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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

SAÚL DIAS

(1902-1983)

 

Llamado Júlio Maria dos Reis Pereira y Hermano de José Régio, nació en Vila do Conde y se graduó en Ingeniería en la Universidad de Oporto, dond frecuentó también la Escuela de Bellas Artes. Miembro del grupo Presença, colaboro en ella con poemas y dibujos, éstos firmados con el nombre de Júlio, así como su pintura de tonalidad expresionista. Su poesía  se caracteriza por una contención discreta, como uma música en sordina, em su lenguaje elíptico, donde se manifiesta una sensibilidad delicada pero vibrátil.  Sus colecciones de poemas: ...Mais e Mais (1932), Tanto  (1934), Ainda (1938), Sangue (1952), Essência (1973) se fueron sucediendo sin alarde, en una postura casi epigonal, pero constituyen en su conjunto uma obra de las más significativas del Segundo Modernismo presencista. 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   /   TEXTOS EN ESPAÑOL
 

 

MÚSICA

 

I

                  

                   Música do domingo,

                   Vai-te embora... vai-te embora...!

 

Não acordes lembranças

dos domingos de outrora

 pegadas já sumidas

na poeira dos anos

pelas estradas fora...—

 

Não quero acreditar nos desenganos!

 

Música do domingo,

Vai-te embora... vai-te embora...!

 

II

 

Amei-te tanto nesse dia

em que tocaste no piano...!

Passou um ano e outro ano

e outro... e outro... e a alegoria

 

sempre a fulgir no oiro velho

da moldura da lembrança...!

Como se dedos de criança

desenhassem num espelho

 

a tão suave e fina imagem...!

Porque volveu a tarde quieta

que só voz do piano inquieta?

A mesma hora...! A mesma aragem...!

 

III

 

Música

ouvida

na paisagem de outrora,

sentida agora

tão intensamente...!

 

És bem a mesma

da perdida hora...!

 

E como és diferente...!

 

 

IV

 

Calma

tarde de domingo

na minha terra, lá longe!

 

(Música do coreto,

os teus acordes ouço-os

e o meu coração é ainda deles repleto!)

 

As páginas do livro

que me encheram de sonho,

encontro-as amarelas, roídas pelo anos...!

 

Velhos vestidos, velhos panos,

velhas cantigas de embalar crianças...!

 

— As tuas tranças,

quem as soltou e maculou de enganos?

 

 

                   (Sangue, 1952)

 

 

 

ALI

 

Ali sofreste. Ali amaste.

Ali é a pedra do teu lar.

Ali é o teu, bem teu lugar.

Ali a pedra onde jogaste

o que o destino te quis dar.

 

Ali ficou tua pegada

Impressa, firme, sobre o chão.

Ninguém a vê sob o montão

de cinza fria e poeirada?

Distingue-a, sim, teu coração.

 

Podem talvez o vento, a neve,

roubar a flor que tu criaste?

Ali sofreste. Ali amaste.

Ali sentiste a vida breve.

Ali sorriste. Ali choraste.

 

 

APURO O OUVIDO...

 

Apuro o ouvido

e, ansioso, escuto,

tão impoluto

e comovido,

 

o som longínquo

da adolescência.

Em impaciência

Idéio-o e brinco-o

 

entre o rosal,

rosas abrindo

no bom quintal.

 

Menino findo!...

Já sensual,

Já pressentindo!...

 

 

O Poeta no Café de Província

 

I

 

O poeta dormita ao fundo do café,

um pobre café de província. 

Envelhecido,

os cabelos grisalhos

pendem-lhe sobre os olhos

que se fecham

a essa hora adiantada da noite.

 

No entanto,

os seus olhos

descortinam, lá longe,

uma paisagem

tão diferente daquilo que o rodeia!...

 

É abril!

Pequeninos ramos,

viçosos,

espreitam pelos muros.

 

Corre um ventinho ligeiro,

alvoroçando as ervas dos caminhos. 

