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O TRADUZIR COMO NECESSIDADE E COMO

 

PROJETO: OCTAVIO PAZ

 

 

Horacio Costa

 

 

        Quanto mais reflito sobre a obra proteica de Octavio Paz, mais parece-me que o estabelecimento nela de um núcleo central de valores pode desenvolver-se ao redor da ideia de tradução, entendida antes como o traduzir do que como o ato circunscrito de verter um texto de um língua a outra - o que, diga-se de passagem, e como é sabido, o poeta mexicano praticou com notável maestria. Muitos foram, e são, os críticos e leitores de Paz que tentaram chegar a uma “figuração mínima” que, desde o seu significado, irradiasse sobre a obra paziana toda uma gama de possibilidades interpretativas. Assim, não poucos assumiram a noção de “conciliação de contrários” como a de base para entendimento do grande edifício de relações internas que Paz construiu ao longo e extenso de sua vida intelectual. Neste sentido, remeto-me, por exemplo, aos estudos de Enrico Mario Santí e de Manuel Ulacia, que desenvolvem com indubitável proficiência esse princípio analítico.  

 

        Ainda, e por outro lado, uma e outra vez enfatizou-se a importância decantada, e moderníssima - no sentido do Alto Modernismo internacional, do qual sem dúvida Octavio Paz fez parte galardoada -, “postura crítica” frente à tradição, aos movimentos estéticos em geral, e aos diferentes hemisférios das ciências sociais, que em si “explicasse” o grande poeta desaparecido há alguns meses. O próprio Octavio Paz inúmeras vezes, como o que poderia ser visto como uma espécie de “espírito de cruzada”, chamou atenção para essa noção como definitória da atitude do poeta moderno; por extensão, tal fato corroboraria a importância deste “império da crítica” como central para qualquer avaliação de sua obra, no particular. Ainda, uma terceira via de entrada a esta é dada por uma noção complementar às anteriormente expressas, a de “diálogo”.

 

        Crescentemente em seus ensaios tanto sobre a literatura e a arte como sobre a vida política mexicana e internacional, Paz afirmou a postura dialógica, para ele sempre associada ao conceito de pluralismo, como dorsal tanto para o exercício aberto da crítica, como um verdadeiro fermento para a criação literária mesma. Sem prejuízo dessas noções de fato básicas para a compreensão da obra paziana, e de forma complementar, parece-me que o ato de traduzir, em seus múltiplos 101 Publicado em MACIEL, Maria Esther (Org.). A palavra inquieta. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 1999, p. 29-36. 91 aspectos, dá o estofo aos impulsos criador e interpretativo em Paz: sem ele, creio eu, não é possível entender a sua entrada ao mundo, nem o que, no mundo, a sua obra significa. No presente ensaio, quero tecer considerações sobre a importância do ato de traduzir em sua postura intelectual, sem remeter-me, entretanto, à sua atividade tradutiva latu-sensu. Para tanto, em primeiro lugar, será necessário brevemente estipular o que entendo por traduzir, no presente contexto.

 

        Depois, não escaparei a considerar alguns biografemas de Octavio Paz. Em terceiro lugar, procurarei avançar alguns exemplos tirados da obra o poeta. Finalmente, suponho que não será demasiado, a partir desta breve análise generalizar o legado do traduzir na obra paziana, no contexto mais amplo da cultura latino-americana. “Traduzir”, no sentido mais amplo do termo, implica conciliar, criticar e dialogar, e também relativizar, “transicionalizar”, se é possível arriscar o neologismo. Só pode traduzir quem assume uma postura transicional: o tradutor está, literalmente, em trânsito, não apenas entre o verte e o vertido - quando se dá, no âmbito da tradução literária, e como tão bem postura Haroldo de Campos, a re-criação -, mas também, no processo tradutório, encontra-se esse criador, sui-generis traduzindo-se a si mesmo, em trânsito em, e para, si mesmo.

