UM MEMORIAL
por ANTONIO MIRANDA
Sempre me vi como um personagem que eu ia moldando e desconstruindo. Nos textos, nas relações humanas, nas fotografias. Alguns textos impublicáveis.
Mas nunca fui radical ao ponto de mutilar-me, de partir para a body sculpture, para tatuagens e piercings
(mas nenhum problema com quem o faz.)
No meu caso, sempre tive uma postura mais teatral, mais interior e o corpo espelhando personalidades diferentes e nenhuma permanente.
Não foi o genial Walt Whitman — que eu já lia com fervor, na juventude — que escreveu o “Canto a mim mesmo”? Por que não posso, voltado para os cenários vividos, fazer o culto do “poeta enquanto jovem”, mesmo reconhecendo suas limitações? Até porque sempre retornava
à rotina, estigmatizada pelos preconceitos. Louvo sempre ao jovem que resistia àqueles cerceamentos e não àqueles tempos em que vivia pois, sem nenhum saudosismo, nunca
os veria como “anos dourados” ou “melhores”.
[Texto original escrito em 2006]
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