
la estrella de la vida.
Reposar en tus manos
mi fatigada sombra.
Quisiera sentir el galopar de la aurora
escuchando el sollozo de campanas desconocidas.
Presenciar, el último suspiro de una rosa roja.
(La Paz, 19-06-71, do livro Un grito callado)
¡ Duele!
Duele mi pueblo hambriento,
el niño con su faz descolorida.
Duele escuchar el viento
solitario de la patria empobrecida.
Esa carcajada misteriosa
hija de la muerte.
(La Paz, 24-10-74, do livro Espuma de los días)
Dói
Dói meu povo faminto,
a criança de rosto descolorido.
Dói escutar o vento
solitário da pátria empobrecida.
Essa gargalhada misteriosa
filha da morte.
(Tradução de Anderson Braga Horta)
Pescador de sueños
Oh, pescador,
descuelga tus redes,
deja que los sueños sigan
navegando;
que naveguen
por la tarde y la noche,
por el día frío,
por la vida y el cuchillo.
Deja a la soledad
salpicando su vestido
entre hombres
y nombres
humedecidos de rocío.
Pescador de sueños,
escucha el mensaje de la altura,
prepara tu lágrima
y guisa el amor
mezclado con espuma.
-Sólo una entraña de plata
sentirá el olor del martirio-
(Brasilia, 1977 – Poemas en cuatro tiempos)
Duele el mundo
Bolivia me duele en la garganta
como me duele el mundo
en esta hora ingrata.
Son voces estridentes,
son fuegos que retumban,
son llantos de madres e hijos,
son ríos rojos de fantasmas.
Y me duele Bolivia en los ojos
como duele el mundo
cautivo de espanto…
(Do livro Despeinando sueños)
Libertad
La libertad es viento
que sopla sin rumbo
jugueteando con hojas
verdes y amarillas,
meciendo lilas,
despeinando sueños,
desatando piedras.
Libertad es el bostezo
sinvergüenza de un niño
en el colegio
frente a un libro abierto.
Libertad
son alas que van y vienen,
son pétalos que se abren,
son piececitos que corren
como el río sin parar
para pensar de dónde
vino el polvo
de los muebles viejos.
Libertad es una puerta
y la luz que por ella se filtra
como el gorjeo del día.
Libertad es todo
lo que eres, lo que soy,
…Libertad es vida…
(1990, do livro Despeinando sueños)
O orvalho de tua voz
Se for noite
e os ventos calados
permanecerem à borda do mundo,
tecerei castelos de sonhos
no pêndulo do tempo.
Se for noite
e as mãos na pálpebra fechada
buscarem castelos e rodopios de sol,
colherei a madrugada
bebendo o orvalho de tua voz.
(Do livro inédito O orvalho de tua voz)
BOLIVIA, Kori. O orvalho de tua voz. Brasília: Thesaurus, 2011. 88 p. 13x19 cm. Apresentação de Antonio Miranda. Ilustração da capa: Cosmos”, do pintor boliviano Jorge Carrasco Nuñez del Prado. Ilustrações internas da autora.
Sem saber
Hoje caminho sem saber
se meus passos
completarão a via
do onde e do quando.
Sinto ausências
e ausente eu de mim,
covarde cúmplice
que vira as costas
e procura no tato
o refúgio da verdade.
Hoje caminho sem saber,
derramada,
na encruzilhada do desassossego,
canção que levo
nas sombras internas do meu próprio corpo.
procuro o riso,
mãos, olhos,
lábios
e ainda reconheço
o céu e a terra
em momento de ausências,
na cabisbaixa luz
de qualquer estrela distante,
no amadurecimento da poesia.
Cotovia
Como demoraste, cotovia, para dar-me
a seiva do teu alento.
Eu, amarrada e triste,
queria matar as mãos
com as lágrimas do dia.
Surgiste então, em voo
pelo céu amanhecido.
Gorjeio quebrado
Meus pés sentem a terra
e se enterram na vida
como raízes de pensamento.
Minhas mãos, gaivotas caçadoras,
rasgam o azul amarrotado
do oceano de vocábulos em movimento.
Coração, gorjeio quebrado
em canto nem sempre sensato
perdido na névoa de um lamento.
Vastidão
Corro pela vastidão dos sonhos
sou parceira do vento e das estrelas,
entrego-me ao canto e ao riso
e um grito de espanto percorre-me o corpo.
Voo, plena pela vastidão do espaço.
Amarro um grito na garganta,
prolongo a memória na penumbra do tempo
e me dou inteira aos sentimentos.
Bonita
Se há momentos
em que me adjetivam bonita,
é que Amor de mim emana.
Profunda,
a emoção ilumina
e até a lágrima
é esperança de rima.
Apenas
Sou apenas palavras soltas
no silêncio de minhas
paredes rotas.
Palavras que na sombra desprotegida
de trôpegos segredos
são desassossego não desejado
no coração e na memória.