 

        A partir desta ampla e convergente postura transicional, eminentemente transitiva, dialógica, pode o tradutor tornar relativos o relativos os contextos dos quais, nos quais, e para os quais traduz; ora, isto significa o abrir-se ao exame de modo contínuo, e o constantemente pôr em cheque o núcleo atributivo da identidade, sem o objetivo de perdê-lo ou dobrá-lo, porém simplesmente em aras de conhecê-lo mais intensa e extensamente. Pensando em termos abrangentes, e longe do exercício circunscrito e convencional da tradução, tal postura poderia ser considerada como ameaçadora do núcleo-duro da identidade, seja ela concebida em termos do indivíduo ou da coletividade, uma vez que o traduzir faz aquilo que responde pela identidade, o quid individual ou coletivo, defrontar-se com conteúdos exógenos. Sob o ponto de vista autoritário, ao longo da história, o traduzir, este lança-se ao diálogo, sempre foi visto como tal.

 

         Neste ponto, recordemos que toda esta mecânica foi brilhantemente problematizada por Bakhtin que, sem o intuito específico de politizá-la, a dimensionou no horizonte do conforto entre as mentalidades monoglóssica e a poliglóssica, numa concepção particularmente significativa se considerada no contexto da secular história russa. No âmbito dos estudo literários, esta concepção progressiva do traduzir encontra um símel acabado na noção barthesiana que opõe “texto” (“texte”) a uma “obra” 92 (“oeuvre”), tendendo aquele à abertura e ao futuro tanto quanto esta ao fechamento e ao passado - ou, se quisermos, associando aquele, ainda que antes em seu horizonte epistemológico que não no teórico-factual, ao mundo “poliglóssico”, e esta, por oposição binária, ao “monoglóssico”. Poetacuja formação antecede às vogas estruturalista e pósestruturalista, que erigiram essa ideia de “texto” como um instrumento todo-poderoso para o exercício intelectual, daí, portanto, sem diretamente acreditar nela - antes, diga-se de passagem, tratando de menosprezá-la quando a oportunidade se apresentava, isto é, duvidando dela ao considerá-la uma espécie de “pau para toda obra” destituída de valor intrínseco -, Paz, entretanto, parece ter feito do ato de traduzir textos e contextos, e não obras isoladas, a chispa central de toda a sua atividade analítica, que sempre tendeu mais ao sistêmico que ao pontual.

 

        Tudo isto posto, mesmo que um tanto contraditoriamente ou à rebours, segundo a avaliação do poeta, tal fato não pode surpreender-nos, se considerarmos sua extração social e sua trajetória vivencial. Octavio Paz nasce no seio de uma família cujas principais figuras masculinas apresentam entre si o conflito básico, que caracterizou a história mexicana no último século. Neto de avô conservador, prócer do regime autoritário e “modernizador” encabeçado pelo general e ditador Porfirio Díaz, Paz é filho de um militante da linha mais radical da Revolução Mexicana, a zapatista que, nos nossos dias, conheceu um novo florescimento, aliás para o desconcerto do último Octavio Paz. Em resumo, se o seu avô era um membro do establishment do país, que preconizava a manutenção, ou inserção definitiva, do México no sistema capitalista internacional, custasse o que custasse - isto é, inclusive através da perversão do sistema democrático, na versão liberal-burguesa -, seu pai defendeu às últimas consequências - isto é, com a própria vida - a ideologia de restauração de uma espécie de “idade de ouro” mesoamericana anterior à colonização europeia.

 

         O cosmopolitismo afrancesado e o indigenismo utópico contrapõem-se nos perfis do avô e do pai de Octavio Paz; sem pretender reduzir esta situação a um freudismo caricatural, talvez não fosse demasiado considerar o que esta dupla origem antipódica representou em sua obra. Em poucas palavras, traduzir - e, se se quiser, conciliar e criticar - essa disjuntiva foi uma constante na atividade intelectual de Paz. Se desde a origem a situação familiar de Paz revela este caráter diverso e conflitivo, o mesmo México, especialmente na tradução de Paz, apenas termina por reiterar tal visão. Octavio Paz nunca cessou de enfatizar a excentricidade mexicana no contexto ocidental, sua simultânea pertença e diferença histórica e cultural com relação 93 ao logos europeu. Em poucas palavras, todo o seu trabalho de tradução do México ancestral e histórico está marcado por sua visão de constantes que em princípio, isto é, em termos ideais, se deviam excluir mutuamente; uma e outra vez, ao longo de sua ensaística, percebemos o fascínio do poeta com relação a esta espécie de subversão histórica, que faz com que a cultura mexicana, contemporânea surja de forças que de fato são contrárias mas que coincidem para criar a particularidade e a identidade do México no contexto internacional.

