POESÍA BRASILEÑA EN TODAS LAS DIRECCIONES
por Antonio Miranda
El texto en español está accesible en la revista LA COMUNA DE BELLO, n.02, Caracas, Venezuela, como Presentación del número especial sobre Poesía Brasileña. VEA>>>>
POESIA BRASILEIRA EM TODAS AS DIREÇÕES
Por Antonio Miranda
Universidade de Brasília
O Brasil é um país de contrastes, uma sociedade multirracial numa extensão territorial continental, com uma diversidade de “brasis” pelas diversas culturas de sua colonização. Ainda com populações indígenas não contatadas na selva amazônica, a presença do índio é marcante, mas em grande parte miscigenada, na composição de um “brasileiro” cuja identidade não permite, como acontece com outros povos, uma “imagem” unificada. Brancos, negros, asiáticos, indígenas. Seria a “unidade na diversidade”, tanto cultural quanto etnicamente, como assinalou o sociólogo Gilberto Freyre. Outro estudioso de nossa cultura — Roberto da Matta — mostra que nós brasileiros temos uma marcada diferença de comportamento em casa e na rua, diferentemente de alguns povos que tentam mostrar-se fora como são em seu reduto familiar. Seríamos mais liberais fora de casa... E também mais tolerantes, mais abertos e receptivos no espaço público e a única característica que nos iguala a todos seria a língua portuguesa que falamos em todo o território nacional, com os sotaques, expressões línguísticas e ritmos próprios de cada região, e de alguns povos isolados que não falam a língua oficial do país.
[ Se compararmos tais características com outros países, por sua forte miscigenação, talvez o país a que nos assemelhamos mais seria, sem dúvida, a Venezuela. ]
A poesia brasileira, em certa medida, também está marcada por esses desígnios culturais e territoriais, salvo nos casos em que se pratica uma criação poética mais universal, menos regionalista e pretensamente não culturalmente marcada pelo aspecto histórico e temporal, mas ainda assim com a marca da língua em sua construção.
Considerando a poesia contemporânea como a que se pratica desde meados do século 20, a partir da maturidade e saturação de nosso Modernismo — que nada tem a ver com o que se rotula assim na parte hispânica de nosso continente —, não é menor nem mesmo significativa a diversidade em sua formação e prática criativa. Naquela época, que antecedeu e aconteceu durante a construção de Brasília, apogeu do nosso modernismo arquitetônico e urbanístico, muitas direções orientaram a poesia brasileira desde então. O cenário que antecedeu o hiato conflitante do Golpe Militar de 1964 no Brasil e os levantes estudantis de 1968 em escala internacional, era de uma profunda transformação social, política, cultural, etc. E ponhamos etc nisso!!! Foi a época da Bossa Nova de Antonio Carlos Jobim e João Gilberto; do Cinema Novo de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos; a conquista do campeonato mundial de futebol (1958) que projetou nossa imagem no mundo, junto com o Carnaval que estava se institucionalizando e ganhando as dimensões de espetáculo, que é sua marca consagrada mundialmente; o teatro engajado de Oduvaldo Vianna Filho e os mensagens lítero-musicais nada convencionais de Geraldo Vandré e Chico Buarque de Holanda e da MPB (música popular brasileira); e as versões mais “pop” de roqueiros e tropicalistas como Caetano Veloso (“é proibido proibir!”), e outras excentricidades que causariam espanto e escândalo em outras latitudes, mas foram bem absorvidas pelo púbico, logo perseguidas pelos militares mais moralistas no poder; e a conquista de um título de Miss não-sei-o-quê mas que não atrai mais atenção do país desde então; a arquitetura genial de Lucio Costa e Oscar Niemeyer em diversas cidades e depois em muitos países; e muitos outros fenômenos que marcaram e continuam marcando a nossa visibilidade no mundo.
