| FRANCISCO  HANDA    Francisco Handa é doutor em História  Social pela UNESP, monge do Templo Busshinji e um dos fundadores do Grêmio  Haicai Ipê, o primeiro grupo de estudos sobre o gênero no Brasil.http://hai-kais.blogspot.com.br/2010/05/haicai-nacional-francisco-handa.html
       
                    SEM  RUMO
 O leite derramado
 em  suas pernas
 faz  um mar
 de espuma
 onde  navego
 sem  mastro,
 se  vela.
 O  que me leva
 é  o instinto.
 
 
 
 ELEGIA AO POETA
 
 (I)
 Quando  a luz se apagou
 no  imensamente escuro
 um  vulto desdenhava
 cantarolando
 cantigas  de amo.
 
 (II)
 As  bocas calaram
 os  corações pararam
 de  bater
 por  um momento.
 E  só ficou a
 lembrança
 de  quem veio
 e  partiu sem dizer
 adeus.
 
 (III)
 Suas  mulheres
 choraram;
 amantes  da vida
 que  de súbito
 pensaram  em
 morrer  também.
                              (IV)Mas  uma voz
 como  veludo
 a  proteger as
 mágoas,
 soava:
 Não  chorem por mim.
 
        (V)A  boemia
 perdia  o mais
 desvairado  dos
 boêmios.
 E  a noite,
 esta  noite fria
 ficava  mais triste
 sem  a sombra de Orfeu.
 
 (VI)
 Dos versos que
 deixou, fecundo
 em sua glória
 o que mais cantou
 foi o amor profundo
 perdido
 na memória.
 
 (VII)
 E  agora que
 cantará!
 —  Mas se eu
 fechar  os olhos
 vejo  serafins
 batendo  palmas:
 é  Vinicius declamando
 a  mando dos
 anjos.
       Haicais de Francisco Handa:
 Estrela cadente.
 Apenas desolação
 nos olhos do idoso.
   *
 Ao cair relâmpago
 um silêncio demorado
 por alguns segundos.
   *
 Noite de verão.
 As galinhas vão dormir
 um pouco mais tarde.
   *
 Calendário novo.
 Em primeiro vou contar
 os dias vermelhos.
   *
 Final de verão.
 Lágrimas de despedida
 durante o velório.
         Página publicada em  julho de 2020   
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