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BAR DO ESCRITOR E A ANARQUIA BRASILEIRA DE LETRAS: enfim, uma Academia que se reúne num bar virtual - e o Sonetário barnasiano, resenha da antologia.
Uma instigante surpresa a descoberta da Anarquia Brasileira de Letras!!! Um grupo de poetas que atua pelas redes sociais e se dedica ao... soneto!!! Lembra aquela Geração 45 que reagiu ao Modernismo de 22 e restaurou a poesia da busca da perfeição formal... Com uma diferença: aceitam o ciberespaço como via de comunicação tribal, mas praticam a metapoesia e... terminam em livro!!! Fazem um círculo completo, aproximando espaços, tempos e gerações numa prática poética entre saudosista e renovadora. Gostei! Reagi: como pode um movimento anárquico-conservador colocar na falsa-folha-de-rosto, depois da catalogação na fonte, aquela abominável ameaça “É proibida a reprodução total ou parcial... crime estabelecido pela lei...”, quando deveriam estar nas trincheira do Open Access e do Creative Commons... se os textos vêm da internet!!! Mas isso é chavão de gráfica, que aplicam em toda e qualquer publicação “comercial”. Anarquia, sim, pero no mucho... Já publicaram 3 antologias do “Bar do Escritor” e nos autorizaram a reproduzir texto, não obstante... Só que as novas antologia não ficam no terreno exclusivo da poesia, incursionam pelo conto, narrativas curtas, pela ficção e crônica, do soneto ao verso livre. Tudo bem. Aos poucos, lendo os textos de dezenas de autores de diferentes partes do Brasil, publicaremos algumas páginas pessoais para os poetas, já que nos autorizam... Hoje vamos adiantar 5 deles, como um brinde antecipado, com cerveja, absinto, vinho, guaraná e caipirinha... com a autorização do Giovani Iemini, líder do grupo, acessível em: www.bardoescritor.net
Antonio Miranda De
(César Veneziani)
O choro é a alma que se desfaz e que dos olhos rola, goteja, e lá no sal que destila traz a desventura de uma tristeza.
Sou só e só sempre a sina sigo de estar fadado a chorar demais. Agindo assim, eu corro perigo de não achar, nunca, minha paz.
E cai a lágrima, indiferente, como se fosse assim natural. E o sentimento se faz ausente, como se bem fosse o que é mal!
Ah, e essa lágrima que não seca, como quem paga mais do que peca.
(David Moura)
"... Imaginai, Que pelo sono passastes; Que estando a dormir, sonhastes; Que o sonho não durou nada, E que no nada acordastes." Wïlliam Shakespeare
Num instante, não mais que num instante, Passou-se a eternidade desta vida, Encenada em estado delirante Aos borrões da visão entorpecida.
Num sonho, não mais que num breve sonho, Desenrolou-se, bêbada, a existência, Em farsa alegre, em cântico tristonho, Ao frouxo gargalhar da consciência...
Não mais que numa noite de verão, Cálida, atordoante ao som da lira, Representou-se a dramatização.
E enquanto cai o pano e a lua expira, O sol vai espalhando o seu clarão Sobre a última ilusão que se retira!
SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO
(Magmah)
E a nostalgia do que não se sabe. Um sentimento a mais do que paixão Vem, nos preenche, até que já não cabe, Por si se basta e é prenhe de ilusão.
Um paradoxo e a única certeza, O frenesi da gargalhada triste, A fome com banquete sobre a mesa. Mais redundante e intenso, não existe.
Pró cético, é um bafo de existência; Na língua, a polpa da fruta, pró crente; Pra quem o busca, a louca experiência.
Velou-me os olhos pleno anoitecer E um sumo ácido inundou-me a boca: Enfim o Amor que eu quis conhecer...
(Mailton Rangel)
Aproveitei que desprezaram meu poemeto Num sarauzim, ao argumento de obscuro, Peguei papiro e abracei meu sonho duro: Será que — enfim — logro compor algum soneto?
Forcei mi'a pena a tecer gás, qual carbureto, Pra lapidar um lenho xucro e tão impuro Cheguei com sorte a duas quadras, mas o enduro Exige ainda, em seu final, duplo terceto.
Ó, São Petrarca... Empreste luz para este traste, Que triste vê seu sonetar tão sem centelha... Orei com fé, e esta estrofe veio à telha,
E a este tonto que só quer sagrar-se vate, Por compaixão, 'il' santo baixa e me aconselha: — Sem arremate, ó pobrezim, só se assemelha!
(Wilson R.) [Wilson Roberto de Carvalho de Almeida]
Para Manuel António Álvares de Azevedo
Da quase pueril cátedra paulista à pútrida frigidez prematura, não pôde o tempo atacar-te a alma pura nem calar-te a pena, pena de artista.
A Epicureia, os dias de loucura, os ídolos: Byron, o vigarista, Victor Hugo, William (tinha uma lista!) todos declamaram-te à sepultura.
Ah, fosse-te a negra sorte mais terna e calasse o "Se eu morresse amanhã", teria a arte seu coração mais cheio.
Já que partiste, eu sigo p'ra taverna (é noite) e brindo, junto com Bertrand, à lira de seus vinte anos e meio.
Página publicada em novembro de 2011
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