E os pássaros,

os eternos cantores

dos jardins, das florestas,

ensaiam

complicados motivos...

 

Corre um ventinho ligeiro,

bem diferente do vento dessa noite,

a hora em que o criado

corre os taipais do café,

olhando de soslaio o freguês retardatário, sonolento...

 

II

 

Um fogacho, um lampejo

vale a pena provocá-los?

vale a pena estender os lábios para um beijo

inútil, que não gera?

Vale a pena estar à espera

não se sabe de quê,

sentindo frio, frio? ...

 

A mesa do café

o poeta escreve versos,

versos desmesuradamente compridos,

desmesuradamente sentidos,

estilísticamente certos ou incertos,

com rima ou sem rima (tanto faz ...)

 

— Eh, rapaz!

Um cálice de absinto

para imitar Verlaine e os poetas malditos.

 

(Mas cautelosamente...

Aqui não se toleram mitos!

Há ladrões!  Fechem as casas!)

 

E a monotonia a armar o andaime...

 

— Vá, asas,

élitros

de insetos, pássaros ou anjos,

esvoaçai,

palpitai,

acordai-me!

 

 

Tarde Quieta

 

Tarde quieta de Domingo,

quieta, quieta...

Jogo ao ar a bola preta

o menino.  

 

Só a música

inquieta um pouco...

(o perpassar talvez do espírito louco

do Músico-Poeta...)  

 

E, na varanda,

as rosas brancas

pendem sobre a estrada.  

 

- Quem acendeu as luzes

em pleno dia?  

 

Tanto de quase nada!...

 

==============================================================

 

De
Saúl Dias
De ainda a vislusbre. 
Organização Floriano Martins.
Prólogo Ruy Ventura.        
Ilustrações Julio/Saúl Dias.
São Paulo: Escrituras, 2007.  254 p.  ilus.  (Coleção Ponte Velha)
ISBN 978-85-7531-272-8   vendas@escrituras.com.br




"A poesia de Saúl Dias privilegia a fugacidade do quotidiano pelos meios mais despojados, mais diretos, mais envolventes. Cada um de seus livros traz consigo, logo no título, uma espécie de frémito que simultaneamente aponta e rodeia, se é que não mesmo exibe e oculta, o que há de mais secreto na sua inspiração."  DAVID MOURÃO-FERREIRA

"O expressionismo de Julio tem raízes exógenas e desenvolvimentos pessoais que lhe conferem um estatuto de independência e de influência em relação ao ideário presencista, concebido em 1927 por José Régio. A consciência moderna do pintor, desde os primórdios de sua criação, sem juízo das atracções românticas e pré-rafaelistas que a  modulam a par e passo, salvaguarda fundamentalmente a autonomia estética das formas visíveis; ou a existência estética de uma visibilidade do invisível, e sobretudo à expressão vital uma expressão artística que não receia em construir-se em sistema particular, doado de uma expressão retórica interna, mas aberta ao espaço exterior da pintura européia contemporánea.  A originalidade de Julio, no contexto presencista, advém do mergulho dessasombrado nas águas revolutas do modernista  artístico, libertando a linguagem das suas simbologias tradicionais e usando a imaginação livre como meio de composição e reinvenção da leveza aérea da formas que pesam, esforço que teria transposição directa e inovadora para a poesia de Saúl Dias".  LUIS ADRIANO CARLOS

A ANTIGA GAVETA

— Ah! A alegoria dos tempos idos!

A velha oleografia
amarelecida
toda em tons condoídos...

E o teu retrato
desbotado...

que aparato
de panos corroídos!

E os meus olhos de menino
tristes já, já fundos,
cismando,
adivinhando,
em vez de novos mundos,
os dias repetidos.


ROSAS PERDIDAS

Esqueci-me das rosas
e delas o olor, a cor,
as pétalas oleosas...

