O SENTIDO OU O SIGNIFICADO DO POEMA...
Editorial de ANTONIO MIRANDA
Sei não... Sinceramente, creio que não cabe ao poeta interpretar e justificar o “próprio” poema, embora muitas vezes pretenda interpretar o poema alheio.
O poeta Lucas Viriato, diretor do jornal literário plástico bolha – poesia agora, incluiu o poema DNA, de minha autoria, na edição n. 39, Ano 13, na edição impressa e virtual — instagram: @jornalplasticobolha —, em abril de 2018. Enviou-me, pelo correio, um pacote de exemplares para distribuir. Aproveitei a cerimônia de lançamento da VIII Coletânea Século XXI – Homenagem aos poetas Anderson Braga Horta e Antonio Miranda, da PoetArt Editora, dirigida por Jean Carlos Gomes, no Estado do Rio de Janeiro, na Associação Nacional de Escritores — ANE, em Brasília, para deixar alguns exemplares à vista durante a cerimônia, disputados pelos participantes do evento.
Meu amigo Anderson, com fina ironia, parecia esperar, de mim, uma “explicação” quando uma jovem demonstrava alguma surpresa com o inusitado do poema visual em meio a uma quantidade considerável de poemas textuais em seu entorno... Anderson Braga Horta é um merecido Prêmio Jabuti, por sua poesia, e se autodenomina afiliado, não necessariamente afilhado à Geração de 1945, que reagiram criativamente ao Modernismo de 1922 e, sobretudo, aos poetas concretistas do final dos anos 50 do século passado.
Manuel Bandeira reagiu positivamente à proposta da Poesia Concreta, à verbivocovisualidade dos irmãos Campos e Décio Pignatari, e chegou até a exercitar algum poema visualizante, embora na linha mais próxima da ideogramação dos caligramas, “desenhando com letras”, modernidade suspostamente inaugurada na antiguidade por Simias de Rodes com o célebre poema “O OVO”.
Outra reação, mais crítica que criativa, foi o arquipoeta João Cabral de Melo Neto, contemporâneo de modernistas e concretistas, que extrapolou o cordel em seu livro Morte e Vida Severina, namorou mas não se filiou ao Modernismo e com o Surrealismo, numa criação poética independente.
Nunca me perguntei, antes, “como” criei o poema DNA e outros associados à poesia visual, aos poemas animaverbivocovisuais, videopoemas, etc. Quem pretendeu dar uma resposta à questão foram o poeta e crítico José Fernandes, em livro* e o pesquisador Valter Gomes Dias Júnior em sua tese de doutorado**.
Quem deve realmente interpretar o poema é o leitor, e a interpretação nem sempre é coincidente com a do autor.
A PARTIR DA FAMOSA TRÍADE SEMIÓTICA: SIGNO - INTERPRETANTE - SIGNIFICADO.
Quando comecei a divulgar o “poema” CREDO — pintado em tela pelo artista Zenilton Gayoso — uma pessoa, diante da obra numa exposição, me disse : “Lindo! O credo em forma de cruz!”. Uma segunda pessoa reagiu negativamente: “Cruz credo!!!”
Talvez o autor se pergunte qual o sentido, que motivação o levou à criação. No meu caso, “desenhando “ mallarmaicamente, ou na intenção de Apollinaire, o poema, eu intuitivamente estivesse buscando um sentido para a palavra DNA que inscrevia, ou “arquitexturava”... Indo às origens da palavra, eu me divertia reconhecendo a figura de ADAN, pretensamente nosso primogênito ancestral bíblico. Ou, mais explicitamente, NADA, bustrofedicamente... Metaforicamente, ou dialeticamente, criativamente, o poema é o “ser sendo” do poeta...
E as três linhas cruzando-se no espaço... Uma tríade visual, terceto.. Poemeto. Prometo evitar continuar... Pra mode.. Pode? Quem não pode se sacode... Palavra puxa palavra.
*FERNANDES, José. Poesia e ciberpoesia. Leitura de poemas de Antonio Miranda. Goiânia, GO: Editora Kelps, 2011. 170 p. ilus. col. 16x22,5 cm.
**DIAS JUNIOR, Valter Gomes. A poesia de Antonio Miranda e suas intersemioses. João Pessoa, PB: Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Departamento de Pós-graduação em Letras, 2014. 268 p. Tese de doutorado defendida com Louvor.
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