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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARIA DO SAMEIRO BARROSO

         Maria do Sameiro Barroso, nasceu em Braga, em 1951. É licenciada em Filología Germánica bem como em Medicina e Cirurgia, pela Faculdade de Letras e pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, respectivamente. É médica, especialista em Medicina Geral e Familiar, escritora, tradutora, ensaísta e investigadora. Inicialmente vocacionada para a poesia, tem os seguintes livros publicados: O rubro das papoilas (Atrio, 1986; 2a edição, Laboratórios Azevedos, 1997), Rósea Litania, Edições Colibri, 1997), Mnemósme (Universitária Editora, 1997), Jardins imperfeitos (Universitária Editora, 1999 - Prémio António Patricio 1999, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos), Meandros translúcidos (Editora Labirinto, 2006), Amantes da neblina (Editora Labirinto, 2007), As vindimas da noite (Editora Labirinto, 2008 - Prémio António Patricio 2008, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos). Este livro foi destacado pelo Diário de Noticias como um dos quatro melhores livros de poesia de 2008. Vencedora do Prémio Poesia Palavra Ibérica 2009 com o original Urna ánfora no horizonte , edicao bilingue, tradução de Uberto Stabile (Livro do Dia, Torres Vedras, 2009). Este prémio foi instituído pela Cámara Municipal de Vila Real de Santo Antonio, numa parceria com o Ayuntamiento de Punta Umbría e com a colaboração de Sulscrito - Círculo Literario do Algarve.

         A sua obra tem sido alvo de estudos e recensões de poetas e críticos como Antonio Ramos Rosa, João Rui de Sousa e Maria Augusta Silva. Tem colaboração em numerosas revistas literárias e livros colectivos, tendo apresentado livros, escrito recensões e   participado em encontros de poesia, em Portugal e no estrangeiro.   Integra, desde 2007, a Comissão Editorial da Editora Labirinto de        Fafe. Desde 2002, alargou a sua actividade à tradução de poesia alemã e ao ensaio, tendo traduzido  Paúl Celan, Nelly Sachs e Rose Ausländer. Tem traduzido poemas de temática clássica de Friedrich Schiller, no Boletim de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Traduziu a Flauta mágica de        Mozart, a partir do fac-símile da 1a. edição de 1791 e escreveu o artigo Mistérios em cena, ritos, transformacao e música, na obra Mozart e os Mistérios Iniciáticos, em coautoria com José Manuel Anes e Paulo Alexandre Loução (Esquilo Editora, 2007). A tradução da  Flauta Mágica foi destacada  entre os melhores livros do ano de 2007 pelo jornal Expresso. Desde 2002, dedica-se também à História da Medicina Antiga e à História da Mulher, estando, neste momento, a preparar um Doutoramento nesta área. Integra os actuais Corpos Directivos do Pen Club Português.

 

BARROSO, Maria do Sameiro. Luas de gengibre.  Fafe, Portugal: Labirinto, 2013  38 p.  14x21 cm.   ISBN 978-989-9386-44-1   Col. Bibl. Antonio Miranda

 

 

A COROA DO TEMPO

 

Respiro a maresia das palavras exactas,

prolongo as vogais, os ditongos,

visito as planícies da vida,

pernoito nos jardins da morte.

Comprimo, no peito, o passado/o futuro,

Escrevo no espaço em branco.

As horas dizem-me a coroa do tempo,

um diafragma aberto,

os olhos ardendo na trama da boca,

escrevendo o ouro, a carne,

a sombra esguia,

a aura da desordem suspensa

dos precipícios,

fabricando as vogais, as sílabas,

as palavras, planetas idênticos,

constelações de névoa,

reônditas sombras,

 

relógios astrais.

 

BARROSO, Maria do Sameiro.  Amantes da Neblina.  Amarante, Portugal: Labirinto, s.d.   94 p.  15x24 cm.   ISBN 978-972-8616-50-6  Capa: Laura Cesana.  Col. A.M.

