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CRISTINA CARNEIRO

 

 

 

TRANSVERSAL Poesia hispano-americana em tradução de Carlos Augusto Ancêde Nougué. IRio de Janeiro, RJ: Núcleo Leviatã de tradução, 1991.  50 p.  14x20,5 cm.   Inclui os poetas em edição bilíngue:  Arturo Carrera (Argentina), Cristina Carneiro (Uruguai), Eduardo Milán (Uruguai), Eduardo Mitre (Bolívia), Gabriel Zaid (México), Lezama Lima (Cuba), LUÍS Alberto Crespo (Venezuela), Marco António Montes de Oca (México), Octavio Paz (México), Óscar Cemito (Bolívia), Roberto Sosa (Honduras), Roque Dalton (El Salvador). Edição anunciada como uma “coleção”, fora de comércio, para os “contribuintes”.  Col. A.M  (EA)

 

TEXTO EN ESPAÑOL  - TEXTO EM PORTUGUÊS

Imitación de imitación de Propercio

 

No por ti Dios fecundó el caos.

Mírame, castrado. Pero mírame.

Este osario.

El puro cáncer de mi cuerpo limpio,

Esta cascara de inmundicia que me legas.

Mírame, querido.

 

La trepanación del corazón, la vitrificación

Del cerebro, la progresiva

Atrofia del estómago.

El pasaje de ejércitos por mí carne sagrada.

Debo cuidarme de pronunciar palabras peligrosas;

En los grandes momentos debo evitar del todo pronunciar palabras.

Hijo de buey, mírame mientras
Una lluvia de caspa cubre suavemente el imperio.

 

¿Me das lo que es tuyo?

 

No por ti vuelan las aves.

 

Padre, no por él, no por él. Dilo.

Estás loco. ¿Estás loco? Échale ya tus sabuesos,

Tu centella, tus lluvias de sangre! Asómate!

Oh asómate.

No prevalezca el hijo del buey.

Enséñale que no para él.

Es mi causa la que defiendo.

Allviame.

Alivíame.

O líbrame de ciertas ilusiones.

 

En las minas de carbón de Renania

Un pequeño judío conocerá

 

Todos los horrores de los primeros afios de la Revolución Industrial,

Su cuerpo limpio comprenderá el agravio.

Con su cara suave y sus suaves ojos

Mira largamente al castrador barrigón.

Le da lo que es suyo.

Y lo cura de ciertas ilusiones.

 

Mi causa está abogada.

 

 

TEXTO EM PORTUGUÊS
tradução de Carlos Augusto Ancêde Nougué

 

Imitação de imitação de Propércio

 

Não por ti Deus fecundou o caos.

Olha-me, castrado. Mas olha-me.

Este ossário,

O puro câncer do meu corpo limpo,

Esta casca de imundície que me legas.

Olha-me, querido.

 

A trepanação do coração, a vitrificação

Do cérebro, a progressiva

Atrofia do estômago.

A passagem de exércitos por minha carne sagrada.

Devo precaver-me de pronunciar palavras perigosas;

Nos grandes momentos, devo evitar de todo pronunciar palavras.

Filho de boi, olha-me enquanto

Uma chuva de caspa cobre suavemente o império.

 

Tu me dás o que é teu?

Não por ti voam as aves.

 

Pai, não por ele, não por ele. Diz.

 

Estás louco. Estás louco? Solta-lhe já teus cães,

Tua centelha, tuas chuvas de sangue! Mostra-te!

Oh mostra-te.

Não prevaleça o filho do boi.

Prova-lhe que não para ele.

É minha causa a que advogo.

Alivia-me.

Alivia-me.

Ou livra-me de certas ilusões.

 

Nas minas de carvão da Renânia,

Um pequeno judeu conhecerá

 

Todos os horrores dos primeiros anos da Revolução Industrial,

Seu corpo limpo compreenderá o agravo.

Com seu rosto suave e seus suaves olhos.

Contempla longamente o castrador barrigudo,

E lhe dá o que é seu.                              '

E o faz curar de certas ilusões.

 

Está defendida a minha causa.

 

 

Página publicada em julho de 2013.


 

 

 
 
 
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