1ª. B I E N A L D O B
26 a 28 de outubro de 2011
APRESENTAÇÃO
VICENTE SÁ
As razões que levaram ao nascimento da 1a Bienal de Poesia do B - a poesia na rua - são importantes e esclarecedores do ambiente cultural de descaso e silêncio que o Distrito Federal tem vivido nos últimos anos. O mais importante, no entanto, foi a própria Bienal em si, a festa da poesia que a cidade tanto parecia ansiar. Há anos não acontecia um congraçamento tão fraternal, regado a alegria e descontração.
Durante três noites e por que não dizer, três dias, a cidade e principalmente a Asa Norte viveu poesia nas esquinas (que muitos insistem em negar), nos bares, na rua da 312/313 Norte e no Açougue Cultural T-Bone, transformado em um altar onde eram oferecidos poemas, conversas poéticas e mais poemas à deusa poesia, ou apenas às pessoas que escutavam felizes como crianças recuperando a inocência.
Foram três noites em que grandes nomes da poesia brasileira e internacional, junto com 50 poetas do Distrito Federal, foram a uma rua da cidade dizer seus poemas, conversar com as pessoas e com os artistas mais jovens, trocar informações e risos.
Sabedor da importância de seu nome, o poeta Thiago de Mello, do alto dos seus 84 anos, abençoou a Bienal do B — a poesia na rua — e aceitou, com seu jeito caboclo, ser o homenageado maior do evento. Recitou poemas novos e antigos para uma
multidão que o bebia. Ele deu o tom da Bienal e reascendeu a magia esquecida da poesia solta na rua. Uma grande festa popular bá muito apagada da memória.
Assim, como uma velha amiga cheia de intimidade e carinho, a Bienal do B foi acontecendo. Com poetas reconhecidos e poetas jovens em um encantamento que transformava todos os gestos em rituais, todas as vozes em sonhos. A poesia saía dos livros e viva era de novo possível e acontecia.
A música foi a melhor parceira que a poesia poderia encontrar para brincar uma bienal. Músicos do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo irmanaram-se com os músicos locais e despertaram em todos as danças e os cantos. Jorge Mautner, Rênio Quintas, Fernanda Porto e Kiko Zambianchi, entre outros, permitiram que o mesmo espírito os possuísse e também brincaram pelo bom brincar.
A poesia internacional esteve na Bienal do B nas vozes da nicaraguense Milagros Terán e do português Luis Serguilha, que se sentiram em casa e ficaram como se essa rua fosse deles. 0 trabalho vanguardista do poeta mineiro Wilmar Silva também foi visto e aplaudido na Bienal. A poesia não tem forma única, todos recitávamos baixinho à entrada de cada poeta.
A Bienal do B foi uma iniciativa do Movimento Cultural Viva Arte que vingou e sentiu-se tão necessária que vai voltar em outras edições. Ela trouxe a poesia de volta às ruas, de onde ela nunca deveria ter saído. Na rua a poesia rejuvenesce, simplifica-se, irmana-se com as pessoas. Desce de um pedestal que nunca quis subir e baila infantil e alegremente entre as pessoas.
0 apoio e patrocínio da Petrobras tem que ser lembrado, pois sem ele a festa não teria o mesmo brilho.
Estamos todos de parabéns. Os poetas, os músicos e toda a grande equipe que ajudou da instalação do som à organização do camarim, nos poemas-cartazes que enfeitaram a quadra tornando-a um espaço poético e de todos. Cada pequeno esforço, mínimo ajuste, foi necessário e imprescindível, pois ninguém faz uma festa sozinho e esta festa da poesia nós esperamos que vire costume, que vire mania e folclore, que vire sina e nos acompanhe por toda a vida.
Este livro é um tímido registro do que foi a Bienal do B — a poesia na rua. Esperamos que traga boas recordações aos que participaram e contagie os que por um motivo ou outro não tiveram a sorte de estar lá.
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