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Masuda Goga  (...): um caminho de haicai

 

Paulo Franchetti

 

          Vários são os textos que contam a história do haicai no Brasil. Quem os conhece sabe que essa narrativa, até bem pouco tempo, praticamente ignorava a comunidade japonesa no Brasil. Suas personagens principais e quase exclusivas eram Guilherme de Almeida, Paulo Leminski e Millôr Fernandes.

 

          É certo que houve uma vasta produção de haicai em japonês, no âmbito da comunidade nipônica. Mas ela poucas vezes ultrapassou as fronteiras da língua e somente há alguns anos surgiram os primeiros estudos sobre aquele que é considerado o principal responsável pela conservação e difusão da prática do haicai no Brasil, entre os imigrantes: Nenpuku Sato (1898-1979). Mas se hoje conhecemos melhor a história desse poeta e já dispomos inclusive da

tradução de alguns de seus haicais, permanece desconhecida do público brasileiro de língua portuguesa a grande quantidade de haicais em japonês escritos aqui e tendo por tema a natureza e a vida no Brasil. E um tesouro de proporções desconhecidas, que ainda espera por um trabalho sério e sistemático de pesquisa e de divulgação.

 

          O haicai de Sato nada tinha a ver com os haicais produzidos em seu tempo em língua portuguesa. Suas raízes estavam na prática tradicional japonesa, por isso era formalmente centrado na métrica fixa, na estrutura frasal marcada

pelas palavras de corte e pelo uso sistemático de uma palavra indicativa da estação do ano, o kigo.

 

Esse último elemento respondeu pela principal dificuldade na transplantação do haicai entre os imigrantes, pois no país tropical as estações não são bem demarcadas. E não há haicai japonês sem referência à estação do ano. ...

 

Masuda Goga foi discípulo de Sato e a princípio tratou de levar adiante a sua tarefa de aclimatação do haicai e de pesquisa, de kigos brasileiros, praticando o haicai em língua japonesa. Mas, diferentemente de Sato, Goga não se circunscreveu apenas à prática e promoção do haicai na sua língua natal. Dedicou-se a duas outras tarefas relevantes: contar, para japoneses e brasileiros, a história da recepção do haicai no Brasil e praticar o haicai tradicional em português. Em ambas as tarefas foi um pioneiro.

 

          Seu estudo O haicai no Brasil, publicado primeiro em japonês, em 1986, na revista Haiku Bungakukan Kiyô, e dois anos depois em volume, no Brasil, é até hoje importante obra de referência para os estudiosos do assunto.

 

Entre uma e outra edição do estudo, em 1987, junto com outros praticantes, principalmente nisseis, fundou a primeira associação dedicada à prática de haicai tradicional em português - o Grémio Haicai Ipê. No começo da década seguinte, em 1993, Goga criou o Grémio Haicai Caleidoscópio, dedicado à produção de rengas (haicais encadeados) também em língua portuguesa.

 

 

 

Extraído de:

“Masuda Goga e Grémio Ipê: um caminho de haicai”. In: GOGA E HAICAI: um sonho brasileiro.  São Paulo: Escrituras Editora, 2011.  Org. Teruko Oda. ISBN 978-7531-411-1  (p. 7-8)

 

 


 

 

 
 
 
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