 

        Neste sentido, não nos deve surpreender que, num esforço símile ao México que ele está traduzindo com uma fidelidade e uma acuidade algo obsessivas, Paz não se encaminhe às culturas aparentemente mais próximas à mexicana, tais como aquelas que, nas Américas, vivem ou viveram uma situação colonial e póscolonial, ou na velha Europa possivelmente entrevista como casa comum, mas sim em contextos históricos e sociais aparentemente outros, como o da Índia. Os Estados Unidos ou o Brasil ou a mesma América Hispânica não são similizáveis ao traduzir mexicano de Paz; a França e a Espanha e mais ainda Portugal, onde o poeta jamais pisou, se apresentam données culturais interessantes ao Paz leitor de clássicos e modernos ou tradutor de textos de seus pares poéticos, não o interessam em seu traduzir profundo. A Índia, entretanto, com seu panteão perfeitamente obscuro para os estrangeiros não iniciados, com sua culinária feita de condimentos contrastantes, remetem-lhe às divindades pré-hispânicas e aos sabores familiares.

 

        Neste sentido, tampouco surpreendamo-nos que as referências mais importantes de seus principais poemas, Piedra de Sol e Blanco, sejam dadas pelo monolito-chave da cultura asteca, o calendário chamado “Piedra de Sol”, que se encontra no Museu de Antropologia da Cidade do México, e pela filosofia tântrica hindu, que desde a epígrafe (“By passion the world is bound / by passion it is released”, do Havajra Tantra), vertebra Blanco, um poema de alto nível de abstração, melhormente decodificável, ou entendível, quanto mais próxima a leitura se der considerando o hinduísmo com intertexto. Em meu entender, na verdade Octavio Paz traduz, no sentido que aqui manejo, adentrando territórios diferentes das ciências humanas, porque sente que a excentricidade mexicana, vivida por ele literalmente in embryo, não pode ser devidamente traduzida se não por um discurso que erija a hibridez de registros como a sua marca própria. Daí o caráter inquietamente ecumênico de sua escritura ensaística; também daí, se quisermos, a quantidade de registros, não menos ecumênicos, que incidem em sua poesia. 94

 

        Como anedota, vale mencionar uma observação de Octavio Paz que não recordo de ter visto escrita em seus ensaios, porém que dele eu ouvi numa ocasião social, sobre a poesia de Pound, um mestre da abertura referencial na escritura poética. Paz aponta nela uma falha em seu escopo tão ideologicamente inclusivo: ao lado das referências à poesia oriental, ao cânone clássico ou à lírica trovadoresca, o mexicano se ressente da ausência do mais latamente americano em Pound, que jamais incluiu a poesia, a cultura pré-hispânica, em seu vigoroso e enciclopédico paideuma. Por não colocar um glifo maia ou asteca ao lado de um ideograma chinês?, perguntava-se Paz. Em poucas palavras, o poeta nunca esquece a sua radicação excêntrica e excentralizadora. Se quisermos, além das diferenças históricas vividas por todos os mexicanos com relação aos Estados Unidos, de sobejo conhecidas, é essa exacerbada consciência de sua excentricidade o que marca a talvez ressabiada distância do poeta frente aos seus contemporâneos norte-americanos: Paz, tantas vezes considerado pela esquerda latinoamericana, e particularmente a mexicana, como reacionário, apesar de ter sido o único intelectual latino-americano realmente influente no contexto do país vizinho desde o cubano José Martí, sempre criticou as debilidades dos Estados unidos em seus próprios termos, altaneiramente brandindo a sua excentricidade, por ele traduzida e dimensionada para a contemporaneidade, como atestado de certificação para tal. Sem dúvida, o opus magnum da ensaística paziana, Sor Juana Inés de la cruz o las trampas de la fe, publicado em 1983, revela um esforço de tradução notável, o mais apto para ser considerado, entre todos os estudos produzidos por Octavio Paz, como um clássico da moderna ensaística em espanhol.

