ENSAIOS, RESENHAS...
HOMENAGEM EM VERSOS
/de Alice Spindola/
Fernando Py
Em 2005, Alice Spíndola publicou um extenso e belo texto em versos, O Loire – poema fluvial da França, em que celebra o mais longo rio da França, o Loire. O êxito geral do poema a animou a repetir a dose. Desta vez, porém, deslocou-se para a Espanha. O novo livro-poema intitula-se Vou pelo Rio Tormes (Goiânia: Kelps, 2014, com lindas fotos e ilustrações). Tormes é um pequeno rio (284km de comprimento) que nasce na serra de Gredos, no extremo ocidental da província espanhola de Ávila, e corre para o norte, desaguando na margem esquerda do Rio Duero (o Douro português). A viagem poética da autora pelo Tormes é, na verdade, um pretexto para homenagear a cidade de Salamanca, banhada pelo rio, e cuja famosa universidade há de completar 800 anos em 2018. Assim, embora seja uno, o poema se divide em quatro partes: Vou pelo Rio Tormes, Salamanca, dourada cidade, Contaram-me..., e A aura do saber. Em todas elas, Alice Spíndola adota versos de métrica variada, quebrando-os na página impressa, muitas vezes desejando ressaltar alguma peculiaridade do local ou das pessoas que está mencionando.
A primeira parte, que dá título ao livro, é a celebração inicial: refere-se ao Rio Tormes, "Fluvial sustenido", "a voz / que chega ao meu ouvido." – "Manancial que me cativa." Porém mais forte e importante é a segunda parte, onde a dourada Salamanca é vista não só pelo que representa [para a Espanha e o mundo ocidental] em cultura, música, arquitetura e história, mas também pelos poetas e escritores espanhóis – frei Luís de León, Lope de Vega, Unamuno, Rafael Albertí e muitos outros – e pela hospedagem aos poetas estrangeiros que nela viveram: o cubano Gastón Baquero, o peruano César Vallejo, etc.
A terceira parte, bem curta, é um verdadeiro acréscimo à segunda, com uma referência explícita a Joaquín Rodrigo e seu belo Concerto de Aranjuez. Por fim, os poemas de A aura do saber, significam o auge da celebração de Salamanca, uma cidade que, no dizer da autora é flor e poesia, afirmação sublinhada por versos de dois poetas: o nicaragüense Ruben Darío e o espanhol Jorge Guillén. É valiosa e imprescindível a leitura completa do poema.
Fernando Py
[Tribuna de Petrópolis, 26 de junho de 2015;
Caderno Lazer, p. 5]
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