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DOIS TÍTULOS CAPITAIS NA OBRA DE FERREIRA GULLAR

 

                                               Por Antonio Miranda

 

 Os dois livros mais famosos de Ferreira Gullar são "A Luta corporal" (1954) e "Poema Sujo" (1976). Nem o primeiro nem o último de sua produção poética. Seu primeiro título é de 1949 e o último (até agora) é de 2010, seis décadas de produção e publicação, passando por diferentes tendências, incluindo o (neo)concretismo (anos 50) e o cordel.  "A Luta corporal" pode ser considerado um divisor de águas no desenvolvimento da poesia brasileira. Chega quando o modernismo já estava esgotado e a Geração 45, que pretendia uma restauração,  não constituía um movimento teoricamente consolidado. A grande exceção era João Cabral de Melo Neto, capítulo isolado no processo. E havia a efervescência que traria, à cena, as vanguardas  iniciadas pelo concretismo.

         "A Luta Corporal" revelava uma poesia que parte do cânone e termina na desconstrução da linguagem. Do verso discursivo precipitava-se na linguagem esfacelada. O próprio Gullar não sabia o que viria depois... Eu era jovem e foi um choque ler a obra que anunciava um tsunami. Mas havia poetas ativos em todas as direções, cultuando o passado ou antecipando o futuro... Gullar concebeu depois  "O Formigueiro",  um poema tipográfico  e "interativo" (usando uma expressão atual, não da época...),  um livro-poema que foi revelado parcialmente na mostra carioca de lançamento do Concretismo, no Rio de Janeiro, em 1957.  

"Poema Sujo" tem uma gênese diferente, inversa. Gullar confessa em video (gravado pela Instituto Moreira Salles, para comemorar os 80 anos do poeta, em 2010) que pretendia "vomitar" versos, palavras, cometer uma verborréia com a intenção de recuperar sua memória represada e inibida, naquele desterro em Buenos Aires , em 1975.  Fragmentos, ruínas. Mas não aconteceu...  Gullar pretendia fazer, talvez inconscientemente, o caminho inverso da "Luta corporal".  Em vez de partir do discurso para a palavra atomizada, queria partir dos fragmentos para compor a sua sinfonia verbal. Mas não aconteceu assim... Acabou escrevendo versos, ainda que contrastantes, de oposição e confluência, numa  errância verbal que perseguia um sentido memorialístico e (ele não reconhece assim) catártico.  Um longo poema confessional, um acerto de contas com sua história de vida, com o devido distanciamento brechtiano  — criado pelo tempo e pelo exílio —, impondo uma revisão madura de todo o processo, sem render-se à ditadura da razão nem da emoção ingênua. Um poema dilacerante. 

 

Vinicius de Morais trouxe de Buenos Aires, clandestinamente, um cassete com a gravação do poema na voz de Ferreira Gullar,  usado para fazer a primeira edição do livro no Brasil. Foi uma comoção nos meios intelectuais do país, com repercussão na mídia, forçando a liberação para a volta do poeta do exílio, pelo regime militar que já estava em declínio. Vinicius de Morais trouxe de Buenos Aires, clandestinamente, um cassete com a gravação do poema na voz de Ferreira Gullar,  usado para fazer a primeira edição do livro no Brasil. Foi uma comoção nos meios intelectuais do país, com repercussão na mídia, forçando a liberação para a volta do poeta do exílio, pelo regime militar que já estava em declínio. "Poema sujo" é um desses (raros) poemas que não valem apenas como literatura, mas como peças de um processo histórico de que é ao mesmo tempo resultado e agente catalisador.

 

GULLAR, FerreiraPoema sujo.  Ilustrações Maria Tomaselli. Apresentação Alfredo Bosi.  Brasília: Confraria dos Bibliófilos do Brasil, 2011.  92 p. ilus.  formato 26,5x30,5 cm.   Composição em caracteres da fonte Book Antiqua, edição serigráfica. Imagem em serigrafia manual, a partir de desenhos originais sob a coordenação de Paulo de Lima. Acabamento na Encadernador Catedral, em Brasília, sob responsabilidade do técnico Adriano E. Silva Oliveira. Miolo em papel Chamois Bulk de 90 g na capa dura papel marmorizado preparado pela professora Regina Mayumi Kawahara e na sobrecapa papel fabricado à mão, com fibras vegetais de cana, bananeira e sisal, pela artesã papeleira Ana Maria Romeiro. Texto não ajustado ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Exemplares certificados com as assinaturas do autor e da ilustradora, tiragem de 351 exs.   Col. A. M. (LA)

 

Brasília, 7 de novembro de 2010. aualizada em outubro de 2011.

 

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