Vista aérea da Biblioteca Nacional de Brasília no Conjunto Cultural da República (Esplanada dos Ministérios) e ao fundo o Setor Bancário Sul.
A BIBLIOTECA HÍBRIDA NA ESTRATÉGIA DA INCLUSÃO DIGITAL NA BIBLIOTECA NACIONAL DE BRASÍLIA
ANTONIO MIRANDA
Professor Titular da Universidade de Brasília
CECÍLIA LEITE
Doutora pela Universidade de Brasília
EMIR SUAIDEN
Professor Titular da UnB e Diretor do IBICT
Artigo publicado na revista INCLUSÃO SOCIAL, Brasília, v. 3, .n, 1,, p. 17-23, out. 2007/ mar. 2008. . ISSN 1808-8392 IBICT
RESUMO
Discute a questão da transformação de bibliotecas, partindo dos pressupostos tradicionais da preservação, do controle bibliográfico e da montagem de sistemas nacionais de bibliotecas públicas, até as novas propostas de desenvolvimento de infra-estruturas de bibliotecas híbridas baseadas em novas tecnologias de informação e comunicação, visando à promoção da acessibilidade documentária em rede. Apresenta uma breve revisão de literatura sobre o conceito de biblioteca híbrida e apresenta as diretrizes de acervamento e implantação dos serviços de informação na web da Biblioteca Nacional de Brasília, como parte de um projeto de pesquisa em andamento, com recursos do MCT/IBICT.
ABSTRACT
Discuss the present transformation of libraries, from the traditional goals of preservation, bibliographic control and the development of national systems of public libraries culminating in the new proposals including the infrastructures for hybrid libraries based on the new information technologies and communication, aiming the promotion of the availability to library holdings through internet. Presents a brief revision of the specialized literature about hybrid libraries and presents the strategies for the collection development and services through web planned for the National Library of Brasilia, as part of a research Project supported by the National Scientific Council of the Ministry of Science and Technology of Brazil – CNP/MCT.
Palavras-chave: Biblioteca híbrida; acessibilidade documentária; inclusão digital; Biblioteca Nacional de Brasília.
Key words: Hybrid libraries; availability libraries; digital inclusion; National Library of Brasilia.
DE ONDE VIEMOS
As bibliotecas nacionais dos principais países do mundo, depois da 2ª Guerra Mundial, a partir da chamada “explosão bibliográfica” que caracterizou o florescimento da ciência e da pesquisa em escala planetária, orientaram suas políticas de formação e desenvolvimento de acervos no tripé centrado nas ações
a) de preservação de seus inestimáveis patrimônios de obras raras,
b) no esforço do controle bibliográfico nacional (mediante o instrumento da lei do depósito legal), no âmbito de um ambicioso programa de “controle bibliográfico universal” promovido pela UNESCO e
c) na tentativa da montagem de sistemas nacionais de bibliotecas públicas.
Cabe lembrar a figura extraordinária de Rubens Borba de Morais à frente da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, primeiro e, depois, da Biblioteca das Nações Unidas em Nova Iorque, pregando a necessidade de sistemas de informação integrados e cooperativos, já na década de 40 do século passado.
Bibliotecas líderes como a British Library, a Bibliotehéque Nationale de Paris e a Library of Congress ensejaram ambiciosos programas de processamento técnico de seus acervos, visando a criação de catálogos coletivos baseados em normas técnicas internacionais, que pautaram códigos unificados para a catalogação cooperativa e a promoção de programas cooperativos de intercâmbio de bases bibliográficos e até, embora em escala mais modesta, de intercâmbio bibliográfico e empréstimo interbibliotecário.
No caso da British Library, sob a orientação de figuras notáveis como Donald Urqart, Maurice Line e John Grey, foram criados esquemas específicos para a literatura científica e até um complexo para o colecionamento de massas documentais fantásticas, para o atendimento da demanda nacional e internacional de empréstimo de obras às bibliotecas nacionais, universitárias, especializadas e às bibliotecas públicas de todo o mundo, localizado em Londres e em Boston Spa.
