CLARA SILVA
Clara Silva ( Montevidéu , 1905 - 1976) foi uma poeta e narradora uruguaia
Como ávida jovem leitora, o primeiro livro de poemas de Clara Silva foi La cabellera oscura , publicado em 1945. Ela foi seguida por Memoria de la nada (1948) e Los delirios (1954).
Educada em uma família fervorosamente católica, ela e sua irmã Concepción foram ensinadas que você tinha que amar a todos sem distinção. O dilema entre o amor religioso e o amor terreno está presente em todo o seu trabalho:
"O que procuro, o que não procuro, hesitando? / Distâncias apressadas em vão / de cada vez sou amor, amado, amante".
Mas não foi nos poemas dos primeiros volumes em que a autora enfatizou mais, mas como romancista. Em seus romances, essas preocupações religiosas continuam latentes. Mulheres frustradas e solitárias, presas em antigas mansões, são abundantes em suas narrativas.
Seu romance de 1964, Aviso para a população, foi, segundo Carina Blixen, o primeiro antecedente de uma nova linha da narrativa uruguaia, a recriação de recentes acontecimentos reais que abalaram a estabilidade e a bonomia de Montevidéu e do Uruguai como «Suíça da América". O enredo recria o caso real de um jovem delinquente (o "Mincho" Martincorena) capturado pela polícia. O olhar grosseiro e pessimista do autor colocou-a no centro da geração dos 45 aos quais está associada hoje, junto com outros escritores contemporâneos como Mario Benedetti e Juan Carlos Onetti. O próprio Benedetti e Angel Rama elogiaram o trabalho.
É uma poética do cinza, do lúgubre e sórdido, expressa com crueza e atenção naturalista, sem descuidar o feio, o grotesco e o escatológico. Elas se dirigem a ambientes de marginalização e paisagens desoladas: lixões, drenagens de coletores em rios solitários, terrenos baldios que parecem páramos e aqueles miseráveis rancheríos que na época começaram a ser conhecidos com a denominação irônica de "cantegriles".
Clara Silva foi casada com o crítico e ensaísta Alberto Zum Felde . Ambos morreram em 1976.
Poesia: La cabellera oscura (1945); Memoria de la nada (1948); Los delirios(1954); Las bodas (1960); Preludio indiano y otros poemas (1961); Guitarra en sombra (1964).
TEXTOS EN ESPAÑOL - TEXTOS EM PORTUGUÊS
MUJERES – Las mejores poetas uruguayas del siglo XX. Selección de poetas uruguayas del Siglo XX. Selección de textos y nota introductoria de cada poeta a cargo de: Jorge Albistur, Roberto Appratto, Jorge Arbeleche, Carina Blixen, Juan Francisco Costa, Rafael Coutoisie, Sylvia Lago, Graciela Mántaras, Alejandro Paternain, Ricardo Pallares y Elás Uriarte. Montevideo: Instituto Nacional del Libro, 1993. 398 p.(Colección “Brazo Corto”) 18,5x 23,5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
“Cuando ocurra su conversión al catolicismo, no se abrirá passo uma poesía plenamente gozosa de Asunción y sumisión, sino que la poesía testimoniará una perpetua búsqueda, uma pela casi sin respiros. La “agonia del cristianismo” defendida y difundida por Unamuno, encuentra em Clara Silva uma de sus vocês más transidas.” GRACIELA MÁNTARAS LOEDEL
EL CUERPO
Sobre su tallo de medrosos siglos
el cuerpo abrió su flor enamorada.
Hostia de los manjares, de sus harina
se alimentaba el sueño.
Era mi cuerpo la más antigua tierra,
era el río, la noche, sus estrellas,
y la copa del mundo, recogiendo
las profecias de la herencia.
Tierra del cuerpo la más antigua tierra,
era el río, la noche, sus estrellas,
y la copa del mundo, recogiendo
las profecias de la herencia.
Tierra del cuerpo,
cuerpo de la tierra,
la casa de mis huesos,
mi lámpara encendida,
mi término, mi aceite,
y un final de ceniza,
agradecido.
Nombrada por los dioses pasajeross
entre asombros pasé.
Sus costumbres de amor
del cuerpo hicieron
una funete secreta
una lira
de antiguo ardor solicitada.
Con las prisa anudada a los talones
en sus assuntos iba prisionera,
fuí su amiga, su amante,
su enemiga.
A su tronco enroscada,
hiedra animal, crecí en los manantiales
de su sangre.
¡Alma, que fuiste sólo consecuencia!...
Tierra que fui, llama que fui,
suspiro,
fantasmas de mi cuerpo,
¿en qué asilos de polvo se extenúan
sus errabundas existências?
¿A qué puertas, a qué ojos, a qué tumbas,
rescataré su historia?
¿Qué ángel de exterminio
vigila sus sonrisas?
¡Oh, duelo, que se pierdan ignoradas!
Si a muerte vas, que tanto amor no muera...
(de Memoria de la nada, 1948)
LA VIDA ENTRETANTO
Ni de ayer ni de hoy
gozo o gemido
vuelvo a ustedes después de los adioses
en un tiempo confuso sin razones.
Quise destruir una mujer llamada clara
soberbia, abismal, lóbrega, incierta,
de dientes ambiciosos para el fruto
de lengua corrosiva para el alma.
