Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DANILO LÔBO
- escritor brasileiro.

 

 

            Danilo Pinto Lobo nasceu em Vitória – ES, em 04 de julho de 1942 e faleceu em Brasília – DF, no dia 26 de julho de 2005.

 

            Pode dizer-se que de vanguarda é o seu conceito de poesia, fixado não somente no poema em si, “Um poema se impõe a tapas: / a bofetadas aplicadas / no fofo, no cheio da cara, / com mão ofertada em palma; “ mas também nas reflexões sobre o livro, considerado como algo vivo, mostrando-se como espaço a ser ocupado sem limitações, “POEMA ORELHA”: “Um livro não se abre /  (...) Um livro fechado se abre / como se abre uma porta” para o mundo e sua linguagem, com aproveitamento total da “orelha”, posto aí como metáfora do sentido da audição, ‘ouvido’ a escutar todos os ritmos, todos os sons e todos os mexericos, ou fuxicos. Parece-me ser forte traço de sua personalidade artística que desperta a atenção  para o seu à vontade na formalização temática, com humor e ironia. Uma espécie de desdenho ao precioso da linguagem literária. Com isso, eleva a banalidade e o non sence à categoria primorosa da arte.

            Como poeta Danilo Lôbo publicou relativamente pouco. Participou, no entanto, de várias antologias poéticas e de algumas outras de contos. Deixou uma boa produção inédita, sobre a qual pretendo apresentar uma comunicação ao nosso Grupo de Trabalho da Teoria do Texto Poético, Anpoll, ao qual ele pertencia como membro e coordenador. Disponho, com seu afetivo autógrafo, de dois livros de poesias, publicados em São Paulo e em Brasília. Numa homenagem ao professor e poeta, escrevi recentemente um artigo, incluindo alguns poemas, para a revista da Universidade do Chile, lembrando da recente participação performática e apresentação a Congressos, no âmbito das relações Universidade de Brasília com a Chilena, em Santiago e em Brasília.

            Agora, ponho à disposição de virtuais leitores alguns exemplos de sua poesia. Com certeza não lhe faltará pesquisador interessado no seu verso bem cuidado.

 

 

 

                                               A QUATRO ESTRELAS

 

                        Dietrich, a diva germânica

                        do entreato das duas guerras,

                        surgiu primeiro em preto e branco

                        na ribalta dum cabaré.

                        E por emergir na fumaça,

                        tal qual um arcanjo das nuvens,

                        foi em vida canonizada

                        em anjo celeste, cerúleo.

 

                        Mas anjo, só mau, decaído,

                        alcoviteiro do capeta,

                        que, do palco, semidespido,

                        exibindo pernas de seda,

                        se deu, impudico e lascivo,

                        prometendo abraços e beijos,

                        para, no final da película,

                        esfumar-se na sala acesa.

                        Garbo, a sueca divina,

                        revelou ao olho da câmara,

                        a natureza do intangível,

                        específico da substância

                        das coisas de forma esquiva,

                        que, sendo, se fazem ausentes

                        e se mostram no estado misto

                        que existe entre o ser e o não-ser.

 

                        Mas nórdica, só por equívoco.

                        Mulher piramidal e esfíngica,

                        Nerfertite dos anos trinta,

                        deveria ter sido egípcia

                        como a rocha que se quis rocha

                        e, no seu tempo de granito,

                        fez-se eterna (em celulóide),

                        lendária e, aliás, mítica.

 

                                  

                        Maria, a deusa do México,

                        Ostentou em suas películas

                        A aparência semidoméstica,

                        Característica do bicho

                        Com o qual aprendeu os gestos,

                        Reflexos do nome gatesco

                        Que, mais que mulher, a fizeram

                        Felino manhoso, travesso.

 

                        Mas bichana, só das selvagens:

                        gata por natureza fera

                        como a onça, o leopardo,

                        ou, mais exato, a pantera,

                        que lhe pôs no olhar o enigma,

                        no cabelo o espesso negror

                        e no porte o garbo do tigre

                        não dominado – o domador.                       

 

                        Marilyn, o ídolo dourado,

                        Primeiro para uma folhinha

                        E, depois, na tela de prata,

                        Entregou a pele despida

                        Com os olhos semicerrados,

                        Um riso olhado na boca

                        E a voz oleosa levada

                        Por canais estereofônicos.

 

                        Mas pelada, só por disfarce;

                        se mais mostrava mais vestia,

                        acabando por enroupar

                        apele irreal e vazia

                        projetada em cinemascópio;

                        e assim, só de pele vestida

                        (incógnita oculta no óbvio),

                        passou por aí sem ser vista.

