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QUEM LÊ POESIA NO BRASIL? 

                        Por Antonio Miranda

 

"acolher o pretexto para o texto
poesia sem regra nem preceito
acontecida ao interior de si
não mais à impulsão do contexto
"
AFFONSO ÁVILA, em "Poeta Poente" 2010

 

         "Poesia pois é poesia" é o emblemático título de um livro de Décio Pignatari, em que o poeta pergunta e responde ao mesmo tempo. Mas, afinal, quem lê poesia no Brasil?

         Segundo o Instituto Proler, no relatório "Retratos da Leitura no Brasil" (2008)* de uma pesquisa quantitativa encomendada ao Ibope Inteligência, com o objetivo "de diagnosticar e medir o comportamento  leitor da população, especialmente com relação aos livros", quem mais lê poesia no Brasil são os jovens. A primeira grande e animadora conclusão, comparando os dados com a pesquisa anterior de 2000, é que os índices de leitura vêm crescendo entre nós, sobretudo em virtude da universalização do ensino no país, apesar das precariedades de seu nível de desempenho e do fato de a leitura não ser socialmente valorizada no Brasil. No entanto, é surpreendente que nossos compatriotas (55% são mulheres) usem 35% de seu tempo em atividades de leitura, seja por motivos profissionalizantes e de atualização profissional, seja pelo prazer e diversão .

         Vale destacar que a Poesia é o quinto gênero na preferência dos leitores, com 28%, inferior apenas à  leitura da Bíblia, dos Livros Didáticos, do Romance e da Literatura Infantil, embora tais interesses sejam também concomitantes. As mulheres lêem mais Poesia (32%) do que os homens (22%). Mas devemos atentar para o fato que a maior faixa de leitores se situa entre os estudantes de 5a. a 8a. séries (35%) enquanto que o nível mais baixo (21%) corresponde aos de nível superior, o que pode levar a crer que se deve às atividades literárias em sala de aula(**).

         Os dados mais reveladores correspondem aos jovens e adolescentes entre 11 e 17 anos de idade que têm a Poesia como o gênero mais lido, enquanto que o percentual mais baixo (15%) está entre os leitores de 50 a 59, havendo uma ligeira recuperação (30%) dos 60 aos 69 anos. Ou seja, a Poesia é majoritariamente uma atividade dos jovens. Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade foram espontaneamente lembrados entre os sexto e sétimo autores brasileiros mais populares...

         Na universidade, como se vê, a poesia tem menos leitores. A doutora Sylvia Cyntrão, do Departamento de Teoria Literária da Universidade de Brasília, afirmou que teve dificuldade para formar um grupo de pesquisa do gênero poético, mas a situação vem, segundo a especialista, mudando rapidamente. Muitos alunos e professores estão engajados agora em levantamentos e estudos sistemáticos e ela partiu para a organização do I Simpósio de Crítica de Poesia durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília, em 2008, e já está anunciando o II Simpósio para o mês de novembro de 2010.

         Algumas informações podem ajudar-nos a entender o fenômeno.
         É crescente o número de eventos  — saraus, tertúlias, poemações, poemashows, encontros e noitadas em bares e em clubes, além dos espaços do ensino, que animam as leituras e performances de poesia no Brasil. Para citar  exemplos, na cidade de Belo Horizonte acontece anualmente o Verão Poesia, o Belô Poético, as Terças Poéticas no Palácio das Artes e os encontros com a poesia na Praça 7; em São Paulo foi  instalada a Casa das Rosas, dedicada à Poesia, em homenagem a Haroldo de Campos, em plena Avenida Paulista, e o Instituto Poiesis promove leituras muito disputadas que se repetem em dezenas de espaços culturais por toda a cidade. E este tipo de atividade é também muito frequente no Rio de Janeiro e vem se propagando em outras capitais e em cidades do interior.