Além dos livros, foram privilegiadas as revistas científicas (e os artigos científicos e separatas), os anais de congressos, as teses acadêmicas e os livros didáticos e paradidáticos voltados para a pesquisa e a pós-graduação, que floresceram e se multiplicaram em todos os países do mundo. A necessidade de organizar a “literatura cinzenta” e todas as novas mídias devotadas ao armazenamento e difusão do conhecimento e o consequente treinamento de bibliotecários e cientistas da informação, além dos usuários, levou à criação do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação – o IBBD, em 1954, no Rio de Janeiro, e a sua transformação, nos anos 70, no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência da Informação – o IBICT, transferido para Brasília.
Na Venezuela, culminando com a construção da monumental sede da Biblioteca Nacional nos anos 70, foi criado um Sistema Nacional de Informação por lei constitucional, visando o uso de recursos informacionais no desenvolvimento científico, tecnológico e educacional do país.
O desenvolvimento das (então denominadas) “novas tecnologias da informação” permitiu a montagem de complexos bancos de dados, a diversidade fantástica de novos suportes informacionais (da microficha aos repositórios digitais dos nossos dias), além do surgimento da web e da Internet, que mudariam completamente os paradigmas da formação e desenvolvimento de acervos. Também transformaram as instituições devotadas à seleção, aquisição, organização, difusão e preservação de uma agora inimaginável quantidade de conteúdos de informação de todo o tipo em línguas, níveis de leitura e em formatos convencionais e multimídia, de forma hipertextual e instantânea.
Partimos dos modelos tradicionais centralizados, para os semidescentralizados, aos descentralizados e distribuídos aleatoriamente, em redes complexas em que o uso e o domínio da informação rompem os conceitos proprietários e de controle institucionalizados, para a pregação de novos formas de criação, arquitetura, representação e apropriação do conhecimento. Multivocalidade, comunicação extensiva, ciência de redes, buscando novas epistemologias para o entendimento e o tratamento de repositórios que desafiam as regras conhecidas para seu armazenamento e recuperação mediante as metodologias e tecnologias tradicionais. Estamos falando de um amplo e irrestrito conceito de sistema de informação de “todos para todos” (MENDONÇA, 2007), distante daquele ideário em que se acreditava na capacidade de colecionamento de obras em arquivos, bibliotecas e museus que custodiavam patrimônios físicos geograficamente localizados.
A possibilidade da criação de uma monumental biblioteca universal em formato digital e da constituição de redes de comunicação interpessoais ilimitadas são possibilidades reais que vão, uma vez mais, exigir o requestionamento de crenças e práticas ainda em voga na organização de acervos, na definição da tipologia convencional dos documentos e na “reengenharia” (palavra fora de uso...) de instituições tradicionais como bibliotecas especializadas, sociedades científicas e até no desenho e funcionamento de centros de ensino e pesquisa.
ONDE ESTAMOS
A palavra “biblioteca” deixou de ser uma denominação aplicada à instituição encarregada, desde a Antiguidade, de preservar os acervos; há tempos deixou de designar um prédio com vocação específica, para ser um substantivo comum próprio para todo e qualquer conjunto de acervos tangíveis ou virtuais. “Library”, na acepção mais generalizada, evoca um coletivo de arquivos ou coleções de obras ou de dados, disponíveis, dependendo da tecnologia ao alcance do público. Até a noção de “livro” se desmaterializa e por extensão, está em crise a tipologia convencional de bibliotecas – nacionais, especializadas, universitárias, públicas e suas derivações –, exaustiva e amplamente definida na literatura biblioteconômica.
Tradicionalmente, a definição estava ligada à noção do tipo de acervo, de sua vinculação institucional e da segmentação de público, de onde eram derivados os serviços e produtos específicos. O usuário era orientado para o tipo de instituição adequada à demanda de informação em questão. Pesquisadores e público em geral, especialistas e estudantes tinham à disposição tipos “adequados” de acervos e serviços: acesso às estantes, empréstimo domiciliar, catálogos simplificados ou sofisticados, catálogos institucionais e coletivos, bibliografias especializadas, disseminação seletiva da informação, serviços de alerta, de referência, atividades que sobrevivem, mas que estão sendo adaptadas aos novos formatos dos documentos, aos novos meios de armazenamento e acesso aos acervos.
