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1936- 2010

 

MESTRE MASSAO OHNO, EDITOR DE POESIA

 

por Carlos Felipe Moisés

 

 

 

 

Massao Ohno foi o último dos editores românticos. Seu lema

poderia ser: "Sobreviver não é necessário; o que é necessário é editar". E editar, para ele, foi amar incondicionalmente os livros e respeitar, sem reservas, os rumos escolhidos pelos poetas que dele se acercaram. E nunca esperou nada em troca, salvo o discreto prazer de ajudar a dar forma visível a mais um livro. Por isso, a cada livro e a cada poeta, era

como se a arte da edição devesse recomeçar, sempre pronta a refazer seus fundamentos, caso o livro, o poeta e a sensibilidade do editor, sintonizados, assim o exigissem. Massao fez questão, sempre, de começar tudo de novo, como se repetir fosse um sacrilégio, um atentado contra a arte e a poesia. E contra a vida. Experimentar e renovar foi o

seu mote, ainda que o preço fosse não ficar registro do já feito e as etapas cumpridas correrem o risco de ser esquecidas.

 

Hoje, 50 anos passados, ninguém saberia dizer quantos e quais

livros de poesia foram editados por Massao Ohno, a partir daquela antiga "Coleção dos Novíssimos", que ele lançou em 1960. Ele próprio nunca o soube: Massao jamais se preocupou em guardar ao menos um exemplar de cada livro que sua arte ajudou a vir ao mundo, jamais se preocupou em exibir, nem para si, o seu acervo de editor. Só um pesquisador abnegado, disposto a garimpar em arquivos imponderáveis, seria capaz de nos dar, um dia, uma ideia do seu legado como editor. É

que editar livros nunca foi, para ele, um negócio, mas uma paixão.

 

Massao foi um artesão à moda antiga, paradoxalmente avançado para o seu tempo, cujas coordenadas, no ramo editorial, ele ajudou a delinear. Foi acima de tudo um artista gráfico, ciente de que o design por ele concebido, sempre virtualmente outro, a cada obra, deveria estar a serviço do livro em causa, brotando naturalmente dos versos que ele lia e amava, com a alma atenta, e não a serviço da arte do design

gráfico, em si. Por isso, quando o livro saía de sua mesa de trabalho, bem definidos o formato, o papel, a tipologia, a capa, as ilustrações, a diagramação e tudo o mais, era como se sua tarefa já estivesse cumprda. Dali por diante, não era mais com ele.

 

Massao nunca escondeu certo olímpico desinteresse pelo destino que "seus" livros pudessem percorrer, depois que saíssem da gráfica, para ingressar na banalidade do mundo dos negócios, em que livros também são objetos de compra e venda. Para ele, a poesia e os livros tinham só valor de uso; ele jamais ligou a menor importância ao seu eventual valor de troca.

 

Seu legado não pode ser reduzido à quantificação de um mero

acervo, pois ocupa um espaço bem mais amplo e valioso, na memória e no espírito da quantidade de artistas gráficos, capistas, ilustradores e editores que ele ajudou a formar, com a ciência do verdadeiro mestre, que sabe: melhor do que ensinar é ensinar a aprender.

 

Comecei com Fernando Pessoa e concluo no mesmo diapasão:

 

"Ninguém atribui importância ao que produz. Quem não produz é que admira a produção", diz o poeta dos heterônimos. E a melhor definição de almas românticas como a de Massao Ohno.

 

Por isso, seu legado revive também na consciência dos poetas por ele editados, que aprenderam, através do exemplo do Mestre, a amar e a respeitar sua própria arte, alheios à trivialidade das recompensas mundanas. Lição de carinho, respeito, empatia, insatisfação benigna, renúncia. E valorização da criação, acima de tudo. Lição de arte, lição

de vida.

 

 

 

 

Extraído de:

 

[  PRADE, Péricles ]  MOISÉS, Carlos Felipe.  Balaio: alguns poetas da Geração 60 & arredores.   Florianópoilis. SC: Letras Contemporâneas, 2012.  224 p.  16x23 cm.  ISBN  978-85- 7662-072-3.  Capa e projetro gráfico: Fabio Bruggermann.   Ilustração da
 capa:           Fernando Lindote.  Col. A.M. 
SUMARIO: Amicus Plato;  O CENÁRIO: Uma geração; Palanque, Salão & Gabinete; Mestre Massao Ohno, editor de poesia; Lembrança de Dora Ferreira da Silva; Mário Faustino; Hilda Hilst; Mário Chamie; Renata Pallottini; Lupe Cotrim. OS POETAS NOVÍSSIMOS: Lindolf Bell; Neide Archanjo; Álvaro Alves de Faria; António Fernando De Franceschi; Rodrigo de Haro; Rubens Rodrigues Torres Filho; Péricles Prade; Roberto Piva. OUTROS POETAS: Jayro José Xavier; Carlos Nejar; Cacaso; Ana Cristina César; Armando Freitas Filho; Alcides Villaça; Ruy Espinheira Filho; Sebastião Uchoa Leite; Armindo Trevisan; José Lino Grunewald. FRAGMENTOS: Plural e diversificada; Poesia brasileira, hoje; Nos primeiros anos; Ambiente literário; Geração; Um grupo; A Coleção dos Novíssimos. A poesia brasileira, hoje. Col. A.M. 

 

 

NOTA DO EDITOR DO PORTAL DE POESÍA IBERO-AMERICANA: há anos que estamos tentando adquirir e incluir nas páginas de poetas e na Bibliografia de e sobre poesia em livros de arte, edições alternativas... os livros de poesia editados pelo lendário editor Massao Ohno. Não se sabe quantos ele editou, mas já temos dezenas e dezenas deles... a ver se um dia conseguimos listar todos e dar a conhecer a obra editorial que ele fez em honra e promoção da nossa poesia.

 

 


 

 

 
 
 
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