         Que tipo de poesia se apresenta nessas oportunidades? Do cordel ao poema performático, do romântico ao do escracho, do poema social à pretensa letra de música, como é próprio de toda a nossa cultura, nos padrões que animam a TV, o cinema, as leituras e as preferências populares e das elites, dependendo dos lugares. Importante é que este tipo de atividade acontece no centro e nas periferias das cidades.

         Um outro fator que vem promovendo a leitura e a escritura da Poesia no Brasil é a realização, em escala crescente, de oficinas e grupos de discussão. Assim funciona em outros países, como na Argentina, para citar um exemplo próximo de nós. Poetas e especialistas são convidados a levar sua experiência e métodos de trabalho criativo para um público que experimenta e cria seus próprios poemas. Sejam eles haikais, sonetos, cordel ou, agora, os chamados poemas de 140 toques para o celular. E também aprendem a editar seus poemas textuais ou videopoemas no Youtube ou em blogues pessoais e coletivos. E até exercitam criações coletivas como os poemas visuais e as rengas, graças à participação em redes sociais.

         Isso tudo é para afirmar que a leitura da poesia no Brasil vem crescendo rapidamente. Ainda existem os desconsolados e os pessimistas... Os que afirmam que não se publica poesia... Falso. As nossas edições são numerosas e são de alta qualidade, superior em quantidade e qualidade de conteúdo e do padrão gráfico aos de outros nações.  Afirmam que não temos editoras. Falso. Aí estão os casos da 7Letras, da AnnaBlume, da Ateliê, da Nephlibata, da Galo Branco, da Massao Ohno (cujo pioneiro nos deixou muita saudade...), e até de editoras comerciais como a Global, a Rocco, a Bertrand Brasil, etc, tem suas linhas editoriais exclusivas ou como segmentos específicos, enquanto muitas das boas livrarias têm estantes especiais para a venda desse livros. O fato de que a maioria dos títulos são patrocinados pelos autores não é novidade. Sempre foi assim, no mundo inteiro. Diferente de outros gêneros que são mais populares, como o romance e auto-ajuda, mas que pagam o preço da trivialidade e da banalidade em significativa parcela de suas edições. Como acontece com o cinema e a TV, onde o gosto médio do público em certa medida acompanha os níveis de escolaridade e os valores culturais em voga.

         Cabe ainda salientar o problema de não termos muitas livrarias... Certo. Mas o volume de vendas de livros pela Internet vem crescendo, e sebos virtuais oferecem livros de poesia em seções específicas, onde alguns autores (entre eles os concretistas e os da poesia marginal dos anos 70) atingem preços elevados, no nível das obras raras. E é tão salutar que os autores vendam suas obras em lançamentos e que façam doações a bibliotecas e aos amigos, e os disponibilizem gratuitamente na web. Melhor do que viver da poesia, é viver com poesia.

          A gente enxerga o que quer enxergar. É aquela velha figura do copo meio vazio e meio cheio... Há quem veja o lado vazio, há quem veja o lado cheio...

 

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(*) Disponível em:
http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/texto.asp?id=1815

(**) Conforme os dados obtidos pelo Google Analytics, nosso Portal de Poesia Iberoamericana ultrapassou a barreira de 1 milhão e 200 mil leitores no primeiro semestre de 2010 e, sintomaticamente, o período de menor frequencia é durante as férias, com uma queda de mais 30%. Embora não tenhamos dados específicos, é possível deduzir que os estudantes são assíduos frequentadores. Outro dado que corrobora para esta interpretação, é que 83% dos leitores vêm ao Portal diretamente pelo Google, buscando os autores e poemas de seu interesse, sem saber que o Portal existe. Provavelmente, realizando uma busca para atender a um trabalho específico. Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade estão entre os mais lidos e, entre os regionais, Helena Kolody e José Paulo Paes estão na dianteira. A Poesia Visual ganha cada vez mais visitantes, sobretudo aqueles poemas que nós chamamos de "animaverbivocovisuais", que são produzidos a partir da convergência tecnológica pelo processo de virtualização. Ou seja, o leitor não apenas lê, como também quer ver e ouvir.


 

 

 
 
 
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