PROGRAMA DE COMUTAÇÃO BIBLIOGRÁFICA COMUT
25 ANOS DE FUNCIONAMENTO
Por Ricardo Rodrigues
Texto lido pelo autor na cerimônia comemorativa dos 25 anos de criação do COMUT, em sessão especial, durante do XXI CBBD (Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação), em Curitiba, dia 21 de julho de 2005.
NA FOTO: Ricardo Rodrigues, Antonio Miranda e Cláudio de Moura Castro.
INTRODUÇÃO
Falar sobre o Programa Comut, nesta festa de 25 anos, é muito gratificante para mim, que participei de todos os seus passos, desde a criação, desenvolvimento, amadurecimento, reformas, momentos ruins e momentos de glória.
Muitas outras pessoas também participaram do Programa, algumas diretamente, outras indiretamente, todas com uma significativa importância. Gostaria de mencioná-las individualmente, mas não teria espaço e nem tempo para tanto. Membros da Comissão Executiva, Comissão Consultiva, colaboradores, diretores e funcionários ligados a cada biblioteca participante. A todos somos gratos pelos 25 anos de funcionamento do Programa.
- Finep – Wilson Chagas
Todavia, apesar do pouco tempo e do risco de cometer alguma injustiça não incluindo o nome de alguém, não posso deixar de citar alguns nomes, pelo grande trabalho que prestaram ao Comut nos seus primeiros anos e por estarem presentes nos momentos mais significativos de sua criação e desenvolvimento.
Gostaria de iniciar pelo profissional que teve a idéia de sua criação e que soube vender de maneira brilhante a idéia à então Direção da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes: Professor Antônio Miranda. Dos seus colaboradores mais próximos, entre os quais tive a honra de estar, cito os nomes de Maria Carmen Romcy Carvalho, Tânia Mara Guedes Botelho, Osmar Bettiol e Judith Schleyer, que participaram dos primeiros momentos de criação. Também devem ser lembrados Maria Helena Sá Barreto e Afrânio Carvalho Aguiar, que conosco participaram da elaboração do projeto final do Programa.
Agradecimentos especiais a outros profissionais de Biblioteconomia que contribuíram com idéias, valiosas sugestões e participações sempre que solicitados: Milton Nocetti, Leila Mercadante, Murilo Bastos Cunha, Maria das Graças M. Silva, Dinah A. Poblacion, Alfredo Américo Hamar, Ubaldino Dantas Machado, Zila Mamede, Marília Júnia de Almeida Gardini, Ângela Crespo, Antônio Agenor Briquet de Lemos, Rosali Fernandes, Luiz Antônio Gonçalves da Silva, Ana Flávia Medeiros da Fonseca.
Não poderia esquecer o inestimável apoio dado ao Comut pela Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal, principalmente na pessoa de seu Secretário Executivo José Armando Rodrigues de Souza, que durante 12 anos gerenciou os recursos financeiros do Programa.
Uma homenagem especial aos Diretores da Capes, os quais acreditaram na proposta do Comut, autorizando e apoiando a sua criação: Darcy Closs, pelo apoio primeiro à idéia do Programa; Cláudio Moura Castro e Hélio Barros, pela oportunidade do seu lançamento e desenvolvimento; e Edson Machado de Souza pelo apoio à sua consolidação. Lynaldo Cavalcanti, então Presidente do CNPq, pelo apoio do CNPq e pela parceria firmada com a Capes, que engrandeceram a iniciativa do Programa. E aos Diretores do Ibict Afrânio Aguiar, Yone Chastinet, Antônio Agenor Briquet de Lemos, José Rincon, Eloi Garcia e Marisa Brascher, que sempre incentivaram e apoiaram o Comut.
Finalmente, um agradecimento aos funcionários do Programa, que, desde 1980, estiveram presentes em todas as atividades desenvolvidas.
