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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BASILIO BELLIARD

BASILIO BELLIARD


Poeta, editor, antólogo y crítico, nació en Moca, República Dominicana en 1966. Estudió literatura en New Mexico State University y letras en la Universidad Autónoma de Santo Domingo, donde actualmente es profesor en las facultades de Artes y Humanidades. En 2002 obtuvo el Premio Nacional  de Poesía con su libro Sueño escrito. Es además autor de las obras: Diario del autófago, Balada del ermitaño y otros poemas, Los pliegues del bosque, Piel del aire, La espiral sonora: antología del poema en prosa en Santo Domingo 1900-2000. Es director de la revista País Cultural y de Gestión Literaria del Ministerio de Cultura de República Dominicana. Poemas suyos han sido traducidos al francés, italiano y portugués. Colabora con ensayos y poemas para revistas y periódicos nacionales e internacionales.

 

TEXTOS EN ESPAÑOL    /    TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

Prácticas de sueño

I

Los sueños tienen dos caras que se miran en contra-espejo. La substancia que poseen se endereza al menor contacto con el agua. Cada noche, el acero de los sueños se solivianta en mil sábanas. Los sueños se apagan con el viento y dejan una sombra calva con la que se apoyan en la luz. El que sueña arma los entuertos de los locos y traza con hilos los agujeros de la noche. Vano es adivinar lo que ven los soñadores en las madrugadas de octubre. Arreglar los sueños, las revelaciones y los augurios es tarea de sembradores de insomnios que ahogan con aire los surcos de alquitrán. De la semilla del sueño nace el fuego de la razón. En el sueño siempre tenemos los ojos abiertos, pero somos estatuas de hielo con párpados de nieve.


II

El ángel de la noche creó una tierra de rubíes, justo en la montaña donde un toro embiste cada madrugada la luna del agua. Debajo de la oscuridad, el pez del ángel sacude la arena del viento, donde mora mezclado con la neblina y los peñascos de la madrugada.


III

Una noche, una muchedumbre de durmientes invadió el cielo buscando una tribu de ángeles, pero, al no encontrarla, descendieron al día de los insomnes, armados de perdón y penetraron a todos los espejos y los hicieron derretirse con el fuego de sus ojos.


IV

Leche de larva que comemos en dulce cuajado con manos de mujer. Leche de ninfa hecha polen en las bocas de los enjambres. Dulce emponzoñado como pastel de miel que libamos a la hora del té en reunión de alquimistas. Colmenas que navegan en el viento y su ruido de campana al mediodía que corta los cuchillos. Campana que ensordece los apiarios que se posan en las colinas góticas de los árboles.


V

El fuego es el padre del insomnio. El reposo de la ensoñación mueve la naturaleza del despertar cuando el aire humedece el movimiento del fuego de cada noche con sus horas de tibieza y su cruz suicida.


VI

Luna, cárcel de Caín decretada por Dios, donde mora el asesino con su haz de espinas. Liebre lunar, fuego de jade en que Buda se alimentó y trocó las acacias en elixir. En el ojo de la luna madrugan las almas de los chinos. La luna es el pie de Neil Armstrong.


VII

El hielo de la salamandra apaga el fuego que enciende un bosque de mandrágoras, cuyo olor envenena a los amantes y enmudece a los durmientes. Los magos cartagineses usaban salamandras para sofocar incendios. Las salamandras poseen un corazón de fuego que las hace transparentes a la noche y derretir el oro con que alumbran a los muertos. Los alquimistas etruscos decían que sus ojos son de amianto y Marco Polo en sus viajes vio en las salamandras no un animal sino una substancia.


VIII

Una manada de garzas relampaguea en el cielo. Una sola es una línea de tristeza que puebla los crepúsculos. Dormidas sobre un toro es un acento del reposo.


IX

En las aldeas escandinavas los arco iris ahuyentan los lobos y en las cavernas los dioses crepusculares destruyen con brebajes los ojos de las valquirias. Los linces aúllan a los arco iris que trocan a los amantes en efebos.


X

Los insomnes odian los desiertos, pues la razón de sus desvelos ama las ruinas y el fuego sin humo y el polvo de los amantes. Los insomnes habitan los ríos circulares que los arrastran al corazón de las esferas.

 

XI 

Nada es gratuito. Ni el rayo ni el sismo ni el huracán. Todo está dado o escrito en el ojo del relámpago. Ni espeleólogos ni alpinistas siembran el azar en la brújula de Estrabón.

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TEXTOS EM PORTUGUÊS
Traduções de
Cristiano Grando

 

Poeta, editor, organizador de antologias e crítico, nasceu em Moca, República Dominicana, em 1966. Estudou literatura na New Mexico State University e letras na Universidad Autónoma de Santo Domingo (UASD), onde atualmente é professor nas Faculdades de Artes e Humanidades. Em 2002 ganhou o Premio Nacional  de Poesía com seu livro Sueño escrito. É autor das obras: Diario del autófago, Balada del ermitaño y otros poemas, Los pliegues del bosque, Piel del aire, La espiral sonora: antología del poema en prosa en Santo Domingo 1900-2000. É diretor da revista País Cultural e de Gestão Literária do Ministério da Cultura da República Dominicana. Seus poemas foram traduzidos ao francês, italiano e português. Colabora com ensaios e poemas em revistas e jornais nacionais e internacionais.

