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Poesia Práxis (1962)

 

 

Por Hilda O. H. Lontra

 

 

 

        Dentro da mesma bipolaridade norteadora do Modernismo, o poema-práxis revela preocupação tanto com a construção linguística quanto com a realidade nacional, de inclinação revolucionária. O primeiro documento teórico e crítico do movimento, o "Manifesto Didático" - prefácio do livro Lavra Lavra de Mário Chamie, de 1962 - registra:

 

 Os grupos se socializam, os povos se socializam; a história caminha para um coletivismo total. Nessa coletivização, o indivíduo, como tal, conta cada vez. menos e, enquanto integrante de uma sociedade, conta cada vez mais (apud Hollanda, 1980).

 

        Preocupada com a realidade brasileira, a reflexão praxista procurou atuar em dois níveis: um histórico e outro autonomamente instaurador. Mas, ao julgar em crise o movimento de 22, não conseguiu realizar, conforme esperava, o seu fazer histórico.

 

        Tematicamente, o passo inovador dado pelo movimento foi o de não atuar sobre temas. Propondo-se a levantar problemas, parte das contradições dos setores da realidade social, fazendo o que denomina de 'áreas de levantamento'. Assim, optando por uma área, cumpre ao poeta fazer um inventário das possibilidades semânticas daquela, e, a partir de um léxico específico, construir, por montagens, sua obra.

 

        A área, e não o tema, circunscreve a seus limites o trabalho de artista: fragmentar a unidade de um contexto geral, propondo unidades parciais absolutas e suficientes por si mesmas.

 

        Teríamos então: primeiro, a consciência da topografia e topologia semânticas; segundo, a consciência de manipulação de palavras; terceiro, a consciência antiarqueológica do texto; quarto, a consciência de que o acaso e a probabilidade existem enquanto o poeta está entregue ao ato de compor; quinto, a consciência de que o autor, feito o poema, passa a ser outro leitor; sexto, a consciência de que não há mais verso; sétimo, a consciência de que todo o poema é espácio-temporal; oitavo, a consciência de que o espaço de um poema não é somente a página em branco; nono, a consciência de que cada bloco de palavras cria uma fisionomia crítica; décimo, a consciência de que o poema é o campo de defesa das palavras (apud Hollanda, 1980: 158-71).

 

 

Dessa forma, caracterizam o poema-práxis:

 

 

a - a atualização do problema agrário do país e da situação de carência do trabalhador rural, devido às questões industriais;

 

b - como uma "área de levantamentos" é objetiva, nos poemas não aparece a individualidade do poeta;

 

c - a semelhança formal com a distribuição espacial dos poemas, utilizada pelos concretistas;

 

d - a intenção pedagógica: denunciar uma realidade conflitante, de acordo com uma atitude engajada;

 

e - a revitalização do "verbo": crença de que a palavra, com a exploração máxima de sua carga semântica, consegue dizer o real como ele é.

 

 

Extraído de:

 

 

CYNTRÃO, Sylvia Helena, org. A forma da festa - tropicalismo: a explosão e seus estilhaços. Brasília: Editora da Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000. 236 p. ilus. p. 26-27

 

 

 

 
 
 
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