ANTECEDENTES
O Programa de Comutação Bibliográfica – Comut – nasceu da necessidade de se dotar o País de mecanismos que permitissem um serviço organizado e estruturado de uso compartilhado de informações técnico-científicas. Serviços dessa natureza já existiam desde 1974, mas sem abrangência em nível nacional ou com atuação apenas em determinadas áreas do conhecimento (Embrapa, MEC, Cenagri, Bireme, etc.
A partir de um anteprojeto elaborado por Antônio Miranda, com a assessoria técnica de Maria Carmen Romcy Carvalho e Tânia Mara Guedes Botelho, e com a minha colaboração e de Osmar Bettiol e Judith Schleyer, foi elaborada a Portaria MEC nº 456, de 5 de agosto de 1980, assinada pelo então Ministro da Educação Eduardo Portela, criando oficialmente o Comut e instituindo-o junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes.
Em 5 de novembro do mesmo ano, foi assinado um acordo de cooperação técnica entre a Capes e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – Ibict – que passou a compartilhar as responsabilidades de desenvolvimento e manutenção do Programa. A partir desse acordo foi constituído um Grupo de Trabalho, integrado por Antônio Miranda e por mim, pela Capes, e Afrânio Aguiar e Maria Helena Sá Barreto, pelo Ibict. Esse grupo elaborou então o projeto final do Comut, seu primeiro Regimento Interno e as diretrizes gerais de funcionamento. Foram criadas a Comissão Executiva, a Comissão Consultiva e a Secretaria Executiva, esta última responsável pela execução técnico-administrativa do Programa.
O Comut foi instalado oficialmente em janeiro de 1981, durante o 2º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, realizado em Brasília, e contou, na solenidade de instalação, com a participação de muitas autoridades governamentais e de especialistas nacionais e internacionais nas áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação. A instalação do Programa foi precedida de um filme realizado pela Fundação Roberto Marinho e veiculado na Rede Globo de Televisão, além de grande publicidade na mesma emissora.
DESENVOLVIMENTO
Em fins de maio de 1981, após quase sete meses de exaustivos trabalhos de desenvolvimento de formulários, cupons impressos pela Casa da Moeda, metodologias de trabalho, manual operacional etc., o Comut começou a operar, ainda que timidamente e sem o “respaldo” da maioria dos bibliotecários que não acreditavam no sucesso de um serviço cooperativo desse porte.
Com o financiamento da Xerox do Brasil, distribuíram-se, no mês de agosto de 1981, cupons Comut para, aproximadamente, 400 bibliotecas universitárias e especializadas, permitindo um grande impulso no funcionamento do Programa. Nessa época foi realizado o primeiro treinamento ministrado em nível nacional para os participantes.
Entre agosto e setembro de 1982, foi elaborado um grande pacote publicitário sobre o Comut com palestras simultâneas em todas as capitais e principais cidades do País. Contou-se, para isso, com a colaboração de vários profissionais da área de Biblioteconomia com conhecimentos já adquiridos acerca do Programa. Foram feitas também matérias em jornais, revistas e televisão, além de cartazes, folhetos e outros tipos de mídia impressa. Essa publicidade permitiu um aumento significativo no número de bibliotecas participantes, que passou de 179 para 450.
Um dos grandes marcos do Comut foi a primeira participação em um evento internacional, durante o Seminário sobre Comutação Bibliográfica promovido pela Comissão Latino-americana da Federação Internacional de Documentação – FID/CLA. Realizado em Buenos Aires, em dezembro de 1982, o seminário permitiu que outros países pudessem tomar conhecimento do modelo inovador do Programa. A partir desse encontro, novas demandas surgiram através de cursos oferecidos pelo Comut no Brasil e em países da América Latina. Encontro no Chile e consultoria para criação de sistema local.
