GASTÓN FIGUEIRA
(Uruguay/ Uruguay)
Poeta uruguaio amigo de muitos poetas brasileiros; tradutor de poemas de Gilberto Mendonça Teles.
Autor de “Crucifixión de la luz” (1943), “Isla sin nombre” (1950).
Tradução de Solon Borges dos Reis
Como dois amantes pudicos e ardentes,
a Floresta e o Amazonas,
para amarem-se em segredo,
em sua alcova sombria,
apagaram a lâmpada um dia...
A IMENSA RONDA
Crianças de toda a América:
Sede sempre como irmãos,
Fazei uma imensa ronda,
Uni, uni, uni vossas mãos.
Crianças das três Américas:
Cantai os mais doces cantos,
Crianças de toda a América:
Sede sempre como irmãos.
Crianças de todo o mundo:
Sede sempre como irmãos!
Fazei uma imensa ronda,
Uni, uni vossas mãos.
Crianças do mundo todo:
Cantai os mais doces cantos,
Cantos de paz e concórdia,
Cantos puros como nardos.
Crianças de todo o mundo:
Sede sempre como irmãos!
BALADA DO POETA VAGABUNDO
Levo pela minha estrada larga
uma balada nos lábios.
Um sorriso nos olhos
e o coração na mão.
Le3vo pela minha estrada larga
uma balada nos lábios...
— A recordação traz uma dor?
A dor, esqueço-a nos meus cantos.
Levo pela minha estrada larga
a balada que mais amo.
O eco canta, às vezes,
com os seus lábios invisíveis.
— Dança a chuva ou dança o vento?
— Está a arde ensangüentada?
Como o sorriso nos olhos,
sigo o meu caminho sonhando.
Levo pela minha estrada larga
uma balada nos lábios...
E não importa que te acerques,
solidão do desencanto.
Não hei de te ver porque levo
o coração na mão,
o sorriso nos olhos
e a balada nos lábios...
Como é bom ir pela estrada
com a balada nos lábios,
o sorriso nos olhos,
e o coração na mão!
MÃE
Minha mãe, que tão distante estás,
como te lembro!
Parece-me ver-te de manhã, cedinho,
rumo da igreja, envolta num chalé,
levando para sinal,
nas páginas do teu missal tão pequenino
as cartas que te escrevi...
Quando eu era ainda menino
me ensinavas a rezar
ante uma imagem de Cristo.
E agora eu creio ver-te
todas as noites, no teu velho quarto,
rogando àquela mesma imagem
que vale, com doçura pia,
pelo filho que, um dia, abandonou o lar
com sede de distância e ânsia de vagar...
Quando eu era pequen,
cantavas para mim.
Deixa que agora, mãe, eu cante para ti,
longe, sim, de tão longe, a canção da saudade.
MOMENTO
Bem sei, Amazonas,
que a tua beleza é tão grande,
tão rutilante e tão misteriosa,
que não há voz que a possa cantar.
Se é possível bendizer a Deus
ou a Tupã.
Diante de ti,
minha alma como um pássaro novo,
se pôs a cantar...
Amazonas, eu te canto,
mas, sobretudo te guardo
no fundo do meu coração,
para poder, assim, iluminar
com a recordação da tua beleza
os meus momentos mais opacos de tristeza.
JOIAS DA POESIA HISPANO AMERICANA, org. ORICO, Osvaldo. Lisboa: Livraria Bertrand, 1945. 229 p. 12x19 cm. “ Manuela González Prada “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Obs. Não se trata de uma edição bilíngue, textos apenas em português.
BALADA DO QUE EU QUISERA SER
Marinheiro,. marinheiro!
Apalpar todas as pétalas
dessa rosa sempre fresca
que é o Universo.
Marinheiro, marinheiro!
Ver a luz de oiro do sol
e a luz de prata da lua
brilhando nos sete oceanos.
Marinheiro, marinheiro!
Irmão das aves errantes,
e das castas madrugadas,
irmão da rosa dos ventos...
Marinheiro, marinheiro
de cantares sempre novos,
de coração sempre alegre,
com uma noiva em cada porto!
RITO
Aurora americana, grito de cores
na praia pontilhada de coqueiros.
Conversa de um papagaio
na choça dourada que desperta.
Conversa da água azul. Fala de um milhão de pássaros.
O novo dia desenha suas tatuagens indígenas,
amarelas e vermelhas
na pele azul do espaço.
Sentado na areia, bebo água de coco
lentamente,
religiosamente,
como se praticasse um rito:
minha comunhão matinal com o Trópico.
Aqui está minha alegria,
aqui nesta ilha
de casitas multicores,
dispersas num bosque
de loucos coqueiros,
com seus largos e verdes chapéus.