 

Todas as espirais ascendem -e serenam neste livro, reconhecendo à poesia um papel fundamental no conhecimento de si e do mundo, perante os desafios da vida e a inevitabilidade da morte. Esta poesia madura e prenhe de epifanias é genesíaca e onírica, sendo

QualQuer ponto de fuga reconduzido ao mais palpável real. Tal como uma música envolvente, Os Amantes da Neblina, captam a leitura e nela se adensam e vibram, apontando o rasto de uma "primeira vez". Como toda a Obra de Arte.                Maria Teresa Dias Furtado

 

 

PRIMULAS, SUMULA OCULTA

 

Passo a passo, consome-me o fogo, uma estrela pulverizada

na ilusão de viver a morte de Empédocles.

Numa súmula oculta, digo as prímulas,

a geometria das rosas,

o inominado vulcão a obscurecer o céu carregado

de nomes, nesse espaço estático de êxtase.

 

As musas andam por dentro das mimosas, corroem

as tulipas, as frésias,

e irradiam para as artérias profundas da inocência.

 

Hoje é Domingo de Ramos.

Passo a passo, as esmeraldas resguardam-me, a Páscoa

cheira a alecrim, mel e erva-doce.

Há cânticos e ramos de palmeira prolongando antigas

procissões rituais.

As flores espalham os seus rubis, decifram o arvoredo,

resgatam o lume.

Os dias ardem depressa.                  .

 

Gosto dos presságios de sol, dos sinos,

da Grande Páscoa Russa de Rimsky Korsakov;

dos dias absortos e da sua transgressão límpida,

absoluta, da penumbra ébria

e das chamas que consomem o corpo, a metáfora,

quando sou a própria chama

 

do duplo silêncio que me habita.

 

(8-IV-2001)

 

 

BARROSO, Maria do SameiroO Rubro das Papoilas.  s.l. (Portugal): Azevedos, 1998.  62 p   14x20 cm.  Prefácio por José Manuel Capêlo.  Capa: Maria Manuela Madureira.  Col. A.M.

11.

Ao Luís Dourdi!

 

Há pessoas de olhos trespassados

e horas incertas.

Há pessoas de coração apertado

e mãos abertas.

A angústia dramática pessoa.

A sombra é um feixe de luz.

A tua voz é a luz mais branca

dos navios.

Reténs na luz a sombra.

Cinzento é o abandono.

Reténs na sombra um rio.

 

                     Sesimbra, 1-7-1987

 

 

20.

 

                A Sophia M. Rapost

 

Dizias partir. Uma ilha.

Rodeada de mãe por todos

os lados.

No cais um barco. O mar.

A falésia mais alta.

Em Abril dizias florir.

Em Abril os insectos,

o pólen. Um homem parado.

O cais é o nome da Ilha.

Berlengas, a vaga mais

alta, a tempestade.

Dizias partir, Sophia,

rodeada de mar por todos

os lados.

Em Abril dizias florir.

 

                  Sesimbra, 21-6-1

 

BARROSO, Maria do SameiroMeandros translúcidos.   Amarante, Portugal: Labirinto, 2006.  116 p.  15x21 cm.  ISBN 972-8616-27-9   Capa do escultor Martins Correia. “Poema em forma de posfácio, por António Ramos Rosa. Posfácio> Pompeu Miguel Martins.  Col. A.M.

 

DE QUE FALA O SILÊNCIO

 

O tempo é anterior a ti, a mim, a nós,

e nada está escrito, excepto essa interioridade

que habita a inocência das palavras,

consumando o corpo, o seu início, o seu extremo,

deixando o espírito intacto para fruir

esses momentos puros, primordiais,

nessa abertura,

lâmpada rútila, navio eloquente, frémito intacto,

chama preciosa que, de outra forma,

tudo diz, tudo revela,

no tempo esquecido, no tempo sem tempo,

entre a magia e a volúpia,

no luar, no silêncio,

no tempo das clepsidras esquecidas.

 

 

RENASÇO PELO TEMPO DAS SEMENTES

 

Nas tuas mãos/ tudo entenderia, a frescura do trigo,

o ardor das romãs, os violoncelos da volúpia.

É por isso que vivo e renasço pelo tempo das sementes,

entre acordes de Paganini,

colhendo as vinhas escurecidas, espigas plenas,

grãos luminosos.

 

No Verão de profecias nocturnas, o corpo

e as suas margens duplicam as frases liquefeitas,

enquanto arco-íris da urze e da retina se unem,

tingindo variações, desenhos rítmicos,

em substâncias iluminadas, na noite hipnótica, negra,

onde os arcos e os violoncelos recolhem

o ouro, o transe e as pálpebras e os archotes germinam,

em navios, bagas vermelhas.

