CRUZ E SOUSA
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Florianópolis, 24.11.1861 – 19.3. 1898. Obras: Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos. Simbolista, Roger Bastide o coloca ao lado de Mallarmé e Stefan George. Leia mais...z
. CRUZ E SOUSA – por Antonio Carlos Secchin – ENSAIOS
CORPO – por Antonio Carlos Secchin – ENSAIOS
Leia os ensaios:
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O DESTERRO DO CORPO – por Antonio Carlos Secchin – ENSAIOSZ E SOUSA – O DESTERRO DO CORPO – por Antonio Carlos Secchin – ENSAIOS
[ CRUZ E SOUSA ] OLIVEIRA NETO, Godofredo. Cruz e Sousa. O poeta alforriado. Rio de Janeiro: Garamond, 2010. 160 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-7617-1919-7 Ex. biblk]. Antonio Miranda
"Em cima de esterco e de alfafa seca. Um caixão comprido mal amarrado e balançando num vagão vazio destinado ao transporte de animais. Ali, dentro do singelo esquife, vai o cadáver de Cruz e Sousa, cuidadosamente acondicionado por mão piedosas na madeira crua. Terminava assim — um corpo despachado para o Rio de Janeiro num trem de carga — a vida de um dos maiores poetas brasileiros. Era março, dia 19, 1898. Cruz e Sousa tinha 36 anos."
GODOFREDO OLIVEIRA NETO
ACROBATA DA DOR
Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num, riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.
De uma dor atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado,
Pelo estertor dessa agonia lenta...
Pedem-te bis e um bis e um bis não se despreza!
Vamos! reteza os músculos, reteza,
Nessas macabras piruetas d´aço...
E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.
O MAR
Que nostalgia vem de tuas vagas
Ó velho mar, ó lutador Oceano!
Tu de saudades íntimas alagas
O mais profundo coração humano.
Sim! Do teu choro enorme e soberano,
Do teu gemer nas desoladas plagas
Sai o que quer que é, rude sultão ufano,
Que abre nos peitos verdadeiras chagas.
Ó mar! Ó mar! Embora esse eletrismo,
Tu tens em ti o gemem do lirismo.
És um poeta lírico demais.
E eu para rir com humor das tuas
Nevroses colossais, bastam-me as luas
Quando fazem luzir os seus metais.
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Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Cristais diluídos de clarões alacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos,
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...
Traducido por Anderson Braga Horta y José Jeronymo Rivera
¡Oh Formas albas, blancas, Formas claras
De lunas y de nieves y neblinas!...
Oh Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incienso de turíbulo en las aras...
Formas de Amor constelarmente puras
De Vírgenes y Santas vaporosas...
Brillos errantes, húmedas frescuras
Y dolencias de lirios y de rosas...
Indefinibles músicas supremas,
Armonías del Color y del Perfume...
Horas de Ocaso, trémulas, extremas,
Réquiem del Sol que su Dolor resume...
Visiones, salmos, cánticos serenos,
Órganos en sordinas sollozantes...
Delicias de letárgicos venenos
Sutiles, suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritus dispersos,
Inefables, edénicos, aéreos,
Sembrad en el Misterio de estos versos
La llama ideal de todos los misterios.
Que del Sueño la azul diafanidad
Esplenda, que en la Estrofa se levante
Y la emoción, toda la castidad
Del ser del Verso, por los versos cante.
Del polen de oro de los finos astros
Fecúndese la rima clara, ardiente...
Brille el esmero de los alabastros
Sonoramente, luminosamente.
La fuerza original, esencia y gracia
De carnes de mujer, delicadezas...
Ese efluvio que surca el Éter hacia
Las áureas, róseas, célicas dehesas...
Cristales fluidos reluciendo alacres,
Deseos, vibración, ansias, alientos,
Flavas victorias, triunfamientos acres,
Los más extraños estremecimientos...
Flores negras del tedio y flores vagas
De amores enfermizos y vacíos...
Honda rubicundez de viejas llagas
En sangre, abiertas, escurriendo en ríos...