Um dos objetivos do Comut era permitir o uso compartilhado de periódicos técnico-científicos, cujos custos eram, e ainda são, proibitivos para a maioria das bibliotecas. Em maio de 1983, a Finep – Financiadora de Estudos e Projetos – aprovou projeto apresentado pela Secretaria Executiva do Comut para a realização de estudo de coleções e aquisição planificada de títulos. Os resultados desse estudo levaram à criação do PAP – Programa de Aquisição Planificada de Periódicos – que, com o tempo e a evolução técnica, chegou ao Portal de Periódicos Eletrônicos da Capes.
Desde o início de suas atividades, o Comut utiliza-se do CCN – Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas – para identificar as bibliotecas que possuem os documentos solicitados. A “tecnologia de ponta” em 1983 eram as microfichas, formato no qual o CCN era oferecido para consulta ao público. Somente em 1988 o CCN passou a ser oferecido eletronicamente para umas raríssimas bibliotecas que tivessem computador.
A fim de que as bibliotecas pudessem ler as microfichas e, conseqüentemente, localizar os títulos requeridos, a Finep doou, em 1983, leitoras de microfichas de “última geração” para cerca de 250 bibliotecas participantes do Comut.
Outra ação que ajudou no desenvolvimento do Programa foi a doação, entre 1982 e 1986, pelo Grupo Ripasa e Papel e Celulose, de aproximadamente quatro toneladas anuais de papel às bibliotecas fornecedoras de cópias. O uso desse papel permitiu baratear o custo do processo, uma vez que era um componente a menos no cálculo do preço cobrado ao usuário final.
Em 1988 já eram ensaiados os primeiros passos para a informatização de algumas atividades do Programa, entre as quais aquelas relacionadas à administração e à coleta de dados estatísticos. Nessa época a compra de um microcomputador era extremamente difícil devido ao seu custo exorbitante, e a aquisição do equipamento pelo Comut só foi possível por meio de um projeto específico aprovado pela Finep. O micro foi um dos primeiros a serem adquiridos pela Capes, e foram necessários verdadeiros treinamentos para o entendimento e a utilização dessa “máquina moderníssima”.
Dessa mesma época foram as primeiras solicitações de cópias atendidas de maneira muito rápida através de um “moderno” sistema de transação de dados: o fax. Foi uma verdadeira revolução no sistema de atendimento de cópias do Comut.
Em 1991, após a tentativa de extinção da Capes pelo governo Collor, a Secretaria Executiva do Comut foi transferida para o Ibict, onde permanece até hoje com o nome atual de Gerência do Comut. As atividades administrativas necessitavam ter sua informatização modernizada, mas somente em 1994 foram comprados dois “modernos” computadores 386 e 486 para substituir o primeiro equipamento adquirido ainda no tempo em que a Secretaria funcionava nas dependências da Capes. Modernizaram-se, então, todos os serviços já automatizados, e novos serviços foram criados de modo informatizado.
Dessa época até 1996, elaboraram-se estudos para informatização também das atividades de solicitação de cópias. Em meados de 1996, o “Comut On-line” entra em vigor, permitindo que as solicitações de cópias, bem como o pagamento pelos serviços, fossem feitos de maneira informatizada. O novo sistema funcionou paralelamente ao sistema manual até 1997, quando este último foi definitivamente desativado.
As atividades de solicitação informatizadas em 1997 tornaram-se rapidamente obsoletas devido ao aparecimento de modernas técnicas de acesso ao documento, às quais o Comut deveria se adaptar. Para isso foram iniciados, em fins de 2001, estudos que culminaram em um novo modelo operacional do Programa, moderno e capaz de permitir o atendimento de solicitações de cópias num prazo que, muitas vezes, chega a apenas duas horas. À época do início desses estudos, o atendimento chegava a demorar até meses para ser realizado.