 

Nas tuas mãos, tudo entenderia. É por isso que vivo.

E a música flutua nas pedras que nascem e vivem,

em fragmentos do corpo enaltecido,

no oceano de favos, trevos,

aves e pulmões do mar segregando as águas lentas,

a florir

           na terra coberta de mudas cicatrizes.

 

 

 

BARROSO, Maria do Sameiro.  Menmósine.  Ilustrações Escultor Martins Correia. Prefácio António Ramos Rosa.  Lisboa: Editorial Império, 1997. 96 p.   17x24 cm.   ISBN 972-700-109-97  Col. A.M.

 

 

NAVIOS AZUIS

 

Os arcos leves da consciência

alargam-se à púrpura,

à cicatriz,

à raiz branca dos rochedos,

ao arco retesado da angústia

onde uma ânfora nocturna

sobrevive

nos poros interditos onde

pairam as conchas, os limos.

Os navios azuis.

No horizonte que segrega

a porta para escalar a luz,

a areia selvagem,

os pedúnculos de sombra,

a seiva entretecida nas ilhas

de anémonas, clâmides,

bruma / penumbra

dourada.

No universo verde das ilhas,

das rotas, dos mitos.

Dos segredos.

 

 

PÁLPEBRAS TRANSPARENTES

 

Ilesa, insone nas planícies

do tempo,

a memória enreda-se

num torvelinho denso

onde se cruzam

e contrastam

simétricas formas,

pálpebras transparentes

da matéria exacta.

Terminada a escalada,

unânimes

são as palavras e os gestos

pelo âmago submerso,

pela perfeição

e o equilíbrio

da imensidão ignorada.

 

 

Maria do Sameiro Barroso
Poemas da noite incompleta
Organização/prólogo  Floriano Martins.
Artista convidado Antonio Hélio Cabral.
São Paulo: Escrituras, 2010.               207 p.  (Col. Ponte Velha) 
ISBN  978-85-7531-387-9  www.escrituras.com.br


ROSA INOMINADA

 

Amanhã, os frutos serão algo mais que a sombra anil

da minha carne incendiada.

Como urna estatua lisa, desvelada, em púrpura agonia,

o rosa se adivinha, o azul,

a fundura dos cílios longos, cúmplices, rectangulares

que vigiam as horas vagas, as horas mortas,

o vazio reticente.

Na suavidade das horas, nas membranas da noite,

entre faíscas de luz, vigio a melancolia,

os dedos quebrados pelo chão de pedra,

no difícil retorno do ser dividido.

Amanhã, os frutos serão algo mais que as rosas
esboroadas em que afundo os meus olhos.
Intemporal e leve pode ser o vento, a chama,
casual pode ser o gume cortante, o murmúrio insólito,
a lenta combustão, a cal lancinante.

 

Na quietude moldada, a cósmica exactidão das folhas,

das heras, vinca um instante de pó, um arbusto,

nos veios de cinza que cruzam e descruzam

a sinapse de luz que expande a ruína, a flor, a exactidão,

onde se afogam os lábios, os cabelos,

os lírios flutuando,

a seiva trémula pairando, na teia amotinada

 

do disperso alento.

 

 

FERIDAS, FOGO E FOLHAGEM

 

Falavas de feridas, fogo e folhagem, de um leito

açucenas, de nardos devorados na bruma,

enquanto eu escutava os teus muros, as tuas páginas,

os teus desertes íntimos.

Os mortos respiravam, tocando os oboés do sonho,

Nas asas do gelo, ecoavam guitarras,

os mortos respiravam exaustos, o silencio era

urna joia secreta onde eu percebia

que os vivos nunca ardem até ao fim.

 

Talvez as nascentes nunca se completem.
          No peito obscuro, clamam os narcisos, o ouro,
          o perfilado jasmim.
          No nimbo olvidado, flutuam as aves.

Num limiar imanente, cúmplice é o diálogo
a destacar a ilusão dos rostos, a dimensão
dos corpos, os juncos aquáticos
(o espelho, as imagens),

 

a imagem das formas.

 

 

A FERIDA DO TEMPO

 

Na escuridão, ergue-se um rio, urna torrente

de imagens, sombras.

Um diálogo sobre anjos evoca recordações

de um coração distante.

