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A MUSA DROGADA, O CANTO VICIADO

Resenha, por Antonio Miranda


De
Ademir Assunção
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte

Desenhos  Carlos Carah
A  MUSA CHAPADA
2ª ed.
São Paulo: Annablum, 2009.
78 p. ( selo Demônio Negro)
ISBN 978-859039343-6

              

Um canto desesperado
Vai rasgando a minha vida
Não posso ficar calado
Permitindo que se diga
Assim de mim por aí
Pirou de vez, isso, aquilo, vive infeliz
Desvio da natureza
É incapaz, só ode ser por drogas demais
Alcoolismo, pura fraqueza
Mentira, mentira, mentira

Itamar Assunção

 

         Um livro incômodo, como um soco no estômago. Estética da violência, linguagem do esgoto levado à literatura para esfregar na cara e ferir os ouvidos, coceira no olho do leitor.  É o que resultou da parceria entre o poeta-jornalista Ademir Assunção e o poeta-linguista Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, com o desenhista Carlos Carah, na produção coletiva do livro A MUSA CHAPADA, da editora Annablulme, pelo selo Demônio Negro, já em sua 2ª. edição. Não por falta de respeito à língua, mas para testá-la até os limites extremos. Na linha do mal por onde percorreram Junqueira Freire, Pedro Kilkerry, Roberto Piva, uns declaradamente pelo viés do mal, outros pelo atalho do redentorismo. Uns como marginais, outros como salvacionistas. Uns expondo o próprio corpo, outros assumindo personalidades delirantes e desviantes.  O certo é que “A Musa Chapada” é um registro linguístico e poético impressionante. Descio e desvario.

         Vão a seguir, dois exemplos. Um do Ademir, o outro do nosso colega Antonio Vicente. Os direitos autorais ainda não chegaram pela linha do “fair use”, sem fins lucrativos, na legislação brasileira... Ainda é comandada pelo cartel das multinacionais e regida pela Organização Mundial do Comércio... Negócio é negócio, como o crack.

 

O ANJO DO ÁCIDO ELÉTRICO

Poema de Ademir Assunção

 

o anjo sujo, esfarrapado         

         remela nos olhos

cabeça feita

         bate as asas sob o céu lilás

luas se dissolvem

         (comprimidos de sonrisal

na fornalha da noite)

         música que não cessa

minha mão dentro da sua

         veias são nervuras

golfinho saltando

         na pele das costas

vênus vestindo

         um manto de água

a ninfa chapada

         de olhos elétricos

cores girando

         no abismo sem fundo

dança de estrelas

         no teto da sala

dois sóis em cada ontem

 três vozes

na voz de quem cala

 

 

POLIGONIA DO SONETO VI

 

Poema de Antonio Vicente

 

 

eu vi o cordeiro de Deus chapado

a medusa alada no centro da

                            cidade vai pisar na cara da
                                               poetisa lésbica

                                               sadomasoquista

e cheirada

 

parecia bunda de mulher

o travesti galante

e drogado

o cordeiro de Deus de salto alto

e as meninas do centro da cidade

 

granizo esticado no asfalto

cintila!             levarei a sua alma

e o cordeiro de Deus algemado

 

parecia bunda de mulher

parecia táxi

eu vi a puta sadomasoquista

         no centro da cidade

 

 

Página publicada em março de 2011


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