Na poesia, não foi diferente. Houve a reação conservadora da Geração 45 que tentou restaurar os cânones mais tradicionais de nossa poética, restabeleceu a primazia do soneto e do lirismo, com figuras como Lêdo Ivo, Alphonsus de Guimarães Filho e Darcy Damasceno, culminando com a genialidade muito pessoal de João Cabral de Melo Neto; e na direção contrária, surgiu o Concretismo dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos, Ronald de Azeredo e Pedro Xisto que anunciavam o fim do verso e estabeleceram o geometrismo na arquitextura do poema, com seguidores em todo o mundo. Muitos movimentos ampliaram ou tentaram contradizer o concretismo, nas muitas vanguardas do período do Pós-Guerra e da disseminação de regimes autoritários em nosso continente: o Neoconcretismo (com Ferrreira Gullar, Reynaldo Jardim e artistas plásticos como Amilcar de Castro e Lygia Clark que derivaram poemas e esculturas móbilies como origamis desdobráveis); a poesia-processo de Wlademir Dias-Pino e Moacyr Cirne com poemas articulados, com ou sem palavras, numa nova semântica poética; o poema-praxis de Mario Chamie com uma obsessiva pesquisa de linguagem para a construção do poema; a poesia experimental em todas as direções: Affonso Ávila indo do barroco ao semioticismo, Carlos Drummond de Andrade que acabou se revelando um modernista maduro e erótico. E fenômenos “marginais” e da nova poesia confessional como Ana Cristina César, Hilda Hilst, Chacal, Francisco Alvim, Armando Freitas Filho. A linguagem reinventada de Manoel de Barros, o erotismo licencioso de Roberto Piva. Liberdade de expressão.
A poesia saiu da livraria e foi para o teatro; os versos saíram dos livros e foram para as ruas; saiu dos salões e subiu as ladeiras das favelas; virou música e incendiou corações e consciências nos recitais da União Nacional de Estudantes e nas edições do Violão de Rua, com Paulo Mendes Campos, Moacyr Félix, Solano Trindade, José Paulo Paes e tantos outros que pregavam a Revolução. Deram voz ao negro, ao camponês, às mulheres, à liberdade sexual! Era proibido proibir, mas a ditadura, mesmo sem a intensidade e atrocidades de países vizinhos, foi igualmente castradora e inquisitória. E veio a diáspora e o exílio: Ferreira Gullar no Chile e na Argentina reinventando-se no Poema Sujo; Vinicius de Moraes, depois de Orfeu da Conceição (que acabou ganhando prêmio no Festival de Cannes com Orfeu do Carnaval, parceria com o cineasta Marcel Camus) reestabelecendo o lírico e o de-líri(c)o; Thiago de Melo na trilha de Neruda acabou lendo seus Estatutos do Homem em sessão solene na ONU para invocar os direitos humanos; Antonio Miranda ( por que não mencionar-me ?) com “Tu País está Feliz” e o grupo Rajatabla da Venezuela saiu pelo território ibero-americano e alhures combatendo dogmatismos. O Brasil descobriu a América Latina. Gilberto Gil gritou “Soy loco por tí, América!”
No século 21 todas as vanguardas, como previu Edgar Morin, viraram retaguardas. Tudo é permitido, X-tudo, tudo sobre nada, e nada sobre tudo. Podemos chegar ao que, ironicamente, intitulamos "definição consuetudinária", do tipo "as it is", de forma mais pragmática ou descritiva que propriamente epistemológica ou teórica. Certamente válida para entender a evolução de um processo, não para entender o fenômeno em sua essência. Caímos na arapuca da fenomenologia, em que se confunde a visão da coisa com a sua própria realidade. Certamente que há uma corrente defendendo a questão do "olhar" como forma possível de entendimento. Tem sua razão de ser, certamente que orienta, mas também subjetiviza o fenômeno.
