EDIÇÕES HIPOCAMPO
Os (jovens) poetas e editores Geir Campos e Thiago de Mello.
Geir Campos [ 1924-1999] , escritor brasileiro incluído pela crítica na famosa Geração de 45, que renovou a poesia brasileira sob "um estatuto ambíguo de tradicionalismo e modernidade", foi considerado por Alfredo Bosi "um dos 'virtuoses' de sua geração".
Em 1951, Geir Campos criou, em Niterói, com o poeta Thiago de Melo, as Edições Hipocampo. A iniciativa se insere num dos momentos mais significativos da história das artes gráficas do país. Na mesma época surgiram outras editoras artesanais de livros artísticos: no Rio de Janeiro, a Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, dois anos antes; em 1950, em Salvador, a Dinamene, de Pedro Moacir Maia; em 1954, em Recife, O Gráfico Amador, de Gastão de Holanda, Aloísio Magalhães, Orlando da Costa Ferreira e Sebastião Uchoa Leite; em 1955, no Rio de Janeiro, a Philobiblion, de Manuel Segalá. Em Barcelona, na Espanha, o poeta e cônsul João Cabral de Melo Neto continuava a fazer as tiragens das belas edições de O Livro Inconsútil.
As Edições Hipocampo foram um empreendimento nascido do amor à poesia e às artes gráficas. Geir e Thiago alcançaram, em dois anos, a marca de vinte edições. Foram publicados textos poéticos, em prosa e verso, de autores consagrados e novos, todos ilustrados primorosamente por grandes artistas. Os livros eram compostos tipograficamente e diagramados pelos próprios editores, numa gráfica de fundo de quintal, na mesma casa da Rua Riodades, no bairro do Fonseca, em Niterói, onde se reunia o Grêmio Literário Humberto de Campos. A oficina era dirigida por Antônio Marra e Armando Cabral Guedes, que permitiam a Geir e Thiago que trabalhassem após encerrar o seu expediente. Os editores, que usavam sempre o papel Ingres, algumas vezes conseguiam vencer a resistência dos donos da gráfica e eles mesmos manejavam a prensa manual para imprimir os exemplares. O processo de acabamento era feito em casa de Geir, com a colaboração de toda a família. Dobravam-se as capas em forma de envelope, onde se inseriam as folhas soltas.
As edições tiveram tiragens que variaram entre 70 e 150, mas, em sua maioria, foram de 116 exemplares. As vendas, também a cargo dos editores, eram feitas antecipadamente, por subscrição, para assinantes, e os livros logo se esgotavam. ANIBAL BRAGANÇA, in:
http://www.escritoriodolivro.com.br/oficios/geir.html
“Hipocampo” tem duas significações: a figura mitológica grega e fenícia de um cavalo-marinho com cauda de peixe; e de uma estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro humano. Embora a primeira, lembrando o cérebro, pudesse referir-se ao hábito da leitura, foi o cavalo-marinho que se impôs aos editores. Thiago diz ter visto a figura do cavalo na gravata de um passageiro da barca que os conduzia do Rio de Janeiro a Niterói, quando iam trabalhar na edição de um livro, embora Geir não tem certeza de ter visto... mas este foi o título adotado para as edições.
O primeiro livro foi o longo poema de Carlos Drummond de Andrade “A mesa”, em 1951 e o último, em 1953, foi ”Os endereços”, de Izacyl Guimarães Ferreira: “livros sem costura, “inconsúteis”, compostos e arrumados por ele, Thiago, e por mim; e por nós entregues aos assinantes, em número de cem. Só não sabíamos ainda quantos livros iríamos editar: dez, vinte, não sabíamos”, confessou Geir Campos. Pretendiam publicar textos inéditos, de novos autores; publicaram muitos textos inéditos, mas a maioria de autores consagrados.
Depois do casamento de Thiago de Melo, Geir relata que ele começou a publicar autores “endinheirados”, e decidiram acabar com as Edições Hipocampo e teve início a Editora Hipocampo, com outro padrão gráfico, mais industrial, e a parceria acabou, mas não a amizade entre eles.