Aqui, nesta grande praia, é donde zumbe
a colmeia de minha alegria.
Aqui está minha poesia
nesta natureza pródiga,
nesta paz matinal,
nesta eterna primavera
cantada pela voz menina dos pássaros,
soli este céu azul.
Aqui está minha alegria,
em teus braços, mulher humilde e linda,
da cor da rapadura,
morena simples, boa e pura,
doce morena de olhar santo,
que sabes dar à vida outra luz e outro encanto.
FIGUEIRA, Gaston. Mi deslumbramento en el Amazonas. Buenos Aires: Cabaut Cia, 1935. 146 p. 12,5 x 17 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
CANCIÓN DE PARA
Quien toma el tacacá,
quien bebe ti assahy,
Si no fuero de acá,
no sale más de aquí,
dice la dulce canción de Pará...
Yo, que a ti he llegado,
¡oh hermosa ciudad!
y siento tu embrujo
tenaz
en esta mañana
verde y azul,
en esta mañana
que es cual bosque lleno
de lianas de luz;
yo, que a ti he llegado
Pará,
y voy por tus calles
antiguas y nuevas
¡llenas de mangueiras!
¡llenas de mangueiras!
aquí me quisiera
por siempre quedar. . .
¡Dadme un bebedizo
que nunca, que nunca
me deje marchar!
Dadme el assahy,
dadme el tacacá.
Yo creo,
Pará.
en eso que dice
tu dulce cantar:
Quien toma el tocará,
quien bebe el assahy,
si no fuera de acá,
no sale más de aqui.
EL POEMA DE LA POROROCA
Allá,
frente al cabo de Macapá,
en noches de luna nueva o luna llena,
ven las selvas desde hace miles de años,
una lucha feroz, que siempre recomienza.
La fuerza de la marea
vence al río. Corre una ola inmensa
bramando locamente. Y luego es otra
rápida ola
y luego, otra.
Avanzan terribles,
golpeando islas y mordiendo costas,
embistiendo con todo, derribándolo todo.
No conocen obstáculo. El océano
quiere vengarse de las veces que el gran rio
lo venció,
lo repelió
y hasta le dió su color y su sabor.
¡Lucha gigantesca del río y del mar!
¡Flujo y reflujo lunar!
Hay caboclos que junto a sus canoas, resguardados en tierra resignados esperan
oyendo aquel fragor que se extiende en dos leguas.
Voz gigantesca que el indio llamó pororoca.
¿Es el abismarse de una gran catarata ignota?
En la selva
donde la claridad lunar
sólo entra si un árbol caído la deja filtrar,
los pájaros revuelan desesperados junto a sus nidos
y lanzan ígneas luces los ojos de las serpientes.
Y la Luna —aliada del Atlántico—
con sus ojos blancos, es el gran testigo
de la lucha, allá,
frente al cabo de Macapá,
de esa lucha gigantesca en que ruge, desatado,
un odio milenario.
YACY
La Luna amazónica se llama Yacy.
Nunca cosa más linda en el mundo yo vi.
Cuando boga en las aguas de un igarapé.
es Yacy una blanca igarité.
Si en un igapó su pureza mece,
una gran Victoria Eegia me parece.
Si en un paraná
sonríe voluptuosa y clara,
Yacy es como una luminosa Yara.
A veces la he visto
durmiendo junto al bambual:
¿No es la más hermosa hija del garzal?
Cuando brilla en el bosque, Yacy
¿no es un gigantesco bogary?
Y en la selva azul del cielo
¿no es acaso una ninfa ecuatorial
—de todas la más bella—
bañándose en una gran cascada de estrellas?
Luna del Amazonas,
espléndida Yacy:
pon en mi alma un rayo
de tu luz. Así,
como una bendición lo he de llevar
para esta dolencia dulce de soñar...
CURUPIRA
( Habla una madre, india )
No vayas, hijito,
a jugar al mato.
Curuplra hoy debe
estar enojado.
Temprano, temprano vinieron los hombres,
vinieron los hombres y cortaron árboles,
muchos, muchos árboles.
Mordían las hachas los troncos altísimos.
Los troncos gritaban, gritaban los pájaros.
No vayas, hijito,
a jugar al mato.
Curupira hoy debe e
star enojado.
Tú sabes quién es Curupira.
Es el dios que defiende la selva,
es el dios que defiende los árboles.
Y a aquellos que llevan
la muerte a su reino,
los pierda en las sendas...
No vayas, hijito,
a jugar al mato,
que aún Curupira,
ansioso de vengarse,
debe estar escuchando
los gritos de las hachas,
los gritos de los árboles,
los gritos de los pájaros...
Página publicada em janeiro de 2008; atualizada em julho de 2015. Ampliada em maio de 2019. |