O novo modelo, lançado oficialmente em janeiro de 2004, tem algumas de suas operações ainda em fase de adaptação a novas realidades e necessidades técnicas surgidas posteriormente. Permite, entretanto, grandes melhorias, que incluem: facilidade no uso compartilhado de coleções, uma vez que agiliza o processo de solicitação/atendimento de cópias; o atendimento é realizado num prazo máximo de cinco dias; o próprio sistema determina quais bibliotecas irão atender aos pedidos de cópias, escolhendo aquelas que estão mais disponíveis; o envio de cópias pode ser feito através de meios eletrônicos, agilizando o atendimento; permite a escolha de várias formas de pagamento na hora da compra de Bônus Comut, entre as quais boleto bancário e cartão de crédito; facilita e agiliza o preenchimento dos formulários de solicitação de cópias; tem um monitoramento operacional diário, garantindo a qualidade dos serviços; permite a busca de documentos no exterior, quando não existentes nas bibliotecas do Programa; possibilita que outros países possam utilizar os serviços oferecidos.
Como conseqüência da modernização do Comut, outros importantes serviços do Ibict também estão sendo modernizados, de modo a atingir um elevado nível de excelência em suas atividades.
PERSPECTIVAS
Desde a sua criação em 1980, o Comut destacou-se nos cenários nacional e internacional pela robustez de suas operações e pelas inovações técnicas e operacionais oferecidas. A sua modernização recente trouxe uma série de atividades, normas e procedimentos que lhe dão a vanguarda no Brasil e no exterior.
Em nível nacional, permitirá e facilitará o uso da comutação interna nas principais universidades brasileiras, que utilizarão seu software localmente com as adaptações necessárias. Permitirá ainda que seus mecanismos de pagamento sejam utilizados por outros tipos de serviços bibliotecários, tais como o futuro Portal de Livros, e, talvez, o Portal de Periódicos Eletrônicos da Capes.
Em nível internacional, tem sido cada vez mais constante o interesse de outros países em conhecer, utilizar e, em alguns casos, importar a tecnologia do Programa para uso local. Isso foi possível através de participações em eventos internacionais, destacando-se:
8ª IFLA Interlending and Document Supply International Conference. Em Camberra, Austrália, de 28 a 30 de outubro de 2003;
INFO 2004, em Havana, Cuba, de 12 a 16 de abril de 2004;
70º Congreso General y Consejo de la IFLA, em Buenos Aires, Argentina, de 22 a 27 de agosto de 2004;
X Reunião Técnica do Sistema Latindex, em San José, Costa Rica, de 18 a 20 de outubro de 2004;
Festival de la Palabra – Gran Feria del Libro – Encuentro Bibliotecário “La Cooperación en el Entorno Universitario”, Cidade do México, México, de 26 e 27 de abril de 2005.
Muitos estudos estão sendo realizados de forma a permitir que o Programa possa ser utilizado por outros países de língua portuguesa e em países da América Latina e Caribe.
CONCLUSÕES
Após 25 anos de sua criação, levando-se em conta as dificuldades inerentes a um país do porte geográfico como o Brasil e com poucos recursos financeiros disponíveis à educação e à pesquisa, é gratificante constatar que o Comut sobreviveu às diversas “tempestades” pelas quais passou. Muitas dessas “tempestades” foram provocadas por questões técnicas e operacionais. Outras, todavia, foram provocadas por pessoas que tentaram acabar com o Programa, julgando-o desnecessário ao País. Felizmente, a cada tentativa, surgiram vozes de pesquisadores, professores, estudantes e bibliotecários, que defenderam e defendem o Programa.
As estatísticas e as demandas requeridas mostram que o Programa é de suma importância para a manutenção do sistema cooperativo de bibliotecas no País. Suas quase 1.700 bibliotecas contribuem cada vez mais ativamente para a sua manutenção e permanente melhoria.
Tive a honra de participar do planejamento e desenvolvimento do Programa, de coordená-lo durante os 12 primeiros anos de funcionamento e, após alguns anos ausente, retornar em 2000 para novamente coordená-lo e trabalhar na sua modernização e desenvolvimento atual. Espero que este trabalho permita, com o contínuo apoio de todos, mais 25 anos de bom funcionamento à comunidade técnico-científica do Brasil e de outros países interessados. |