LISTA DOS TÍTULOS PUBLICADOS PELA EDIÇÕES HIPOCAMPO-,,
(1951-1953) extraída da obra: CRENI, Gisela. Editores artesanais brasileiros. Rio de Janeiro: Autêntica; Fundação Biblioteca Nacional, 2013, p. 68-70. Em vermelho, os títulos de poesia.
1951
1
ANDRADE, Carlos Drummond de. A mesa. Niterói, Hipocampo, 1951. Ilustração, fora do texto, de Eduardo Sued. Tiragem de 70 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e assinados pelo autor.
2
MELLO, Thiago de. Silêncio e palavra. Niterói, Hipocampo, 1951. Gravura de Yllen Kerr para os exemplares de luxo. Tiragem de 150 exemplares, numerados e assinados pelo autor; de i a 50, impressos sobre pape] Ingres para subscritores e de 51 a 150, sobre papel apergaminhado.
3
IVO, Lêdo. Ode Equatorial. Niterói, Hipocampo, 1951. Ilustração, fora do texto, de A. Medeiros. Tiragem de 70 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e assinados pelo autor.
4
SCHMIDT, Augusto Frederico. Ladainha do mar. Niterói, Hipocampo, 1951. Ilustração de Farnese. Tiragem de 70 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e assinados pelo autor.
5
MACHADO, Aníbal Monteiro. ABC das catástrofes e Topografia da insônia. Niterói, Hipocampo, 1951. Ilustração Cágua-forte) de Darei Valença. Tiragem de 106 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e assinados pelo autor.
6
CAMPOS, Paulo Mendes. A palavra escrita. Niterói, Hipocampo, 1951. Gravura, fora do texto, de Athos Bulcão. Tiragem de 126 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
7
MEIRELES, Cecília. Amor em Leonoreta.Niterói, Hipocampo, 1951. Xilogravura, fora do texto, de YJJen Kerr. Tiragem de n6 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
1952
8
LIMA, Jorge de. As ilhas. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração, fora do texto, de Jorge de Lima. Tiragem de n6 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
9
CAMPOS, Geir. Arquipélago. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração, fora do texto, de Santa Rosa. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
10
BANDEIRA, Manuel. Opus 10. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração (água-tinta) de Fayga Ostrower. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor. Edição comemorativa do primeiro aniversário das Edições Hipocampo.
11
ROSA, João Guimarães. Com o vaqueiro Mariano. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração (água-forte) de Darei Valença Lins. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
12
VASCONCELOS, Dora. Palavra sem eco. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração (bico de pena) de Adolfo Pastor. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
13
CARDOZO, Joaquim. Prelúdio e elegia de uma despedida. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração, fora do texto, de José Pedrosa. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
14
MORAES, Emanuel de. Catedral de barro. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração (bico de pena) de Santa Rosa. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
15
LISBOA, Henriqueta. Madrinha Lua. Niterói, Hipocampo, 1952. Gravura (água-tinta) de Iberê Camargo. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
16
AMADO, Gilberto. Canção das águas claras. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração, fora do texto, de Santa Rosa. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
17
RICARDO, Cassiano. Vinte e cinco sonetos. Niterói, Hipocampo, 1952. Ilustração, fora do texto, de Santa Rosa. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
1953
18
RUBlÃO, Murilo. A estrela vermelha. Niterói, Hipocampo, 1953. Ilustração, fora do texto, de Nolasco. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
19
MOURA, Emílio. O instante e o eterno. Niterói, Hipocampo, 1953. Ilustração, fora do texto, de Farnese. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor.
20
FERREIRA, Izacyl Guimarães. Os endereços. Niterói, Hipocampo, 1953. Ilustração, fora do texto, de Teimo. Tiragem de 116 exemplares impressos sobre papel Ingres, numerados e autenticados pelo autor. Prémio de Poesia: Hipocampo -Diário Carioca, 1952.
Página publicada em junho de 2015
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