MARÍLIA MIRANDA LOPES
Marília Miranda Lopes - Escritora, poetisa, dramaturga e cantautora.
Formou-se em Línguas e Literaturas Modernas (variante de Estudos Portugueses) pela Faculdade de Letras da Universidade da cidade onde nasceu. É professora de Língua Portuguesa do Ensino Secundário e formadora pelo Conselho Científico-Pedagógico de Formação Contínua nas áreas das Didácticas Específicas e das Oficinas de Escrita – Poesia e Teatro. Foi bolseira dos Serviços de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, ao abrigo do programa “Dramaturgia Portuguesa”. Integrou a representação do Norte de Portugal no Congresso Luso-Galaico “O Livro e a Leitura”, realizado em Santiago de Compostela. Participou nos Primeiros Encontros Poéticos de Espanha e Portugal, organizados por Jesus Losada, em Alcanices. Participou, juntamente com Maite Dono, Fernando Echevarría, José Luis Peixoto e Valter Hugo-Mãe, entre outros poetas, no calendário para o ano de 2002, organizado por ADATA, textos estes lidos no mesmo espaço da Raya, constituindo uma comunhão poética entre os dois países. É autora de canções para a infância que integram vários projectos de animação do livro e da leitura a partir da obra de Aquilino Ribeiro, dos irmãos Grimm e de Alfonso Sastre.
Escreveu Poesis em Oásis (poesia, 1994), Framboesas (Teatro, 1996), Geometria (poesia, 1998), O Escudo Invisível (conto da antologia “Histórias Tiradas da Gaveta – edições Tellus); O mais belo segredo do mundo (poema da antologia “Pequeno Cancioneiro de Natal, 2000); Maria da Silva, pastora e rainha (peça representada pela Filandorra- Teatro do Nordeste; 2002) Templo (poesia, colecção Tellus, nº10; 2003); Duendouro – Era uma vez um rio… (Teatro, 2007 - Edições Afrontamento); Aqua (conto incluído na antologia “Pegadas”, editado pela Q de Vien, com autores portugueses e espanhóis); e “Castas” (Poesia, 2012 - edições Q de Vien Cadernos da Porta
Verde do Sétimo Andar).
MIRANDA, Marília. Templo. Vila Real, Portugal: Serviços de Cultura da Câmara Municipal, 2003 79 p. (Colecção Telhas, 10) ISBN 9782-9462-32-1 Capa sobre fotografía de Manuel António. Col. A.M.
O que é o sangue germinado
Sem o corpo que o aquece
Ou a alma que o enfraquece ou fortalece
E o esquece?
O que é a Água sem o que brota do pasmo,
Fonte que a fada enlouquece
E verte sempre o verme ou o verde
Ou a vontade de divino sobre o cicio do longe?...
O tempo do teu espaço perpassa todas as coisas e todos os seres
Todas as palavras são formas de dizer esse templo, essa força
Que transcende e torna ilimitada a propagação da vida
Um dia o Sol apagar-se-á
Estas palavras tão voláteis
Significarão, talvez, gravidade
E de nada servirá retê-las
... Porque tudo o que é será outra vez
E o mito voltará a instalar-se
Se me dissesses que a bela folha é aquela que cai
De uma árvore cujas raízes tocaram o fogo do globo
Apenas o prenúncio de uma crise intrínseca convidaria
Todos os implicados no processo do teu próprio entendimento
A aplaudir o teu drama de pé
É que a folha teria de ser única e a unicidade do teu ser
Perder-se-ia na duplicidade dos outros
Os demais seriam figuras de gente recortadas
E tu regressarias à reciclagem antes do cair da próxima
Folha ou fruto rebentado na margem do fim Começa hoje um dia novo
Mas sinto-o como se fosse repetição
A cíclica causa das coisas
Encaixilha o sentido da razão
MELLO, Regina. Antologia de Ouro III. Museu Nacional da Poesia – Organização. Belo Horizonte : Arquimedes Edições, 2014. 136 p.
15 x 21 cm. ISBN 978-85-89667-50-0
Ex. bibl. Antonio Miranda, exemplar enviado por Regina Mello.
Electrifico-me
Electrifico-me
nos passos na curva incerta
Choque entre agulhas — veias —
— caminho de ferro rumo a ti
Estremeço onde o sono me tem
na paragem
da ausência
Depois acordo dentro da vitrine
Século — tentáculo cujas pernas
se lançam para o exterior
em surto de ramos luminosos
onde as aves caem
electrocutadas
Grito
Eco – sede – ferida
nesse teu voo alucinado
Vens em sonora
água em derrame
sobre o fumo
Voas sobre a fuligem deste campo
onde te perco
(in “Cartas”. Q de Vim Cadernos de
A Porta Verde do Sétimo Andar)
*
A cidade é um disco compacto
fervilhante
titânico
Os corpos de ipad editam
cada trajecto mínimo
A nave da Web
é uma barca antiga
atracada no precipício do tempo
Cruzam-se chips
entre nós, passantes em catálogo
Nas radiofrequências
um cibercéptico manipulado
um antibiônico em deslumbre
um hologrâmico
poema
Colapso
Já não funcionas
Sozinho
Colapso
Tens entranhas vigiadas
webcams na cama onde imerges
sem gotas de orvalho reais.
*
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Página publicada em fevereiro de 2021
Página publicada em outubro de 2013
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