O papel dos autores, editores, livreiros, distribuidores e bibliotecários vem sofrendo uma metamorfose de crisálida, com consequências ainda não plenamente definidas e equacionadas em termos de sua institucionalização, subvertendo as definições de papéis sociais, de perfis profissionais e de regulamentações de suas corporações profissionais. O “profissional da informacional” é cada vez mais dependente de normas, tecnologias e de equipes multidisciplinares, e sua relação com o público menos direta e personalizada, embora exija dele conhecimentos mais amplos e, ao mesmo tempo, mais específicos e renováveis, sujeito a padrões de interoperabilidade, mas flexível para a customização e a inovação constante.
Ninguém se atreve a especular “para onde vamos”.
Qual o sentido de um (novo?) conceito de “bibliotecas híbridas” no contexto?
Até que ponto ainda é possível manter bibliotecas nacionais, universitárias, especializadas, públicas e centros de documentação tradicionais? Estas nomenclaturas aparentemente estáveis estão sendo substituídas por novas denominações, conforme os serviços que oferecem. Centro de multimídia, Biblioteca Digital, Infocentro, Midiateca, Repositório institucional, Banco de Soluções, sem falar na multitude de siglas para serviços interativos, em linha, por assinatura, por mecanismos de todo tipo.
“Tais mudanças também atingem as bibliotecas, que colaboram com a educação a distância, facilitando o acesso às diferentes fontes de informação. Os profissionais que atuam em bibliotecas acadêmicas confrontam-se com novas perspectivas de atendimento às necessidades de seus usuários, geradas com o advento da Internet, já que estas passaram a atender, além dos usuários locais, os usuários a distância, tornando-se, deste modo, importantes âncoras das instituições de ensino”. (Tiffin & Rajasingham apud Blattmann & Dutra, 1999, p. 2; apud Garcez & Rados, 2002. P. 44).
Os autores chamam a atenção para o surgimento de novos
“tipos de usuários, os off campus, os remotos e os presenciais, uma vez que os mesmos têm necessidade do contato com as bibliotecas convencionais e seus recursos para facilitar e concretizar suas pesquisas locais, porque o meio impresso ainda é muito mais abrangente, mais rico e mais seguro em relação ao meio digital, em contrapartida o meio digital possibilita o acesso mais rápido e menor custo na posse da informação. É importante fazer uma analogia entre o uso da biblioteca convencional e o da digital, pois mudou o paradigma do acesso e do meio (suporte). Os serviços tradicionais têm sido modificados, e novos serviços estão sendo introduzidos.” Garcez & Rados, 2002. P. 44
Os mesmos invocam Rusch-Feja (1999), para quem a biblioteca híbrida deve integrar o acesso a diferentes tecnologias para o mundo da biblioteca digital e através de diferentes mídias, ou seja, “O nome biblioteca híbrida deve refletir o estado
transacional da biblioteca, que hoje não pode ser completamente impressa nem completamente digital. (ibidem, p. 44)
Curiosamente, porém, as novas bibliotecas (“híbridas”), conforme Rusbridge (1998, citado pelos autores), englobam novas tecnologias e ressuscitam mecanismos e recursos tradicionais: Online Public Access Catalogue – OPAC local (telnet/web); Curl Online Public Access Catalogue – Copac – catálogo unificado (telnet/web), isto é, participação em consórcios, pois permite que uma comunidade acadêmica use os recursos bibliotecários de outras instituições, locais e regionais; neste caso, pode-se utilizar cartões para reconhecer o usuário como membro daquele consórcio, para que ele obtenha todas as facilidades propiciadas individualmente por biblioteca; catálogo regional virtual unificado (web); CD-ROMs e disquetes offline; CD-ROMs de redes; serviços completos de textos; sistemas de reservas eletrônicas; grupos de dados remotos nos centros de dados comunitários; grupos de dados remotos em outras universidades; grupos de dados remotos comerciais; grupos de dados locais, por exemplo, bibliografias, coleções de panfletos e arquivos; documentos locais, baseados na web, de bibliotecas e instituições; portais locais de recursos da web; portais remotos da web de matérias/recursos; recursos remotos da web; jornais eletrônicos remotos; livros eletrônicos, locais e remotos; livros: para emprestar, para referências e disponíveis para empréstimos entre bibliotecas; jornais impressos; coleções especiais, mapas, slides, gravações de áudio e vídeo.