Na história das artes e das literaturas, os críticos sempre tiveram a pretensão de enquadrar a arte em preceitos e "ismos", que iam rotulando, sucessiva ou concomitantemente, não raras vezes conflitivamente, as propostas estéticas e os movimentos de criação artística e literária, mediante manifestos e polêmicas entre os seus ativistas. O século 20 foi uma sucessão de "ismos" desdobrando-se, contrapondo-se, negando-se, restaurando, imbricando, polemizando, demolindo e restabelecendo postulados e valores. Nas artes, na política, no comportamento, nos movimentos sociais, econômicos... Para citar apenas as artes e literaturas, tivemos parnasianos, simbolistas, futuristas, surrealistas, dadaistas, tachistas, concretistas, decadentistas, fauvistas como criadores e pregadores nesses movimentos, sem esquecer o psicodelismo, o cinetismo, o neoconcretismo, o poegoespacialismo. Ativismo literário.
Não constituíram exatamente "etapas" porquanto foram concorrentes e conflitantes dentro de um processo de renovação que se resume, grosso modo, no modernismo, no pós-modernismo, em revisões como o neobarroco, até às fronteiras do que no século 21 se pretende cognominar "hipermodernismo", no âmbito do globalismo, da teoria da complexidade, do holístico, etc. Pós-tudo.
O que é interessante notar é que o Concretismo tentou abolir o "eu" da poesia, estabeleceu um locus para a poesia a partir da paideuma que parte do espaço em branco de Mallarmé, supera o figurativismo decorativo de Apollinaire (cujos caligramas restauraram práticas antigas de persas, árabes, judeus e chineses), transpassa o experimentalismo de E. E. Cummings, assenta-se em postulados de Max Bense e se hasteia nos princípios ideogrâmicos difundidos por Fenelosa e Ezra Pound. Mas estabeleceu uma ecclesia, uma forma cujas limitações ou dogmatismos tiveram o mérito de instaurar e ao mesmo tempo enclausurar a renovação das artes modernistas. Exaustão das fórmulas obrigou a que os concretistas buscassem novas saídas para o impasse, passando pelo engajamento político (lembrem-se do poema "coca-cocô-cola" de Décio Pignatari), aproximando-se e associando-se até mesmo com o tropicalismo de Caetano, Gil e outros. Assistimos a restauração do "eu" através do subjetivismo de seus criadores, mas mantendo o critério da "coisificação" (objeto = objetivação da arte) em muitas de suas obras, abrindo-se para outras escalas que chegaram ao performismo, às peças desdobráveis (como os "bichos" de Lygia Clark) e até às "instalações", espécie de teatralização ou espetacularização da arte pelo que ela tem de mais residual, momentâneo, descartável, antidogmático. Hibridismo e convergência tecnológica que transforma texto, imagem, som e animação em peças espetaculares, pela internet, no que eu denomino AV3 — a animaverbivocovisualidade. Mas há espaço também para o neobarroco; para a cultura da periferia e da favela com funk e contracultura; a “rapadura” nordestina, combinando rap com poesia repentista; o poema gauchesco e há espaço até para o poema “brega” (cursi, cafona, de assumido mau-gosto, anti-beletrista!). Paideuma, pai d´égua! Tudo é efêmero, quase tudo é descartável, salve-se quem puder! Mas ainda há espaço para academias de letras e concursos literários e oficinas de poesia.
Qual o cenário atual da poesia brasileira, no contexto da poesia que se pratica em muitos países, seus fundamentos e em que dimensões é divulgada?
Já se tentou definir a poesia como um gênero estritamente literário, e há até uma tese no Brasil afirmando isso, publicada em meados do século passado. Definiu, defendeu eruditamente um tipo de poesia. Mas a poesia tem razões que a própria razão desconhece, não se enquadra em uma definição acadêmica, por mais erudita e bem documentada que seja.
A poesia não mais conta com os críticos em revistas e jornais, mas tem uma legião de pesquisadores acadêmicos orientando e escrevendo dissertações e teses. Seminários, congressos, festivais, blogues, fanzines, edições alternativas, de arte, livros-de-artistas impressos ou digitais.