¡Todo! vivo y nervioso, ardiente y fuerte,
En las nubes quiméricas del Sueño,
Pase, cantando, ante el terrible ceño
Y el tropel misterioso de la Muerte...
Ó Lua, Lua triste, amargurada,
Fantasma de brancuras vaporosas,
A tua nívea luz ciliciada
Faz murchecer e congelar as rosas.
Nas floridas searas ondulosas,
Cuja folhagem brilha fosforeada,
Passam sombras angélicas, nivosas,
Lua, Monja da cela constelada.
Filtros dormentes dão aos lagos quietos,
Ao mar, ao campo, os sonhos mais secretos,
Que vão pelo ar, noctâmbulos, pairando...
Então, ó Monja branca dos espaços,
Parece que abres para mim os braços,
Fria, de joelhos, trêmula, rezando...
Traducido por Anderson Braga Horta
Oh, Luna, Luna triste, atormentada,
Fantasma de blancuras vaporosas,
Bajo tu nívea luz martirizada
Marchítanse y congélanse las rosas.
En las floridas mieses sinüosas,
En que brilla fosfórica enramada,
Pasan sombras angélicas, nivosas,
Oh, Monja de la azul celda estrellada.
Inspiran filtros en los lagos quietos,
Campos, mares, los sueños más secretos,
En los aires, noctámbulos, flotando...
Entonces, Monja blanca, abres tus brazos,
Desde tu soledad, sobre mis pasos,
Fría, postrada, trémula, rezando...
Este caminho é cor-de-rosa e é de ouro,
Estranhos roseirais nele florescem,
Folhas augustas, nobres reverdecem
De acanto, mirto e sempiterno louro.
Neste caminho encontra-se o tesouro
Pelo qual tantas almas estremecem;
É por aqui que tantas almas descem
Ao divino e fremente sorvedouro.
É por aqui que passam meditando,
Que cruzam, descem, trêmulos, sonhando,
Neste celeste, límpido caminho
Os seres virginais que vêm da Terra,
Ensangüentados da tremenda guerra,
Embebedados do sinistro vinho.
Traducido por Anderson Braga Horta
Es un camino róseo, áureo, sonoro
Do rosales insólitos florecen,
Hojas augustas, nobles reverdecen
De sempiterno lauro y acanto de oro.
En esta vía encuéntrase el tesoro
Por el cual tantas almas estremecen;
Van por aquí las almas que enaltecen
El divino y temblante abismo, en coro.
Es por aquí que pasan meditando,
Que vagan, bajan, trémulos, soñando,
En este etéreo, límpido camino
Los seres virginales de la Tierra,
Ensangrentados de la cruda guerra,
Emborrachados del siniestro vino.
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
Ó ser humilde entre os humildes seres,
Embriagado, tonto dos prazeres,
O mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
A vida presa a trágicos deveres
E chegaste ao saber de altos saberes
Tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
Magoado, oculto e aterrador, secreto,
Que o coração te apunhalou no mundo.
Mas eu que sempre te segui os passos
Sei que cruz infernal prendeu-te os braços
E o teu suspiro como foi profundo!
Traducido por Anderson Braga Horta
A nadie le tocó tu espasmo obscuro,
¡Oh! humilde entre los más humildes seres,
Embriagado, loco de placeres,
El mundo para ti fue negro y duro.
Atravesaste, en el silencio oscuro,
La vida presa a trágicos deberes
Y llegaste al saber de altos saberes
Haciéndote más simple, al fin más puro.
Nadie te ha visto el sentimiento inquieto,
Doliente, oculto, aterrador, secreto,
Que el corazón te apuñaló en el mundo.
¡Mas yo que siempre te seguí los pasos
Sé qué cruz infernal prendió tus brazos
Y tu suspiro cómo fue profundo!
CÁRCERE DAS ALMAS
Ah! Toda alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do Mistério?!