Tais bibliotecas, no novo cenário tecnológico, abrangem todos os tipos de bibliotecas em sua rede de serviços, e todos os tipos de suporte – agora com as mídias integradas, tradicionais ou não, no suporte eletrônico disponível, para o atendimento em linha aos usuários, com “valor agregado”. E concluem os autores (GARCEZ & RADOS, 2002. p. 47):
A biblioteca híbrida é designada para agregar diferentes tecnologias, diferentes fontes, refletindo o estado que hoje não é completamente digital, nem completamente impresso, utilizando tecnologias disponíveis para unir, em uma só biblioteca, o melhor dos dois mundos (o impresso e o digital).
É o que pretende também o Centro Interdisciplinar em Gestão Social - CIAGS, “no desenvolvimento e aplicação de uma biblioteca híbrida, estabelecendo metodologias para que seja desenvolvido um conjunto de padrões para identificar, armazenar e disponibilizar e gerenciar as informações em diversas mídias que compõe seu acervo num ambiente digital, possibilitando a busca e a recuperação deste tipo de material, resultando na interoperabilidade entre interfaces abertas e protocolos de comunicação de dados, onde os usuários poderão realizar suas consultas de forma unificada em uma única interface e possibilitando a disponibilização os textos para download.” (FIGUEIREDO et al.)
Muitos projetos e artigos apresentados recentemente apontam para o papel da biblioteca híbrida no processo de ensino e aprendizagem a distância, com impacto no desenvolvimento da habilidade da autoaprendizagem e, ao mesmo tempo, ampliando as possibilidades de acesso a fontes de informação de forma desterriorializada:
“a biblioteca virtual não implica localização física, seja para o usuário final, seja para a fonte. O usuário pode acessar a informação a partir de qualquer ponto e a informação estar em qualquer lugar. Há um sentido de aleatoriedade, pois é irrelevante para o usuário saber onde a informação é mantida” (Rowley, 2002, citado por MONTEIRO et al.. p. 21),
Para os pesquisadores Charles Oppenheim e Daniel Smithson, da Loughborough University, Inglaterra, em última instância, a “hybrid library” é uma denominação surgida por volta de 1996, no vocabulário da ciência da informação como sendo “a halfway step towards the fully digital libraryI”. No entanto, os autores estão convencidos de que as bibliotecas continuarão existindo como instituições físicas, dando suporte aos novos serviços em rede, e que a biblioteca híbrida será um modelo útil para o desenvolvimento das bibliotecas convencionais; embora as bibliotecas híbridas ainda estejam servindo primordialmente aos objetivos da educação superior, tudo indica que elas vão servir a todo tipo de atividade, por meio de diferentes tipos de bibliotecas e serviços de informação.
Na base estão os canais de disponibilidade e acessibilidade documentária que já discutimos e conceituamos amplamente, mas que convém recolocar (MIRANDA, 2005):
A capacidade que as bibliotecas têm de selecionar, adquirir, organizar e prestar serviços a partir de uma coleção física de documentos é tradicionalmente denominada disponibilidade documentária.
A capacidade que as bibliotecas têm de organizar serviços de busca de documentos e informações em outros repertórios para o atendimento de seus usuários está baseada na acessibilidade documentária.
Em suma, para haver acessibilidade é imprescindível haver disponibilidade, isto é, fontes organizadas e seguras de informação, muitas vezes sediadas em bibliotecas, instituições que se dedicam há tempos ao acervamento e prestação de serviços aos usuários locais e remotos.
