Foto extraída de http://amadeubaptista.blogspot.com/
RUI ALMEIDA
Rui Almeida nasceu em Lisboa em 1972 e publicou cinco livros de poemas: Lábio Cortado (Torres Vedras: Livrododia, 2009), Caderno de Milfontes (Nazaré: volta d'mar, 2011), Leis da Separação (Coimbra: Medula, 2013), Temor Único Imenso (Fafe: Labirinto, 2014), A solidão como um sentido, seguido de Desespero (Lisboa).
O PRISMA DE MUITAS CORES. Poesia de Amor portuguesa e brasileira. Organização Victor Oliveira Mateus. Prefácio Antônio Carlos Cortes. Capa Julio Cunha. Fafe: Amarante: Labirinto, 2010 207 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Os teus olhos abertos são do tamanho dos meus dedos
E não falam de silêncios nem de sombras
Nem de coisas de sonhar.
Os teus olhos lembram segredos do riso,
Pequenas palavras que se dizem poucas vezes.
É nos teus olhos que sei o rumor de minha história —
Olhos de quem cresce a olhar.
(sei que enquanto me olhas respiras)
Só eu desejo a tua boca,
Pedaço antigo de sede e confronto
Por onde entre a luz jubilosa que respiras.
Da tua boca sei que traz gestos e nomes ditos
Enquanto tudo à volta acontecia.
E com os dedos percorres o sibilar da língua,
Tocas objetos que são a pele do mundo
Com a delicadeza própria de lábios.
E os teus dedos são do tamanho dos meus olhos abertos.
en delírio há vinte anos – non nova sed nove – abril 2011. Revistazine comemorativa dos vinte anos de dlírios. Coord. Luís Paulo Meires e Mário Galego. Nazaré: 1991. ilus. p&b.
Ex. bibl. Antonio Miranda
Sim, a segurança,
A rede lá em baixo
AD mostrar que é possível
Não cair.
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Não, mais perto do vazio
Seria impossível.
Cada um se senta onde calha
E a atenção varia.
**
Sim, os pés ficaram molhados
Dentro dos sapatos
Porque a chuva se acumula
Nos buracos abertos
Pela nossa falta de vontade de vencer.
**
Não, nada de esperança.
O destino está nos debates sobre a segurança
social
Que permitem que nos preocupemos
E choremos por antecipação
A norte preparada para cada um.
**
Sim, tinha os olhos grandes e fumava
Com a delicadeza própria de quem
Conhece os malefícios de o fazer.
**
Deixava-se olhar
Com o cigarro preso entre os dois dedos
E entre os dois lábios.
Olhava também
Para confirmar que nem tudo
Depende apenas do movimento.
**
Não, nunca mais seremos
Vigilantes.
As nossas posses extinguem-se
No momento em que negamos
O que não nos queima.
**
Sim, as vítimas da fome
E de calamidades vistosas.
Os quase mil ou quase vinte mil
Ou outro quase número
De famélicos ou desalojados,
Contabilizados pelo repórter local,
Em directo,
Prontos a marchar sobre a consciência,
Sensibilizada,
Até ao próximo bloco de anúncios.
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Não, nada disso,
Outra coisa para lá do óbvio
Que cada desilusão é.
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http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/portugal/portugal.html
Página publicada em abril de 2022
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Página publicada em janeiro de 2021
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