BOLIVIA, Kori. Noturnidades. Poesia. Brasília, DF: Thesaurus Editora, 2016. 110 p. 13x18 cm. Apresentação de Anderson Braga Horta. Contracapa por Oleg Almeida. ISBN 978- 85- 409-0405-7
¿¡AÑORANZA?!
Se reconoce la ausencia
por el silencio,
por la gota que olvidada
humedece la mirada,
una mirada inerte
que se choca
con la nada.
06-12-2000
HÁ QUEM…
Há que, no silêncio da morte,
sussurre segredos escondidos do além.
Há quem, no silêncio da morte,
escancara as janelas da alma e assim se mantém.
Há que, na alegría da sorte,
chore os sonhos enterrados, também.
Há que, na alegría da sorte,
invente caminos debruçado na madrugada que vem.
Há quem, no burburinho da vida,
apunhala a melodía do olhar que não tem.
Há quem, no burburinho da vida,
pense que é grão de areia na Praia de ninguém.
Há quem, no vivém da vida,
não sabe o valor que a vida tem.
27.07.2001
PAISAGEM REPETIDA
Navegante da bruma,
do silêncio, do tempo,
afogado no mar de pétalas
vermelhas que caíram
das rosas não recebidas,
não enviadas,
não sentidas.
Navegante da manhã nostálgica,
da melancólica ausencia,
insubmissa figura
na Praia repetida.
12-12-2001
TEXT IN ENGLISH
NEW BRAZILIAN POEMS. A bilingual anthology after Elizabeth Bishop. Translated & edited by Abhay K.. Preface by J. Sadlíer. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2019. 128 p. 16 x 23 cm.
ISBN 978-85-7823-326-6 Includes 60 poets in Portuguese and English Ex. bibl. Antonio Miranda
Em silêncio
Amar-te em silêncio
foi a lição que aprendi
e, no entanto,
aluna descuidada
acho que já esqueci.
Amar-te em silêncio,
na loucura de uma lágrima
onde a lua mergulha e eu suspiro.
Amar-te em silêncio,
num silêncio fugidio.
In silence
Loving in silence
was the lesson I learnt
yet, as
a careless student,
I think I forgot.
To love you in silence
in the madness of a teardrop
where the moon plunges and I sigh.
To love in silence,
in momentary silence.
BOLIVIA, Kori. Despeinando sueños. Poemas. Prólogo por Anderson Braga Horta. Brasília: Thesaurus, 1997. 124 p.
Tapa: "La niña y la luna", cuadro al óleo de Jorge Carrasco Nuñez Del Prado. Orelha do livro por João Carlos Taveira.
Ex. bibl. Antonio Miranda
DESPEINANDO SUEÑOS
Dice Calderón, la vida es sueño,
y de tanto soñar sueños
sueño que vivo sueños.
Y en esta maraña de vida y sueño
vivo despeinando
sueños,
soñando también que vivo.
DESPENTEANDO SONHOS
Disse Calderón, a vida é sonho,
e de tanto sonhar sonhos
sonho que vivo sonhos.
E nesta emaranhado de vida e sonho
vivo despenteando
sonhos,
sonhando também que vivo.
Tradução de Antonio Miranda:
A RAUL BOPP
(in memorian)
Lá vai o poeta
rumando
ao sem-fim.
Com letras ao ombro
asas na mente
ilusões pulsa-pulsando
nos olhos azuis.
Lá vai o poeta
seguindo seu próprio rastro
no horizonte de luz.
5-6-1984
GOTAS NO ESPELHO
Ouço a chuva
acariciando os vidros
gota a gota
desnudando, furtiva, o canto
da noite.
Chuva que traz a preguiça
do tempo e do peito
das mãos que se espalham
procurando o palpitar
do amor sem tempo,
sem espaço,
do outro lado do espelho.
Nas gotas que es entregam passa o verso
abundante de sentimento
no mistério da manhã nascente
sem raios de sol.
E meu verso não dorme
sobrevive, apenas, ao luto violento
das gotas no espelho.
BOLIVIA, Kori. Poemas en cuatro tiempos. Brasília: Thesaurus, 1994. 74 p Ex. bibl. Antonio Miranda
Traduções ao português por Antonio Miranda
SUSPIRO
¿Qué silencio impenetrable
destruye el alma
y deja vacío el espírito?
SUSPIRO
Que silencio impenetrável
destrói a alma
e deixa vazio o espírito?
MARCHITA TRISTEZA
¿Qué mano despertó mi sueño
en este andar disperso
por la ojera del ebrio corazón?
Es esta marchita tristeza
que salpica sangre tierna
y mil espejos de amor…
Brasília 1977
MARCHITA TRISTEZA
Que mão despertou meu sonho
neste andar disperso
pela olheira do ébrio coração?
Nesta murcha tristeza
que salpica sangue macie
y mil espelhos de amor…
ESTE FUEGO
Ardiendo está el cielo
ardiendo las manos.
Acaso este fuego marche
sin descanso hasta los sueños
en señal de calma.
Brasília, 1979
ESTE FOGO
Ardendo está o céu cielo
ardendo as mãos.
Talvez este fogo se vá
sem descanso até os sonhos
em sinal de quietude.