Em verdade, muitos poetas acham que a poesia é um processo criativo (poiesis) em um conjunto de obras restrito ao período gutenberguiano, de cinco séculos, que culmina e se perpetua na prática do soneto petrarquiano. “A poesia já era!”, bradam os saudosistas. Mas a poesia é multimilenar, sempre esteve associada a outras manifestações artísticas e sociais (ao teatro, à história e às sagas, à música, às liturgias e monumentos religiosos e místicos, cabalas, à fantasia e à contestação). Virou litania, grafite, tatuagens. [Eu defendo a antipoesia, o poema-ensaio, a poiesofia!!!] Tem quem acredite na poesia de gênero: feminista, gay. Religiosa, romântica, infantil, pornográfica.
Sem exagero, a poesia sempre foi visual, além de oral, musical. Não apenas porque está aí a prova do poema visual, em formato de ovo, do grego Simias de Rodes, concebido três séculos antes de Cristo, e de todos os exemplos de criação poética do imaginário esotérico até os poemas objetuais de nossos dias, tão bem compilados e analisados pelo pesquisador goiano José Fernandes em O poema visual: leitura do imaginário esotérico (da antiguidade ao século XX), Petrópolis: Vozes, 1996. Existe poesia visual no plano, em três dimensões, em movimento, audível, inscrita de alguma forma para o tal "olhar" de que tanto se fala nos últimos tempos.
Confluem na poesia visual contemporânea - incluindo OBRANOME, liderada por Wagner Barja — as três vertentes integracionistas da criação: a) a literária, com a presença da palavra inscrita ou apenas evocada na relação com o objeto, para seu pretenso entendimento; b) a plástica, que convoca artistas de todas as dimensões criativas, da pintura à escultura, até os gestuais e descontrutivistas); e c) o uso de metodologias e tecnologias de construção da "obra" desde tempos imemoriais até o emprego de recursos telemáticos que desterritorializam e desmaterializam o trabalho do artista ou poeta do novo século em que vivemos. Ubiquidade, hiperatualização de conteúdos, interatividade, mobilidade com poemas de 140 toques em celulares, etc., etc.
A poesia é agora multimensional, tridimensaional, ou sempre foi, conforme as propostas e recursos próprios de cada época, de sua manufatura no processo criativo. Relacional, interativa, multivocal, além de individual, em papel ou em holografias, a poesia sobrevive e se renova, mesmo que não respeite (!!!) os cânones tradicionais. Nessa antropofagia e nessa reconstrução, toda a vanguarda é o obsoleto por antecipação, toda a renovação carrega necessariamente, rompendo ou renovando, uma tradição.
Antes havia a intenção da "integração das artes", mas a tecnologia era limitada, a inter-relação do texto, som e imagem— a verbivocovisualidade — dos poetas concretistas, de fazer poesia mesclando texto, som e ilustração, tinha limites. O texto sugeria ou formava a imagem (recurso ideogramático que resultou, no Ocidente, no caligrama de Apolinaire e Huidobro) e o “som" era "imaginário", isto é, decorrente da leitura silenciosa do leitor, pois a poesia concreta não pretendia ser recitada...
No século 21, ao contrário, é possível amalgamar texto, som e imagem pela convergência tecnológica do processo digital. E se o criador souber valer-se desse recurso, pode ir à ânima, ou seja, à (dupla) relação da poiesis (elemento estético, criativo) e a "animação" dos elementos da composição mediante a tecnologia, onde os elementos amalgamados fazem uma nova arquitextura, combinatória de elementos animaverbivocovisuais.