Foi junto ao Mondego, por entre os choupos

e a neblina, que descobri Rilke, pela primeira vez,

o tempo morto colado à raiz aquática

de carcomidos labirintos.

Na escuridão, palpava-se a ferida do tempo,

a cega flor, o mercúrio lento,

a alquimia dolorosa dos metais trespassados.

 

Junto aos choupos, um beijo desfazia-se.

Como se tivéssemos bebido um elixir dourado,

a vida acontecia.

O inapreensível era então quase palpável,

como se liras e flautas ecoassem,

e, no arvoredo, as hortênsias se abrissem,

entre violinos azuis, que sobre nos tocavam,

trazendo-nos da obscuridade

 

ao vislumbre da luz.

 

 

De

Maria do Sameiro Barroso
UMA ÂNFORA NO HORIZONTE
UNA ÁNFORA EM EL HORIZONTE

Traducción de Uberto Stabile
Punta Umbria, España: Ayuntamiento, 2009.
“Prémio Palabra Ibérica 2009

 

 

ESCENARIO POST EXPRESIONISTA

 

Un cadáver por la mañana! Así, antaño, los cuerpos

indefinidos entraban lívidos, cenicientos,

en una noche de espectros capturados.

Buceaba en los sueños.

 

En todas sus avenidas, había un cadáver

lutrefacto, un halcón agonizante,

un embrión inerme, impedido de nacer.

Por eso urdí la espera, confinada a la soledad del

mundo,

cual Penélope o Ariadna.

Y los dias alternaban.

 

En las salas prohibidas, buceaban las preguntas.

En el cielo, circulaban páginas, palabras,

retazos centelleantes.

 

En el centro de todas las nieblas, los sueños

despertaban

negros, corno cadáveres insepultos,

hasta que el corazón se volvió sangre, linfa, poema,

y, en el lugar donde antano florecían coquetas,

os fragmentos de Gottfied Benn fluctuaban,

en el sablón antiguo, en las aguas aplastadas,

 

;n renacuajos escuros, recién nacidos.

 

 

 

CENÁRIO POST EXPRESSIONISTA

 

Um cadáver pela manhã! Assim, outrora, os corpos

indefinidos entravam lívidos, cinzentos,

numa noite de espectros capturados.

Mergulhava nos sonhos.

 

Em todas as suas avenidas, havia um cadáver

apodrecido, um falcão agonizante,

um embrião inerme, impedido de nascer.

Por isso urdi a espera, confinada à solidão do mundo,

qual Penélope ou Ariadne.

E os dias alternavam.

 

Nas salas proibidas, mergulhavam as perguntas.

No céu, circulavam páginas, palavras,

retalhos cintilantes.

 

No centro de todas as névoas, os sonhos acordavam

negros, como cadáveres insepultos,

até que o coração se tornou sangue, linfa, poema,

e, no lugar onde outrora floriam sécias,

os fragmentos de Gottfíed Benn flutuavam,

no saibro antigo, nas águas esmagadas,

 

em girinos obscuros, acabados de nascer.


BARROSO, Maria do Sameiro.  Rósea litania.  Prefacio por João Rui de Sousa.  Lisboa:  Edições Colibri, 1997.  121 p. 15,5x23 cm.   Capa: Maria Man ela Madureira a partir de seu mural “Azulejaria em movimento”.  ISBN 972-8288-59-X    Col. A.M. 

 

MAR

Fonte
absoluta
de irisados
lugares,
a língua,
a fluidez
salgada,
a areia,
a espuma.

PAISAGEM MARINHA

A luminosidade
estende-se
rósea,
virtual
como
uma gaivota
entre
as falésias.

 


BARROSO, Maria do Sameiro.  Jardins imperfeitos. Lisboa: Universitária Editora, 1999.  72 p.  14,5x21 cm.  Prefácio: José Fernando Tavares.  Fotografia da capa: Ivo Miguel Barroso Pego.  Desenho Antonio Manuel Couto Viana.   Col. A.M.

 

MELANCOLIA QUEBRADA

 

Memória de medusas, mastros, astros.
                    Arquipélagos.
                    Que escutam a melancolia
                    quebrada.

Os templos longínquos, clareiras fendidas,
                    Os pombos regressando
                    entre âncoras de cristal,
                    veleiros nocturnos.

