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ENCICLOPÉDIA

por AMIR BRITO CADÔR 

Extraído de : CADÔR, Amir Brito.  O Livro de artista e a enciclopédia visual.  Belo Horizonte, MG: Editora UFMG, 2016.  655 pl  ilus.  (Artes Visuais)  ISBN 978-85-423-0167-0   

 

        “Uma enciclopédia não é uma demonstração, pois os verbetes independentes não formam um argumento. Sua estrutura fragmentária não permite supor um início e um fim, sua montagem se dá por parataxe* ou por simples justaposição. É como um poema, em que “todas as frases estão em pé de igualdade. Não orações subordinadas. Todas são principais. São frases que podem ser justapostas e encaixadas ad infinitum”  (PIGNATARI, 1995, p. 162). Portanto, não existe uma conclusão possível (nem desejável).  “Um rizoma** não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas” (DELEUZE, GUATARI, 2004, p. 37).

 

       Apesar de haver uma certa linearidade na disposição dos capítulos e dos verbetes dentro de cada capítulo, o que caracteriza a enciclopédia são os cruzamentos, as sobreposições, as relações possíveis entre os diversos assuntos. Pela própria estrutura escolhida, não existe a preocupação de construir um argumento baseado em causas e efeitos: um capítulo não é a continuação do outro. A enciclopédia é um mapa ou diagrama que mostra as relações entre os verbetes. Neste caso, também mostra as relações entre os livros.

 

       Entre os exemplos de enciclopedismo em livros de artista, foram selecionadas obras que produzem conhecimento através da imagem. Evitou-se fazer uma apresentação cronológica, que sugere o desenvolvimento dos livros de artista a partir de uma determinada origem, em favor de uma abordagem sincrônica, que apresenta os livros por afinidades formais, temáticas ou conceituais. Desse modo, livros que são considerados pioneiros, como os de Ed Ruscha, ou mesmo precursores, como os de Mallarmé, aparecem como comentários a respeito de outras obras.

A descrição dos livros é uma forma de aproximar o leitor das obras. O objetivo do texto não é era explicar os livros, mas entender como o sentido é construído a partir dos seus elementos constituintes: as imagens e a sua disposição na página, a composição tipográfica e o formato, os processos de reprodução, a escolha do papel e o uso da cor.

       Os livros de artista não ilustram um teoria, mas são a própria teoria: cada um deles apresenta uma forma específica de ver, desse modo, na elaboração de um pensamento visual, uma forma de pensar que procede por analogia.

Uma enciclopédia visual também é um exercício do olhar. Colocando-se diante da imagem é que se aprende a ver imagens. A capacidade de ver e entender o funcionamento das imagens aumenta cada vez que se encontra uma imagem nova. Neste trabalho, a descrição teve um papel importante: não é possível ver um livro como um todo, mas uma página de cada vez; descrever é um tipo de enumeração, que divide o objeto em suas partes constituintes, para que ele possa ser apreendido como uma estrutura. Se o significado está associado a uma forma, e se o olhar apreende a forma globalmente, é a enumeração que separa as partes em uma lista e as coloca em relação com o todo. Descrever é uma maneira privilegiada de ver.

Algumas obras evidenciam o modo como as imagens justapostas podem produzir sentido, enquanto outras mostram possibilidades de articulação entre texto e imagem. Procedimentos de montagem podem vir a ser mais sofisticados à medida que se tornam prática comum, quando deixamos de ver apenas para também pensar visualmente.  Esses mesmos procedimentos foram utilizados na elaboração do texto: as citações, como na montagem alegórica, assumem um novo significado em seu novo contexto.

O que os livros de artista mostram é uma nova possibilidade de produzir conhecimento por imagens, diferente das ilustrações em livros científicos ou manuais técnicos, apesar dos empréstimos e das contaminações que podem acontecer.

O inacabado não é apenas o que não chegou a termo, mas oos que não pode ser terminado, o que não tem fim. “O estudo, de fato, é em si mesmo interminável” (AGAMBEN, 1999, p. 53). Novos livros podem ser incorporados dentro de cada verbete, e outros verbetes esperam ser escritos.

O enciclopedismo em livros de artista mostra a enciclopédia visual como uma possibilidade. No entanto, a enciclopédia visual que estas páginas sugerem ainda não existe, e “aquilo que parecia obra acabada se revela como simples estudo” (AGAMBEN, 1999, p. 53).
A tarefa do enciclopedista está apenas começando.

***

       Um outro percurso de leitura deste livro [referindo ao próprio livro de CADÔR] é sugerido por um texto de Roland Barthes (2004). “Variações sobre a escrita”, cujo índice de tópicos, no seu final, coincide com alguns verbetes aqui inseridos, entre aqueles: classificação, oral/escrito, transcrições, alfabetos, ilegível, invenção, letras, memória. cópia, cor, corpo, ritmo, semiografia***, suporte.

 

VOCABULÁRIO

* parataxe:
GRAMÁTICA•LINGÜÍSTICA

num enunciado, sequência de frases justapostas, sem conjunção coordenativa.



** rizoma
:
POR METÁFORA

base sólida que legitima ou autoriza alguma coisa; fundamento, raiz.



*** semiografia:

Representação por meio de sinais convencionais. = NOTAÇÃO


 

 

 
 
 
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