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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sids Oliveira, Cezar Rocha, Fernando Camargos, Arthur Cordeiro, Alexandre Rangel, Solymar Cunha, Francisco Kaq, Nildo (Juvenildo B. Moreira), Elmira Simeão, Antonio Miranda e Paulo Kauim (em baixo).Participantes do Curso de Animação de Poesia oferecido por Alexandre Rangel na sala de treinamento da Biblioteca Nacional de Brasília, em outubro de 2009

 

HAICAI PRODUZIDO POR COMPUTADOR!!

 

                   por ANTONIO MIRANDA

 

         David Cope, professor de musicologia na Universidade da California, valendo-se de algoritimos não orgânicos (ou seja, não humanos...), criou o EMI  — Experiments in Musical Intelligence, um programa capaz de imitar os estilos de Bach. Trabalhou durante sete longos anos em seu projeto e chegou a produzir, automaticamente, 5 mil  corais “a la Bach”, em um único dia. Alguns foram selecionados em um festival de música em Santa Cruz. O público aplaudiu com entusiasmo! Quando foram informados de que eram composições de um computador, “reagiram com um silêncio soturno, outros com gritos raivosos.”(HARARI, Yuval Noah. Homo Deus – Uma breve história do amanhã. S.P. Companhia das Letras, 2016, p.328).

         O programa continuou os experimentos e começou a imitar Beethoven, Chopin, Rachmaninov e até Stravinsky! David Cope partiu para a edição de um álbum musical — Música clássica composta por computador —, com venda além da expectativa..., embora com o protesto e as manifestações de usuários mais tradicionais. Aconteceu, então, um desafio. O prof. Steve Larson, da Universidade de Oregon, desafiou Cope a um desafio, um confronto de performances.

Resultado:
 

         “Larson sugeriu que pianistas profissionais tocassem três peças, uma após a outra: uma de Bach, uma do EMI e uma do próprio Larson. Na sequência, a plateia seria convidada a votar em quem tinha composto cada peça.” (HARRARI, opus cit., p. 328).

         Larson acreditava que o público distinguiria o que era humano e o que era artificial...

         “O resultado? A plateia considerou que a peça do EMI era Bach autêntico, que a peça de Bach fora composta por Larson e que a peça de Larson fora produzida pelo computador.”

         “Os críticos continuaram a alegar que a música do EMI é tecnicamente excelente, mas que lhe falta algo. É demasiado precisa. Não tem profundidade. Não tem alma. No entanto, quando as pessoas ouviam tais composições sem serem informadas de sua origem, não raro as elogiavam exatamente por proporcionar elevação da ala e por conter ressonância emocional.” (HARRARI, opus. cit., p. 328)

         No livro de Harrari, hoje um best seller, não há nenhuma informação sobre o tipo de pessoas na plateia. Presumimos que era o público que frequenta esse tipo de atividade cultural, e não uma seleção de professores e críticos de música. E daí? Peças teatrais, musicais e livros de poesia são criações para o público aficionado, embora mereça a crítica especializada...

         Mas Cope continuou seus experimentos com o EMI, chegando à suposta excelência de Annie, superando as composições com regras predeterminadas, mas baseada “no aprendizado da máquina”, variando o estilo musical, improvisando! E chegou até a explorar a produção de poesia haicai.

         “Em 2011 Cope publicou Comes the Fiery Night: 2000 Haiku by Man and Machine. Dos 2 mil haicais presentes no livro, alguns foram escritos por Annie, e os demais por poetas orgânicos. O livro não identifica quem fez o quê. Se você se acha capaz de estabelecer a diferença entre a criatividade humana e a da máquina, será bem-vindo para testar essa pretensão.”(HARARI, op. cit., pa. 328-329). *

   E daí? Há muito tempo que vanguardistas vêm tentando produzir poesia através de computadores. Dizem que Max Bense, um dos criadores do movimento Bauhaus, —de experimentalista da arquitetura, das artes plásticas e da literatura — fez testes. Era um dos admiradores da Poesia Concreta brasileira. Quem conhecer seus poemas “automáticos”, por favor, envie-nos!!! (antmiranda@hotmail.com.br), assim também outras experiências pelo estilo para divulgarmos em nosso Portal de Poesia Ibero-americana ( www.antoniomiranda.com.br ).

