DIFERENÇAS DE EXPECTATIVAS E NECESSSIDADES
ENTRE O PÚBLICO DE BIBLIOTECAS E MUSEUS
Crônica de Antonio Miranda
Frequento bibliotecas e museus desde a minha infância e juventude e escolhi a biblioteconomia como profissão. Aprendi muito visitando museus e galerias de arte em mais de quarenta países, ampliando minha visão de mundo, e aprofundei os meus conhecimentos e exercitei a minha capacidade de aprendizagem e a minha produtividade intelectual e criativa nas bibliotecas e salas de leitura. E frequentei espaços de exposições em bibliotecas e de leitura em museus. São complementares.
Vejo a chegada de estudantes e de turistas ao Museu da República desde a minha sala de trabalho na Biblioteca Nacional de Brasília. Antes via estudantes e turistas visitando o hall da BNB, o corredor digital com projeções, o totem com o "touchscreen" para o regozijo dos jovens e o Espaço Clic com 51 computadores com livre acesso á web através da Rede Nacional de Pesquisa, atualmente desativados mas já com projeto de recuperação aprovado para 2017! O público do museu visita exposições de extraordinário valor estético e cultural, o público da biblioteca passa horas, dias de suas vidas lendo e estudando em nossas salas de leitura. Que ótimo quando a biblioteca recebe grupo de visitantes com guias para as salas de exposição permanentes e temporárias, para assistir a uma palestra no auditório, mas devem entrar em silêncio nos espaços reservados á leitura e á pesquisa.
Os leitores da biblioteca também querem espaços de exposições, cafeteria, cine clube e poltronas para relaxar, mas logo reclamam se o público invade seu espaço de leitura, exige silêncio e mesas individuais que permitam concentração e isolamento para o estudo, a reflexão, a redação de textos e a produção de seus trabalhos escolares, seus exercícios criativos, suas teses e projetos profissionais ou de lazer, além de se capacitarem para concursos públicos.
Quando ouvem manifestações na praça — de índios, estudantes e operários —gente protestando, tocando música, praticando esportes – sobretudo os skatistas e dançarinos — reagem entre simpatia momentânea e o incômodo consequente quando ouvem as vuvulezas e os alto-falantes por um tempo indeterminado. O Conjunto Cultural da República é lugar de concentração em tempos conturbados como os que estamos vivendo, quando muitos manifestantes aproveitam para conhecer o museu e a biblioteca, outros buscando sanitários, mas não raras vezes promovendo pichações, depredações, mijo e lixo.
Pode ser que alguns leitores decidam participar dos eventos e então aderem às passeatas; outros reclamam ou vão-se embora. Eles deixaram suas casas, apartamentos, "repúblicas" e locais de trabalho em busca de um refúgio para concentrar-se. Fogem da televisão, das crianças em casa, das telenovelas e do rádio, do movimento de familiares e colegas da escola. Precisam de isolamento.
A Biblioteca Nacional de Brasília oferece salas de leitura em grupo, onde os frequentadores evitam incomodar os vizinhos e reclamam se os demais não respeitam as regras adequadas de comportamento. Precisam de aeração, iluminação adequada, banheiros e, sobretudo, conexão para uso da internet, wi fi e acesso a computadores públicos, banda larga e outras facilidades de acesso às redes telemáticas.
Usam telefone mas preferem enviar mensagens silenciosas e reprovam as conversas e o barulho de celulares e até a circulação excessiva de pessoal de limpeza e segurança. E precisam de um lugar para fazer refeição e esquentar marmitas, poltrona para uma eventual soneca, depois de uma estada prolongada, e gostariam que fosse vinte e quatro horas por dia, principalmente às vésperas de provas, concursos, de trabalhos de finalização de disciplinas, vestibular.
