RESEMHA DO LIVRO
UMA EDIÇÃO DEFINITIVA DE ALGUMA POESIA, DO DRUMMOND...
ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma Poesia; o livro em seu tempo. Org. Eucanaã Ferraz. São Paulo: Instituto Moreira Sales, 2010. 389 p. ilus. ISBN 978-85-86707-54-4
Por Antonio Miranda
Melhor seria dizer: última edição... Mas esta talvez seja a mais completa e bem cuidada - e bonita! - de ALGUMA POESIA,de Carlos Drummond de Andrade, que celebra os 80 anos de seu lançamento em 1930. Eucanaã Ferraz se apressa em avisar que não se trata apenas de uma edição fac-similar. Pretende ser uma edição revisada, crítica, como aquelas que a Unesco publicava dos autores mais importantes em sua Coleção Arquivo.
Os mais fanáticos bibliófilos preferem mesmo as primeiras edições, ainda que tenham sido revisadas, que contenham erros e estejam em estado que requeira restauração. O conteúdo nem sempre é o que importa...
A edição organizada por Eucanaã Ferraz tem a intenção de oferecer ao público a informação necessária para entender e cultuar a obra do jovem Drummond, que começou bem, precocemente amadurecido, já com poemas que estão entre os mais celebrados e estudados de sua vasta e longa produção poética. Inclui peças célebres como "Poema de sete faces" ("Quando nasci um anjo torto"...), "No meio do caminho", pedra de escândalo do modernismo,; "Cidadezinha qualquer" (Eta vida besta...); sem esquecer do popularíssimo "Quadrilha" (João amava Teresa que amava...), e assim por diante. Drummond aconteceu de uma vez!!! Mas é justo lembrar que o processo de amadurecimento do poeta e de seu primeiro livro teve o aconselhamento do Mário de Andrade, com quem o jovem itabirano manteve uma correspondência de anos, que depois foi transformada em livro*. Em boa hora, Eucanaã localizou os originais das cartas que estão depositadas na Fundação Casa de Rui Barbosa, algumas reproduzidas na edição do IMS dando testemunho das sugestões e opiniões para o aperfeiçoamento dos textos. Uma coisa é ler no livro da Correspondência, outra coisa (!!!) é ver a reprodução dos manuscritos com as anotações de Mário de Andrade.
Outra contribuição valiosa da presente edição comemorativa é a fortuna crítica da época, que foi compilada e exposta cronologicamente, permitindo a impressão exata da reação dos contemporâneos aos versos do poeta iniciante que, pela amostra, foi celebrado por grandes nomes como Rodrigo de M. F. de Andrade, Augusto Frederico Schmidt, Alcântara Machado, Gustavo Capanema, Murilo Mendes, Augusto Meyer, Luis da Câmera Cascudo, Sergio Milliet, entre outros, que enviaram missivas, além de uma profusão de registros em jornais e revistas, destacando-se figuras como João Alphonsus, Medeiros e Albuquerque, Mário de Andrade, Gustavo Capanema, João Ribeiro, Tristão de Athayde (pseud. de Alceu Amoroso LIma), Agripino Grieco e outros.
E ainda vale ressaltar que ostenta algumas correções do próprio CDA em alguns poemas da edição original, que seriam consideradas em edições posteriores.
Para ser completa, faltou apenas a inclusão dos poemas com as correções e na ortografia atua,l ao final da obra para se ter uma versão "definitiva"(embora paire sempre o risco de novas reformas ortográficas para zerar tudo...) É certo que existem edições atualizadas nas livrarias e que o que se tem nesta edição comemorativa é mais do que suficiente para considerá-la indispensável em coleções privadas, em bibliotecas públicas e universitárias, como instrumento de análise da obra drummondiana em seus primórdios. Como enfatiza Eucanaã Ferraz, com a publicação de Aguma Poesia, "O ano de 1930 entrou para a história da poesia brasileira". Sem dúvida.
Um bibliófico erudito e estudioso certamente vai precisar de três edições da obra: a cultuada e cobiçada Primeira Edição, a melhor edição atual do texto drummondiano (qual seria???) e este precioso legado do Eucanaã e do Instituto Moreira Sales.
Reprodução de uma página do original de 1930 ( p.57).
* CORRESPONDÊNCIA de Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2002.
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