RUY BELO
(1933-1978)
Nació el 27 de febrero de 1933, en Ribeira do Rio Maior (Santarém, Portugal). Estudió Derecho en la Universidad de Coimbra y doctoró en Derecho Canónico en la Universidad Pontificia de Roma. Fue miembro activo del Opus Dei, militância que abandonará más tarde. De regreso a Lisboa, se licencia en Letras. Fue profesor de la Universidad de Madrid. Murió de un edema pulmonar, el 8 de agosto de 1978. Belo es hoy en Portugal uno de los poetas más estudiados.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Emprego e desemprego do poeta
Deixai que em suas mãos cresça o poema
como o som do avião no céu sem nuvens
ou no surdo verão as manhãs de domingo
Não lhe digais que é mão-de-obra a mais
que o tempo não está para a poesia
Publicar versos em jornais que tiram milhares
talvez até alguns milhões de exemplares
haverá coisa que se lhe compare?
Grandes mulheres como semiramis
públia hortênsia de castro ou vitória colonna
todas aquelas que mais íntimo morreram
não fizeram tanto por se imortalizar
Oh que agradável não é ver um poeta em exercício
chegar mesmo a fazer versos a pedido
versos que ao lê-lo o mais arguto crítico em vão procuraria
quem evitasse a guerra maiúsculas-minúsculas melhor
Bem mais do que a harmonia entre os irmãos
o poeta em exercício é como azeite precioso derramado
na cabeça e na barba de aarão
Chorai profissionais da caridade
pelo pobre poeta aposentado
que já nem sabe onde ir buscar os versos
Abandonado pela poesia
oh como são compridos para ele os dias
nem mesmo sabe aonde pôr as mãos
Elogio da amada
Ei-la que vem ubérrima numerosa escolhida
secreta cheia de pensamentos isenta de cuidados
Vem sentada na nova primavera
cercada de sorrisos no regaço lírios
olhos feitos de sombra de vento e de momento
alheia a estes dias que eu nunca consigo
Morde-lhe o tempo na face as raízes do riso
começa para além dela a ser longe
A amada é bem a infância que vem ter comigo
Há pássaros antigos nos límpidos caminhos
e mortos como antes nunca mais
Ei-la já que se estende ampla como uma pátria
no limiar da nossa indiferença
Os nossos átrios são para os seus pés solitários
Já todos nós esquecemos a casa dos pais
ela enche de dias as nossas mãos vazias
A dor é nela até que deus começa
eu bem lhe sinto a calcanhar do amor
Que importa ser mor de uma só manhã e não haver em volta
árvore mais açoitada pelos diversos ventos?
Que importa partirmos num desmoronar de poentes?
Mais triste mesmo a vida onde outros passarão
multiplicando-lhe a ausência que importa
se onde pomos os pés é primavera?
A minha tarde
Disponho do vento disponho do sol disponho da árvore
arranjo pássaros arranjo crianças
tenho mesmo à minha disposição o mar
talvez com tudo isto possa formar uma tarde
uma tarde azul e calma onde me possa refugiar
Mas e as idéias as doutrinas os problemas?
Se nem resolvi ainda o problema da unha do dedo mínimo
como pretende ter resolvido o mínimo problema?
E as idéias, que só servem para dividir?
As idéias têm húmeros inúmeros
e é difícil caminhar no meio da multidão
Podia dizer (mas não me deixa descansado):
Sou novo. Tenho por isso a razão pelo meu lado
Deixai os pássaros cantar as crianças brincar
o tempo não urge o coração não arde
Quem sou eu? Eu só e minha tarde
As crianças com as suas vozes brancas
riscam alegremente o céu azul
passam as aves em seu vôo rasante
desde sá de miranda até jorde de sena
E o tempo passa assim. Sou eu e o passado
Era novo. Não tenho a razão pelo meu lado
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SONETOS. v.2. Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d. 151 - 310 p. 16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor: Edson Guedes de Moraes. Inclui 171 sonetos de uma centena de poetas brasileiros e portugueses. Ex. bibl. Antonio Miranda
MEDITAÇÃO MAGOADA
Deixa-me olhar-te pássaro real,
o saltitar nesta tarde esquecida
Como uma clara afirmação de vida
mesmo pequeno esse teu corpo vale
Que alguma coisa morre em cada qual
leio-o nessa cabeça ao alto erguida
mas tens a alegria extrovertida
de não sentir em ti o nosso mal
Somos contemporâneos meu amigo
por isso posso conviver contigo
compartilhar o orgulho de estará vivo
Eu penso e tu não pensas é que é certo:
Tu a saltar e eu aqui tão perto
a pensar que da morte me não privo
A MINHA JUVENTUDE
Na minha juventude antes de saída
Da casa de meus pais pois disposto a viajar
Eu conhecia já o rebentar do mar
Das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de Maio era tudo florido
O rolo das manhãs punha-se a circular
E era só ouvir o sonhador falar
Da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
E havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só se que tinha o poder duma criança
Entre as coisas e mim havia vizinhança
E tudo era possível era só querer
SONETO SUPERDESENVOLVIDO
É tão suave ter bons sentimentos,
consola tanto a alma de quem os tem,
que as boas ações são inesquecíveis momentos
e é um prazer fazer o bem.
