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POESIA NA WEB: QUO VADIS

 

Antonio Miranda

 

I

As celebridades do futuro, de onde virão? Sobreviverão os heróis e as divas?

O famoso artista plástico Andy Warhol, preocupado com a transitoriedade das vanguardas do século 20 afirmou que, no futuro, teríamos apenas quinze minutos de glória. Queria significar que a mídia glorifica novos heróis e fabrica celebridades com o estardalhaço dos fogos de artifício, de efeito instantâneo. Descartável.

Vamos fazer outra questão, para a qual não temos uma reposta cabal: a Internet estaria criando heróis e celebridades com a mesma notoriedade que, em seus momentos, o cine, o rádio, a tv estabeleceram? Este é o assunto de um ensaio que estamos escrevendo e aqui apenas iniciamos a discussão.

Salvador Dali, no período entre as guerras mundiais, valeu-se do exibicionismo para ganhar notoriedade e virou cult, algo kitsch. O grupo Secos¨&Molhados, com Ney Matogrosso, também soube explorar esta veia sensacionalista, mas com verve e criatividade – inspiraram o visual da banda KISS, mera caricatura...

 

A TV mudou o paradigma da celebridade, instalando os astros e estrelas diante do sofá de nossas casas, criando uma intimidade invasiva, promíscua, contagiante entre ficção e realidade. O rádio já iniciara a invasão de nossa intimidade, com a voz do artista.

Agora é a vez da Internet e, com ela, deve vir a tevê digital pela web, de forma interativa. Os pop ups e os spans invadem nossos computadores e até chegam pelos celulares. Vlogs disseminam conteúdos criados pelo público, competindo com as grandes produtoras, que estão ávidas por encontrar criadores para acompanhar as novas tendências e fazer bons negócios.

 

E a poesia vai invadir nossa praia? Ela está nos teatros desde os gregos, passando pela ópera e agora está na Internet em imagens, recitativos e animações, sem falar no espaço rentável das composições musicais mais populares. Páginas pessoais, blogs, e-books, portais e revistas eletrônicas publicam poesia à mão cheia, em todos os níveis e para todos os públicos, dos românticos aos escatológicos. Sem exagero, pode-se afirmar que hoje se publica mais poemas na web do que nas gráficas convencionais.  Poemas ilustrados, fonados, em vídeos. Alguns sítios têm mais freqüentadores do que leitores de livros. Os downloads superam os exemplares tipográficos.A Usina de Letras (www.usinadeletras.com.br),já tem 101.696 poemas (em 10 de fevereiro de 2007) e cresce o tempo todo. Não me venham com esta de quantidade x qualidade... Quem garante que os livros abrigam apenas poemas de qualidade?!  

As pessoas lêem  e repassam para os amigos e alguns poetas ganham celebridade sem jamais terem visto seus versos estampados em revistas e livros impressos. Alguns até conseguem vender exemplares de suas obras impressas, pela Internet , ou mesmo nas livrarias, ao serem reconhecidos pelos internautas.

As editoras não querem saber de poetas inéditos... Evitam os poetas novos. A saída é o blog, as páginas de poesia (quando estão abertas aos autores desconhecidos). Um livro impresso chega a poucos leitores, um blog pode chegar a milhares em potencial (na prática são raros os autores que conseguem um público fora do círculo de amigos e mais difícil é fidelizá-los...)

 

Há quatro ou cinco anos atrás, ter uma página pessoal de poesia era um distintivo, hoje é lugar-comum.

O lado mais interessante deste fenômeno está na instantaneidade da edição, em poder ir a público de imediato e, em seguida, receber comentários, sugestões, críticas. Em certa ocasião —citando um exemplo pessoal —, publiquei um poema ao meio-dia e, durante a tarde, já estava recebendo umas poucas mensagens, uma delas vinda da Inglaterra, sugerindo a modificação de um verso. O poema efetivamente melhorou com a “parceria” inusitada. Milagre da ubiqüidade da edição eletrônica.

E o futuro? Pois é... As edições de livros eram caras e demoravam a chegar ao público, valendo-se de um distribuição tortuosa (os livreiros não andam assim tão interessados em livros de poesia...), acabam nas estantes dos leitores, das bibliotecas e dos sebos,  à mercê da sorte ou da fatalidade.