Alguns artistas vão mais longe e usam as projeções (de luz a partir de suas criações virtuais por computador) e projetam sobre edifícios, monumentos, etc — ou seja, mediante o recurso artístico da "intervenção urbana", ou combinado com performances usando o corpo humano e outros elementos. Resumindo, o hipermodernismo deu ao poeta, ao escritor ibero-americano, como aos autores do mundo inteiro, a possibilidade de criar valendo-se da tecnologia e de poder difundir seus trabalhos pela web, mediante blogs e redes sociais, editando seus próprios trabalhos, em caráter individual ou coletivamente. Ou seja, o trabalho passa a ser multivocal (se for criado por várias pessoas presencialmente ou por meios eletrônicos de comunicação — ou seja, pela interatividade), ubíquo (a ubiquidade da internet), os trabalhos podem estar associados a outros por meio de links (a hipertextualidade): pode atualizar e transformar sempre que o(s) autor(es) consider(em) conveniente, vale dizer, recorrendo à hiperatualização. Recriações. Retrabalho. A ubiquidade também significa que o texto passa a estar disponível em qualquer lugar – transforma a disponibilidade documental, ou seja, o registro do conhecimento armazenado em recurso virtual, torna-o acessível de qualquer lugar. Como agora já dispomos de meios móveis de acesso — celulares inteligentes, tabletes, etc — valemo-nos da mobilidade dos meios de comunicação. E outros elementos mais, que não cabe aprofundar aqui.
O poeta tem a memória social a seu favor. Ninguém produz no vazio, por mais inovador que seja. A comunicação se dá por códigos, que exigem do criador a capacitação para o uso dessa semiótica, que seja decodificável pelo "leitor", sujeita a valores e propostas estéticas, reconhecíveis e compartilháveis, ao alcance do criador e do usuário. E nenhuma criação é totalmente "original", pois o criador também recria, reinterpreta, transforma, como estabeleceu o filósofo Karl Popper que, ao criar a Teoria do Conhecimento Objetivo, previu que todo registro (poema, conto, oração, tese científica, etc) necessariamente se submete ao processo de "conjectura e refutação". O processo é mais complexo, pois o que "criamos" não é singularmente "universal" nem "atemporal". Pelo contrário, todo registro é histórico e circunstanciado, datado e sujeito às capacidades e habilidades do criador. Alguns se especializam no tipo de criação (poesia, romance, oração, artigo científico) enquanto também se capacitam na forma de inscrição, combinatória ou híbrida, que vai do caligráfico, da datiloescritura até os recursos da arquitetura da informação. Mas todo recurso está sujeito à obsolescência. Na arte e na ciência, é preciso reciclar todos os recursos, criar novos recursos, fazer a atualização do "estado da arte" para avançar... e criar novos paradigmas, novas formas de ver e interpretar o mundo, de expressão e criação. Um "clássico" seria uma convenção, mas com o reconhecimento de seu estilo, ainda que o autor pretendesse ser "vanguardista". Paradoxos? Talvez o fato de vivermos e convivermos com expressões artísticas e científicas que são contraditórias, nem sempre convergentes... No século 20 vivíamos os embates dos manifestos e dos ismos, negando o passado e projetando futuros, ou tentando voltar ao passado para resgatar valores perdidos. No século 21 não existem mais manifestos e os ismos convivem com outras modalidades de criação, até em combinatórias inimagináveis pelos mais tradicionalistas... Também em religião, em política... Em economia e padrões de sociabilidade... Como comparar um poeta sonetista de hoje com seu colega neobarroco? Um poeta assumidamente lírico com um ciberpoético de hoje? Ambos são poetas e ambos têm algo de barroco em sua formação intelectual e social...
Que maior paradoxo do que, ao referir-se a Guimarães Rosa, afirmar que ele transforma o local em universal? E o James Joyce que transformou o inglês da Irlanda numa linguagem renovada e ideogramática, para uma interpretação de especialistas?
Vivemos em várias épocas culturais no mesmo tempo, em diferentes espaços... A única certeza que temos é a de que tudo que pregamos tem algum tipo de antecedente e de que não existe uma verdade universal fora da pretensão da religião e da ciência cartesiana que não abarca mais a complexidade dos tempos que vivemos. Sei que vão dizer que a tecnologia que presenciamos não tem antecedentes, mas depende da metodologia de análise da questão... Não podemos entender a hipermodernidade apenas pelo ângulo da tecnologia...