O atendimento via web está amplamente sedimentado na acessibilidade documentária, seja pela oferta de serviços centralizados e comerciais (como é o exemplo do Portal da Capes, que é mantido mediante contrato com uma provedora na Europa), seja mediante cooperativas, como é o caso do Programa de Comutação Bibliográfica – COMUT, que congrega uma rede de bibliotecas universitárias e especializadas. Nas últimas décadas vêm se consolidando enormes consórcios de bibliotecas para, além de promover a aquisição cooperativa de acervos, sua catalogação compartilhada e o empréstimo interbibliotecário, também garantir, em escala crescente, o envio de cópias escaneadas de seus estoques informacionais aos participantes do empreendimento.
A evolução dos repositórios institucionais e o avanço do movimento pelo livre acesso – no Brasil liderado pela ação do IBICT – vêm ampliando consideravelmente as bases para o desenvolvimento de bibliotecas digitais e para o provimento de serviços das bibliotecas híbridas de apoio ao ensino a distância mas, também, para o público em geral.
A BIBLIOTECA NACIONAL DE BRASÍLIA NO CONTEXTO DA BIBLIOTECA HÍBRIDA
O prédio da Biblioteca Nacional de Brasília (BNB) foi entregue à população no final de 2006, sem as condições adequadas para o seu funcionamento. Projeto arrojado, assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, requereu um longo e pesado programa de planejamento e instalação que culminou com a sua inauguração em 12 de dezembro de 2008. As linhas gerais para as políticas de acervamento e desenvolvimento de serviços de informação foram delineadas por uma Comissão Especial, criada pelo governador do Distrito Federal com representantes do GDF, da UnB, do MEC, MinC, MCT/IBICT e da RNP (MIRANDA, 2007). A BNB faz parte do Conjunto Cultural da República, que inclui também o Museu Nacional de Brasília, e se pretende garantir uma ação coordenada com as demais instituições federais e distritais de cultura sediadas na Capital Federal.
Desde o início, a implantação da Biblioteca Nacional de Brasília contou com um convênio com o Ministério da Ciência e Tecnologia, através do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT, executado pela Rede Nacional de Pesquisa – RNP, em estreita colaboração com a Gerência da BNB, apoiada pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal, enquanto se envida esforços para a sua plena institucionalização, de forma autárquica, como uma organização social sem fins lucrativos.
O projeto do IBICT focou na questão da inclusão social e digital e, já no ano de 2007, instalou um Centro.de Integração Social e Tecnológica – CICTEC – Comunidade Digital, com equipamentos para dar início às atividades de treinamento – de portadores de deficiências visuais, de pessoas idosas e de meninos carentes dos programas de erradicação do trabalho infantil, além do público em geral – nas habilidades de uso das novas tecnologias da informação, enquanto o projeto de instalação da BNB era conduzido por equipes mistas do IBICT, da RNP, da própria BNB e de empresa contratada para a montagem da infra-estrutura prevista nos projetos.
Desde o início optou-se pelo modelo de “biblioteca híbrida”, erroneamente anunciada pela imprensa como “exclusivamente digital”, o que causou polêmicas. Porquanto, existe uma forte pressão no sentido da nova instituição constituir-se numa autêntica biblioteca pública, idéia que foi integralmente assimilada pelo projeto como linha de ação prioritária, tanto na provisão de serviços intramuros quanto extramuros, pela adoção de mecanismos de acessibilidade documentária. A Biblioteca Nacional de Brasília reúne acervos em coleções visando ao grande público, prevendo acesso às estantes e empréstimo domiciliar, assim também coleções especiais para consulta de pesquisadores e sua preservação documental, incluindo obras raras. Privilegia o acervamento de obras sobre arte, ciência e cultura brasileiras – uma “Brasiliana” sobre estudos das regiões brasileiras, contendo literatura científica, assim também textos em línguas estrangeiras sobre o país (notadamente dos brasilianistas) e de autores brasileiros traduzidos a outras línguas, além de obras sobre literatura e cultura latino-americana e universal.
