RECENSÃO
por Antonio Miranda
CLAUDIO MANUEL DA COSTA EM BIOGRAFIA
Cláudio Manuel da Costa por ...
Laura de Mello e Souza.
São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
242 p. ISBN 978-85-359-1761-1
“pela face brilhante da virtude,
Que, nos defeitos de um, castiga a tantos.”
CLAUDIO MANUEL DA COSTA, “Epístola”.
Laura de Mello e Souza, pesquisadora da área da História, lança uma biografia do poeta Cláudio Manuel da Costa, uma das figuras da Inconfidência Mineira e expoente da nossa poesia colonial, arcádica e lírica. Companheiro de martírio de Tomás Antonio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, seguida à conjuração do movimento cuja liderança ficou simbolizado no enforcamento de Tiradentes, em 1789.
Advogado, ficou célebre em virtude dos versos de Vila Rica, poema dedicado à fundação da capital das Minas Gerais.
Em 23 capítulos, a autora traça o perfil e a trajetória do personagem onde a poesia é utilizada como recurso autobiográfico ou como registro denotador dos fatos e circunstâncias, notadamente no capítulo “Poesia e sociabilidade” (p. 64 a 68).
“Nenhum dos inconfidentes sofreu tanto com o peso da história quanto Cláudio Manuel da Costa, a quem, na qualidade de fraco e de suicida, era difícil atribuir o perfil do herói (...)”, comenta a pesquisadora. Existem, no entanto, versões que garantem ter sido envenenado na prisão ou, como defende a versão de sua biografia, “o sufocaram e, preocupados em dar verossimilhança ao suicídio, lhe abriram uma veia com o garfo da fivela dos calções, correntes ainda no tempo da Inconfidência, escrevendo com o sangue do poeta, palavras na parede.”
Difícil precisar o que a conjuração realmente implicou na vida do regime colonial pois, “afinal, aquela conspiração só havia sido tratada em palavras. Para os homens de hoje, isso significaria que ela não aconteceu, nem ofereceu perigo. Para os homens de então, o sentido era bem outro. Cláudio, Gonzaga, Alvarenga, o cônego — pelo menos eles, que eram letrados, mas muito provavelmente também os demais, que eram homens de ação, militares, negociantes — perceberam que o rumo dos acontecimentos havia mudado drasticamente.” Certamente. “Como não pode haver bem tão seguro/ Que o não estrague a bárbara mudança,/ No mar incerto do destino escuro./ Tornou-se horror a plácida bonança.” ([ECLOGA XII, SÍLVIO)
O texto é completado com uma Cronologia bem detalhada e historicamente situada e um amplo Índice remissivo, que não é comum em edições comerciais, além de um capítulo valioso sobre as fontes bibliográficas e documentais que hastearam a pesquisa. Ah, e também algumas imagens de capas de livros, manuscritos, edifícios de Ouro Preto ligados à vida dos Inconfidentes, assim também retratos e gravuras.
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