Destruirla para um regreso afortunado
hacia la vida misma
hacia la tierra toda
hacia la trepidación de las ciudades
sin llorar circunstancias ni memorias.
Se me llenó la boca de un áspero silencio
tierra, amor, cielo, batalla,
ser de Dios y del tiempo,
del infierno y de ángel
pero ser, profundamente, siendo.
Es todo lo que traigo después de los adioses
una aguda certeza casi terrible, sola,
del ocaso a la aurora, de la aurora al ocaso,
ola en el mar, espuma en las orillas,
los ecos saltando rebotando cantando,
nada, nada, razonablemente nada.
Y el no, entra en el alma
clavándola en el disco.
La vida todavía.
Y me queda las vida todavía.
O me sigue o la sigo.
A cara o cruz el préstamo es seguro.
La vida todavía,
elemental, oscura.
¡Si es razón para todos,
qué razón para más!
(de Preludio indiano y otros poemas, 1961)
EL AGUA INMENSA DE SUS OJOS
Ah, este Dios
combatido
combatiente
que me llama, me acecha, me extravia,
me amarga ala canción
me muerde el sueño
y no abre las puertas de su boca
jamás
Ah, este Dios
escondido
que despierta mañana tras mañana
dominándolo todo
desde su eternidade que me enajena
que anda por el camino donde ando
desnuda el mundo en sal y escalofrío
y hasta el agua más simple considera...
Ah, este Dios
que me atrae
y me rechaza
y en la tierra assediada por la sed de sus ángeles
me da a sufrir la sangre
entre mis dientes de raíces agrias
hasta el fin
sin un grito
Ah, este Dios
al que pido por su olvido
su oscuridad
su nada
su locura
sostenida en mis huesos
vacía de mi peso
sola
anque lleve encerrada entre mis venas
su sombra.
Pero sus ojos me siguen por todos los caminos.
Estoy rodeada del agua inmensa de sus ojos.
(de Antología, 1966)
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de Antonio Miranda
O CANTO DO SANGUE
Viajante da morte — vida cega —
eu te levo fechada em minha garganta
e ergo tua historia
estremecida
pelo grito de sua presa.
Templo escuro
para as cerimônias da origem
acodem desde longe
a situar-se em suas pedras assinaladas
as máscaras de tua ressurreição perecível
trazendo nas trocas da vestimenta
as idades do tempo.
Ali iniciam os varões de meu sangue
e as mulheres com seus vastos ventres,
pilares de minha sombra.
Um mar latino
abraça minha raiz
morena.
Colinas de oliveiras recordam
na curva apertada de meu corpo.
Vagos, remotos povos de fala estranha
habitam tua quente geografia.
Uma poção áspera de conquista
dispersa como um vento as sementes antigas.
Aos rios auríferos,
aos bosques imensos
de mogno,
evade a dura flor das linhagens.
Mas o teu fogo, boca
que busca a resposta de outra boca,
levanta a fortaleza dos nomes;
e cães ardentes para as terras novas
amamentas.
Pai, Mãe,
que no leito sossegado
minha coluna de fumaça levantaram,
daquele rio antigo turbulento
que traçou a taciturna cor de suas fronteiras,
da corrente imigratória dos mortos,
resta apenas,
varada
na noite austral e de suas constelações,
esta sombra, este sonho
— de teu tronco
de veias clausuradas —
e esta voz,
um clamor desesperado
de não deixar de ser,
na sobrevivência
de seu canto.
O CORPO
Sobre seu caule de medrosos séculos,
o corpo abriu sua flor enamorada.
Hóstia de manjares, de sua farinha
o sonho se alimentava.
Era meu corpo a mais antiga terra,
era o rio, a noite, suas estrelas,
e a copa do mundo, recolhendo
as profecias da herança.
Terra do corpo,
corpo da terra,
a casa de meus ossos,
minha lâmpada acesa,
meu limite, meu azeite,
e um final de cinza,
agradecido.
Citada pelos deuses passageiros
entre assombros passei.
Seus hábitos de amor
do corpo fizeram
uma fonte secreta
uma livra
de antigo ardor solicitada.
Com a pressa atada aos calcanhares
em seus assuntos ia prisioneira,
era sua amiga, sua amante,
sua inimiga.
Enroscada em seu tronco,
hera animal, cresci nos mananciais
de seu sangue.
Alma, foste apenas consequência!...
Terra que eu era, chama que fui,
suspiro,
fantasmas de meu corpo,
em que asilos de pó se extenuam
sua errantes existências?
Em que portas, em que olhos, em que túmulos,
resgatarei sua história?
Que anjo de extermínio
vigia seu sorriso?
Ó, pena, que se percam ignoradas!
Se para a morte vais, que tanto amor não pereça...
A VIDA AINDA
Nem de ontem nem do hoje
gozo ou gemido
volto a vocês depois dos adeus
em um tempo confuso e sem razões.
Quis destruir uma mulher chamada clara
soberba, abismal, sombria, incerta,
com dentes ambiciosos para o fruto
da língua corrosiva para a alma.
Destrui-la para um regresso afortunado
para a própria vida
até a terra toda
até a trepidação das cidades
sem chora circunstâncias nem memórias.
Encheu-se minha boca de uma áspero silêncio
terra, amor, céu, batalha,
ser de Deus e do tempo,
do inferno e do anjo
mas ser, profundamente, sendo.
Página publicada em março de 2018
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