Árvores luminosas. Ecos cintilantes
                    consagrando o vento,
                    as garças.
                    As planícies de espelhos

em busca de um lago verde. Acordando
                    a sombra devoluta
                    que dissolve pensamentos.
                    Torres obscuras.

Aves que ligam a rede, os fios, o açafrão,  
                    a tecelagem.
                    Desgastando a tumultuada
                    imensidão.

Unindo-se às clareiras subterrâneas
                    Enaltecendo as flores
                    e o ébano.
                    No peito singular.

                              De aves selvagens.

 

BARROSO, Maria do Sameiro.   As vindimas da noite. Fafe, Portugal: Labirinto, 2008. 76 p.   15x24 cm.  Capa: João Cunha.  ISBN 978-972-8616-70-0  “Prémio de Poesia António Patrício 2008”.    Col. A.M. 

 

NA VORAGEM DOS NOMES

 

De tudo o que nasce, apenas os pássaros dão abrigo
ao trigo, ao orvalho, á resina, as cerejas,

ao pólen, ao esplêndido ardor do infinito.

De tudo o que falo, fendendo a luz e as muralhas,

apenas o gelo resiste.

 

No sangue, nas labaredas, na lenha de um navio,

um homem canta.

De tudo o que nasce, apenas sobrevivem os astros,

com seus mênstruos de poderosas raízes.

As palavras existem, no vento que o seu sangue

resguarda.

O silencio coagula nas suas resinas de incenso.

 

Por vezes, em seios de prata se acolhe a forma

capciosa, a penumbra,

a rede que magoa a raiz por dentro.

Na angustia dos espelhos deformados, a injustiça

resplandece, no furor do corpo.

como se tubos musicais explodissem, em caracteres

sonoros, gotejos de luz, torres que ascendem.

 

De tudo o que nasce, apenas as glicínias crescem,

alvorecendo, nas suas hélices de pedra,

a aura inabalada, o rastro transparente,

o fio interceptado, que, numa relva de lume,

 

argênteo e transfigurado amanhece.

 

 

 

CORRO COM OS PÉS VAZIOS

 

Ninguém penetra nas coisas se os dias estão cheios.

Por isso, a respiração dos pássaros é urgente.

Perto, estão ainda as rotas da seda. as encruzilhadas

do sonho,

a luz oblíqua incidindo na calcite amena das cidades

majestosas.

Penso em Alepo, Palmira ou na colunata radiosa

da antiga cidade de Apameia.

E corro com os pés vazios, enrolados em serpentes,

rosas e violinos,

o tempo suspenso na grande noite clangorosa de pilares

obscuros.

 

Na malha do silêncio, o fogo oculto, a lira vermelha

desoculta, na lenta combustão, o deserto irado e triste,

a água submersa de um veneno a florir,

num eixo descoordenado e cego de vinhas

sanguinolentas, os pés moldados num grito

de acordar de outra forma,

essa, outra, lenta, resguardada de cantar a giesta nocturna,

no vinho turvo, dolente das roseiras altas de inventar

os muros, na aura ígnea das estrelas maceradas,

na pedra líquida,

nas malhas de sangue espesso que transcrevo

num grito lúcido, frio,

 

transcendente,

 

amanhã.

 

 

BARROSO, Maria do Sameiro, org.  Um poema para Ramos Rosa. Antologia.  Fafe, Portugal: Labarinto, s.d.  79 p.  15x21 cm.   Capa: Laura Cesana.  Inclui textos dos poetas contemporâneos portugueses em homenagem a Ramos Rosa.  Col. A.M.

BARROSO, Maria do SameiroA lira, a pedra, a formosa fonte. Tópicos para uma leitura da poesia de José Leite de Vasconcelos.  Separata de O ARQUEPLOGO PORTUGUÊS.  Lisboa: 2008 p. 433-450   Col. A.M.

BARROSO, Maria do Sameiro.  Um poema para Agripina.  Fafe, Portugal: Labirinto, s.p.  60 p.  Poemas de autores portugueses contemporâneos em homenagem à poeta dAgripina Costa Marques.  ISBN  978-972-8616-72-4   Col. A.M.

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2011; ampliada em março de 2011, ampliada e republicada em outubro de 2013. Ampliada e repubicada em janeiro de 2014.

 

 

 

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