Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

TRAJETÓRIA DA POESIA PAULISTA COM PIVA, WILLER, FRANCESCHI, BICELLI E... 

HUNGRIA, Camila; D´ELIA, Renata.  Os dentes da memória: Piva, Willer, Franceschi,
            Bicelli e uma trajetória paulista de poesia. 
Rio de Janeiro: Beco do Azougue,
            2011.  ilus. fotos  ISBN 978-85-7920-054-0    

 

Resenha por Antonio Miranda

 

         Para Roberto Piva, desde que Platão expulsou os poetas de sua República, todos os poetas são marginais. Mas a poesia acabou em outras academias. Ou não. Para Claudio Willer, os poetas marginais da célebre antologia “26 poetas hoje”, da acadêmica Heloisa Buarque de Hollanda, eram quase todos cariocas, do baixo Leblon. Mas a antologia surpreendeu a cena poética brasileira da época — 1976, em pleno período da ditadura militar, quando os movimentos modernista, geração 45 e o concretismo estavam acuados pelo tropicalismo e pela contracultura. A única exceção era o paulista Roberto Piva, já conhecido por causa de seu livro Paranóia, de 1970, que teve a intervenção do artista plástico Wesley Duke Lee e que revelava uma linguagem nova e desorientadora.  Piva fazia parte de uma geração paralela à dos cariocas, que não constituía um movimento estético definido.

          Quatro deles constituem o tema central de uma biografia coletiva, mais de uma época do que de indivíduos, que marcaram a cena paulistana da época: Roberto Piva, Claudio Willer, Antonio Fernando de Franchesci e Roberto Bicelli. A pesquisa feita por Camila Hungria e Renata D´Elia revela depoimentos de uma quantidade enorme de pessoas que estiveram ligados a estes poetas, além dos próprios, cujas 40 entrevistas, entre os anos 2007 e 2010, foram magistralmente montadas numa sequência muito convincente e até emocionante. “Quatro visões de mundo. Quatro poéticas diferentes” informam as entrevistadoras.

         Os poetas liam muito, trocavam muita informação, e eram boêmios e aventureiros no ímpeto de uma juventude contestatária, que nem o regime de censura conseguiu domar. Sexo e rock´n´roll, Dante e os beatniks, surrealismo e coloquialismo, Lautréamont e William Blake,  longe dos cânones vigentes. Segundo Willer, eram “loucos, éramos excessivamente anárquicos”, e nunca tiveram “a capacidade” “de administrar um projeto literário” (p.34). Acreditavam, pela declaração de Piva, que “não existe poesia experimental sem vida experimental” (p. 35).

         Segundo o editor Sergio Cohn, “não eram apenas poemas que importavam: aqueles eram poetas que encantavam também pela sugestão do que haviam vivido. Havia naqueles textos os resquícios de um mergulho existencial”.

         A primeira reunião dos trabalhos deles surgiu na já célebre Coleção dos Novíssivos de Massao Ohno e na famosa Antologia dos Novíssimos (1961) que reuniu vinte e quatro jovens que não se conheciam e nem tinham muito em comum, além da juventude, muitos deles estreantes e que, em sua maioria, não continuaram ativos. 

 

“Paranóia” é, sem dúvida, a obra-símbolo da geração, “um imenso pesadelo”. Piva diz que transformou “São Paulo em uma visão de alucinações. Apliquei o método paranoico-crítico criado por Salvador Dali: o paranoico se detém num detalhe e transforma aquilo numa explosão de cores, de temas, de poesia. Constrói um mundo alucinatório, imaginário” (p. 54). Para Claudio Willer, Paranoia é “uma obra de atualização da poesia e cultura brasileira – defasada na época em relação ao resto do mundo -, trazendo uma leitura e re-escritura de duas vertentes fundamentais do pensamento contemporâneo: o surrealismo e a Beat norte-americana, principalmente Allen Ginsberg” (p. 54).

         Piva era um poeta existencial, acreditando numa “sociedade utópica, regida por um modo de vida irrestritamente pagão, orgiástico e dionisíaco” (p. 71). Exercia uma liderança implícita, e vivia no limite em que os demais apenas tangenciavam, seja na questão sexual ou no consumo de drogas. “É muito interessante como o Piva marcou uma relação da perversão sexual no plano do texto com grande inventividade e imaginação. Ele fazia uma espécie de jogo  entre os casos relatados no Steckel e essas histórias reais; depois projetava isso nos poemas do Piazzas, nas homenagens ao Marquês de Sade.”

 

         Deu para entender que o elemento catalizador era mesmo o Piva e que a amálgama se processava nas atividades editoriais e promocionais de Massao Ohno, com lançamentos e leitura como a  tal Feira de Poesia e Arte. Ivald Granato relatou que, no espaço de três anos, eram publicados dois ou três livros por semana, com o padrão gráfico incomum e com a marca da contemporaneidade, enquanto as outras editoras faziam reedições e relançavam autores consagrados. Reuniões que terminavam em bebedeira e discussões, ou seja, “cheios de discursos”, E concluiu: “O evento era um demonstrativo desse exercício libertário que vínhamos fazendo na cidade” (p. 120). “Até tentaram comparar com a Semana de Arte Moderna” – diz Oswaldo Pepe (p. 124), talvez pelo fato de acontecer no Teatro Municipal  - “Mas a Feira teve outra dimensão. Foi um evento sem uma diretriz ideológica, sem programa artístico” (p, 134). Segundo Claudio Willer, “Havia um vazio e a Feira [de 1976] coincidiu com uma mudança e uma aceleração do processo de abertura política” (p. 130).

         “Os Dentes da Memória” deixa os relatos e conclui com uma minuciosa descrição dos últimos dias de Piva, já com a doença de Parkinson, câncer na próstata e outros problemas colaterais. É a parte menos interessante do livro, embora necessária. Ficou a prova de que Piva estava preocupado com o destino de sua obra, já publicada pela Editora Globo e seu poema mais conhecido – Paranóia – sendo relançado pelo Instituto Moreira Salles. Não muito longe dali, e na mesma época, faleceu Massao Ohno.
         Mas a edição da Azougue Editorial termina brindando-nos uma breve antologia dos poemas de Piva, Willer, Bicelli e Franceschi, os expoentes da turma, além de uns poemas coletivos. Vale a pena conferir!!!

 

Nota: Não conheci os poetas biografados, exceção do Willer que me foi apresentado pelo amigo comum Floriano Martins, durante uma das feiras do livro de Fortaleza, Ceará, como convidados. Com o Piva tenho a intimidade do leitor constante. Leio sempre com interesse os textos poéticos, de crítica e as traduções de Willer, e também a poesia tão cerebral de Franchesci. Agora é que descubro o trabalho de Bicelli, com entusiasmo.  

 

        

Publicado em outubro de 2011.

 

COMENTÁRIOS...

 

Renata D'Elia comentou:
"[Oi Antonio! Obrigada pela resenha. Apenas um adendo: nós tivemos 40 entrevistados, mas bem mais de 40 entrevistas. Os biografados, por exemplo, foram entrevistados 4 vezes. Obrigada!]"

 


 

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar