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DANILO LÔBO
Danilo Pinto Lobo nasceu em Vitória – ES, em 04 de julho de 1942 e faleceu em Brasília – DF, no dia 26 de julho de 2005.
Pode dizer-se que de vanguarda é o seu conceito de poesia, fixado não somente no poema em si, “Um poema se impõe a tapas: / a bofetadas aplicadas / no fofo, no cheio da cara, / com mão ofertada em palma; “ mas também nas reflexões sobre o livro, considerado como algo vivo, mostrando-se como espaço a ser ocupado sem limitações, “POEMA ORELHA”: “Um livro não se abre / (...) Um livro fechado se abre / como se abre uma porta” para o mundo e sua linguagem, com aproveitamento total da “orelha”, posto aí como metáfora do sentido da audição, ‘ouvido’ a escutar todos os ritmos, todos os sons e todos os mexericos, ou fuxicos. Parece-me ser forte traço de sua personalidade artística que desperta a atenção para o seu à vontade na formalização temática, com humor e ironia. Uma espécie de desdenho ao precioso da linguagem literária. Com isso, eleva a banalidade e o non sence à categoria primorosa da arte. Como poeta Danilo Lôbo publicou relativamente pouco. Participou, no entanto, de várias antologias poéticas e de algumas outras de contos. Deixou uma boa produção inédita, sobre a qual pretendo apresentar uma comunicação ao nosso Grupo de Trabalho da Teoria do Texto Poético, Anpoll, ao qual ele pertencia como membro e coordenador. Disponho, com seu afetivo autógrafo, de dois livros de poesias, publicados em São Paulo e em Brasília. Numa homenagem ao professor e poeta, escrevi recentemente um artigo, incluindo alguns poemas, para a revista da Universidade do Chile, lembrando da recente participação performática e apresentação a Congressos, no âmbito das relações Universidade de Brasília com a Chilena, em Santiago e em Brasília. Agora, ponho à disposição de virtuais leitores alguns exemplos de sua poesia. Com certeza não lhe faltará pesquisador interessado no seu verso bem cuidado.
A QUATRO ESTRELAS
Dietrich, a diva germânica do entreato das duas guerras, surgiu primeiro em preto e branco na ribalta dum cabaré. E por emergir na fumaça, tal qual um arcanjo das nuvens, foi em vida canonizada em anjo celeste, cerúleo.
Mas anjo, só mau, decaído, alcoviteiro do capeta, que, do palco, semidespido, exibindo pernas de seda, se deu, impudico e lascivo, prometendo abraços e beijos, para, no final da película, esfumar-se na sala acesa. Garbo, a sueca divina, revelou ao olho da câmara, a natureza do intangível, específico da substância das coisas de forma esquiva, que, sendo, se fazem ausentes e se mostram no estado misto que existe entre o ser e o não-ser.
Mas nórdica, só por equívoco. Mulher piramidal e esfíngica, Nerfertite dos anos trinta, deveria ter sido egípcia como a rocha que se quis rocha e, no seu tempo de granito, fez-se eterna (em celulóide), lendária e, aliás, mítica.
Maria, a deusa do México, Ostentou em suas películas A aparência semidoméstica, Característica do bicho Com o qual aprendeu os gestos, Reflexos do nome gatesco Que, mais que mulher, a fizeram Felino manhoso, travesso.
Mas bichana, só das selvagens: gata por natureza fera como a onça, o leopardo, ou, mais exato, a pantera, que lhe pôs no olhar o enigma, no cabelo o espesso negror e no porte o garbo do tigre não dominado – o domador.
Marilyn, o ídolo dourado, Primeiro para uma folhinha E, depois, na tela de prata, Entregou a pele despida Com os olhos semicerrados, Um riso olhado na boca E a voz oleosa levada Por canais estereofônicos.
Mas pelada, só por disfarce; se mais mostrava mais vestia, acabando por enroupar apele irreal e vazia projetada em cinemascópio; e assim, só de pele vestida (incógnita oculta no óbvio), passou por aí sem ser vista.
(Poemas quadripartidos, 1990, 79-82)
Com um modo todo especial de agenciamento do vocabulário pertinente, e possível, da crítica e história do cinema, Danilo faz, pelo “portrait” dessas quatro atrizes do cinema do século XX, uma síntese do que foi a revolução da sétima arte. Danilo Lôbo é PhD em Literatura Brasileira pela Tulane University, Estados Unidos e foi professor titular da Universidade de Brasília – UnB, por mais de trinta anos. Poeta, crítico literário e tradutor, o Professor Danilo foi nesses espaços acadêmicos e artísticos o que se costuma chamar de “pesquisador contumaz”. Eu, sua companheira em muitas de suas artes, denominava-o, graças a sua sensibilidade e competência interdisciplinar Cocteau Candango. Até antes de hospitalizar-se, ele desenvolvia um trabalho para o Teatro, que seria apresentado na Argentina. Amante da Música, ele freqüentou muitos dos Cursos Internacionais de Verão da Escola de Música de Brasília. Tocava suas modinhas, como exercícios constantes para aguçar seu privilegiado ouvido ao bom verso e até seus últimos dias tinha suas aulas de violão. Sua modéstia privou-nos de seus dons de artista plástico. Brasília, janeiro de 2006 Maria de Jesus Evangelista (Maju)
DANILO LÔBO
Na sexta-feira, 28 de agosto de 2005, foi realizado um ato público, no auditório Dois Candangos da UnB, em homenagem ao professor Danilo Lôbo, a exatos trinta dias de seu falecimento. Acontecia um simpósio de literatura de que participavam colegas do Instituto de Letra e muitos de seus alunos.
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