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EDITORIAL N. 55 – A POESIA DO DESIGN

 

A POESIA DO DESIGN

        por ANTONIO MIRANDA

 

         “o essencial reside na comunicabilidade da realidade estética.”
         MAX BENSE

 

         Como entrosar teoria e prática de uma forma orgânica, indaga Alexandre Wollner na apresentação da obra “Inteligência brasileira” do genial Max Bense (2009). Max Bense, filósofo alemão nascido na França, foi um revolucionário na discussão da estética e do design. Esteve no Brasil em quatro oportunidades e reconheceu a criatividade daquela geração que criou Brasília, encetou o movimento concretista e ensejou uma renovação estética da arquitetura às artes plásticas a partir do modernismo, mas antecipando seus desdobramentos. Chegou a teorizar e a praticar a poesia concreta, mas seu legado maior foi a interpretação da inteligência brasileira e, em particular, para os efeitos do presente texto, a discussão do design como elemento estruturador da cultura, do registro do conhecimento, da originalidade criativa no espaço tropical. Proclamou: “ Digo apenas que no extenso planalto de Goiás, onde se demarcou o Distrito Federal, há uma incontestável proclamação brasileira cartesiana, vendo-se o plano e a concretização da nova capital, Brasília, como uma momentânea e extrema intensificação do poder criador universal”. Nada menos!

 

         A nossa modernidade, o senso de vanguarda, cosmopolita, teve suas conjecturas na antropofagia do Oswald de Andrade, no pioneirismo da concepção do (hoje) Palácio Capanema, no Rio de Janeiro, de Oscar Niemeyer e Lucio Costa, inspirados pelo arquiteto Le Corbusier, na ideia da “integração das artes” que antecipou a atual amálgama criativa que nós aqui intitulamos como “animaverbivocovisualidade”, a partir da proposta do Movimento Concretista do verbivocovisual, expresso em manifesto que ganhou espaço internacional indiscutível. Voltando ao exemplo de Brasília, no entender de Bense “o urbanismo da nova capital permite uma consciência poética inteiramente distinta, uma consciência* que também abre espaço à poesia artificial da pureza estrutural e à concreta materialidade da palavra.” (BENSE, 2009, p. 30). Tudo a ver com a hibridização dos nossos tempos, com a combinação de elementos de todas as áreas do conhecimento na construção de novas e mais representativas criações estéticas, ou no dizer do próprio Bense, uma “primeira expressão visível de um cartesianismo na forma do design”. (Ibidem, p. 31)**

        

É lícito acrescentar que para a estética moderna, abstrata e exata, para a qual a natureza da realidade estética não consiste numa “essência”  particular (que tem por tema o ser), mas numa “comunicação” materialmente estruturada, sempre se pode aceder ao conceito progressista de literatura a partir de seu conceito central de “inovação”.” (BENSE, 2009, p. 72)


         No entendimento de Bense, “a materialidade verbal, vocal e visual da palavra e da linguagem”  — o já citado sentido verbivocovisual da criação literária — , e continua, antevendo os tempos atuais —

 

“De um ponto de vista material o espaço de comunicação é tridimensional.”  (Ibidem, p. 74) e explicita o conceito: “A consideração das posições gráficas é para a palavra, ou para o conjunto de palavras dispostas na superfície, algo tão evidente quando a exploração da matéria fonética no limite dos fenômenos acústicos que ocorrem no ato de falar. Torna-se evidente que na medida em que a palavra, e não a enunciação, constitui o fundamento material do texto, este se libera da distribuição linear, característica do espaço de comunicação convencional da poesia clássica, para se ajustar ao arranjo da superfície.” (BENSE, 2009, opus cit. p. 74)

        

         Cabe aqui ressaltar que na sintaxe chinesa predominam os substantivos e os verbos, assumida logo como proposta dos Concretistas brasileiros, no afã de superar a lógico-discursividade da escritura ocidental.  Ou seja, perseguir a adoção de uma sintaxe sintético-ideogrâmica. Pretenderam promover uma relação mais efetiva entre as palavras, as ideias e as formas do (com)texto, “coisificando” a linguagem, conforme a teoria da Gestalt — que pressupõe que o todo não é apenas o somatório de suas partes.

 

         Consequentemente, resultante da arquitextura, que não está limitada à escritura poética, mas a todo e qualquer forma de inscrição, incluindo recursos não verbais, em forma amalgamada, ou seja, pela animaverbivocovisualidade, facilitada pelas tecnologias da informação de nossos dias.

 

         Concluindo, e ampliando ao paroxismo, “Na mais recente teoria do texto, que é um componente da estética abstrata e exata, a pesquisa se desenvolve sobretudo em três fases: junto com o modo de observação topológico (dimensional e “avizinhável”) apresenta-se o semiótico (relativo ao signo) e o estatístico (relativo à frequência). “ Vale dizer: “completa-se de maneira topológica, semiótica e estatística. A fixação daquilo que se denomina “mensagem estética” presume a caracterização topológica, semiótica e estatística”. (BENSE, opus cit, p. 75).

 

         “Avizinhável” é uma palavra que simboliza o sincretismo e a  hibridização dos nossos dias. Palavras adventícias, de conformidade com os objetivos do presente editorial. Bense baseia-se na semiótica para paradigmatizar o que pretendemos enunciar como comunicação extensiva em sua dimensão plástica e criativa:       

“Uma “função sígnica” é fundamentalmente triádica, ou seja, ela se relaciona a três coisas: a algo que é utilizado como signo, ou seja, à configuração material do signo; a algo para quê o signo deve ser utilizado, ou seja, ao “objeto” a ser significado; e finalmente àquele que se utiliza do signo ou em função de quem o signo é utilizado, ou seja, ao “interpretante” como Pierce o caracteriza.” (BENSE, 2009, p. 76)

         É o que pretendemos desenvolver em livro a ser publicado em 2018 e demonstrar, pela revisão de literatura, a intenção da elaboração do estado da arte dos textos consultados e na análise dos elementos que constituem a animaverbivocovisualidade que  permeia a nova forma de criação metatextual dos nossos tempos.

        

*Entendendo consciência como um fluir imaterial relacionado com a materialidade, que não ocupa espaço e não é possível localizar no cérebro humano em termos físicos.

** Cabe ressaltar a apologia de Bense ao modernismo brasileiro, sobretudo na “integração das artes” preconizado pela Bauhaus. Efetivamente, foi em Brasília que a integração teve seu ponto culminante, ao combinar arquitetura com urbanismo, paisagismo e a incorporação de artistas plásticos, como é o caso excepcional de Marianne Peretti, que logrou criar vitrais, divisórias, esculturas e outras peças incorporadas á arquitetura de Niemeyer. Ao contrário de tentativas anteriores, quando os trabalhos dos artistas eram usados como “adornos” nos prédios, pintando tetos, colocando mosaicos nas fachadas e pregando pinturas nas paredes, Marianne projetou vitrais (como na Catedral de Brasília), divisórias transparentes (no caso do Congresso Nacional) e outras criações que fazem parte do projeto como estruturas funcionais, garantindo imersão do público nas instalações. Ou seja, “integrando” a arte na criação arquitetônica junto com outros colaboradores, numa ação coletiva.

 

BENSE, Max.  Inteligência brasileira: uma reflexão cartesiana. Tradução Tercio Redondo.  São Paulo: Cosacnaif, 2009.  120 p. uLus.  ISBN  978-85-7503-774-4


 

 

 
 
 
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