Não se sabe o destino dos arquivos digitais, por quanto tempo estarão acessíveis, considerando a transitoriedade das tecnologias. É possível que migrem de umas mídias para outras, como aconteceu com os acetatos, long-playings , cds, até chegarmos ao mp3...Muito se salvou graças aos arquivos, bibliotecas e aos colecionadores. Quem está guardando os acervos virtuais? O Google, o Gmail? Quem guarda tudo, em tese, não guarda coisa alguma... Preservação é um processo mais complexo, como sabem muito bem os bibliófilos, os cinéfilos, os numismatas, os bibliotecários, os livreiros especializados.

 

II  - TRÊS ANOS DE NOSSA PÁGINA NA WEB

 

Pode parecer estranho, à primeira vista que nossa página —www.antoniomiranda.com.br —, desenvolva um portal de poesia. Mas não é exceção, mais vale afirmar que está isto está virando regra. Os blogueiros de poesia cada vez mais se dedicam a publicar os poemas alheios em vez dos próprios. Nosso amigo Carlos Machado, que é poeta, só publica os poemas dos autores de sua admiração e predileção. Ele é exceção, o comum é que o poeta divida espaço com amigos e com os poetas de seu relicário.

Em verdade, o propósito original nosso era apenas disponibilizar nossos textos para alunos e amigos. Como um blog, palavra que não era ainda tão difundida no início de 2004. Mas logo surgiu a idéia de homenagear poetas já falecidos (seção Poesia Brasil Sempre) e os contemporâneos de nossas relações, nas seções Poesia dos Brasis e Poesia Ibero-americana. Muito informal, sem planejamento. Começaram a chegar textos digitais e livros enviados pelos leitores, a maioria de pessoas de vários países com os quais só mantínhamos relações pela Internet, que nos descobriram e entraram em contato a partir da criação da página.

Reformulamos todo o visual da página para acomodar as novas seções e acatar as sugestões, constituindo e ampliando um enorme depositário que já passa dos 500 autores, em permanente expansão. Passamos a contar com colaboradores para as traduções e tornou-se imperativo contratar novos planos para a hospedagem do sítio por causa do volume de páginas novas, das buscas e downloads.

 

Quo vadis?

 

Apesar das pressões e das tentações para abrigar todo tipo de literatura em geral —contos, ensaios – em formatos diversos  — poemas fonados, vídeos, etc. —, definimos a idéia de uma página devotada exclusivamente à POESIA IBERO-AMERICANA EM FORMATO BILINGUE (PORTUGUÊS-ESPANHOL). Um foco, uma direção, uma grife, um distintivo, uma política, chamemos isso como quisermos. Mas mantendo as seções paralelas com os nossos textos e outras mídias com nossa obra acadêmica e literária.

Deveríamos separar as duas partes – a pessoal da antológica -, transformar o Portal de Poesia Ibero-americano em um sítio independente. Institucionalizar. Poderia vir a ser administrado como uma ONG, retirando nossos nome do alto do template, constituindo uma comissão editorial, o ISSN.

A institucionalização — que será imperativo, tudo indica — requeriria um corpo mais estável de colaboradores, uma equipe de plantão, entre voluntários e contratados, dispostos a compartilhar as responsabilidades, atividades  e custos. Haveríamos de buscar subsídios e financiamentos. Não é questão só de tratar dos conteúdos mas de buscar a sustentabilidade do projeto, e sua conseqüente gestão e planejamento contínuo.

 

Estamos completando, neste mês de fevereiro, três anos de existência. Um percurso errático mas estimulante. De um hobby, ou um instrumento didático, partimos para um empreendimento que já exige mais que um tempo livre, mas horas e horas de dedicação extrema. O espaço que estamos conquistando é excepcional e exponencial, pelas relações que se consolidam no sentido das redes sociais que os cenários virtuais possibilitam. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, e ela se expande por contágio, inter-relação, compartilhamento, troca de experiência, aprendizado permanente. No sentido do conhecimento coletivo, da construção solidária de uma sociedade aberta como preconizou, em seu tempo, Ioneji Massuda.

Queremos ouvir opiniões, críticas, idéias, sugestões.

 

Brasília, fevereiro de 2007

 

 


 

 

 
 
 
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