 

        Um livro de concepção magistral, conforma um tipo de estudo nunca antes empreendido em relação à vida e à obra, mas também ao contexto cultural, social e político local e internacional, que haja cercado um longínquo intelectual representativo da vida colonial hispano-americana. Para encontrarmos algo parecido na ensaística em língua espanhola recente, no meu entender devemos referir-nos ao não menos singular El otro Andrés Bello, de Emír Rodríguez-Monegal, o crítico uruguaio com quem Paz manteve uma longa amizade, no qual a dinâmica cultural e política da Hispano-América pós-colonial é detalhada em função da vida e da obra do intelectual romântico chileno. Seguindo sua veia de escrever a partir de um registro múltiplo e híbrido, Paz utiliza habilmente toda a fortuna crítica já acumulada sobre a voz mais distinguida entre as dos poetas do México colonial; o resultado não é apenas, como seria de prever-se uma recriação da Nova Espanha e de seus avatares, mas uma mirada incandescente de Paz 95 sobre as condições, as constrições do intelectual, latino-americano de todos os tempos. Em sua tradução do México seiscentista, Paz indiretamente traduz-se a si próprio, nas não menos hieráticas cifras do seu meio mexicano contemporâneo: de fato, eu não conheço nenhuma outra obra de sua autoria na qual o poeta mais se desvele ao público leitor, isto, obviamente sem referir-se a si próprio.

 

        Na biografia - porque ao fim e ao cabo, Sor Juana Inés de la Cruz o la trampas de la fe deve ser classificado como tal - assoma o perfil histórico de Paz: como Sóror Juana, um espírito vasto demais para o seu contexto e que se percebe como tal, marcado por contradições embrionárias, experimental e inclusivo, e consciente de sua própria estranheza histórica. Esta, a Sóror Juana segundo Octavio Paz, e a maneira tão incisiva quanto apaixonada com a qual ele se refere, em seus ensaios de cunho político e cultural, à sociedade e ao mundo do poder mexicano atual. Finalmente, a resplandecente leitura que Paz processa ao longo do poema de Sóror Juana, El sueño, de longe a mais eivada de noções seminais para a sua interpretação, segundo a crítica responsável, parece sugerir a abertura, o voo, que Paz desejaria para a leitura de seus próprios poemas de maior respiração, entre os quais os já mencionados Piedra de Sol e Blanco. Justamente, em sua exegese de El sueño -, Paz avança o que poderia ser visto como um método de interpretação poética, baseado numa incansável pluralização de referentes e, para dizê-lo numa só palavra, no risco da leitura - mas não, tão galicamente, no hedonismo mal disfarçado do “prazer do texto” - no qual, para lá da fidedignidade no levantamento das fontes, da exatidão na consideração da estrutura vérsica, etc., tal e como se processa convencionalmente, o poema é visto como um “duplo do mundo” (“um doble del universo”), um reflexo escritural que almeja a perfeição e nem por seu inevitável falhanço torna-se menos sintomático dela e, simultaneamente, também das circunstâncias que o assistem, e, porque não dizer, tornando-se outrossim um objeto feito de palavras que reclama o seu estatuto sempiterno de barroquismo, perfeitamente concebido em sua peculiar e irrepetível unicidade, e que, por toda esta cara, toda esta ambição, necessita de uma malícia de hibridez, de uma vertente cultural dir-se-ia mestiça, excêntrica, para ver atingida a sua melhor economia de leitura.