Brasília, 1979
BOLIVIA, Kori. Palavras livres. Poesia. Brasília: Thesaurus, 2018. 158 p. ISBN 978-85-409-0434-7 Texto em português e espanhol. Capa: reproduz foto da aquarela do pintor boliviano Jorge Carrasco Nuñez del Prado. Apresentação de Anderson Braga Horta.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Más allá del recuerdo
El viento se llevas las palabras,
dicen, no lo creo..
El tiempo las recupera
y las esconde en su rincón más hondo.
A veces,
ellas reconocen caminos
y aparecen,
y hieren,
destruyen o edifican
algo más allá del recuerdo.
enero 2018
Além da lembrança
Palavras o vento as leva,
dizem, não acredito.
O corpo as recupera
e as esconde no canto mais profundo.
Às vezes,
elas reconhecem caminhos
e aparecem,
e ferem,
destroem ou edificam
algo além da lembrança.
janeiro 2018
En el viento
Soy la que soy
y la que fui
también soy,
y estoy sentada
con la mirada hacia dentro
y sigo siendo
la que fui
y la que soy.
Niña
ante la niebla
novia
en la distancia
metamorfosis de una rosa
en el viento.
No vento
Sou a que sou
e a que fui
também sou,
e estou sentada
com o olhar para dentro
e continuo sendo
a que fui
e a que sou.
Menina
perante a névoa
noiva
à distância
metamorfose de uma rosa
no vento.
BOLVIA, Kori. Partitura del tempo. Partitura do tempo.Brasília: Outubro edições, 2020. 192 p. ISBN 978-65-00-00647-6 Taduções ao português pela autora. Desenho da capa: Jorge Carrasco Nuñez del Prado. Prólogo por Ester Abreu Vieira de Oliveira Ex. bibl. Antonio Miranda
Traduções da autora ao Português:
Infierno
Si pudieras escuchar
mis silencios
cuántas verdades sabrías.
No dejarías de amar
nuestros viejos días.
Quién sabe vendrías
corriendo a mi encuentro,
desoyendo mis palabras duras.
Pero debo callar,
sellar los labios y sentimientos.
Llegó mi cruz desde el infierno
y debo dejar que seas feliz
porque te quiero,
aunque yo muera
en mi propio infierno.
Enero de 1979
Inferno
Se pudesses escutar
os meus silêncios,
quantas verdades saberias.
Não deixarias de amar
os nossos velhos dias.
Quem sabe virias
correndo ao meu encontro,
sem ouvir as minhas palavras duras.
Mas devo calar,
selar os lábios e os sentimentos.
Chegou a mim a cruz desde o inferno
e devo deixar que sejas feliz
porque te amo,
mesmo que eu morra
neste meu próprio inferno.
Sedientos de puertos
Vuelan mis sueños por los ventos
enredados entre nubes,
sedientos de puertos.
Vuelan con el recuerdo de las gotas de lluvia,
dolores atravesados
en la espalda del tiempo.
Vuelan mis sueños
y no se pierden.
Golpean el costado
de mi alma
que mira las ventanas
de la muerte.
Dubai, 18-10-18.
TEXTO EN ESPAÑOL
VARGAS & MIRANDA Compiladores. Selección y revisión de textos por Salomão Sousa. TRANS BRASILIANA ANTOLOGÍA 36 MUJERES POETAS DO BRASIL. MARIBELINA – Casa del Poeta Peruano. 2012 134 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
Quisiera
Quisiera desatar la noche de tus cabellos,
contemplar en tu mirada
la estrella de la vida.
Reposar en tus manos
mi fatigada sombra.
Quisiera sentir el galopar de la aurora
escuchando el sollozo de campanas desconocidas.
Presenciar, el último suspiro de una rosa roja.
¡ Duele!
Duele mi pueblo hambriento,
el niño con su faz descolorida.
Duele escuchar el viento
solitario de la patria empobrecida.
Esa carcajada misteriosa
hija de la muerte.
Duele el mundo
Bolivia me duele en la garganta
como me duele el mundo
en esta hora ingrata.
Son voces estridentes,
son fuegos que retumban,
son llantos de madres e hijos,
son ríos rojos de fantasmas.
Y me duele Bolivia en los ojos
como duele el mundo
cautivo de espanto…
Libertad
La libertad es viento
que sopla sin rumbo
jugueteando con hojas
verdes y amarillas,
meciendo lilas,
despeinando sueños,
desatando piedras.
Libertad es el bostezo
sinvergüenza de un niño
en el colegio
frente a un libro abierto.
Libertad
son alas que van y vienen,
son pétalos que se abren,
son piececitos que corren
como el río sin parar
para pensar de dónde
vino el polvo
de los muebles viejos.
Libertad es una puerta
y la luz que por ella se filtra
como el gorjeo del día.
Libertad es todo
lo que eres, lo que soy,
…Libertad es vida…
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Página ampliada em julho d
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Página ampliada e republicada em maio de 2022
Página publicada em agosto de 2010; página publicada em novembro de 2016.
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