DOM PEDRO II
TERRA DO BRASIL
Espavorida agita-se a criança,
De nocturnos phantasmas com receio,
Mas se abrigo lhe dá materno seio,
Fecha os doridos olhos e descança.
Perdida é para mim toda a esperança
De volver ao Brasil; de lá me veio
Um pugillo de terra; e nesta creio,
Brando será meu somno sem tardança...
Qual o infante a dormir em peito amigo
Tristes sombras varrendo da memoria,
Oh doce Patria, sonharei contigo!
E, entre visões de paz, de luz, de gloria,
Sereno aguardei no meu jazigo
A justiça de Deus na voz da Historia!
D. PEDRO D´ALCANTARA
Reprodução de cartão-postal (“Bilhete postal”) do início do século XX, com
um poema do Imperador escrito no exílio de Paris, com saudades da pátria (que ele coloca em maiúscula, em seu português da época). Coleção de Antonio Miranda.
De
MUCIO TEIXEIRA
(Barão Ergonte)
O IMPERADOR VISTO DE PERTO
PERFIL DE D. PEDRO DE ALCANTA
Rio de Janeiro: Livraria Ediora Leite Ribeiro & Maurillo, 1917
280 p.
(Conservamos a ortografia original)
13 DE MAIO
No Brasil sempre brilhou o mez de Maio,
Mas so da redempção foi este o dia
Em que o meu coaração ja não ouvia
A voz do captiveiro em seu desmaio.
Brilhou da Diindade enfim o raio
Que ha muito o Brasileiro presentia,
E exultando em sua íntima alegria
Diz: — Firmei-me no bem, no mal não caio!
Já todos como irmão agora unidos
Serviremos á Patria com fervor,
Para assim resgatarmos tempos idos...
E hosannas entoando ao Creador,
Vejo enfim meus esforços concluidos:
E sou de um Povo Livre o Imperador.
(Petrópolis, 13 de Maio de 1889)
7 DE SETEMBRO
(Ao Povo Brasileiro)
Tu, que no calendário primitivo
Tinhas no céu a séptima morada,
De teu séptimo dia na alvorada
Depedaçaste os ferros do captivo...
Tres séculos contava o Povo altivo
Da minha enorme Patria bem dada,
Quando encetou a intérmina jornada,
Bello, pujante, heroico e redivivo!
Mas, si aprouve á Divina Providencia
Confiar-me, em tão verde e tenra idade.
A sagrada missão de alta incumbencia
Receberás de Mim — a Liberdade!
(Rio, 1843)
NA MORTE DO MEU PROMOGENITO
Pode o artista pintar a imagem morta
Da mulher a quem dera a propria vida;
E o amigo, na extrema despedida,
A imitar-lhe os exemplos nos exhorta.
Casto e saudoso beijo inda conforta
A esposa que a ventura crê perdida;
Mas dizer o que sente a alma partida
Do pai a quem, ó DEUS, tua espada corta
A flor do seu futuro, — o filho amado,
Quem o pode, Senhor? si mesmo o Teu,
So morrendo, livrou-nos do peccado!...
A terra á voz do Gólgotha tremeu:
E o sangue do coardeiro inmmaculado
Até o próprio ceu ennegreceu!
(Junho de 1848)
DA MORTE DO MEU SEGUNDO FILHO
Duas vezes a morte hei ja soffrido,
Pois morre o pai que vê seu filho morto;
Para tamanha dor não ha conforto,
Dilue-se em pranto o coração partido!
Para que ninguém ouça o meu gemido,
Escorre-me na sombra do meu horto,
Entregue ao pranto, no soffrer absorto,
Querendo ver si vejo o bem perdido!...
Brota a saudade onde a esperança finda;
Sinto n´alma eccoar dobres de sinos!...
So a resignação me resta ainda.
Coube-me o mais funesto dos destino:
Vi-me sem Pai, sem Mãi, na infância linda:
E morrem-me os meus filhos pequeninos!...
(Janeiro de 1850)
O POETA
(GOETHE)
Prefiro a solidão. A minha austera Musa
Sempre sentiu horror dessa turba insensata;
Quero longe ficar da multidão confusa,
Que a um abysmo fatal as almas arrebata!
Gósto de respirar os fluidos incolores
Que no espaço derrama o astro soberano;
No seio d amisade ou de castos amores
Expande-se melhor meu estro sobrehumano.
O que além contra nós baixinho se murura,
O que chegue a aspirar um´alma delirante,
Pode a verdade ser, mas poder loucura,
Que brilha muito, mas... se apaga num instante!
INTERMEZZO LYRICO
(H.HEINE)
Doce amiga! está tudo concluído...
Une bem ao meu peito o seu ouvido,
Escuta como bate o coração:
Ouves? ... tenho aqui dentro um carpinteiro
A martelar durante o dia inteiro
Nas tábuas domeu fúnebre caixão!...
*
**
Vamos, mestre... trabalha sem parar,
Qu estou cansado e quero repousar.
Último retrato de D. Pedro II
Bilhete Postal com um poema (soneto) de D. Pedro II dedicado à Imperatriz, circulado em 1911, agora na coleção de cartões-postais de Antonio Miranda
REZENDE, Edgar. O Brasil que os poetas cantam. 2ª ed. revista e comentada. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958. 460 p. 15 x 23 cm. Capa dura. Ex. bibl. Antonio Miranda
ASPIRAÇÃO
Deus, que os orbes regulas, esplendentes,
Em número e medida poderados,
Neles abrigo dás aos desterrados
Que se vão suspirosos e plangentes.
Assim, dos céus às vastidões silentes
Ergo os meus pobre olhos fatigados,
Indagando em que mundos apartados
Lenitivo à saudade nos consentes.
Breve, Senhor, do cárcere da argila
Hei de evolar-me, murmurando ansioso
Tímida prece; digna-te a ouví-la!
Põe-me ao pé do Cruzeiro majestoso
Que ao antártico céu vivo cintila,
Fitando sempre o meu Brasil saudoso!
Página ampliada e republicada em abril de 2017; página ampliada em dezembro de 2019
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