 

                       (Poemas quadripartidos, 1990, 79-82)

 

 

Maria de Jesus Evangelista (Maju) e Danilo Lôbo

 

            Com um modo todo especial de agenciamento do vocabulário pertinente, e possível, da crítica e história do cinema, Danilo faz, pelo “portrait” dessas quatro atrizes do cinema do século XX, uma síntese do que foi a revolução da sétima arte.             Danilo Lôbo é PhD em Literatura Brasileira pela Tulane University, Estados Unidos e foi professor titular da Universidade de Brasília – UnB, por mais de trinta anos. Poeta, crítico literário e tradutor, o Professor Danilo foi nesses espaços acadêmicos e artísticos o que se costuma chamar de “pesquisador contumaz”. Eu, sua companheira em muitas de suas artes, denominava-o, graças a sua sensibilidade e competência interdisciplinar Cocteau Candango. Até antes de hospitalizar-se, ele desenvolvia um trabalho para o Teatro, que seria apresentado na Argentina. Amante da Música, ele freqüentou muitos dos Cursos Internacionais de Verão da Escola de Música de Brasília. Tocava suas modinhas, como exercícios constantes para aguçar seu privilegiado ouvido ao bom verso e até seus últimos dias tinha suas aulas de violão. Sua modéstia privou-nos de seus dons de artista plástico.                                                      Brasília, janeiro de 2006 

                                               Maria de Jesus Evangelista (Maju)

 

DANILO LÔBO

 

       Na sexta-feira, 28 de agosto de 2005, foi realizado um ato público, no auditório Dois Candangos da UnB, em homenagem ao professor Danilo Lôbo, a exatos trinta dias de seu falecimento. Acontecia um simpósio de literatura de que participavam colegas do Instituto de Letra e muitos de seus alunos.


A morte de Danilo foi muito dolorosa e triste. Há anos ele fazia hemodiálise. Estávamos ensaiando os textos de Perversos em que ia protagonizar o espetáculo. Toda a fragilidade causada pela doença desaparecia, ele como que ressuscitava e apresentava-se com um vigor extraordinário para os ensaios!


Aproximei-me dele durante as celebrações do 5º. Centenário da independência do Brasil, quando montou o espetáculo lírico-musical “500 anos de descobertas literárias”, com textos dos grandes poetas brasileiros — Gonçalves Dias, Raul Bopp, Manuel Bandeira, etc., e músicas de grandes compositores — Villa Lobos, Guerra Peixe, Noel Rosa, Milton Nascimento, Chico Buarque. Ele declamava poemas, cantava. O espetáculo apresentou-se em Brasília, e depois viajou por algumas cidades e chegou a ser levado para o Chile. Para minha surpresa, a cena final incluía música de Cazuza e um trecho de meu poema “Brasil Brasis”.


Quando eu o procurei depois do show, isso em 2000, ele disse conhecer meus textos desde os anos 70, quando havia lido o romance “A Quadratura do Ó”. Algum tempo depois, atrevi-me a pedir a ele que fizesse a apresentação do romance “Horizonte Cerrado” e escreveu um prefácio surpreendente, muito positivo sobre a obra.  Sendo um especialista da Teoria Literária, doutor e orientador de teses na área, senti-me muito lisonjeado.


Viajamos com a nossa amiga Elga Pérez-Laborde, em 2004, com outros professores para o Congresso de Humanidades em Santiago do Chile. Lá ele participou de um recital de poesia brasileira, com a Elga cantando músicas brasileira e latino-americanas. Outra vez, surpreendeu-me lendo, ao final, os mesmos versos de “Brasil brasis” que foi muito aplaudido. Tão vivaz, tão brilhante que cativava o público mesmo quando não entendia toda a extensão dos textos. Assim é um ator carismático.


Também estive na banca do exame de qualificação e, depois, na defesa final da tese de Elga, sob sua competente orientação.


Era discreto, reservado. Falava pouco. Ainda assim chegamos a conversar sobre muitos temas nas vezes em que nos reunimos, quando sempre ouvia mais do que falava.


A cerimônia em sua memória foi emocionante. Passaram um DVD com a imagem de sua última aparição pública em um evento no Centro Cultura Banco do Brasil, enquanto Elga lia sua biografia e alguns de seus poemas, um deles da época em que estudou em New Orleans, nos Estados Unidos. Eu fui convidado a ler o poema “Tributo a Kaváfis”, do livro “Retratos e Poesia Reunida”, que foi dedicado a ele. Um poema que revelava muito de sua natureza humana, de seu refinado senso estético, pela perífrases dos versos do grande poeta grego-egípcio.


Muitas pessoas ficaram muitos emocionadas, conforme a confissão da professora Hilda Lontra, que acompanhou Danilo nos últimos dias de seu doloroso calvário. Eu saí muito triste da cerimônia e fui dormir cedo, muito cedo, ensimesmado. Mesmo sem ter sido um amigo íntimo de Danilo, mas eu sempre respeitava e admirava sua capacidade intelectual e seu talento dramático. Sensibilidade e disciplina. Uma perda irreparável.

*

 

 

VOLTAR À PÁGINA BRASIL SEMPRE Topo da Página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar