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Catedral de Brasília

Ensaios

 

 

INTERVENÇÃO URBANA NA PAISAGEM DE BRASÍLIA:

O LUGAR DA ARTE CONCEITUAL

 

 

         Por Antonio Miranda

 

“Brasília é branca e luminosa

de mármores e vidraças

refletindo nuvens metafísicas.”

Antonio Miranda

 

 

A epígrafe recorta versos do livro-poema CANTO BRASÍLIA (Thesaurus, 2002). “Brasília é branca”, confidenciou-me um amigo italiano em visita à cidade, dando origem aos versos. Ele esperava encontrar um cenário colorido, “tropical”, mas deparou-se com mármores ebúrneos por toda parte. Só o pôr-do-sol é capaz de dourar ou avermelhar os edifícios hieráticos da Esplanada dos Ministérios.

 

Artistas plásticos brasilienses decidiram intervir na fisionomia da urbe — entre eles a professora Nathalia Ungarelli —, projetando luz rosada sobre a superfície abobadada do Museu da República do Complexo Cultural, atualmente em fase final de construção, e também sobre as colunas alvas da Catedral de Brasília. Foi um susto! O inusitado da imagem causou inquietação nos transeuntes. Houve quem acreditasse ser a cor da poeira vermelha que nesta época seca do ano macula as paredes dos prédios públicos. Outros acreditavam que efetivamente alguém tivesse pintado com aquelas cores “carnais” o templo sagrado de Nossa Senhora Aparecida. Irreverência, considerando-se a data (26/06/2006), dia do Orgulho Gay. As imagens circularam pela Internet celebrando a ousadia criativa.

 

Qual era a proposta do grupo? Sem descartar o simbolismo da mensagem política, do ativismo de cidadania afirmativa de uma minoria, estava a intenção explícita da “intervenção” artística na paisagem urbana, da mesma forma que o artista Christo costuma “embrulhar” monumentos públicos pelo mundo. No caso brasiliense, com o simples emprego de lâminas coloridas transparentes sobre os focos de luz dos refletores que circundam aqueles monumentos. Uma solução fácil, engenhosa, mas que enfrentou as barreiras burocráticas institucionais em vão em busca de uma autorização prévia. Os artistas acabaram quebrando as regras e fazendo a intervenção “na marra”, por alguns minutos, até serem desalojados pela polícia. Tempo suficiente para gravar um vídeo e para tomar fotos que documentaram o inusitado incidente criativo, espécie de grafitagem temporária e não depredatória (pelos menos em nível físico, material).

 

O vídeo foi exibido na Sala Alberto Nepomuceno do Teatro Nacional, uma hora depois, do outro lado da “avenida” (considerado “eixo” pelos urbanistas que conceberam a cidade).

 

Os autores pretendiam o “questionamento de valores estabelecidos” mas sem pretender agressividade, de forma alegórica, “poética” e “sem danar o patrimônio.” Tinham a  “intenção de subverter a arquitetura monumental e intocável de Oscar Niemeyer. Fizemos a quebra da assepsia da modernidade. Quebramos o paradigma do branco” *. Isso mesmo.

 

As artes conceituais, notadamente a partir dos anos 70, vêm marcando as posturas estéticas e criativas de nossos contemporâneos. Quase sempre pelo caminho das instalações e intervenções, de forma efêmera ou até instantânea (como a de Brasília), mediante performances e happenings, improvisações participantes, interativas, com um forte componente coletivo ou mesmo espontâneo. Não raras vezes, uma arte desmaterializada, repita-se: conceitual. Não é descabido citar o exemplo do Teatro do Oprimido de nosso Augusto Boal, que monta espetáculos com o público voluntário, com temas escolhidos na ocasião, com resultados às vezes fascinantes ou até mesmo arriscados, de final imprevisível. Funções teatrais irrepetíveis, instaurando uma crise definitiva no conceito tradicional de autoria. 

 

Efetivamente, as artes conceituais baseiam suas estratégias nesta hibridez criativa, na “transitoriedade dos meios e precariedade dos materiais utilizados”, assim também nas “formas [menos convencionais] de circulação e recepção” ** de suas realizações.  

 

 

* em declarações a Nahima Maciel sobre o memorável evento, publicada na capa do Caderno Cultura, do Correio Brasiliense, dia 01/07/2006.

** FREIRE, Cristina. Poéticas do processo: arte conceitual no Museu. São Paulo: Editora Iluminuras, 19999. p. 15.



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