Um usuário me confessou que adorava estar na sala de leitura olhando o espaço da praça e os edifícios enfileirados da Esplanada dos Ministérios, mas... quando via um movimento contínuo lá fora ficava de costas, quando possível, mudava de lugar. Chegou a sugerir que as estantes fossem realocadas na parte leste do prédio e a instalação de salas de leitura na parte oeste, para evitar o barulho da praça, sem falar no ruído do trânsito, na algazarra de transeuntes, dos gritos de mendigos, de vendedores ambulantes e até de loucos que frequentam e dormem nas redondezas da biblioteca. E lamentam a falta de segurança quando vão para o estacionamento ou para a rodoviária. Mas sabem que expulsar os sem-teto não vai resolver o problema social.
É natural que eu, na condição de diretor da BNB e de minha origem como leitor em bibliotecas, sonho diuturnamente com a restauração do ar condicionado, com a ampliação das salas de leitura (no quarto andar), com a catalogação e abertura do acervo ao público além dos limites atuais, com a ampliação de espaços para a capacitação em informação de nossos usuários, no acesso pleno a recursos informacionais em bibliotecas digitais próprias e através de redes telemáticas. Oferta de uma programação cultural mais abrangente e transcendente incluindo mais exposições, debates, videoconferências, em horários expandidos e compatíveis com as necessidades e expectativas do público, local e remoto, além de grupos de estudo e criação.
Mas cabe ressaltar que, depois de um longo período de abandono, estamos contando com uma cooperação efetiva da Secretaria de Cultura do Distrito Federal e de outros órgãos do Governo do Distrito Federal.
Foi possível restabelecer os elevadores (!!!), pintar a fachada tão deteriorada do prédio e anunciar que um espaço de criação está sendo implantado no anexo da BNB e que uma licitação foi agora completada para garantir a restauração do ar condicionado!!! E mais: um grande projeto está em fase final de aprovação pela Fundação de Amparo à Pesquisa – FAP-DF para recuperar os espaços desativados, atualizar infraestrutura, reativar espaços de formação profissional e iniciar o caminho para termos uma biblioteca aberta ao público por um horário mais amplo (hoje de 8 às 19.45 hs durante a semana e de 8 ás 14 horas em sábados e domingos). Projeto desenvolvido pela Biblioteca Nacional de Brasília com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT, com a colaboração da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília.
Gostaria de finalizar a minha carreira de bibliotecário compartilhando um espaço efetivo de criação individual e coletiva, garantindo a formação continuada de nossos profissionais, pessoal administrativo e dos servidores em geral, sem desmerecer a reativação de um núcleo de pesquisa, para nossa capacitação integral e sustentável, atualizável para o cumprimento de nossas aspirações e compromissos com o nosso público da Capital Federal e externo. Haveremos de!!!
Brasília, madrugada, 08.04.2017.
Nas fotos: na BNB Inclusão digital e capacitação informacional na BNB
( http://www.antoniomiranda.com.br/em_destaque/inclusao_digital_na_biblioteca_nacional_de_brasilia.html),
Pipaço Poético ( http://www.antoniomiranda.com.br/em_destaque/pipaco_poetaico_na_bnb.html ),
Antonio Miranda em palestra no Circuito de Feiras do DF ( http://www.antoniomiranda.com.br/em_destaque/circuiot_de_feiras_df_2016.html ),
Inclusão digital e capacitação informacional na BNB ( http://www.antoniomiranda.com.br/em_destaque/inclusao_digital_na_biblioteca_nacional_de_brasilia.html),
e uma das visitas anuais de estudantes de Campinas, SP, à Biblioteca Nacional de Brasília.
( http://www.antoniomiranda.com.br/em_destaque/alunos_e_professores2015.html )
A próxima visita está programada para o dia 12 de maio de 2017, quando os professores e alunos vêm em dois ônibus para uma visita aos monumentos e instituições culturais da Capital.
E a sala infantil, ainda desativada, mas que será em breve reinstalada e aberta ao público.