Em resumo, a problemática da poesia brasileira não tem fronteiras, nem é aborígene ou pura, nem é autóctone, verde-e-amarelo.
São muitos os autores em pleno exercício criativo no Brasil, em todas as regiões brasileiras. Citamos em seguida, aleatoriamente, alguns nomes, sem pretender esgotar a nômina, e com o perigo de criar inimigos pelas omissões: José Inácio Vieira de Melo, Myriam Fraga, Ruy Espinheira Filho, Almandrade, Antonio Risério, Astrid Cabral, Thiago de Melo, Floriano Martins, Luciano Maia, Márcio Catunda, Virna Teixeira, Cristiane Sobral, Lina Tâmega, Anderson Braga Horta, Santiago Naud, Nicolas Behr, Morvan Ulhoa, Salomão Sousa, Wagner Barja, Al-Chaer, Gilberto Mendonça Teles, Ferreira Gullar, Arlete Nogueira da Cruz, Celso Borges, Nauro Machado, Salgado Maranhão, Wlademir Dias-Pino, Manoel de Barros, Raquel Naveira, Adélia Prado, Aricy Curvello, Cacaso, Francisco Alvim, Hugo Pontes, Joaquim Branco, Ricardo Aleixo, Wilmar Silva, Yeda Prates Bernis, João de Jesus Paes Loureiro, Braulio Tavares, Alice Ruiz, Ricardo Corona, Antonio Marinho do Nascimento, Ariano Suassuna, Jussara Salazar, Lucila Nogueira, Marcus Accioly, Paulo Bruscky, Alberto da Costa e Silva, Afonso Henriques Neto, Affonso Romano de Santana, Alexei Bueno, Eucanaã Ferraz, Antonio Carlos Secchin, Antonio Cícero, Armando Freitas Filho, Bruna Beber, Celso Japiassu, Chacal, Claudio Murilo Leal, Marco Lucchesi, Marina Colasanti, Sergio Cohn, Tanussi Cardoso, Avelino Araujo, Moacy Cirne, Armindo Trevisan, Carlos Nejar, Carpinejar, Maria Carpi, Ricardo Silvestrin, Alcides Buss, Leonor Scliar Cabral, Péricles Prade, Rodrigo de Haro, Sylvio Back, Ademir Assunção, Angélica Freitas, Antonio Vicente Serafim Pietroforte, Augusto de Campos, Claudio Willer, Ésio Macedo Ribeiro, Carlos Felipe Moisés, Frederico Barbosa, Glauco Mattoso, Horácio Costa, Itamar Assumpção, Marcelo Tápia, Marcos Siscar, Mariana Ianelli, Nelson Ascher, Orides Fontela, Régis Bonvicino, Renata Pallottini, Álvaro Alves de Faria, e muitos outros. Uma relação de nomes muita eclética e abrangente, com muitas omissões, sem pretender uma aprovação unânime, Como dizia o célebre Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”. Fico devendo aos que não incluí, e que mereciam figurar na lista.
Existem muitas antologias que pretendem fazer uma amostragem da poesia brasileira contemporânea. Contemporâneo entendido aqui como criação atual, de poetas vivos e ativos de todas as gerações. Sem qualquer unidade estilística, que só acontece quando eles se reúnem em grupos e revelam uma identidade comum que nem sempre é de todo reconhecível. Toda antologia é arbitrária, no sentido de que usa critérios de seleção. E sempre comete omissões, pois é impossível representar todo o universo polifacético da poesia mediante alguns exemplos. O que é válido no presente caso desta revista venezuelana, é a tentativa de trazer ao público hispano-americano uma mostra da poesia do Brasil com acesso aberto, despertando o interesse pelo tema. Os nomes escolhidos são representativos e, em edições posteriores, será possível seguir ampliando e revelando nomes consagrados e jovens talentos em processos criativos inovadores.
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