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Concretismo (1956)


por Hilda O. H. Lontra

 

 

 

          A história da poesia concreta esta vinculada à revista Noigrandes, a qual, já em seu primeiro exemplar, apresenta poemas, ainda que marcados por um preciosismo verbal e pela métrica tradicional, dos autores que seriam os expoentes maiores deste movimento: Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari. Porém é em Noigrandes 4, lançada em 1958, que se encontra o "Plano-Piloto para Poesia Concreta". Este, segundo Alfredo Bosi (1976: 528), ao lado da tese 'Situação Atual da Poesia no Brasil' de Decio Pignatari, é a melhor introdução à inteligência da nova poética.

 

 

 

          Transcrevendo alguns postulados básicos do Plano-Piloto, conforme indicados em Noigrandes 4, percebem-se os objetivos maiores dos escritores:

 

poesia concreta:

produto de uma evolução crítica de formas dando por encerrado o ciclo histórico do verso começa por tomar conhecimento de espaço gráfico como agente estrutural método de compor baseado na justaposição direto-analógica,

não lógico-discursiva de elementos .

espaço e recursos tipográficos como elementos substantivos da composição

atomização de palavras

linguagem direta, economia e arquitetura funcional do verso

ideograma: apelo à comunicação não-verbal

seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica)

poesia concreta: uma responsabilidade integral perante à linguagem. realismo total, contra uma poesia de expressão, subjetiva e hedonística. criar problemas exatos e resolvê-los em

termos de linguagem sensível, uma arte geral da palavra, o poema - produto: objeto útil.

 

          Pelo excerto, percebe-se que o Concretismo se preocupou, de modo definitivo, com o aspecto formal do poema, isto é, com a apresentação gráfica e semântica do poema14. Adepto do corolário da arte como técnica, apresenta o poema identificado como "objeto de linguagem": O poema é uma realidade em si, não um poema sobre, registrava a Teoria da Poesia Concreta, assinada por Décio

Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos (Arte em Revista, v. 1: 27-31).

 

          Dando prioridade ao aspecto da "procura de códigos", em detrimento ao da "procura de mensagens", o Concretismo fez-se inovador, pela presença de:

 

a) recursos semânticos: ideogramas, trocadilhos, vocábulos polissêmicos;

 

b) recursos sintáticos: técnica de justaposição aleatória, atomização das partes do discurso;

 

c) recursos morfológicos: construção e distribuição ímpar de prefixos e sufixos, exploração de novos radicais;

 

d) recursos lexicais: neologismos, empréstimos inusitados, estrangeirismo, recurso a siglas;

 

e) recursos fonológicos: excessiva exploração de assonâncias, aliterações, ecos, rimas internas, distribuições fonéticas contrastantes;

 

f) recursos gráficos: exploração do espaço em branco, do silêncio gráfico, ruptura com o verso, não-linearidade, pontuação.

 

          Críticas frequentes ao Concretismo são formuladas, nas quais se acusam os autores adeptos da nova estética de alienados, omissos à conjuntura política da época; portanto, conformados socialmente.

 

Para Manoel Sarmento Barata (1969), o Concretismo foi uma fase de experimentalismo abstrato no plano da expressão poética, em que os concretistas do 'salto'* se prendem à 'forma revolucionária' como um a priori. Isso porque, assim proposto, o requisito da 'forma revolucionária' acusa uma atitude ainda abstrata, ainda não coerente com a visão de mundo que está na base da exigência

revolucionária (Barata, 1969: 39). 

 

          Ferreira Gullar (1965: 83) prosseguiu nessa linha crítica, dizendo que os concretistas foram mais fiéis aos problemas poéticos colocados pela geração de 45, levando-os às suas consequências lógicas e completando o ciclo formalista, que aqueles poetas que pretenderam atalhar. Acusa o esquecimento, pelos concretistas, do compromisso social da literatura. Um posicionamento similar en-

contra-se em Mendonça (1972).                           

 

          Antonio Cândido (1979), em uma conferência apresentada nos Estados Unidos, em 1972, analisava a experiência concretista, apontando as suas restrições: estas tendências, seguidas por poetas que são quase todos também críticos, são cheias de interesse e de ânimo renovador; mas podem comprometer a poesia e, implicitamente, a própria concepção de literatura. No entanto, por outro lado, reconhecia que, na poesia de vanguarda, se dava um afastamento da mimese, por um reforço da racionalidade na construção, para elaborar objetos autónomos que tomam o lugar dos objetos reais (Cândido, 1979:24).

 

          Nota-se, nessa observação, coincidência entre a reflexão a respeito das poéticas de descentramento, conforme expostas na abertura deste estudo, e a execução do projeto concretista. Infere-se que a opção dos instauradores do Concretismo estava impregnada de um substrato ideológico e que, embora os textos não abordassem direta e claramente a realidade vivenciada, as pesquisas — propostas no nível do significante - atualizavam um significado maior que o

apreensível na primeira leitura dos textos17. Tal aspecto foi constatado pelo trabalho de Laís Corrêa de Araújo (1974).

 

          A esse respeito, salienta com propriedade Alfredo Bosi (1976):

 

A poesia construtiva exprime, como toda linguagem, um modo

de relacionar-se com as coisas e com os homens. O fato de re-

cusar-se ao tema não significa de modo algum que ela seja ca-

rente de conteúdo psíquico e ideológico, como sugerem, às

vezes, gratuitamente, os seus detratores. Não há processo lin-

guístico desprovido de significação: o próprio uso do non-

sense significa que o poeta não vê sentido no seu mundo. E, na

verdade, não é difícil reconhecer nos poemas concretos o uni-

verso referencial que a sua estrutura propõe comunicar: aspec-

tos da sociedade contemporânea, assentada no regime

capitalista e na burguesia, e saturada de objetos marcáveis, de

imagens de propaganda, de erotismo e sentimentalismo comer-

ciais, de lugares comuns díspares que entravam a linguagem

anemizando-lhe o tônuscrftico e criador (Bosi, 1976: 535).

 

          Assim, desvela-se a crítica do Concretismo à sociedade massificadora e esterilizante da época. Opõe-se este movimento de vanguarda, não só a um discurso fonnalista que o antecedera, mas, e intensamente, a um processo de culturalização de massas, oficializado, ufanista que, em linguagem simples, tradicionalmente acessível e de fácil decodificação, abonava a ideologia do desenvolvimento.

 

Fecha-se este panorama a respeito do primeiro movimento de

vanguarda, destacando-o como: 1. portador de uma mensagem antiideológica, antiufanista e de penetração reduzida, exigindo dos decodifiiadores capacidade de reflexão superior a uma leitura primeira e descompromissada; 2. divulgador de reformas lingüístico-literárias que, por meio da visualização, atingissem o leitor pela coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não-verbal; 3. recuperador da bipolaridade estética proposta pelo Modernismo de 22; liberdade formal e nacionalismo crítico.

 

 

 

 *Referência ao que Décio Pignatari definiu como a meta do Concretismo: salto conteudístico-semântico-participante expressão usada na tese sobre a Situação da Poesia no Brasil, proferida como conferência no II Congresso de Crítica e História Literária, realizado em Assis, São Paulo, em 1961.

         

         

 


 

 

 
 
 
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