HAIKAI
PEDRO XISTO
Não existe um formato oficial para a composição do haicai em nossa língua, existem várias propostas. A de Pedro Xisto renova, vê-se que vem da poesia concreta, que se vaie do “palavra-puxa-palavra” e outros recursos menos discursivos da tradição entre nós. Fonemas repetidos, expressão sintética, muito “l” seguido, recursos verbivocovisuais... Era um mestre em tudo que fazia, era um renovador o tempo todo. Antonio Miranda
filtro — sete as ervas:
dez mil forças — mente e corpo
livra em primaveras
*
velha cerejeira
primeira na primavera
cedo se despede
*
o sol das idades
o sol das fragas e fráguas
o sol soledades
*
bom retorno em rondas
sons de couros cordas sopros
sombra assoma em ondas
*
embalantes alas
lento bailado a lembrança
enlaçando as almas
*
retícula: nuvem
chuviscos riscam crepúsculo
gotículas luzem
*
rubro céu céu rubro
chuva verde verde chuva
muro negro muro
*
estufa tufão
fanfarras farras fanfarras
és tu fanfarrão
*
* xi! Peixinho masca
a linha dos lírios-d´água
isca arrisca enrasca
*
o outono e seus ânimos
os dons os pomos os tons
em ouro crisântemos
*
alma e lua ah lumes
bambo embalo de bambus
flauta e flume fluem
*
uma flor de ameixa
amei: cheira à beatitude
(nunca o fogo a mexa)
Extraídos do livro CAMINHO, de Pedro Xisto. Rio de Janeiro: berlendis & vertecchia, 1979
Surpreendentemente, o autor e a editora autorizavam (à exemplo da atual prática do Common Science e do Creative Common, anos depois...) a “reprodução livre, para fins culturais, de poemas isolados, em se mencionando o autor”, como estamos fazendo aqui.
Página publicada em fevereiro de 2009
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