VITOR MATOS E SÁ
Vitor Raul da Costa Matos nasceu em Lourenço (agora Maputo) em Moçambiqu, a 20 de dezembro de 1926 e faleceu em 1975,na Espanha, em um acidente rodoviário. Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade Coimbra. Doutor em Filsoofia Antiga e de Axiologia e Étic. Fez cursos de especialização em Oxford.
PARA OS AMIGOS
De entre todos, apenas vós
tendes direito a ver-me
fracassar. Onde caio
entre a vossa irónica
doçura implacável, convosco
partilho o pão e o espaço
e a rapidez dos olhos
sobre o que fica (sempre)
para dar ou dizer.
E de vós me levanto
e vos levo pesando
e ardendo até onde
me ajudais a ser
melhor ou talvez
menos só.
(Companhia Violenta)
MATERNIDADE
Escuta, sorrindo,
a morte que bate
de leve em seu corpo
com ávidos, doces
punhos da infância;
com beijos que vão
enchendo seu rosto
de tempo e ternura;
e alimenta, secreta,
a chama tranquila
que em seu ser ilumina
o mistério da vida.
(Esparsos)
PAN
Recolhes teu corpo vário dançando
imoderado e puro como um vento.
Sabes de ti pelas florestas quando
a abundância das tardes vais regando
com teu lírico alimento.
Sob tua verde alegria cresces
como um deus que continua.
Espuma de sol, desconheces
a própria morte que teces,
com um luar sua lua.
Tens as mãos como as raízes
Bebendo as coisas e o ar.
São regatos o que dizes
e o próprio sonho que pises
escreve-o teu nome a dançar.
(Horizonte dos Dias)
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INVENÇÃO DE EROS
Fui procurar-te para ser contigo
quando colhi das horas que invadias.
Colhi da própria dor um nome antigo
que fosse o nome exacto em que virias.
Da límpida substância dos teus risos
fui-te inventando dentro dos meus braços
e os sóis mais densos puros e precisos
vieram dar-me a sombra dos teus passos.
E já não eram meus senão de erguê-los,
a tua face e os lábios e os cabelos
e o teu olhar para ninguém voltado.
Mas quem, o pleno amor de que nascias
se o deus que a ti igual encontrarias
ficou, pelo teu olhar, desabitado?
(O Silêncio e o Tempo)
Página publicada em agosto de 2016
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