         Muita gente vem escrevendo sobre o assunto, mas a maioria se restringe a estudar a repercussão da poesia via on-line, por blogues e redes sociais, embora ressaltando as consequências desta prática nas composições.**

         Existem até aplicativos para facilitar o processo de criação literária no computador. E até um formato criado para estimular poesia para divulgação por computador, blogues, via redes sociais. Focaliza e experimenta áreas como as Interfaces físicas para performances eletrônicas; Intervenção urbana; Instalações 3D interativas (Brasília 3D); Integração audio/visual ao vivo e Poesia visual. É a proposta que o  LABORATÓRIO QUASE CINEMA, Laboratório de Experimentação Multimídia Quase-Cinema firmou em 2010 com a Biblioteca Nacional de Brasília e o Museu Nacional do Complexo Cultural da República. . In:
http://www.antoniomiranda.com.br/em_destaque/laboratorio_quase_cinema.html

 

“Sob a direção técnica e artística de Alexandre Rangel, o Laboratório Quase-Cinema reúne os esforços de pesquisa e desenvolvimento dos artistas, produtores e desenvolvedores Alisson Vale, André Santangelo, Antonio Miranda, Arthur Cordeiro, Komka, Lawrence Sarkis, Marcius Barbieri, Miguel Ferreira, Mayra Miranda, Rodrigo Paglieri e Tiago Botelho.”

 

         É o caso dos  “poemas de 140 toques para o celular”, celebrados  em feiras do livro que aconteceram em Pernambuco, convocando pela internet,  um concurso de poesia...

         De outra forma, poetas se consideram “computadores” e versejam sobre esta capacidade criativa:

 

EU VIRO UM COMPUTADOR PROGRAMADO EM POESIA.

Esse meu aplicativo, /eu uso diariamente,/ com HD feito gente/ tecnicamente vivo./ Mantenho o juízo ativo, / dia e noite, noite e dia, / pra guardar toda alegria, / salvando o ser sonhador, / EU VIRO UM COMPUTADOR / PROGRAMADO EM POESIA. / Leia descendo e subindo, que o sentido está presente, para que vá descobrindo, um computador na gente (rs)... Marcos Medeiros

 

Resumindo, repito o que já escrevi em outro texto, tempos atrás:

         O hipermodernismo deu ao poeta, ao escritor ibero-americano, como aos autores do mundo inteiro, a possibilidade de criar valendo-se da tecnologia e de poder difundir seus trabalhos pela web, mediante blogs e redes sociais, editando seus próprios trabalhos, em caráter individual ou coletivamente. Ou seja, o trabalho passa a ser multivocal (se for criado por várias pessoas presencialmente ou por meios eletrônicos de comunicação — ou seja, pela interatividade), ubíquo (a ubiquidade da internet), os trabalhos podem estar associados a outros por meio de links (a hipertextualidade):  pode atualizar e transformar sempre que o(s) autor(es) consider(em) conveniente, vale dizer, recorrendo à hiperatualização. Recriações. Retrabalho. A ubiquidade também significa que o texto passa a estar disponível em qualquer lugar — transforma a disponibilidade documental, ou seja, o registro do conhecimento armazenado em recurso virtual, tornando-o acessível de qualquer lugar. Como agora já dispomos de meios móveis de acesso — celulares inteligentes, tabletes, etc — valemo-nos da mobilidade dos meios de comunicação. E outros elementos mais, que não cabe aprofundar aqui.

 

*STEINER, Automate This., pp. 89-101; D.H. Cope, Comes the Fiery Night: 2,000 Haiku by Man and Machine (Santa Cruz: Create Space, 2011). Ver também: Dormehl, The Formula, pp. 174-80, 195-8, 216-20; Steiner, Automate This, pp. S75-89.

**Sílvia Regina Gomes MihoMIHO, Sílvia Regina Gomes Miho. Poesia + computador = poéticas aplicadas: poesia e crítica em meios eletrônicos.http://www.ufjf.br/revistaipotesi/files/2010/11/poesia-computador-poeticas.pdf

Produções Poéticas com o(s) computador(es). http://sibila.com.br/novos-e-criticos/producoes-poeticas-com-os-computadores/2270

 

 

COMENTÁRIOS

 

Há muitos anos, Miranda, vi um poema simbolista composto por computador. De simbolista ele tinha uma notável vaguidão... Não chegava a ser uma obra-prima, mas não se pode exigir tanto de uma “criança” que há pouco venceu o bê-á-bá, não é? Em todo caso, era linguisticamente correto e essencialmente melhor do que muita suposta poesia lançada aos borbotões por humanos.

Como explicar isso? Um “orgânico” ensina a máquina (introduz nela) umas diretrizes, e ela “aprende” a combinar palavras aleatoriamente, mas sem perder de todo o que nós orgânicos chamamos “sentido”. Ora, isso já é muito. Não sei até onde a máquina pode ir, sem ajuda “orgânica” além dessas diretrizes, mas é mesmo uma experiência fascinante. Sinto que seu texto não reproduza o haicai produzido.

Quanto à música, só poderia opinar vendo; ou melhor, ouvindo; mas seria de fato importante saber algo sobre o público aliciado para a experiência.

Abraço deste minicomputador ainda orgânico.
ANDERSON BRAGA HORTA - Brasília, 17/05/2018

 

 

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/rio_grade_sul/jayme_paviani.html

Texto publicado em maio de 2018

 


 

 

 

 
 
 
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