Por isso, quando no Verão se chega a uma esplanada
sabe melhor dar esmola que beber a laranjada,
consola mais viver entre os muito pobres
que conviver com gente a quem não falta nada.
E ao fim de tantos anos a dor do que é seu,
independentemente da maneira como se alcançou,
ainda por cima se tem lugar garantido no céu,
gozo acrescido ao muito que se gozou.
Teria este... se não tivesse outro sentido,
ser natural de um país subdesenvolvido.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Tradução de Xosé Lois García
Empleo y desempleo del poeta
Dejad que en sus manos crezca el poema
como el sonido del avión en el cielo sin nubes
o en el sordo verano las mañanas de domingo
No le digais que es mano de obra y además
que el tiempo no está para la poesía
Publicar versos en periódicos que tiran millares
tal vez hasta algunos millones de ejemplaes
¿habrá algo que se le compare?
Grandes mujeres como semíramis
publia hortênsia de castro o victoria colonna
todas aquellas que más intimamente murieron
no hicieron tanto por inmortalizarse
Oh qué agradable es ver a un poeta en ejercicio
llegar incluso a hacer versos por encargo
versos que al leerlos el más astuto crítico en vano buscaría
quién evitase la guerra mayúsculas-minúsculas mejor
Bastante más que la armonía entre los hermanos
El poeta en ejercicio es como aceite precioso derramado
en la cabeza y em la barba de Aaron
Llorad profesionales de la caridad
por el pobre poeta retirado
que ya no sabe a donde ir a buscar los versos
oh que largos son para él los días
ni sabe donde poner las manos
Elogio de la amada
Miradla ubérrima numerosa escogida
secreta llena de pensamientos exenta de cuidados
Viene sentada en la nueva primavera
Cercada de sonrisas en el regazo lírios
ojos hechos de sombra de viento y de momento
ajena a estos días que yo nunca consigo
Le muerde el tiempo en la faz las raíces de la risa
comienza más allá de ella a ser lejos
La amada es la infancia que viene a mí
Hay pájaros antiguos en los límpidos caminos
y muertos como antes nunca más
Miradla cómo se extiende amplia como una patria
en el umbral de nuestra indiferencia
Nuestros atrios son para sus pies solitarios
todos nosotros olvidamos la casa de los padres
ella llena de días nuestras manos vacías
El dolor está en ella hasta que dios comienza
yo bien le siento el talón del amor
¿Qué importa ser de una sola mañana y no haber en cambio
árbol más azotado por los diversos vientos?
¿Qué importa dividirnos en un desmoronamiento de ponientes?
Más triste incluso es la vida donde otros pasarán
multiplicándole la ausência ?qué importa
si donde ponemos los pies es primavera?
Mi tarde
Dispongo del viento del sol dispongo del árbol
tengo pájaros tengo niños
tengo incluso a mi disposición el mar
tal vez con todo esto pueda formar una tarde
una tarde azul y calmada donde me pueda refugiar
Pero ¿y las ideas las doctrinas los problemas?
Si no resolví aún el problema de la uña del dedo meñique
¿cómo pretender Haber resuelto el mínimo problema?
¿Y las ideas que sólo sirven para dividir?
Las ideas tienen húmeros innúmeros
y es difícil caminar en medio de la multitud
Podría decir (pero no me deja descansando):
Soy joven. Tengo por tanto la razón de mi lado
Dejad a los pájaros cantar a los niños jugar
el tiempo no urge el corazón no arde
¿Quién soy? Yo sólo y mi tarde
Los niños con sus vocês blancas
rayan alegremente el cielo azul
pasan las aves con su vuelo rasante
desde sá de miranda hasta jorge de sena
Y el tiempo pasa así. Soy yo y el pasado
Era joven. No tengo la razón de mi lado
A POESIA É PARA COMER: iguarias para corpo e para o espírito. Seleção de poemas Ana Vidal; coordenação editorial Renata Lima. São Paulo: Rabel, 2011. 252 p. 23,5x31,5 cm. Capa dura. Impresso em papel couchê matte 170 g/m2.
Ex. bibl. Antonio Miranda
O Portugal futuro
o portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro de asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma de meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
Á sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal do futuro.
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Poemas extraídos de HORA DE POESIA 27/28 Año 1983. “Antología de la actual poesia portuguesa”, volume cedido pelo poeta Aricy Curvello para a Biblioteca Nacional de Brasília, reprodução com a autorização do tradutor Xosé Lois García.
Página publicada em abril de 2008
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