Traducido por Anderson Braga Horta
¡Ah! Toda alma en su cárcel anda presa,
Sollozando en tinieblas y ansiedades,
De su prisión mirando inmensidades,
Tardes, estrellas, mar, naturaleza.
Todo se viste de una igual grandeza
Cuando el alma, en cadenas, libertades
Sueña y, así, rasga inmortalidades
En el Espacio azul de la Pureza.
¡Oh, almas presas, mudas y cerradas
En calabozo atroz, y abandonadas
Del Dolor en el báratro funéreo!
En los silencios solitarios, graves,
¿¡Qué llavero del Cielo posee llaves
Para abriros las puertas del Misterio?!
Abre-me os braços, Solidão profunda,
Reverência do céu, solenidade
Dos astros, tenebrosa majestade,
Ó planetária comunhão fecunda!
Óleo da noite, sacrossanto, inunda
Todo o meu ser, dá-me essa castidade,
As azuis florescências da saudade,
Graça das Graças imortais oriunda!
As estrelas cativas no teu seio
Dão-me um tocante e fugitivo enleio,
Embalam-me na luz consoladora!
Abre-me os braços, Solidão radiante,
Funda, fenomenal e soluçante,
Larga e búdica Noite redentora!
Traducido por Anderson Braga Horta
¡Ábreme el seno, Soledad profunda,
Atención celestial, solemnidad
De los astros, obscura majestad,
Oh, planetaria comunión fecunda!
¡Ungüento santo de la noche, inunda
Todo mi ser, dame esa castidad,
La florescencia azul de la beldad
De las Gracias olímpicas oriunda!
¡Las estrellas cautivas en tu seno
Tráenme un éxtasis fugaz y ameno,
Acúnanme en la luz consoladora!
¡Abre tu seno, Soledad radiante,
Honda, fenomenal y sollozante,
Ancha y búdica Noche redentora!
Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do Dever cumprido!
Nem o mais leve, nem um só gemido
Traia, sequer, o teu Sentir latente.
Morre com a alma leal, clarividente,
Da Crença errando no Vergel florido
E o Pensamento pelos céus brandido
Como um gládio soberbo e refulgente.
Vai abrindo sacrário por sacrário,
Do teu Sonho no templo imaginário,
Na hora glacial da negra Morte imensa...
Morre com o teu Dever! Na alta confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!
Traducido por Anderson Braga Horta
¡Cierra tus ojos, muere calmamente!
¡Muere sereno del Deber cumplido!
Ni el más leve, ni un único gemido
Traicione, al menos, tu Sentir latente.
Muere, el alma leal, clarividente,
De la Creencia en el Vergel florido
Y el Pensamiento para el cielo erguido
Como espada soberbia y refulgente.
Vete, abriendo sagrario tras sagrario,
De tu Sueño en el templo imaginario,
En la hora fría de la Muerte inmensa...
¡Muere con tu Deber! ¡Con la confianza
De quien triunfó y sabe que descansa,
Desdeñoso de toda Recompensa!
SORRISO INTERIOR
O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasão augusto
Do grande amor, da nobre fé tranqüila.
Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.
Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe essa glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.
O ser que é ser transforma tudo em flores...
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!
SONRISA INTERIOR
Traducido por Anderson Braga Horta
El ser que es ser y que jamás vacila
En la guerra inmortal entra sin susto;
Lleva con él ese blasón augusto
Del grande amor y noble fe tranquila.
Los abismos carnales —¡triste argila!—
Él los vence sin ansias, como un justo...
Queda sereno, a sonreír, a gusto,
Mientras alrededor el mundo oscila.
Olas interiores de grandeza
Le dan, triunfando a la Naturaleza,
Ese esplendor, todo ese largo efluvio.
El ser que es ser transforma todo en flores...
Y para ironizar a sus dolores
¡Canta sobre las aguas del Diluvio!
SIDERAÇÕES
Cruz e Sruz e Sousaousa
Para as Estrelas de cristais gelados
as ânsias e os desejos vão subindo,
galgando azuis e siderais noivados,
de nuvens brancas a amplidão vestindo...