 

Práticas de sonho

I

Os sonhos têm duas caras que se olham em contra-espelho. A substância que possuem se levanta ao menor contato com a água. Todas as noites, o aço dos sonhos se excita em mil lençóis. Os sonhos se apagam com o vento e deixam uma sombra calva com a qual se apóiam na luz. O que sonha arma as tramas dos loucos e trança com fios os vazios da noite. Seria em vão tentar adivinhar o que veem os sonhadores nas madrugadas de outubro. Acomodar os sonhos, as revelações e os augúrios é tarefa de semeadores de insônias, que afogam com ar os sulcos do alcatrão. Da semente do sonho nasce o fogo da razão. No sonho sempre temos os olhos abertos, mas somos estátuas de gelo com pálpebras de neve.


II

O anjo da noite criou uma terra de rubis, exatamente na montanha onde um touro ataca a cada madrugada a lua da água. Debaixo da escuridão, o peixe do anjo sacode a areia do vento, onde mora confundido com a neblina e com os penhascos da madrugada.


III

Certa noite, uma multidão de adormecidos invadiu o céu buscando uma tribo de anjos, mas, ao não encontrar, desceu ao dia dos insones, armada de perdão e penetrou todos os espelhos e os fez que se derretessem com o fogo de seus olhos.

 

IV 

Leite de larva que comemos como doce coalhado por mãos de mulher. Leite de ninfa feita pólen nas bocas dos enxames. Doce envenenado como bolinhos de mel que degustamos na hora do chá em reunião de alquimistas. Colmeias que navegam no vento e em seu ruído de sino ao meio-dia que corta as facas. Sino que ensurdece os apiários que se posam nas colinas góticas das árvores.


V

O fogo é o pai da insônia. O repouso da ilusão move a natureza do despertar quando o ar umedece o movimento do fogo em todas as noites com suas horas de tepidez e com sua cruz suicida.


VI

Lua, cárcere de Caim decretada por Deus, onde mora o assassino com seu feixe de espinhos. Lebre lunar, fogo de jade em que Buda se alimentou e transmutou as acácias em elixir. No olho da lua madrugam as almas dos chineses. A lua é o pé de Neil Armstrong.


VII

O gelo da salamandra apaga o fogo que queima um bosque de mandrágoras, cujo odor envenena os amantes e emudece os dormentes. Os magos cartagineses usavam salamandras para dominar incêndios. As salamandras possuem um coração de fogo que as deixa transparentes de noite e derretem o ouro com o qual alumiam os mortos. Os alquimistas etruscos diziam que seus olhos são de amianto e Marco Pólo, em suas viagens, viu nas salamandras não um animal, mas uma substância.


VIII

Um bando de garças relampagueia no céu. Uma só é uma linha de tristeza que povoa os crepúsculos. Adormecidas sobre um touro é uma ênfase do repouso.


IX

Nas aldeias escandinavas os arco-íris espantam os lobos e nas cavernas os deuses crepusculares destroem com poções os olhos das valquírias. Os linces uivam aos arco-íris que transmutam os amantes em efebos.


X

Os insones odeiam os desertos, pois a razão de suas vigílias ama as ruínas e o fogo sem fumaça e o pó dos amantes. Os insones habitam os rios circulares que os arrastam ao coração das esferas.


XI

Nada é gratuito. Nem o raio nem o terremoto nem o furacão. Tudo está dado ou escrito no olho do relâmpago. Nem espeleologistas nem alpinistas semeiam o acaso na bússola de Estrabão. 


XII 

Os versos são rios implacáveis. São como as linhas das mãos, cujas ondas se projetam em frases numéricas. Os versos escapam-se e fogem da água: refugiam-se em imagens oblíquas e redondas. Derretem-se como ar no fogo da sombra.

 

XIII 

O deserto arde e não se consome. Seu vazio queima e desgela o vento. Entre a areia e o céu, as reverberações do silêncio deixam escutar os raios do fogo. No deserto ouve-se o que não se ouve no mar: cruel silêncio de dunas que ressonam no coração dos nômades. Pulsação da areia que o ouvido do dromedário fareja. O deserto é um livro de páginas de areia: suas palavras são o silêncio de um golem. O deserto é um exercício de silêncio, tecido com o fio de um ouvido de água.

 

XIV 

As asas dos pássaros são de vento. Com uma pluma de asa de pássaros escrevo a página que lanço ao vento. As asas do vento do pássaro voam e escrevem os versos entre as nuvens, com seu bico de ar e de espumas. Os pássaros com asas de vento desenham com o voo o coração do ar.

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