Deixei de as pôr ao peito
como dantes,
quando seguia alheado,
magicando um vago teorema,
sentindo-as provocantes
quais vamps de cinema
na capa dum magazine ilustrado...

À tarde emurcheciam
(tal as mulheres que amei...):

Hoje
delas nada sei.
O olor, a cor...  Tudo sumido,
compungido!

Por que desperdicei tanta e tanta flor?


VENTO

Vento que passas
no meu jardim

Doído que traças
curvas sem fim

Quebras as taças
do meu festim,
vento que passas
tão junto a mim!


POR TODA A PARTE

Caminhei na sombra,
anos e anos,
na busca de encontrar-te.

Procurei-te na Vida.
Procurei-te na Arte.

E, agora,
encontro-te afinal
por toda a parte!

Página publicada em janeiro de 2011, a partir de um exemplar do livro gentilmente cedido por Floriano Martins e pela editora Escrituras.

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de Rodolfo Alonso

APURO EL OÍDO...

 

Apuro el oído

y, ansioso, escucho,

tan impoluto

y conmovido,

 

un son lejano:

mi adolescencia.

En impaciência

lo ideo y le juego

 

entre el rosal,

rosas abriendo

en bello huerto.

 

¡Niño finado!...

¡Ya sensual,

Ya presintiendo!...

 

 

ALLÍ

 

Allí sufriste. Allí amaste.

Allí es la piedra de tu hogar.

Allí es lo tuyo, bien tu lugar.

Allí la piedra donde jugaste

lo que el destino te quiso dar.

 

Allí há quedado tu propia huella

impresa, firme, sobre el piso.

¿Nadie le va bajo el montón

de polvorienta, fría ceniza?

Sí, la distingue tu corazón.

 

¿Pueden tal vez el viento, o nieve,

robar la flor que tu criaste?

Allí sufriste. Allí amaste.

Allí sentiste la vida breve.

Allí sonreiste. Alli lloraste.

 

 

MÚSICA

 

Música de domingo

¡vete... vete...!

 

No despiertes recuerdos

de los domingos de antes

— pisadas ya sumidas

en el polvo de años

por los caminos fuera... —

 

¡No quiero acreditar en desengaños!

 

Música de domingo,

¡vete... vete...!

 

 

II

 

¡Tanto te ame esse día

Em que tocaste el piano...!

Pasó un año y otro año

Y outro...¡y siempre brilla

 

la alegoría en oro viejo

desde el marco del recuerdo!

¡Como si dedos de niño

en un espejo dibujaran

 

la na suave y fina imagen...!

¿Por qué volvió la tarde quieta

que solo la voz del piano inquieta?

¡La misma hora...! ¡El mismo céfiro...!

 

 

III

 

 

¡Música

oída

en el paisaje de antaño,

sentida ahora

tan intensamente...!

 

¡La misma eres

de la hora ida...!

 

¡Pero tan diferente...!

 

 

IV

 

¡Calma

tarde de domingo

Allá en mi tierra, lejos!

 

(!Música de retreta,

escucho tus acordes

y aún tengo el corazón de ellos henchido!)

 

¡Las página del libro

que colmaron mi sueño,

las encuentro amarillas, roídas ç

por los anos...!

 

¡Viejos vestidos, viejos paños,

viejas canciones de acunar criaturas..!

 

¿A tus trenzas

quien las solto y las ensució de engaños?

 

 

         (Sangue, 1952)

 

 

Textos extraídos de la obra POETAS PORTUGUESES Y BRASILEÑOS DE LOS SIMBOLISTAS A LOS MODERNISTAS; organización y estúdio introductorio: José Augusto Seabra.  Buenos Aires: Instituto Camões; Editora Thesaurus, 2002.  472 p. ISBN 85-7062-323-2

 

Agradecemos ao Instituto Camões a autorização para a publicação dos textos, em parceria visando a divulgação da literatura de língua portuguesa em formato bilíngüe na web.

 

Página publicada em maio de 2008.

 




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