Num cortejo de cânticos alados
os arcanjos, as cítaras ferindo,
passam, das vestes nos troféus prateados,
as asas de ouro finamente abrindo...
Dos etéreos turíbulos de neve
claro incenso aromai, límpido e leve,
ondas nevoentas de Visões levanta...
CRUZ E SOUSA. Broquéis. São Paulo, Edusp. 1994. 126 p. 12,5x18,5 cm. Ensaio introdutório de Ivan Teixeira. Projeto gráfico e capa (dura): Marina Mayumi
Watanabe. ISBN 85-314-0183-6 Edição comemorativa dos 100 anos de “Broquéis”.
VITA OSCURA
Nessun senti lo spasimo tuo escuro,
0 umile tra gli umili mortali.
Ebbro e intontito dai piacer bestiali,
Il mondo fu per te sl nero e duro.
Attraversasti, nel silenzio scuro,
La vita di doveri i piú brutali
E arrivasti alie luci ascenzionali,
Diventando piu semplice e piu puro.
Nessun ti vide il sentimento inquieto,
Addolorato ed intimo segreto,
Che il cuor ti pugnalò in questo mondo.
Ma io, che sempre udii la tua voce,
So che fosti inchiodato ad una croce
E come i! tuo sospiro fu profondo !
João da Cruz e Sousa (Nossa Senhora do Desterro, 24 de novembro de 1861 — Curral Novo, 19 de março de 1898) foi um poeta brasileiro. Com a alcunha de Dante Negro ou Cisne Negro, foi um dos precursores do simbolismo no Brasil. Segundo Antonio Candido, Cruz e Sousa foi o "único escritor eminente de pura raça negra na literatura brasileira, onde são numerosos os mestiços".
Filho dos escravos alforriados Guilherme da Cruz, mestre-pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, João da Cruz desde pequeno recebeu a tutela e uma educação refinada de seu ex-senhor, o marechal Guilherme Xavier de Sousa - de quem adotou o nome de família, Sousa. A esposa de Guilherme Xavier de Sousa, Dona Clarinda Fagundes Xavier de Sousa, não tinha filhos, e passou a proteger e cuidar da educação de João. Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais.
Em 1881, dirigiu o jornal Tribuna Popular, no qual combateu a escravidão e o preconceito racial. Em 1883, foi recusado como promotor de Laguna por ser negro. Em 1885 lançou o primeiro livro, Tropos e Fantasias em parceria com Virgílio Várzea. Cinco anos depois foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil, colaborando também com diversos jornais. Em fevereiro de 1893, publica Missal (prosa poética baudelairiana) e em agosto, Broquéis (poesia), dando início ao Simbolismo no Brasil que se estende até 1922. Em novembro desse mesmo ano casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem teve quatro filhos, todos mortos prematuramente por tuberculose, levando-a à loucura.
Morreu a 19 de março de 1898 em Minas Gerais, na localidade de Curral Novo, então pertencente ao município de Barbacena. Em 1948 a localidade se emancipa e passa a se chamar Antônio Carlos. Cruz e Sousa estava em Curral Novo pois fora transportado às pressas vencido pela tuberculose. Teve o seu corpo transportado para o Rio de Janeiro em um vagão destinado ao transporte de cavalos. Ao chegar, foi sepultaJdo no Cemitério de São Francisco Xavier por seus amigos, dentre eles José do Patrocínio, onde permaneceu até 2007, quando seus restos mortais foram então acolhidos no Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Sousa, no centro de Florianópolis.
Cruz e Sousa é um dos patronos da Academia Catarinense de Letras, representando a cadeira número 15.
Obra poética: Broquéis (1893, poesia); Missal (1893, poemas em prosa); Tropos e Fantasias (1885, poemas em prosa, junto a Virgílio Várzea).
Obra póstuma: Últimos Sonetos (1905); Evocações (1898, poemas em prosa); Faróis (1900, poesia); Outras evocações (1961, poema em prosa); O livro Derradeiro (1961, poesia); Dispersos (1961, poemas em prosa).