 

        Mas voltemos ao nosso ponto de interesse focal. No princípio deste ensaio, formulei que queria abordar, com a rapidez que é devida à presente circunstância, quatro pontos. chegamos ao último deles, referente a uma possível generalização do traduzir em Paz com exemplar no contexto latino-americano do século vinte. Antes, entretanto, permito-me um excurso. 96 Octavio Paz não apresenta exatamente aquilo que se considera “um desafio de leitura”, no sentido usual do Alto Modernismo internacional, cuja epítome é, et pour cause, a milimétrica textualidade joyceana. Sua complexidade e interesse, antes de residir no texto produzido, está na amplitude e profundidade do seu impulso tradutor. Sem desdouro da alta qualidade, do alto nível de polimento sempre presente em seus textos poéticos, isso é o que lhe garante um lugar de proa na cultura latino-americana do século que finda. Em poucas palavras, sua originalidade maior está na sua postura tradutória. Aceitar sua tremulante e muitas vezes aparentemente arbitrária lucidez, a extensão e a coragem nas suas ilações sobre aquilo que se pensava encontra-se dormente ou distante ou inconexo, mas que conflui para desenhar o reconhecível, é o desafio maior com o qual se defronta o seu leitor e intérprete. Se isto assume a figuração de conciliação de contrários ou do diktat da crítica omnidirecionada, tanto melhor, e mais enriquecedor.

 

        O que eu me permito divisar nesse sentido é, antes de mais nada, um exemplo preclaro de atividade de grande poeta, que não esmorece frente à imensidade do seu trabalho e à incompreensão geral sobre o mesmo durante a maior parte de sua vida, e que não claudica na eleição dos tópicos que desenvolve, sequer na forma e no discurso com os quais os desenvolve. Octavio Paz situar-se-á se é que já não está situado, entre os mais significativos nomes do Modernismo internacional: pode-se discordar de muitas das teorias que maneja ou das interpretações que produz; o que não se pode fazer é deixar de admirá-lo em seu exemplo de liberdade intelectual e no cuidado apaixonado com o qual trata a sua própria e conflitiva origem. Voltemos ao nosso assunto. Dadas as circunstâncias de seu nascimento e do momento histórico vivido por Paz durante o século vinte na sociedade mexicana, tão marcada pela gesta revolucionária - que não poucas alternativas, todas mais ou menos originais, ofereceu à comunidade latino-americana -, esse seu traduzir não podia senão responder a uma necessidade, totalmente legítima, de poeta frente a um mundo cifrado, e por demais enigmático, como o que lhe foi dado. De um intelectual que viva num mundo cifrado só é legítimo esperar o seu deciframento empenhado deste: aqui, avelha incumbência dos que tratam das coisas da mente.

 

        Entretanto, nem todos os que se engajam nessa empreitada podem fazê-lo traduzindo-a e não apenas decifrando-a, e simultaneamente criando sobre o seu próprio ato de traduzi-la. Em poucas palavras, nem todos o fazem em função de um projeto original e totalizador, em essência civilizacional, como o soube fazer Octavio Paz. Na verdade, Paz foi um dos grandes arquitetos da cultura latino-americana atual: um projetista tenaz, mesmo obsessivo, que preocupou-se, como 97 convém a um mestre, antes em projetar o passado a partir de sua escrutação de si mesmo e de seu contexto cultural, que a projetar o futuro, já que o mesmo, como todos sabemos, é campo de pascento para economistas, santos, eleitoreiros e, no mais das vezes, falsos profetas. Ao transformar a sua necessidade legítima em projeto e ato de civilização, e ao projetar não como se estivesse imbuído do sopro de um providencialista ou de um visionário, mas sim como um tradutor privilegiado, e sabendo trazer, o sopro libertador da poesia a este seu esforço tradutório, Paz oferece um poderoso, e por que não dizer, central paradigma do intelectual latino-americano do século que viveu quase por completo.

 

 

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Referência bibliográfica para o Currículo Lattes

 

COSTA, Horácio.  O Traduzir como necessidade e como projeto: Octavio Paz.
In: Portal de Poesia Ibero-americana. Ano 17 No. 64 Outubro-Dezembro 2004.

ISSN 2447-1178


 

 

 
 
 
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