A rede de fibras óticas instalada no edifício e a adesão à Rede COMEP –
um consórcio de instituições de pesquisa, com acesso aos mais avançados meios de transmissão de dados providos pela RNP –, garantiu a ligação da BNB aos sistemas de informação do próprio IBICT e a todo e qualquer outro provedor de informação. Serão incluídos, mediante protocolos de cooperação, menus de serviços de acesso a vastos e crescentes bancos de dados (incluindo os bibliográficos e de multimídia), conforme as diretrizes de seu plano de acervamento e prestação de serviços.
Uma sala com 51 computadores foi aberta ao público para o acesso à Internet – o Espaço CLIC, com as funções de uma lan house franca, mas direcionada para conteúdos de interesse educacional e de pesquisa, à medida que estão sendo implantados os serviços de biblioteca híbrida previstos no projeto. Poltronas individuais para assistir vídeos, e instalações para videoconferência e televisão digital completam a infra-estrutura, visando a interatividade com instituições e público externos.
Também foi criada uma sala infantil para promover as novas tecnologias da informação com crianças, combinando com atividades de leitura convencional, contando com o apoio de pedagogos e bibliotecários, assim também uma sala para treinamento intensivo do público em geral. Pretende a capacitação de mutliplicadores potenciais dessas habilidades em escala regional, para levar conteúdos às escolas e instituições culturais e científicas que demandem informação via web. E instalou um moderno laboratório de mídias (incluindo a produção de vídeos para a televisão digital) para a formação de mão-de-obra que também dará apoio à criação de bibliotecas digitais de texto, imagem e som de forma integrada, além de prover o acesso a banda larga sem fio, em todo o edifício, aos usuários da Biblioteca.
A existência de web pública (wireless) no recinto da Biblioteca Nacional parece conformar alguns comportamentos dignos de menção. O primeiro é a quantidade expressiva de laptops que os usuários trazem para as salas de leitura, em vez de se valerem dos computadores disponíveis no Espaço CLIC – a nossa lan house popular. Vê-se que usam os laptops também para acessarem seus próprios arquivos (poderiam fazer isso com pendrives nos servidores da BNB), enquanto estudam na sala de leitura.
Outro fato curioso é que a BNB ainda não tem acesso às estantes nem permite (ainda) consultas em seu acervo bibliográfico (que ainda está sendo processado), constituindo-se em caso único de biblioteca aberta sem acervo disponível para o público... o que está previsto a partir de julho de 2009. Muita gente achou que a Biblioteca só deveria abrir suas portas quando pudesse garantir a disponibilidade documentária, isto é, o acesso aos livros e a outros documentos físicos, mas optou-se fazê-lo, e o resultado confirma o que se previa: que muita gente não frequenta biblioteca por causa da consulta e do empréstimo de livros... Muitos querem um local para estudar sozinho ou em grupo, usando os próprios livros, cadernos, anotações e/ou valendo-se de pesquisas na internet. Ou seja, na prática, os livros, revistas etc., funcionam como suportes para a prestação de serviços, em vez de serem a razão da frequência às bibliotecas. Em outras palavras, a biblioteca sendo uma fonte ou meio de obter informação e não um local exclusivamente para consulta a acervos bibliográficos.
Está sendo negociada a transformação da Biblioteca Nacional de Brasília em instituição irmã da Biblioteca de Alexandria para o desenvolvimento de projetos de pesquisa, incluindo o programa Unicode de tradução automática, em colaboração com o IBICT.
Cabe assinalar que as atividades que estão sendo implantadas na BNB fazem parte de um projeto de pesquisa apoiado pelo CNPq sobre o desenvolvimento de infra-estruturas voltadas para a inclusão social e digital.
A implantação definitiva, segundo o cronograma em execução, vai permitir a operação de uma biblioteca híbrida hasteada nas mais avançadas tecnologias, capaz de disseminar conteúdos por via da acessibilidade documentária descrita neste artigo, constituindo-se em instituição modelar de seu tipo. Deverá servir de base para pesquisas no desenvolvimento e validação de novas tecnologias de informação, e qualificar-se para receber aportes financeiros de instituições nacionais e internacionais de desenvolvimento e inovação tecnológica no âmbito das redes e sistemas de informação.
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