Extraído de Wikeped
TEXT IN ENGLISH
THE OXFORD BOOK OF LATIN AMERICAN POETRY: a bilingual anthology edited by Cecilia Vicuña and Ernesto Livon-Grosman. Agawam. MA, USA: Oxford University Press, 2009. 561 p. 16x24,5 cm. Contracapa, capa dura. ISBN 978-0-19-512454-5
Inclui os poetas brasileiros: Gregório de Matos, Antonio Gonçalves Dias, Manuel Antonio Alvares de Azevedo, Sousândrade, Antonio de Castro Alves, João da Cruz e Sousa, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Pedro Kilkerry, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Raul Bopp, Cecilia Meireles, Carlos Drummond de
Andrade, Apolônio Alves dos Santos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Paulo Leminski. Ex. bibl. Antonio Miranda.
João da Cruz e Sousa (1861-1898, Brazil)
As the son of two African slaves, Cruz was the first popular Brazilian poet of African ancestry. Unfortunately, that fame and praise arrived posthumously and Cruz's life was characterized by mental instability and solitude. Born in the southern city formerly known as Desterro, Cruz moved to Rio de Janeiro to seek work when the institutional racism of the southern province impeded him from finding a good job despite his intellectual ability. His writing style has been described as ahead of its time, borrowing much from the French symbolists in an era dominated by the Romantics. PRINCIPAL WORKS: Broqueis (1893), Missal (1893), Evocagoes (1898)
Lesbian / Lesbia]
Mark A. Lokensgard, trans.
Wild croton, wanton caladium,
Lethal plant, carnivorous, bloody,
From your bacchic flesh bursts
The red explosion of a living blood.
On that mordant and convulsive lip
Are laughs, laughs of violent expression
From Love, tragic and sad, and slowly passes Death, the cold, harrowing spasm . . .
Feverish lesbian, bewitching and diseased,
Cruel and demoniacal serpent
Of the burning attractions of delight.
From your acidulous and sour breasts
Flow acetic aromas and the torpors,
Opium of a moon with consumption . . .
Croton selvagem, tinhorão lascivo,/ Planta mortal, carnívora, sangrenta,/ Da tua carne báquica rebenta/ A vermelha explosão de um sangue vivo.// Nesse labio mordente e convulsivo,/ Ri, ri risadas de expresão violenta/ O Amor, trágico e triste, e passa, lenta,/ A morte, o espasmo gélido, aflitivo . . . // Lésbia nervosa, fascinante e doente,/ Cruel e demoníaca serpente/ Das flamejantes atrações do gozo.// Dos teus seios acídulos, amargos,/ Fluem capros aromas e os letargos,/ Os ópios de um luar tuberculoso ...
Afra
Mark Lokensgard, trans.
You reemerge from the mysteries of lust,
Afra, tempted by the green pomes,
Among the fascinating sylphs and marvelous
gnomes
Of the purple-colored passion.
Explosive flesh in blasting powder and fury
Of pagan desires, among appearances
Of virginity—mocking laughs of a farce
Laughing at the flesh already given to neglect.
Given over early to languid abandon,
To the morbid swoons like sleep,
From the delight of drawing in the venomous
juices.
I dream of you, goddess of the lascivious display, As you declare, intrepidly, to the sound of horns, Loves more sterile than eunuchs!
Ressurges dos mistérios da luxúria,/ Afra, tentada pelos verdes pomos,/ Entre os silfos magnéticos e os gnomos/ Maravilhosos da paixão purpúrea.// Carne explosiva em pólvoras e furia/ De desejos pagãos, por entre assomos/ Da virgindade—casquinantes momos/ Rindo da carne já votada a incúria.// Votada cedo ao lânguido abandono,/ Aos mórbidos delíquios como ao sono,/ Do gozo haurindo os venenosos sucos.// Sonho-te a deusa das lascivas pompas,/ A proclamar, impávida, por trompas,/ Amores mais estéreis que os eunucos!